Acordei mais animado no outro dia, porém estava muito cansado, pois passei a noite toda ensaiando. Tomei um café da manhã simples, e enquanto estava no banho ouvi meu celular apitar. Ao olhar meu celular, vejo que tem uma mensagem de Elaine.

[Elaine, 7:58] -Oi. O Médico disse que a Maya precisa sair um pouco daqui do hospital. Pra se animar, sabe?

Então logo resolvi responder, e começamos a conversar:

[Jake, 8:02] -Sei. E...

[Elaine, 8:03] -E, você é o professor dela, né? Quital ensiná-la hoje?

Claro que eu não ia recusar...

[Jake, 8:03] -Ok, já estou pronto.

[Elaine, 8:04] -Que bom... E onde vai ser?

Combinamos tudo por mensagem, e eu passei os detalhes a ela onde ia ser. Me troquei bem rápido, peguei minha guitarra, e logo fui para o local combinado a pé, pois é bem perto.
O local onde marcamos era na praça. Mas não era em uma praça qualquer... Foi na praça onde eu e Maya damos nosso primeiro beijo. Tenho um certo pressentimento que ela pode se lembrar, mas outro lado de mim diz que isto é bobagem, e vou terminar me machucando mais ainda.
Ao chegar na praça, logo vi ela sentada em uma bancada perto da sorveteria. A praça é bem pequena. É mais ou menos do tamanho do meu apartamento. Só que é um pouco maior, por causa da sorveteria. Foi naquela mesma sorveteria onde tivemos nosso primeiro encontro. E naquela mesma bancada, perto daquela árvore gigante, onde damos nosso primeiro beijo.
Até me lembro que depois do encontro, gravamos nossas iniciais naquela árvore. Que pelo que me lembro ainda estavam lá. Logo olhei para a árvore checando enquanto me aproximava de Maya. A Maya logo me viu quando me aproximei, ela estava muito melhor de quando a vi no hospital... Estava apenas com o braço e as pernas engessadas.
–Oi professor! -cumprimentava ela ao me ver
–Oi Maya.-agora que vi... Ela estava usando o mesmo vestido rosa claro em que usou no nosso primeiro encontro. Por quê? Só pra me fazer sofrer.-Bonito vestido. -disse disfarçando minha ansiedade
–Obrigada, prof. -ela corou
–Pode me chamar de Jake, se quiser. -foi minha resposta
Ela sorriu.
–Vamos tomar um sorvete antes da aula? -perguntava ela, que parecia entusiasmada
–Claro.
Entramos na sorveteria, e percebi que permanecia igual a ano passado. Em seguida logo vi Wili correndo em nossa direção. Wili é o garçonete mais simpático que já conheci. Ele acompanhou nosso encontro, ele nos conhece. E ele é muito amigo de Maya. Eles eram amigos desde crianças.
–Oi. Como vão os pombinhos? -disse ele sorrindo, com aquela animação que sempre teve
Naquela hora eu queria matá-lo.
–Ã? -Maya arregalou os olhos.-De que diabos você está falando?!
–Hora Mayazinha... Falo de vocês...-dizia Wili, até que o interrompi
–Não sei do que está falando!! -falei tentando disfarçar, e piscando discretamente pra ele
Wili continuou sem entender. Eu puxei ele pro canto e cochichei:
–A Maya sofreu um acidente. Ela não se lembra mais de mim.
Wili olhou pra mim transtornado.
–Ela lembra de mim?
Eu ia ter que dizer a verdade, mas como o Wili é sentimental... Ia ser difícil.
–Eu não sei. -dava pra ver que ele não estava bem com a notícia. Seus olhos estavam começando a lacrimejar. -Você está bem? -perguntei
–Tô, tô... -ele disse quase chorando. -Vocês vão querer sorvete? -perguntou ele, se virando pra Maya.
Maya se alegrou. Foi logo pra perto da vitrine, pegou o cardápio e começou a observar.
–Duas casquinhas de sorvete de morango, por favor! -disse a Wili.
–Ué, você já vai comer duas? -perguntou Maya
–Não... Uma é pra você!
–Como sabe que sorvete de morango é meu preferido? -ela disse arregalando os olhos
Wili chegou segurando as casquinhas e se intrometeu.
–Pode ter sido só uma palpite, né? -ela riu.- Aqui está! -ele disse enquanto entregava os sorvetes.
Maya logo enfiou a bola de morango na boca. Ela parecia está saboreando mesmo. Eu dei umas lambidinhas apenas. Eu gosto de sorvete de morango, mas prefiro de chocolate. Pedi de morango, porque foi o que pedimos no nosso primeiro encontro.
Tudo permaneceu em total silêncio o lanche todo. Quando acabamos, eu paguei a conta, e saímos da loja. Wili continuou em silêncio o tempo todo. Aquela notícia pra ele foi como se um raio tivesse o atingido.
Ao sairmos da sorveteria, ainda estava claro, podia-se ver o sol. Maya sentou naquele mesmo banco perto da sorveteria e da árvore. Ela deu um olhar cativante, e foi logo falando:
–Toca pra mim!
Eu me espantei.
–Tocar o quê? -perguntei
–O que você quiser... -foi a resposta dela
Eu retirei a guitarra da mochila, e comecei a tocar aleatoriamente, como se estivesse afinando as cordas. Ela observava atenta, parecia está curtindo a música. Depois quando ela começou a balançar as pernas, ai sim eu vi que ela estava gostando.
–Cara, você toca é muito! -foi o elogio dela, que quase me fez corar
–Obrigada.-agradeci enquanto ainda tocava.-Mas quem toca bem mesmo é você!
Ela deu um riso sarcástico.
–Como você sabe? Ah, a mamãe mostro um daqueles vídeos que ela filma, num foi? -ela falava como se já soubesse
–É, foi. -menti, pois ela não ia entender mesmo.
–Que mico... Aqueles vídeos são um horror! -ela falou e caímos na gargalhada
–Então... Vai querer aprender a tocar guitarra?-a interroguei enquanto parei de tocar.
–Na verdade, podia ser violão?
Eu tomei um susto... Maya querendo tocar violão?
–Claro, mas vai ter que ser outro dia, pois só trouxe guitarra.
Ela concordou.
–Me dá seu número!
–Você já tem. -foi minha resposta. Ela fez uma cara de confusa.-Sua mãe tem, na verdade... Tive que pegar com ela para combinar sobre hoje.
–Ata! -ela deu um suspiro de alivio
Em geral o passeio foi bem legal. Não foi como o nosso encontro de antes... É claro. Mas mesmo ela estando ali, sem me conhecer, sem se lembrar de todas nossas aventuras... Estamos construindo uma nova história, e mesmo nós não estando namorando... Eu estou ao lado dela, e sei que ela está bem, e, pra mim isso é tudo.