Red Velvet escrita por Joan Moss


Capítulo 9
Impotente. Inútil. Fracassada.


Notas iniciais do capítulo

Mais um. Espero que gostem! Não esqueçam de comentar, ok?!
Beijos e obrigada!



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Ele concordou em me ajudar com meus ferimentos e, mais ainda, com Harley Quinn. Obviamente eu não podia confiar nele, mas não tinha muito a perder, a verdade era que eu estava disposta a tudo para conseguir salvar Jess. Se fosse apenas minha vida em jogo eu sequer me importaria, mas com bom psicopata babaca o Coringa envolveu alguém inocente e Jess não merece morrer por minha causa, definitivamente não merece.

Assustei-me com o fato do asiático ter um carro, para mim ele realmente era um vagabundo que queria uma parceira do crime para poder comprar suas drogas, mas tirando todo aquele cheiro de lixo e a voz embargada ele parecia realmente alguém. Não alguém da alta sociedade ou alguém realmente importante, mas tinha alguma perspectiva de vida, ou talvez não porque tinha acabado de fazer um acordo comigo, uma fugitiva de Gotham City. Não fazia muita diferença para mim por motivos óbvios: ele me ajudaria com Harley e isso acabaria logo. Claro que ele apenas ajudaria na primeira parte que consistia em localizá-la, porém, para quem estava perdida em Coney Island desde o momento em que fora jogada para fora da van, ele estava ajudando e até demais.

Não me importava com o que teria que dar em troca, já havia perdido boa parte da esperança em minha vida e, isso em menos de uma semana como fugitiva, daria o que ele quisesse e quando desejasse. Assim que entrei no carro ele disse que me levaria até sua amiga para que ela me ajudasse com os ferimentos, tentei hesitar e dizer que tinha assuntos com Harley Quinn, porém ele disse que sequer conseguiria conversar com alguém com tamanhos machucados e hematomas em meu corpo. Odiava concordar, ainda mais com um estranho, mas ele estava certo, minha cabeça doía e, mesmo deitada no banco de trás de seu carro, sentia tudo ao meu redor girar. Estava mal.

A música completamente alta emergiu de dentro do carro, resmunguei um palavrão e sentia cada parte do meu corpo pular junto com o tremor da batida. A dor na minha cabeça somente piorou e tentava ignorar, não só a música, mas também, tudo ao meu redor. Fechei os olhos com força e escutei-o gritar algo como não poder me deixar dormir porque poderia ser pior. Ele estava tendo sucesso em não me deixar desmaiar, porque definitivamente eu não dormiria, caso fechasse os olhos tranquilamente eu desmaiaria.

Meus olhos estavam tão pesados que parecia como se eu estivesse trabalhado uma semana inteira em uma mina de carvão, sem dormir. Estava insuportável ter de segurar aquele sono absurdo e, mais do que isso, aguentar aquela música barulhenta. Piscava os olhos diversas vezes arregalando-os enquanto olhava para diversos pontos, mas tudo parecia ficar cada segundo pior.

Um dos pais adotivos de Jess era enfermeiro, um dia saí do orfanato escondida para passar a noite na nova casa dela – com total suporte dos "pais" –, estávamos jantando quando o Enfermeiro Phill nos disse que "quando o sono é maior que a dor e os olhos pesados são mais difíceis de se segurar do que um grito, a pessoa realmente está fodida!" Foi a primeira vez que escutamos alguém falar palavrão, na nossa frente, sem restrições. Jess os adorava, tinha apenas 12 anos quando fora adotada pelo casal, mas foi devolvida um ano depois, pois Phill morreu precocemente por conta de um tumor no cérebro, descoberto tarde demais, e sua mulher, Jacqueline, entregou Jess de volta ao orfanato dizendo que não conseguiria viver na mesma casa do que ela, pois a ideia e o desejo de adotar foi do marido e não dela, então toda vez que ela olhava para Jess ela se recordava de Phill. Ela se matou duas semanas após o velório.

O asiático parou o carro definitivamente saindo do mesmo sem seguida, sem desligar a música, abriu a porta traseira e me segurou em seus braços como se eu fosse um bebê de dois anos. Subindo as escadas comigo no colo chutou uma porta de leve abrindo-a em seguida, ela estava apenas encostada como se alguém já estivesse nos esperando. Senti meu corpo ser colocado em cima de um sofá e quando consegui enxergar algo notei que estava dentro de um enorme apartamento com as janelas abertas e o Sol entrando fracamente pelo local. Centenas de vasos de plantas estavam espalhados pelo local, pelo chão, pelo parapeito da janela e em todos os cantos possíveis. As plantas subiam pela janela, enrolavam-se nos fios estendidos da casa e trepadeiras surgiam grudadas na parede que um dia havia sido branca.

– Ela tá aqui – o asiático apontou para mim.

– Espero que saiba o que está fazendo – a voz de uma mulher surgiu atrás de mim.

– Te devo uma, Hera – ele sorriu sentando-se em cima da mesa de centro.

Quando consegui vê-la a mulher de olhos verdes e cabelo ruivo estava com o rosto bem acima do meu, analisava-me bem nos olhos enquanto me encolhia no sofá quente. Como boa cidadã de Gotham já havia ouvido falar dela, afinal, ela já havia lutado contra o Batman e sido uma das Aves de Rapina até algo acontecer e ela, novamente, lutar contra o homem-morcego. Agora ela estava ali, com um vestido verde, com seu cabelo ruivo em um emaranhado de plantas e, mais do que isso, me analisando como se eu fosse parte de uma experiência. Ela sorriu, seus lábios pintados de verdes formaram uma fina e longa curva de pura admiração.

Senti algo envolver minhas pernas e logo em seguida meus braços, a dor aumentou, tinha me esquecido dela por algum tempo enquanto entrava no covil da Hera Venenosa, que nada mais era do que um simples apartamento, olhei para meus pulsos que agora estavam sendo enrolados e dominados pelas plantas de Hera, tentei me soltar e escutei sua risada, fraca e entediada, e me odiei por confiar no asiático. Sabia que não devia ter feito isso, eu era uma estúpida.

– Me solta – puxei minhas mãos para cima, mas sequer consegui movê-las por muito tempo, as plantas puxavam-nas para baixo e eu não tinha força o suficiente para me soltar.

– Fica calma – o asiático manteve-se sentado ao meu lado e ergueu uma mão – nós só queremos ajudar.

– Ajudar o caral...

Me calei quando, novamente, o rosto pálido de Hera Venenosa tampou toda a visão ao meu redor, ela sorriu mostrando os dentes e então sussurrou:

– Bons sonhos, querida.

Logo em seguida, antes que eu pudesse fazer ou falar qualquer coisa ela me beijou. Senti seus lábios nos meus e tudo o que eu conseguia fazer era manter meus olhos abertos enquanto sentia minha cabeça pesar, a última imagem que consegui ver foi o asiático acendendo seu cigarro enquanto sorria e olhava nos meus olhos.

Zumbidos ecoavam em minha mente, a imagem estava torcida, mas eu reconhecia aquele lugar, como poderia estar de volta? Como estava ali novamente? Claro que tinham sido eles, a última coisa que me recordo era do asiático assistir Hera me entrelaçar e me beijar... Mas como eu havia desmaiado? Ela deve ter me beijado para que colocasse algo em mim, no meu braço ou no pescoço, uma seringa com um veneno talvez. Eu estava morta?

Ouvi um estouro em direção à porta, virei-me rapidamente e dei passos lentos para trás como quem quisesse fugir, e eu queria, queria muito. Pensei que tivesse acabado com aquilo de uma vez por todas, mas era ele entrando novamente pela porta da frente com toda sua fúria e sua embriaguez. Esbarrei minha cintura no balcão me dando conta de que já estava recuada o máximo possível, não tinha como fugir, não tinha conseguido mata-lo e agora ele vinha para se vingar. Meu coração palpitava, podia senti-lo, e no instante em que ele conseguiu entrar em seu próprio apartamento, após derrubar a porta com chutes fortes e certeiros, comecei a chorar incontrolavelmente. Jeff me fitava com os olhos cheios de fúria, uma metralhadora em mãos e a roupa toda suja de sangue, a roupa que vestia quando pensei que o tinha matado.

Ele vinha em minha direção, desfigurado, com o peito aberto em feridas grandes.

Cinco.

Seis.

Dez.

Vinte.

Trinta facadas.

Foram trinta facadas no peito e as feridas estavam abertas e expostas por baixo de sua camisa branca, rasgada com buracos enormes, ele sangrava, por onde andava deixava um grande rastro de sangue, mas na porta havia uma poça enorme, que parecia engolir todo o corredor do lado de fora.

– Jeff... – sussurrei erguendo as mãos.

Ele nada disse. Sorria e vinha em minha direção, os soluços faziam com que eu perdesse o ar por alguns segundos, estava apavorada, não queria morrer, não queria ser espancada mais uma vez, não de novo, não depois de me sentir livre mesmo fugindo de todas as autoridades de Gotham.

Boom!

HAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

Jeff havia sumido. Uma caixa enorme, verde com listras roxas, estava parada no meio da sala, exatamente onde Jeff estava segundos atrás. A caixa estava em cima de outra poça de sangue, estava levemente suja e fazia tic, tac tão alto que coloquei as mãos em meus ouvidos para que o barulho ensurdecedor não acabasse com minha audição. Abaixei até o chão com as costas encostadas no balcão, o barulho estava quase fazendo minha cabeça explodir e não conseguia fazer nada a não ser cerrar os dentes com tanta força que podia sentir o gosto do sangue de minha língua sendo esmagada. Não conseguia controlar.

Cerrei os olhos com tamanha força que minha cabeça doeu, quando pensei em desistir, largar as mãos e esperar que morresse em meio ao barulho ensurdecedor de uma bomba senti uma mão em meu queixo. O barulho havia parado, abri meus olhos deixando com que a misteriosa mão levantasse meu rosto, meu coração ainda palpitava e pude ver a luva branca curta envolvendo as mãos que erguiam meu rosto. Á medida que meu olhar subia, juntamente com meu rosto, pude ver um braço pálido seguido de uma roupa azul com a manga dobrada. Senti um calafrio em minha nuca, do tipo que todo mundo sente quando sabe que as coisas não estão bem, e eu não estava sendo salva, confortada ou qualquer coisa do tipo, estava nas mãos do Coringa mais uma vez, ele me levantava lentamente e no instante em que vi a máscara de sua face por cima de seu rosto estremeci. Me joguei no chão novamente e tornei a chorar, desta vez caí de bunda no chão e a risada de Coringa começou a ecoar pelo local.

Impotente. Inútil. Fracassada.

Nada de bom poderia vir de mim, eu era apenas uma garota amedrontada, estúpida e que sequer conseguiria cuidar de si mesma, que choraria caso se encontrasse com a morte e imploraria para que a mesma não a levasse.

Covarde...

... Assassina.

Um grito ecoou pelo local. Ergui minha cabeça na mesma hora e então vi Jess amarrada em uma cadeira de plástico branca, bem no centro da sala de nosso apartamento. Não estávamos mais na casa de Jeff e a caixa de presente havia sumido junto com o Coringa. Fiquei de pé imediatamente, ela chorava com as mãos presas para trás e os pés colados ao chão com uma corda amarrando-os.

Ela estava ensanguentada e com hematomas pelo rosto. Parte de seu cabelo cortado e dizia algo inaudível para mim que estava muito longe. Tentei ficar de pé. Minha perna queimou em uma proporção que parecia, literalmente, pegar fogo, mas ela não estava em chamas, apenas doía tanto que eu não fui capaz de controlar um grito. Sentia o suor escorrer por minha nuca e minha testa, meu cabelo ondulado e, agora, verde estava escorrido por meus olhos onde, de relance via alguém se aproximar de Jess.

Impotente.

Inútil.

Fracassada.

Não conseguia me levantar. A dor na perna me matava, consumia de mim toda minha força, sentia meus braços fracos e as pernas mais ainda. Novamente uma dor de cabeça rodeou meu crânio, mas tentei ignorá-la com a dor imensurável que sentia na perna. Arrastei-me em direção à Jess, alguém se aproximava cada segundo mais dela imóvel, inquieta e amedrontada.

Novamente tentei gritar, nenhum som saiu de minha boca, trêmula me arrastava até ela. Mas de repente ela caiu da cadeira, como quem tivesse empurrado ela, mas não havia necessidade, a força do golpe fez com que ela caísse. Novamente, chorei, tentei gritar e não consegui.

Impotente.

Inútil.

Fracassada.

Isso é o que sou, essas três palavras me definem enquanto eu, largada no chão com dores incontroláveis na perna e no braço, olho para os olhos imóveis, estáticos e sem vida de minha melhor amiga e irmã de criação. Fechei os olhos, nada mais importava, ela estava morta por minha causa, era hora de desistir, não havia mais porquê tentar lutar.


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Notas finais do capítulo

Louco, não é? hahahahaha Muito louco, tive que ouvir milhares de músicas doidas para entrar no clima, mas até que deu uma "vibe" bem legal. O que acharam?
Beijos e me contem!



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