Red Velvet escrita por Joan Moss


Capítulo 8
Acordo


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/635040/chapter/8

Encolhi na blusa de frio enquanto procurava uma loja qualquer, no instante em que avistei uma dessas lojas simples que vendem balas e qualquer coisa que você necessita, entrei. A moça asiática do balcão me fitou enquanto eu pegava um chocolate no balcão, pedi um telefone descartável e claro que ela me fitou completamente desconfiada, não era para ser diferente, eu era uma desconhecida em sua loja pedindo por um telefone descartável.

Telefones descartáveis são aqueles que você pode ligar apenas uma vez e custa bem menos que um celular normal, precisava ligar para Jess para saber se ela estava em segurança, ela era minha melhor amiga e jamais me perdoaria se algo acontecesse com ela.

A asiática me entregou o celular falando o preço do chocolate somado ao aparelho, entreguei o dinheiro e deixei que ela ficasse com o troco, talvez ganhasse sua simpatia e, mais ainda, talvez ela não ligasse para a polícia falando de uma mulher suspeita de cabelos verdes pedindo telefone descartável em sua loja.

Disquei o número de Jess enquanto me sentava em um banquinho na praça mais próxima que encontrei, ela não demorou muito a atender, mas sua voz não parecia estar muito boa, era como se ela estivesse gripada ou, talvez, acabado de acordar.

– Jess?

Sua voz melhorou ao reconhecer a minha – Ah, você finalmente ligou.

– Como você tá? – perguntei.

Bem, e você? Achei que tivesse sido pega ou algo do tipo.

– Ainda não.

Ela riu – Nem brinca. Agora você tá valendo ouro.

– Estão pagando para quem me encontrar? – perguntei surpresa.

Claro que não, isso é coisa de filme de faroeste – ela riu do outro lado da linha – mas há boatos de que até o Batman está te procurando.

– Por que ele se importaria com uma assassina fugitiva sendo que ele tem peixes maiores para pescar?

Ela fez uma breve pausa.

– Jess? – a chamei ainda na dúvida se ela estava na linha.

Você não sabe né?

– Do que? – perguntei confusa.

Nat, você tem visto as notícias?

– Claro, tenho parado em locais por ai para assistir as notícias né? – brinquei.

Como pensei – ela sequer riu do outro lado da linha – eles estão te chamando de “Filha do Coringa”.

Fiquei em silêncio, já era de se esperar.

Nat? – desta vez ela quem me chamou.

– Estou aqui.

– Relaxa, eles não sabem o que falam.

– Errados não estão, né?

Ele nunca foi seu pai de verdade, Nat – ela tentava me confortar.

– Tanto faz – respondi olhando o chafariz à minha frente – está tudo bem com você?

Sim, estou bem e você?

– Também. Não tenho um número certo, mas vou tentando te ligar e não fala pra ninguém que conversamos.

Onde você está?

– Não posso dizer, mas estou bem, relaxa.

Volta pra casa logo, Nat.

– Antes tenho algo para fazer.

Por favor, me diz que é coisa boa.

– Não posso dizer – ri um pouco forçado – se cuida, ok?

Você também.

– Beijos – me despedi desligando o celular.

Joguei o celular na lixeira ao meu lado e permaneci ali, por algum tempo, apenas pensando em como faria o que eu tinha que fazer. Tinha que matar Harley Quinn para manter a minha amiga viva e não podia falhar porque não conseguiria saber se ele a manteria viva mesmo comigo morta, há uma grande probabilidade disto não acontecer. Claro que ele não se importa comigo, claro que ele não merece ser chamado de pai ou sequer considerado um, estava me chantageando da maneira mais baixa de todas, e eu tinha que matar alguém para manter minha amiga viva. Tinha que matar Harley Quinn uma das maiores assassinas do país e ex-parceira do Coringa para que tudo desse certo.

Numa escala de zero à dez minhas chances eram zero. Eu sequer era uma assassina, matei Jeff por motivos que o mundo não sabe, apenas Jess e meu “pai”, mas é claro que ele se aproveitou disso para que me colocasse no meio de toda essa sujeira, confesso que pensava em chamar o Batman e contar à ele que o Coringa estava vivo e planejando mais algumas coisas, porém, isso apenas e traria problemas, tais como: morte de Jess, minha prisão e, num caso mais drástico, minha morte junto.

Como eu mataria Harley Quinn com todas aquelas habilidades de ginástica e o histórico de massacres? Era loucura, eu tentava pensar a todo vapor em algum segundo plano, como mandar Jess para fora do Estado ou do país, mas seria em vão porque ele, definitivamente, a encontraria em qualquer lugar, não era algo difícil para ele. Já pensei até em aceitar o fardo que será ser a culpada pela morte de Jess, sim, pensei, mas logo mandei a ideia embora e fui para Coney Island e era onde eu estava naquele exato momento.

Não sabia nem como procuraria Harley, se a enganaria ou se partiria diretamente para o ataque, mas a segunda ideia parecia um horror quando eu lembrava que sequer sabia lutar e, muito menos, usar realmente uma arma. Estava amedrontada inteiramente por dentro, amedrontada de não conseguir prosseguir, executar e concluir o que me foi dito. E eu tinha quase certeza que não conseguiria então aquela ligação fora uma despedida, mesmo que indiretamente.

Pus-me de pé do banco andando em qualquer direção. A acharia em algum lugar até porque não era muito difícil achar uma assassina com cabelos coloridos e pele branca, esperava a achar o mais rápido possível para fazer, de uma vez por todas, o que me fora dito e poder voltar para casa e talvez me entregar. Fugir não daria certo por muito tempo, por fugir que me encontro onde estou.

O céu estava azul e a cidade era completamente diferente de Gotham que tem seu ar obscuro e poluído, Gotham era realmente uma cidade morta e incrivelmente feia perto de Coney Island, a cidade parecia um paraíso perto de Gotham e compreendia muito bem o porquê de Harley ter se mudado para cá, era mil vezes melhor do que vivem em Gotham, era óbvio.

Abri meu chocolate enquanto andava e observava todos que passavam pelas ruas. Não que acha-la seria algo difícil, porque se eu simplesmente avistasse uma louca com a pele branca, cabelos coloridos e uma maquiagem extravagante saberia claramente que era ela. Mas nem sinal de Harley nas ruas.

Talvez eu demorasse dias para encontrá-la, e, honestamente tinha medo do que poderia acontecer se demorasse muito para fazer o que tinha de ser feito. O que eu, sinceramente, não me achava capaz de conseguir porque ela é Harley Quinn e eu sou Natalie Jerome, e é exatamente isso: quem sou eu? Provavelmente uma ninguém que tem o pior pai que qualquer um poderia ter e que, como se não bastasse ser comparada com um psicopata assassino durante toda a vida, estou sendo chantageada por ele, se fosse apenas eu isso não seria o problema, a questão é que ele está mexendo com alguém que nunca teve nada a ver com isso, minha melhor amiga.

Caminhando pelas ruas de Coney Island senti minha calça jeans ficar cada vez mais fria e úmida como se uma mangueira estivesse sendo ligada diretamente na minha perna. Olhei para baixo e pude notar que minha calça jeans clara estava repleta de sangue, minha coxa latejava ferozmente e por mais que eu soubesse da presença daquela ferida acreditei quando o capanga gordo disse que havia feito curativo na mesma.

Foi tudo parte de um plano que eu não tive escolha a não ser aceitar, o psicótico do Coringa, também conhecido como meu pai, sugeriu que eu procurasse Harley completamente machucada e que teria que parecer real, por isso ele me obrigou a me mutilar. Não foi tão divertido fazer isso quanto foi para ele ver. Ele sorria e batia palmas enquanto gritava para que eu enfiasse a faca mais funda em minha perna, tinha que parecer real, tinha que ter muito sangue porque todo mundo se comove com sangue e lágrimas. Meu braço ainda estava normal, claro eu não estava tendo que mexe-lo tanto quanto minhas pernas, até porque eu ainda andava por aquela maldita cidade sem uma única pista da palhaça.

Fui jogada da van pelo gordo em um dos locais mais desertos de Coney Island e, milagrosamente, consegui chegar até a praça central e talvez, mas só talvez, a razão de andar tanto tenha sido o motivo para minha perna estar sangrando daquela maneira. As pessoas olhavam para minha perna apavoradas, mas quando subiam o olhar para mim e viam uma pessoa estranha perdida dentro do capuz preto do casaco desistiam de me ajudar o que eu estava achando ótimo, mas ao mesmo tempo um pouco solitário. Mas aquela era minha opção agora, afinal, antes de qualquer coisa eu era uma fugitiva que não poderia ser reconhecida.

Entrei no primeiro beco que para evitar que chamasse mais atenção com a calça já vermelha em sua grande parte. Me joguei em cima dos sacos de lixo pretos, estavam fofos o que amorteceu minha queda. Passava a mão desesperadamente na calça em volta da ferida sem saber o que fazer, doía mais que o normal e tudo o que eu queria era acordar daquele maldito pesadelo, mas tudo o que consegui foi chorar. Mordia meu lábio apenas deixando as lágrimas escorrerem e com raiva de mim mesma por ter chego naquela situação.

Se eu não tivesse matado Jeff, se eu tivesse o denunciado ao invés de agir por impulso seria melhor, mas não, eu tinha que ser a idiota que o mataria e se foderia, mais uma vez, por causa daquele babaca. Até morto Jeff me fodia e não de um jeito bom.

Senti algo se mover ao meu lado, antes que pudesse tentar me levantar senti alguém segurar meu pulso. Meu coração saltou e tentei soltar-me da mão de quem quer que fosse, por fim consegui ficando de pé, minha força foi tanta que acabei sendo jogada para trás e batendo as costas de leve na parede de tijolos do beco. Senti minha perna fisgar e abaixei um olhar rapidamente para minha coxa para ver se estava muito suja de sangue e sim, estava, o que era uma grande merda.

Vi emergir em meio aos sacos pretos de lixo uma pessoa, encostei-me na parede, pensei em correr ou sair dali como se nada estivesse acontecido, mas a dor estava maçante demais para que eu pudesse ir muito longe, para aquela pessoa estar ali, afogada em sacos de lixo, provavelmente ela não representava muito perigo, talvez estivesse dormindo por ali, por não ter uma casa ou simplesmente algo aconteceu que o levou até aquele local.

Sua mão apareceu primeiro, pálida e suja, ela tentava alcançar o topo dos sacos de lixo e assim que conseguiu alguma firmeza pude ver o rosto do homem caído, seus olhos estavam fechados, ou abertos, não conseguia dizer muito bem porque ele parecia sonolento e, mais do que isso, ele era asiático e estava completamente confusa se ele estava de olhos abertos me encarando ou se estava em algum estado estranho de sonambulismo.

Talvez ele não me notasse ali, talvez ele voltasse a dormir e eu poderia sair tranquilamente sem ser notada. Mas é claro que não, a sorte nunca está ao meu favor e não seria naquele momento que ela apareceria em minha vida. Ele sentou-se escorando suas costas do outro lado da parede tijolada e suja do beco, ergueu os braços para cima e enquanto bocejava se espreguiçava. Soube que ele estava olhando para mim e que, inclusive, havia me notado no beco quando desceu seus braços com um sorriso.

– Já estava de saída, então...

– Você me acordou – ele resmungou com uma voz grossa.

– Não sabia que isso era uma cama – apontei para os sacos de lixo.

– Nossa – ele apontou para a minha perna ficando sério – isso tá sério pelo visto, hein?

Olhei para minha perna – É, vou procurar um hospital.

– Tenho uma amiga que pode ajudar – ele sorriu novamente – ela tem uns métodos legais e eficazes, ela usa ervas e coisas naturais.

– É, valeu – resmunguei me arrastando em direção à saída do beco.

– Ei, espera ai!

O escutei gritar e então escutei barulho dos sacos se movendo, antes mesmo que ele pudesse se aproximar para tentar me ajudar ou qualquer coisa do tipo ergui minha mão esquerda em sua direção enquanto escorava meu corpo com o ombro direito.

– Você...

– Cai fora, cara! – falei ríspida – não estou pedindo ajuda nenhuma, então, cai fora.

– Me parece que você está precisando de ajuda, assassina de Gotham – ele cruzou os braços no instante em que me virei para ele – não é como se ninguém soubesse das coisas que rolam por lá, fora de lá.

– Cala essa boca – tentei ir em sua direção, mas a fisgada na perna me impediu.

– Não quero fazer nenhum mal, só vou oferecer uma oferta, pode ser? – ele ergueu as mãos para cima como se estivesse se rendendo.

– Não, valeu.

– Então você vai morrer de hemorragia.

– Por que você quer me ajudar? – perguntei encostando minhas costas na parede ficando de frente para ele.

– Porque assim você me ajuda também. É uma via de mão dupla, e não me parece que você está muito bem ou tem para onde ir.

– Tá, mais uma vez, obrigada pela oferta...

– Que você nem ouviu – ele me interrompeu levantando as mãos até a nuca encostando na parede em frente à mim, ele parecia muito tranquilo e aquilo me assustava.

– Tanto faz – continuei me escorando para fora do beco – não vai rolar.

– Garota – ele segurou meu braço fazendo com que eu não conseguisse me mover – você devia aproveitar as situações.

– De um mendigo em um beco? – sorri sarcástica – certo, me leve para sua mansão chique e peça sua amiga para me curar com suas maconhas e coisas místicas.

– Em primeiro lugar eu não sou um mendigo, em segundo minha amiga não mexe com drogas, talvez um pouco de veneno, mas é sempre por uma boa causa. Ela está passando uma semana aqui na cidade, então, esse é seu dia de sorte. E realmente preciso das suas habilidades.

Eu gargalhei – Habilidades?

– Você é uma assassina.

– Sério? – soltei meu pulso de sua mão bruscamente – eu matei por pura defesa, eu sequer sei manusear uma arma, olhos fechados. Não posso te ajudar em nada.

– Oh, sim. Você pode ajudar bastante.

– Mesmo gênio? – cruzei os braços – me explica porque eu realmente não estou conseguindo entender que porra você quer de mim.

– Fico feliz que resolveu escutar o que tenho a dizer – ele cruzou os braços – você é forte.

– Você sabia que meu apelido na escola era "saco de ossos"?

Ele gargalhou coçando a nuca – Você é engraçada. Mas olha só, o que eu quero dizer é que você é forte no sentido de aguentar firme o que rola contigo.

Cruzei os braços o fitando sem entender, mas ele prosseguiu clareando minha mente:

– Você tem dois locais sangrando absurdamente e mesmo assim tá de pé e querendo se livrar de mim.

Olhei para minha perna e senti meu braço latejar. Caso ele não tivesse dito sobre dois lugares estarem doendo eu não perceberia que meu braço direito, aquele que aguentava grande parte do meu peso escorado na parede de tijolos do beco, estava sangrando tão significativamente quanto minha perna. Passei a mão por cima da calça e a ergui observando o sangue tomar conta de minha mão, a calça já estava úmida de tanto que minha perna sangrava e provavelmente meu casaco estava na mesma situação, mesmo que fosse bem mais difícil de notar já que era preto.

– Algo realmente ruim rolou com você, não foi? – o homem perguntou retirando minha concentração ao sangue.

– Não acho que seja da sua conta – respondi levantando meu olhar até ele.

– Claro que não. Veja bem, estou só oferecendo uma troca, eu cuido dos seus machucados enquanto você me ajuda em algo.

– Por que deveria confiar em você? – indaguei.

– Porque eu não seria maluco de matar a filha do Coringa, se é isso que quer saber – ele cruzou os braços sorridente – assim como é seu dia de sorte, acabou que foi o meu também, afinal não é todo dia que alguém te acorda e você vê a luz.

– Eu sou a luz? – revirei os olhos – você está realmente desesperado.

– Não tanto quanto você, me asseguro.

– Eu quero algo além da cura dos meus machucados – o fitei diretamente em seus olhos puxados.

– Prossiga – ele arqueou uma sobrancelha.

– Quero que me consiga a localização de Harley Quinn.

Ele riu estendendo a mão até mim - Isso vai ser fácil, temos um acordo?!

Estiquei minha mão ensanguentada apertando a sua - Claro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gente, eu postei pelo cel porque não estava conseguindo postar pelo pc, se tiver com erro de formatação e tal, me avisem! Beijos!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Red Velvet" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.