Três semanas de treinamento e eu finalmente tinha conseguido, mal pude acreditar quando no dia anterior vi a folha se dividindo perfeitamente em duas, o bisturi antes uma massa sólida de chakra era não era nada além de um leve brilho, mas perfeitamente cortante. Um vento passou jogando meu cabelo para trás, aliviando o calor da estação, estava parada na frente de uma loja de ervas, esperando Hiroaki comprar o necessário para o procedimento, como a loja era abafada preferi ficar do lado de fora aproveitando a brisa, porém nem isso diminuía o meu desconforto com a temperatura, tonturas iam e vinham.

– Sakura.

Levantei o meu rosto, encontrando uma mascara Anbu já familiar, Sasuke-kun tinha chegado tão silencioso que nem tive tempo de esconder-me como vinha fazendo nos últimos dias, respirei fundo tentando ignorar a tontura que se instalava no meu corpo.

– Oi, está indo para uma missão?

Tentei sorrir como sempre, mas a tentativa tinha sido tão falha que desisti, só não tinha saído mais ridícula do que a forma como evitei o inicio de qualquer conversa indelicada, era óbvio que ele partiria em missão, o uniforme completo demonstrava isso, porém o ar parecia faltar em meus pulmões para eu me preocupar com esse detalhe.

– Você insiste em fugir… - me desequilibrei enquanto estava em pé, tendo que me encostar na parede para não cair, no mesmo instante Sasuke-kun se calou, dando um passo para perto de mim - Está passando bem?

– Hai, é só uma tontura.

Notei uma diferença no tom de voz que vinha da máscara, voltei a ficar em pé tentando não transparecer nada grave, mas me arrependi no segundo seguinte quando quase cai no chão, sendo amparada pelos braços de Sasuke-kun. Logo senti seus dedos frios pressionando de leve o meu pulso, quis me colocar de pé novamente, porém minhas pernas não obedeciam e quando percebi já estava no colo de Sasuke-kun.

– Sua pressão caiu, vou levá-la ao hospital.

Sua voz parecia longe, e não encontrei forças nem para balançar a cabeça em concordância quando a voz do Hiroaki chegou aos meus ouvidos.

– Já tenho tudo Saku… Pelos deuses, isso não é um bom sinal. - tive a impressão que uma mão tocava minha testa, mas meus olhos não mais estavam abertos e aos poucos minha mente apagava.

– Irei levá-la ao hospital. - Hiroaki anunciou e talvez em um melhor estado de consciência eu poderia dizer com clareza se o aperto de Sasuke tinha se intensificado ou não, mas naquele momento era impossível distinguir.

– Capitão, estamos prontos pra a missão. - a voz vinha longe e quase não pude entende-la corretamente.

– Não se incomode Anbu, siga com sua missão que eu irei levá-la imediatamente para o hospital. - senti duas mãos me segurarem e puxar meu corpo, porém os braços de Sasuke ainda deviam estar em mim, já que o processo parecia ser dificultado para Hiroaki - Não se preocupe, sou médico e lhe garanto que ela ficará bem.

Não houve resposta, ao menos não uma que eu conseguisse ouvir, já que no segundo seguinte apaguei.

[...]

Acordei sentindo alguns raios atravessarem a janela, olhei para o relógio na parede do quarto onde tinham me instalado, os ponteiros me indicavam que passava um pouco do meio dia. O soro preso a minha agulha intra-venenosa estava seco, mas preferi esperar alguém chegar, não bastou muito tempo e Tsunade-shisou passou como um furacão pela porta com um olhar reprovador para mim, sorri como uma criança tentando disfarçar uma traquinagem aprontada, o que pareceu diminuir um pouco a sua raiva.

– Vou nem perder meu tempo falando que você não deveria estar se esforçando, afinal você não é uma criança pra isso. - ela foi diretamente para o soro, trocando-o por um cheio.

– Desculpe te preocupar Tsunade-shisou, foi uma queda de pressão repentina, e…

– Não foi uma queda de pressão Sakura, - minha mestra me interrompeu - sua produção de chakra parou por alguns minutos, e isso acabou fazendo você ter não uma queda de pressão, mas uma alteração nos seus batimentos cardíacos.

– M-meu coração estava parando? - perguntei assimilando os sentidos das palavras, estava numa posição diferente, agora era eu a paciente que tentava digerir tudo que acontecia ao meu corpo.

– Sim, Hiroaki está preparando o que for necessário, faremos o procedimento hoje.

– Tudo bem, chame o Naruto para mim por favor, tenho que contar para ele…

– Você ainda não fez isso! - vi sua testa se tencionar, como acontecia toda vez que se irritava - Agora entendo porque ele não está aqui lhe atormentando. Fique aqui descansando.

Sem dizer mais nenhuma palavra ela saiu do quarto, fiquei um tempo sentada olhando pela janela até que minha inquietação estava tão grande que resolvi ir no banheiro, mais uma vez tive uma crise de tosse e meu sangue escorria pela boca, meu pulmão ardia ao mesmo tempo que o sentia o cheio, pesado. Voltei para a cama, respirando devagar para melhorar a oxigenação das minhas celulas, na esperança de assim diminuir as dores que se espalhavam pelo meu corpo, deitei-me procurando algum conforto, minha mente ainda girava e a luz parecia piorar tudo, o que me levou a deixar as palpebras caírem.

– Sakura-chan? - abri os olhos, encarando o rosto curioso e preocupado de Naruto acima do meu. - Você está bem? O que aconteceu com você Sakura-chan? Tsunade-obaachan disse que você tem que tratar de um assunto urgente comigo.

Sentei-me na cama, quase rindo da sua agitação, olhei bem para o azul confuso dando dois tapinhas no colchão para que ele se sentasse, o que fez de maneira desconfiada.

– Naruto, tenho que te contar uma coisa, me desculpe por esconder isso por tanto tempo é só que… - suspirei cansada, não estava sendo fácil contar algo que eu vinha escondendo já por não querer lidar com as reações exteriores. - Naruto, há um pouco mais de um mês descobri que estou doente, ou melhor estou morrendo.

– O-o quê Sakura-chan? C-como assim? O que você quer dizer com isso? - ele mexia os braços afoitos, junto de uma expressão totalmente aterrorizada.

– Faz quase dois anos que venho usando uma planta rara em pesquisas e procedimentos médicos, - comecei a explicar, roubando lhe a atenção - ela era um ótimo amplificador de ninjutsus médicos, porém o que eu não sabia era que ao ser usado ela libera uma toxina, a substância age na rede de chakra tornando o sistema desfuncional. - ri cansada quando vi seu desentendimento em relação aos termos médicos - Meu corpo não produz mais chakra Naruto, e um ninja que não produz chakra morre.

– M-mas Sakura-chan, tem que ter alguma cura, a obaa-chan tem que saber de algo. Você já sabe o que fazer, certo? - a dor que saia da sua voz me atingia de uma maneira terrível, eu não queria ver meu melhor amigo sofrer mais uma vez.

– Foi por isso que fui buscar Hiroaki, ele é um especialista sobre o uso dessa erva, esse tempo todo ele vem ajudando a mim e Tsunade-shisou em desenvolver um método de cura, nós achamos, só que para isso será necessário alguém de chakra poderoso me fornecendo durante o processo, é aí que você entra. - respirei fundo, me sentando melhor na cama - Tsunade-shisou acha que o chakra da Kurama seria ideal para isso, já que acelera o processo de cura, mas não é por isso que estou lhe pedindo para me ajudar Naruto, não consigo pensar em alguém melhor para confiar a minha vida, estou com medo e confio de olhos fechados minha vida em suas mãos.

Cansada daquela situação, escondi o rosto entre as mãos, não aguentava mais o medo e a preocupação que me seguiam de a qualquer instante meu corpo simplesmente parar de funcionar. Uma mão pousou carinhosamente no meu ombro passando-me conforto, levantei a face para encontrar o sorriso esperançoso de meu amigo, dando-me confiança pra acreditar que tudo ficaria bem.

– Nem precisa pedir Sakura-chan, quando vai ser isso?

– Oh Naruto! - puxei-o para um abraço pelo pescoço, ele reclamou de falta de ar o que me fez soltá-lo, chorando e rindo ao mesmo tempo - Será hoje, Hiroaki disse que tanto mais cedo melhor, Tsunade-shisou te dará os detalhes.

– Tudo bem, irei agora mesmo falar com ela. - um lampejo pareceu atingir sua mente, mudando completamente a expressão do seu rosto - Sakura-chan, alguém sabe disso? Quero dizer, o teme…- balancei negativamente a cabeça, interrompendo sua fala.

– Só quem sabe além de Tsunade-shisou e Hiroaki, agora é você, Shizune desconfia que algo está acontecendo, mas não sabe da gravidade.

– Por que você não contou Sakura-chan? Nós poderíamos ter ajudado, não é certo passar por tudo isso sozinha.

– Eu não estava sozinha Naruto, shisou e Hiroaki me deram bastante apoio, além do mais contar para mais alguém seria ruim para a minha situação. Eu precisava me concentrar em achar a solução e se tivesse de lidar também com os sentimentos de todos… eu simplesmente não iria conseguir conciliar.

– Entendo Sakura-chan, mas se tivesse acontecido algo durante esse tempo? Nossa, quero nem imaginar como eu ou teme ficariamos, você é nossa familia. - desviei meu olhar para janela, procurando algo interessante lá fora.

– Não vamos pensar nisso Naruto, já foi.

– Tudo bem, vou falar com a obaa-chan. - do nada meus ombros foram esmagados por uma abraço surpresa - Não se preocupe Sakura-chan, - ele sussurrou em meu ouvido - tudo vai dar certo. Confie em mim.

[...]

Difícil, cansativo, massante, era assim que eu descreveria o processo de cura. Já haviam se passado doze horas desde o seu fim e ainda me sentia exausta como nunca. Curar minha própria rede de chakra, controlar o chakra fornecido por Naruto, deixar a Técnica da Força de uma Centena ativada durante todo o processo tinha sido massacrante, durante todo processo Tsunade-shisou e Hiroaki tiveram de controlar meus batimentos cardíacos, regular minha respiração ou curar pequenas hemorragias que iam surgindo no meu corpo. O procedimento tinha sido um sucesso, entretanto só me asseguraria disso quando visse os exames que fiz ao término da sessão e a ansiedade por respostas nem ao menos permitia-me dormir. Fator que foi corrigido por Hiroaki, que me dando uma bronca por ainda está acordada, aplicou uma dose forte de calmante.

No outro dia quando acordei, Ino gritou todas sua preocupações em minha cara, estava irada comigo por esconder algo daquele tipo, os próximos foram meus pais, especialmente minha mãe que emanava uma áurea de fúria, inconformada por não ter sido avisada de nada, mas logo desabou em choro, resmungando o quão preocupada tinha ficado quando soube de minha situação. Naquela tarde Kakashi-sensei entrou no meu quarto com uma pasta na mão, seu olhar era severo, provavelmente por tê-lo escondido minha situação, mas nada disse entregando somente os papeis, quando comecei as ler os exames chorei de felicidade, meu corpo estava normal, meu chakra era produzido livremente, e só seriam necessários uns dias de descanço até voltar a minha forma original. Quando compartilhei a notícia sua face se suavisou, dando lugar a seu sorriso calmo e terno, até permitindo uma bagunça nos meus cabelos e puxar uma cadeira do meu lado, milagrosamente tirando um tempo para conversar.

Muitos amigos vieram me visitar durante o resto do dia, e no seguinte, mas ninguém se comparava em alegria e energia a Naruto, ele andava e até pulava alegremente pelo quarto, vez ou outra recebendo um alerta de Hinata sobre o barulho. Naquela tarde fiz uma bateria de exames, ainda era meu terceiro dia alí e logo seria liberada do hospital. De noite caí no sono cedo, o cansaço de tantos meses sendo atingida por aquela doença parecia estar sendo descontado em poucos dias, acordava somente alguns minutos para tomar remédio ou achar uma posição mais confortável na cama, e foi em uma dessas vezes que abrir o olho sonolento que me surpreendi ao me deparar com aquela bela figura sentado numa poltrona velando meu sonho sem parar.

– O que faz aqui Sasuke-kun? Não devia estar em missão?

– Isso não importa agora. - sua voz era dura, mostrando um grande descontentamento - Por quê Sakura?