Entrei na sala de Naruto sem me preocupar em bater, ele ria abobalhado olhando para Hinata que estava sentada em uma das cadeiras de frente para a mesa, escondendo o rosto com as mãos. Notando minha chegada tentaram se recompor, tentativa falha já que só era olhar para o rosto da mulher para ver a vermelhidão, ao contrário de Naruto que só precisou dar um sorriso envergonhado para voltar a postura de sempre.

– Se bate na porta antes de entrar, teme. - Naruto ralhou-me de um jeito sério, mesmo sabendo que eu faria pouco caso.

– Você mandou me chamar, o que quer?

– Tenho uma missão para você. - aquela frase me fez entrar em alerta, já que essa seria minha primeira missão após meu retorno para a vila - Amanhã de manhã a sobrinha caçula do Senhor Feudal do País do Fogo partirá daqui de Konoha com uma pequena comitiva que deverá ser escoltada até o destino da menina. Sei que você deve estar ocupado com a Anbu, mas estou com poucos ninjas na vila e foi exigida a presença de um Anbu, Hinata-chan irá também como sua dupla, eu até tentei colocar a Sakura-chan no time, mas Tsunade- baachan quase que me matava dizendo que eu não ousasse tirar Sakura de perto dela, nem parece que sou o Hogake.

Pouco me importei com o bico de Naruto ou sua voz derrotada, uma reclamação dessas me parecia estranha vindo de uma pessoa como Tsunade, o comportamento de Sakura também andava estranho, mal nos víamos e quando isso acontecia estava sempre apressada demais, ás vezes soltando um sorriso, ou outras nem notando minha presença. Era bem óbvio que algo estava acontecendo e ela fazia questão de esconder, o que só me deixava em alerta para a gravidade da situação.

– A comitiva sairá de sete horas da manhã, esteja a essa hora devidamente uniformizado no portão Sasuke.

– Tsc, tudo bem.

Acabei voltando para a sede da Anbu, informei para os presentes que ficaria fora por um tempo, me isolei em uma das salas para preparar um quadro de tarefas e formações de equipes que poderiam ser usadas em determinados tipos de missão, sabia da confiança que Naruto depositava em mim e de como qualquer oportunidade seria aproveitada para ser feita uma critica a mim, até que eu fosse capaz de conquistar a confiança e o respeito de todos. Quando finalmente sai do prédio cinza, notei o céu completamente tomado pela escuridão da noite, decidir parar no caminho e fazer uma refeição antes de ir me preparar para a missão, na volta para o apartamento acabei passando na frente do hospital, parei por um momento em frente ao prédio, pensei novamente no que Naruto disse e no comportamento estranho que Sakura vinha tendo nos últimos dias, por um instante cogitei entrar naquele hospital e perguntar o que estava acontecendo, talvez até ir em sua casa. Porém era de Sakura que estávamos falando, se ela quisesse esconder algo conseguiria fazer isso muito bem, não importando o quando fosse pressionada.

[...]

Era um pouco antes da sete horas quando cheguei no portões da vila, estava completamente vestido com o meu uniforme, a máscara era quente e abafada, não era nada confortável para um dia que desde cedo já dava sinais que seria ensolarado, porém nada que eu não poderia me acostumar. Dei uma última conferida na lâmina de Kusanagi, querendo garantir que esta estava perfeitamente afiada, quando notei a chegada de uma pequena carruagem vermelha, decorada com desenhos amarelos e detalhes em ouro sendo puxada por dois cavalos marrons, quatro samurais andavam ladeando o veículo. Hinata vinha junto com a pequena comitiva, ladeando a porta da carruagem, porém o que me surpreendeu foi a figura brilhante de cabelos rosados. Sakura andava com as mãos escondidas nas costas, como seu costume, usava uma blusa vermelha curta e sem mangas que deixava sua barriga à mostra, seu short preto e colado ia até metade de suas cochas, sendo coberto por um avental vermelho com o círculo dos Harunos e a incomum bota de combate de cano alto. Entendia que o clima quente pedia algo mais confortável de se vestir, mas ainda era inquietante vê-la com tantas partes do corpo amostra.

Estranhei o repentino aparecimento de Sakura na missão, se Tsunade a queria na vila só mudaria de opinião com um motivo muito forte, o que só me fazia ficar ainda mais desconfiado. Quando finalmente alcançaram o ponto em que eu os aguardava Sakura deu um discreto sorriso, que retribui em um aceno mínimo, já que como Anbu nenhuma identificação poderia ser citada, éramos uma organização de ninjas sem rosto.

– Este é o ninja que será minha dupla durante a missão, ele é o Anbu mais qualificado da vila Fumio-san. - Hinata disse para aquele que parecia ser o líder do pequeno esquadrão.

Notei o uso da palavra dupla, e novamente movi meus olhos até Sakura tentando entender sua presença, ela não estava alí para a nossa missão, mas suas roupas indicavam que estava para partir em uma. Conforme a comitiva passou pelo portão da vila pegando a estrada que se seguia perante a entrada, resolvi seguir meu caminho saltando pelas árvores, Hinata caminhava ao lado da comitiva usando seu Byakugan para verificar o caminho, enquanto Sakura nos acompanhava indo pelas árvores do outro lado da estrada. Avaliei a situação da missão apurando meus sentidos à procura de algum inimigo, foquei o chakra nos pés e em um salto rápido pousei em um galho próximo à Sakura, ela tomou um susto com a minha aparição repentina, porém se recompôs logo em seguida.

– Naruto falou que Tsunade não queria que você saísse em missão, - comecei a encarando firmemente para captar qualquer coisa que denunciasse algo em sua reação - no entanto hoje você está aqui nos acompanhando.

– Estou em uma missão solo a pedido de Tsunade-shisou, foi algo de última hora. - ela deu os ombros tentando transparecer calma, mas o movimento era rígido, mostrando o quão nervosa estava. - Quando encontrei Hinata na rua ontem a noite, ela me contou sobre o percurso que vocês tomariam então acabei decidindo acompanhar vocês.

– Ela não queria que você saísse da vila, mas agora está partindo em missão solo, Tsunade não me parece o tipo de pessoa que muda de ideia com facilidade.

– Ah, ela só estava um pouco alterada por conta do sakê quando não deixou Naruto me escalar pra missão. - observei o jeito nervoso que seus lábios se moviam, uma pessoa acostumada a dizer a verdade como ela não mentia com facilidade.

– O que está escondendo Sakura?

Mesmo com os olhos fixos no caminho que percorríamos, vi uma angústia tomar os olhos de Sakura, seu rosto demonstrava cansaço por mais impassível que ela tentasse ser, senti um peso invadir meu peito que interpretei como preocupação, nem mesmo o sorriso que ela colocara no rosto fez aquela sensação me abandonar.

– Não estou escondendo nada Sasuke-kun.

Mesmo que inconformado com sua resposta resolvi voltar para minha posição inicial, às vezes meus olhos caíam na figura de cabelos rosas ou sentia seus olhos em mim. Já havia passado do meio dia quando resolvemos parar e comer, Sakura, Hinata ou eu não tínhamos essa necessidade imediata, porém a sobrinha do Senhor feudal e sua comitiva não tinham esses hábitos. Paramos em uma clareira que beirava a estrada, quando a porta da pequena carruagem se abriu uma garotinha de olhos e cabelos castanhos pulou para a grama e saiu correndo pelo espaço balançando seu vestido laranja, logo uma mulher de seus prováveis trinta anos disparou atrás da garotinha pedindo para que esta parasse, já que aquilo não era adequado para alguém de sua posição, contrariada com o sermão e com um bico no rosto, a menina voltou para onde uma segunda mulher colocava alguns alimentos em cima de uma toalha estendida na grama.

Permaneci entre os galhos das árvores, engoli alguns bolinhos de comida que eram feitos para as missões Anbus, Sakura e Hinata sentavam-se lado a lado conversando calmamente, até que ouvi a movimentação da floresta se alterar, levantei-me buscando a direção do som e constatei que além de rápido o grupo estava perto, saltei para frente das duas ninjas que entraram em estado de alerta.

– Vamos ser atacados, Hinata proteja a garota.

Como se para confirmar minha fala, o primeiro inimigo entrou na clareira sendo seguido por outros homens, corri para o ataque acertando em pontos que os tirassem de combate, Sakura usava de sua enorme força para derrubar cada homem que entrava em sua frente e mais uma vez seu jeito carinhoso contrastava com a brutalidade destrutiva de sua luta. Os samurais da guarda do Senhor Feudal protegiam as mulheres e o colcheiro enquanto Hinata impedia qualquer um de avançar sobre a menina, foi quando notei o quarto ninja se aproximar de Hinata, que lutava contra outros três deixando a garota desprotegida, foi então que decidi intervir. Aparentemente Sakura observou a mesma coisa já que correu em direção a menina a tomando nos braços ao mesmo tempo que acertei meu primeiro alvo.

Acuados com a situação, os homens pegaram os corpos daqueles caídos no chão e sumiram pela floresta, por um momento cogitei segui-los, mas decidi que aquilo poderia ser perigoso e nossa melhor alternativa era terminar o trajeto o mais rápido possível, evitando assim qualquer outro ataque que pudesse vir a frente. Pedi que saíssemos dali imediatamente sem dar explicação alguma do porquê, Sakura depositou cuidadosamente a garota em pé dentro do veículo, sorrindo afetuosa e passando a mão na pequena bochecha, sua boca se mexeu e deduzi que ela tentava confortar os olhos apavorados da menina.

Por precaução, Hinata manteve seu Byakugan permanentemente ativado, Sakura agora estava séria, olhando sempre para os lados, o ritmo da viagem também estava acelerado e a guarda oficial preocupada. Quando vi uma segunda estrada surgir mais a frente Sakura saltou para o meu lado, ela estava pensativa como se decidisse ou não dizer algo, por isso esperei em silêncio.

– Esse ataque não foi normal, não é? - seus olhos me encaravam como se exigissem uma confirmação - Quero dizer, eles não aproveitaram a brecha que tinha sido deixada.

Me surpreendi com a observação de Sakura e balancei a cabeça em concordância, naquele momento eles poderiam ter aproveitado para tentarem sequestro, mas preferiram atacar Hinata, sem contar no estilo de luta, muito diferente do ensinado no País do Fogo e mesmo assim me parecia familiar.

– É aqui que nos separamos, - Sakura falou encarando a bifurcação da estrada - boa viagem Sasuke-kun.

Observei sua cabeleira rosa avançando até sumir entre as folhas e os galhos das árvores. Continuamos a viagem sem pausa, até que na manhã do outro dia finalmente concluirmos a missão.