Lúcifer escrita por Michelle


Capítulo 5
Respostas - parte 2




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— Espero que tenha estômago para ver isso — disse Lúcifer se levantando do sofá e fazendo um sinal com a cabeça, indicando que eu o seguisse.

Já estava naquele lugar por uns quarenta minutos. Saímos da casa de madeira e Lúcifer começou a caminhar com passos extremamente lentos ao lado da casa, em direção ao fundo que eu ainda não tinha visto. Estava ficando frio, o sol se escondia por trás das árvores altas ao nosso redor e só se ouvia o som das folhagens de mexendo. Lúcifer parou e voltou a me olhar.

— Com ajuda de algumas pessoas... Eu achei o assassino dos meus pais. — comentou devagar e me fitando, como se observasse com atenção minha reação para medir suas palavras.

Tive a sensação de que ele iria dizer mais alguma coisa, mas parece que desistiu quando voltou a olhar para o fundo e continuou a caminhar, ainda lentamente. Mais alguns passos e chegamos, ele parou observando algo que tive que chegar até onde ele estava para ver.

Me lembrei de quando entrei em uma catedral. Os bancos de madeira, as cores escuras, o cheiro de incenso, as grandes janelas pintadas que impediam um tanto a passagem da luz, as estatuas de seus santos espalhadas pelo lugar, as rezas... E a imagem mais vista nas igrejas, o simbolo religioso mais conhecido do cristianismo: o crucifixo.

Lembro de observar a imagem e pensar no quanto Jesus tinha sofrido antes de morrer. E como devia ter sido agoniante, para as pessoas que assistiam aquilo, ver suas mãos e pés pregados na madeira sem poder fazer nada. Eu sabia um pouco de como era essa sensação, porque estava vendo algo parecido diante dos meus olhos.

Lúcifer crucificou o assassino de seus pais.

— Eu olhei nos olhos dele e perguntei: sabe quem sou eu? E ele balançou a cabeça negando. Contei o que fez pra mim e ele pareceu não se importar, então ameacei costurar sua boca se continuasse só rindo sem dizer nada. Foi muito hilário ver ele pedir perdão, eu só respondi "Jesus pode perdoar você, mas eu não" e costurei os lábios pra que não ficasse gritando. — olhei para Lúcifer e ele estava com as mão para trás, observando o cadáver como se fosse uma obra de arte — Depois, eu o crucifiquei.

Foi a coisa mais horrível que eu já vi em toda minha vida. O homem era magro, alto, tinha dreads e estava sujo de sangue seco por muitas partes do corpo. Não parecia ter sido morto a muito tempo.

Sabia que nunca mais iria esquecer aquela imagem e senti um arrepio esquisito em meu corpo, talvez fosse... Medo? Não sei, só queria sair dali o mais rápido possível. Mas antes precisava perguntar mais uma coisa:

— Não fez isso sozinho, certo?

— Certo — virou seu rosto e começou a me fitar. Agora estava sério.

— Quem te ajudou? — insisti.

— Por que quer saber?

— Disse que ia me contar tudo.

— Você já sabe de mais — disse. Mas se parecia mais com um "preciso apagar sua memória". Ainda estava sério e me encarava muito, eu sabia que devia dizer alguma coisa, mas estava com medo da sua reação. Mesmo assim, não podia ficar mais ali, então comentei:

— Preciso ir embora.

— Eu me abro com você, conto meu maior segredo e a única coisa que você diz é que precisa ir embora?! — questionou indignado.

— Desculpa, é que... Acho que estou passando mal — expliquei tentando fujir da situação. Mas era verdade, estava com falta de ar e comecei a ter tontura.

— Tudo bem, eu levo você pra sua...

— Não! Posso ir sozinha — eu o interrompi.

O que eu estava fazendo? Irritando um psicopata? "Acorda Alice, se continuar assim vai acabar como aquele cara", pensei desesperada. E o pior é que ninguém ficara sabendo da minha saída, ninguém iria atrás de mim. Precisava dar um jeito de sair dali.

— Alice se acalme! Desculpa por te contar tudo de uma só vez, mas foi você quem pediu. Vem, você precisa sentar e beber alguma coisa — disse pegando minha mão e me levando para dentro da casa.

Eu já me sentia um pouco mais calma sentada no sofá outra vez, mas Lúcifer parecia muito decepcionado comigo, agora que estava sério o tempo todo. O mesmo foi até a cozinha pegar alguma coisa e voltou com duas garrafas de Smirnoff Ice, o que não é comum para se dar a uma pessoa que está passando, mas aceitei.

— Promete que não vai contar a ninguém sobre o que viu hoje? — questionou se sentando no outro sofá.

— Prometo.

— Estou falando sério, Alice! — ele alterou um pouco a voz, como se achasse que eu estava brincando com ele.

— Eu prometo! Ninguém vai ficar sabendo.

— Ótimo — disse me encarando. Depois começou a abrir um sorriso leve aos poucos, mas não era um sorriso inocente e normal, parecia maligno.

Fiquei mais tonta e passei a ver as coisas girarem. Senti uma dor de cabeça esquisita e minha visão começou a escurecer, também parecia que meu corpo todo latejava. Me vi franca e sem força observando a garrafa em minha mão, que agora estava vazia, e perguntei:

— O que você colocou aqui — questionei o acusando de ter colocado alguma droga na minha bebida.

— Vai ficar tudo bem, Alice.

Olhei para Lúcifer e ele sorria, mas desta vez, ao envés de me acalmar, eu fiquei desesperada. Senti vontade de chorar e gritar, mas agora não podia fazer mais nada.

Eu desmaiei.

* * *

Enquanto abria os olhos devagar, ouvia uma musica baixa tocar. Percebi que o som saia de um pequeno rádio antigo, posicionado numa mesinha de madeira ao meu lado. Mesmo com a escuridão do lugar, pude perceber que eu estava deitada em uma cama. A única fonte fraca de luz do quarto, vinha por trás de mim.

Me virei lentamente para ver o abajur iluminando um livro, que era segurado por Lúcifer. Parece que não percebeu meu movimento, estava focado na sua leitura sentado em uma cadeira.

Eu não sabia o que fazer, fiquei tentando formar um tipo de "plano de fuga", mas não tinha nenhuma estratégia em mente. E agora? Tentei me sentar na cama lentamente, mas Lúcifer percebeu dessa vez.

Ele me viu e começou a fechar o livro, portanto, antes que fizesse algo contra mim, joguei o abajur em cima dele, pois era o único objeto que conseguia ver. Tentei achar a porta, mas Lúcifer acendeu a luz e me segurou.

— Me solta seu louco! — gritei tentando escapar.

— Não antes de você me ouvir!

— Não quero ouvir nada...

— Foda-se! Você vai ouvir! — Pela primeira vez, vi Lúcifer gritar e se irritar de verdade. Ele me jogou em cima da cama, me deixando sentada, enquanto ele ficava em pé segurando meus pulsos com força. Olhou em meu olhos e disse: — O que fiz de tão ruim pra você?

— Me deixa ir embora! — insisti.

— Alice me responde!

— Você me fez desmaiar — eu já estava quase chorando.

— Eu quis dizer antes. E só fiz isso porque sabia que não ia me ouvir. Agora me responde de verdade, o que fiz de tão ruim pra você? Eu só contei minha história, deixei você saber meus segredos, confiei em você. — ele não estava mais gritando, parecia apenas decepcionado.

Eu só queria ir embora. Talvez eu tivesse exagerado, ele realmente não tinha feito nada de ruim pra mim. Se matassem meus pais, eu também iria querer torturar o responsável. Mas não torturaria, tinha que ser muito fria para fazer isso.

— Talvez você só se assustou com o que viu, eu entendo. Mas por favor, me entenda também — completou.

— Desculpa — não tinha me arrependido, mas senti que precisava dizer isso se não quisesse me dar mal.

— Tudo bem. — ele sorriu — Agora vamos fingir que nada disso aconteceu, ok?

— Que horas são? — indaguei ignorando sua pergunta.

— Quinze pra meia noite.

— Como assim? Meus pais já devem ter chamado a policia!

— Claro que não, não faz tanto tempo que você sumiu. Eu te levo pra casa de manhã, você pode dizer que dormiu na casa de uma amiga e esqueceu de avisar. — respondeu como se tivesse solucionado o problema, depois soltou um dos meus pulsos e me puxou — Agora vamos comer alguma coisa.

Não adiantaria tentar fujir, eu só ia irritar mais ele e talvez até piorar a situação. Fiz tudo o que ele pediu. Comemos uma lasanha conversando normalmente como se nada tivesse acontecido. Logo após, ele pegou um violão no quarto e fomos até o quintal.

Com álcool e algumas madeira que achamos ao lado da casa, Lúcifer acendeu uma fogueira. Era um cenário assustador: a unica luz vinha do fogo, haviam muitas árvores ao nosso redor, que deixavam o lugar mais frio e escuro, considerando também que tinha um homem crucificado nos fundos. E quem me fazia companhia era um garoto com um nome diabólico.

De alguma forma achei até engraçada a situação, parecia um sonho maluco que ia sumir quando eu acordasse. Agora Lúcifer e eu, cantávamos algumas músicas de bandas que gostamos, enquanto ele tocava violão. Realmente comecei a achar que estava tudo bem, apesar da sensação estranha dentro de mim dizendo que tudo iria acabar muito mal.


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Notas finais do capítulo

Não se esqueçam de deixar cometários, quero muito saber o que estão achando da história ♥



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