Um pouco de Mpb escrita por Christina


Capítulo 3
João e Maria


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal!

Hoje temos a música João e Maria (Chico Buarque), que foi sugestão da "Hamtammr"!

MUITO OBRIGADA pelos comentários "Mrs Suicidal" e "Hamtammr", fiquei muito feliz quando os li!

Espero que gostem :D

LINK - https://www.youtube.com/watch?v=CRIXprZqRd4



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"Agora eu era o herói

E o meu cavalo só falava inglês

A noiva do cowboy

Era você além das outras três"

Enquanto observava o trânsito, pela janela de seu apartamento, Leandra pensava um pouco em sua vida. Lembranças de uma época nem tão distante povoavam sua mente...

Um ano atrás....

“Agora eu era quase feliz, sou o que sempre quis.” – Pensou alegre.

O desejo de se descobrir e saber o que a fazia feliz, já não era difícil de compreender. Os pais que pareciam falar inglês, a todo o momento dando contra sua sexualidade, estavam em um passado. Estavam além daquelas paredes do apartamento, e não no quarto ao lado.

Já conseguia observar as meninas a sua volta sem o constrangimento e o medo de estar fazendo algo errado. Os olhares variavam; olhava a loira, a morena e a ruiva... Todos as três. Ao menos era assim até conhecer a menina de cabelos negros.

"Eu enfrentava os batalhões

Os alemães e seus canhões

Guardava o meu bodoque

E ensaiava o rock para as matinês"

Com 22 anos, já havia passado por tanto preconceito! Na família e na sociedade, tantas discussões, agressões, batalhas e rejeições, todas enfrentadas de cabeça erguida. Enfrentaria tudo se no fim do dia pudesse chegar em sua casa, tocar o seu violão, ouvir um pouco de Chico Buarque e relaxar.

"Agora eu era o rei

Era o bedel e era também juiz

E pela minha lei

A gente era obrigado a ser feliz"

Está liberdade de ser dona do próprio nariz, dona da própria casa, e dona das próprias vontades. Tudo corria bem, até que um certo alguém decidiu entrar na minha vida, e torna-la ainda mais feliz.

"E você era a princesa que eu fiz coroar

E era tão linda de se admirar

Que andava nua pelo meu país"

Tão bobinha, mas ao mesmo tempo tão minha. Bianca com seus 17 anos um encanto juvenil. Um sorriso fácil, jeito de moleca, corpo de mulher. De tão encantadora e gentil parecia uma princesa, a minha princesa.

Conheci-a quando me mudei. De tanto a encontrar no elevador, descobri que a mesma passada todas as suas tardes no play. Muitas das vezes apenas estudando, já que seu irmão recém-nascido enchia o apartamento de gritos, impossibilitando-a de estudar.

A amizade com a menina foi quase espontânea, sua simplicidade e simpatia conquistava qualquer um.

Numa tarde chuvosa, não havia como a menina estudar no play. Ofereci então que estudasse em meu apartamento, e toda contente Bianca aceitou. A partir deste dia, ela sempre estudava as tardes em minha casa. Conversávamos, ouvíamos música, trocávamos informações...

"Não, não fuja não

Finja que agora eu era o seu brinquedo

Eu era o seu pião

O seu bicho preferido"

–Não é errado isso? Você não deveria me beijar assim! Isso é feio, é diferente! Eu devo gostar de homens. - Sua mão passeava nervosa por seus cabelos escuros.

Ela era tão linda!

–Não seja inocente Bianca, já tem idade o suficiente pra saber o que sente. Não fuja de mim, não fuja do que sente! - Suspirei exasperada.

–Leandra eu nem sei se sinto o mesmo por você. Confesso que me sinto curiosa com tudo isso... Mas não é certo! - Sussurrou baixinho.

–Não é certo gostar de alguém só por que é do mesmo sexo? Estamos no século XVII!

–Não é certo, Deus me condenaria por isso! - Seus olhos estavam tristes.

–Deus diz que deveríamos amar-vos uns aos outros! Deus não quer os filhos dele sofrendo! – Rebati chateada.

–Não é bem assim Leandra! Você não conhece a palavra! - Aumentou um pouco seu tom de voz.

–Mas eu conheço o amor, estou sentindo este amor.

–É estranho isso, minha vida toda eu fui criada pra namorar e casar com um homem que me fizesse feliz. E de repente você vem e balança minha vida... E por isso que você me fazia companhia no play e me chamava pra sua casa? Interesse? – Perguntou um pouco envergonhada.

–No inicio não era tão interesse, eu só queria uma amiga! Só que agora... Eu não consigo te olhar e não contemplar o quão linda você é, ver este seu sorriso fácil, seus olhos que se apertam sempre que você ri, sua boca que de hora em hora você morde...

–Você sempre foi assim? - Desconversou já completamente envergonhada.

–Sim.

–Você me irrita Leandra, porém, não consigo sentir raiva de você. – Confessou.

–Me dá uma chance Bia? - Toquei seu rosto moreno, olhando dentro dos seus olhos.

Ela desviou os olhos, afastando minha mão. - Leandra isso é novo pra mim, deixa as coisas acontecem devagar.

–Tudo no seu controle Bia. Se quer que mantenhamos as coisas devagar, as coisas caminharão devagar. - Beijei a sua mão, e ela encarou novamente meus olhos.

"Vem, me dê a mão

A gente agora já não tinha medo

No tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido"

Alguns meses depois...

–Como será o futuro Lea? - Bia me indagou.

Pensei um pouco. Meu cérebro ainda estava entorpecido por ter passado tanto tempo com Bia, parecia que o tempo caminhava devagar.

Estávamos juntas há alguns meses, e parecia que eu tinha tudo pra ser feliz. Minha menina estava cada dia mais aceitando nossa relação.

–Não sei muito bem, só que se você estiver ao meu lado, estarei feliz. - Voltei a acariciar seus cabelos, que estavam um pouco bagunçados, resultado de alguns momentos de amor entre nós duas.

Levantou a cabeça de cima do meu ombro, e olhou-me. Brindou-me com um dos seus lindos sorrisos, e beijou minha bochecha.

–Vou contar pro meus pais hoje! - Disse alegre.

–Bianca... - Sentei-me na cama. - Você tem certeza? Não quer esperar mais um pouco?

– Tem vergonha da gente? Não quer que eu conte a minha família que te amo? - Encarou-me confusa.

–Claro que não Bia! Meu medo é a reação dos seus pais, você sabe o quão homofobico eles são.

–Leandra, eu consegui sair da minha concha, meus pais também conseguirão! Eles não vão querer me ver infeliz! – Disse determinada.

Eu sabia que as coisas não eram como minha pequena achava, porém, eu lutaria por ela. Se ela não tinha medo, eu não teria medo.

O que a maldade dos pais dela poderiam fazer contra nós?

–Você está certa! Não há nada que possa acabar com nosso amor! - A agarrei e lhe dei um beijo.

Foi nosso beijo mais triste, com um leve gosto de despedida.

"Agora era fatal

Que o faz-de-conta terminasse assim

Pra lá deste quintal

Era uma noite que não tem mais fim

Pois você sumiu no mundo sem me avisar"

–Não quer que eu te acompanhe na conversa com eles? - Já estávamos na porta da minha casa, ela estava apenas se despedindo pra depois partir.

–Não Leandra, primeiro irei conversar com eles, depois te apresento! - Me deu um longo abraço, se virou, e foi embora.

Aquela noite foi desoladora e angustiante. Tentei falar com Bianca, e ela não me atendeu, provavelmente estava conversando com seus pais ainda.

OoO

O tempo ia passando... E nenhuma notícia de Bianca. Ok, três dias não são muito tempo. Todavia, três dias sem falar com quem se ama, e nas condições presentes, sim, era preocupante.

Tomei coragem e fui até sua casa, tristemente era tarde demais. Uma mulher com uns 40 e poucos anos me atendeu. No seu colo um bebê, e em sua mão um telefone.

–Eu gostaria de saber da Bianca, ela... – Olhou-me com uma expressão de nojo.

–Você é a garota que estava tentando desviar minha filha? – Interrompeu-me grosseiramente.

–Não. Eu sou a garota que está apaixonada por sua filha! – Firmei a voz.

–Apaixonada? Você é uma anormalidade, uma doente! Minha filha está bem longe, e se Deus quiser nunca mais vai se aproximar de algo como você! – Gritou as palavras, assustando o bebê que estava em seu colo.

–Senhora, eu a amo e ela me ama! Não faça isso conosco! Onde ela está? – Já sentia minha vista se embaçar pelas lágrimas.

–Bem longe! E em questão de tempos também irei me mudar deste prédio. Por mim, você nunca mais verá minha filha! – E bateu com toda a força a porta.

"E agora eu era um louco a perguntar

O que é que a vida vai fazer de mim?""

Tempos atuais...

E naquela porta ficou um pedaço de mim. Algumas semanas depois, aquela mulher se mudou do prédio, não deixando mais nenhuma forma de eu voltar a ver Bia.

Todas as vezes que eu me aproximei de sua casa, antes de sua partida, ela me xingava, humilhava, e ria da minha cara de desolada.

E agora não sei mais o que fazer da minha vida, desejando em alguns momentos que ela me leve.

Observo as pessoas na rua, carros passando, gente chegando, gente partindo... A espera de algo para me dar felicidade, a espera da minha pequena Bianca.


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Notas finais do capítulo

P.s. A próxima One Yuri terá um final mais feliz! Aceito sugestões =)



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