Aceita Café? escrita por Nyctophilia


Capítulo 1
Um Café Especial


Notas iniciais do capítulo

Um café comum,só que especial,feito por alguém em comum,mas muito mais especial.
Tudo aqui é meu.



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O que as pessoas mais temem.

É a morte,eles a temem até o fim da vida.

Mas quando morrem,elas começam a adorar.

Porque é a única coisa que se tem pra agarrar.

É interessante, a vida humana é frágil como uma folha em meio a um mar de chamas

Basta um leve empurrãozinho,e...

Fogo em Folhas.

Vidas na Morte.

Medo, agarrado a própria sorte.

Que tal sorte seja útil quando conhecer a Morte

(...)

Precisava de minha dose de calmaria, precisava de água suave, precisava do meu porto seguro que cabia nas minhas mãos, precisava do calor intrigante e sabor excitante..Precisava de um café..

Era necessário pra mim,a essa hora da noite, tomar um café, pra ficar mais tempo acordada, e deixar toda minha mágoa sair com minhas lágrimas, mesmo eu sabendo que chorar não ia adiantar nada, e se fosse adiantar. Seria só temporário.

Velórios eram um saco, pessoas de preto, mulheres bem vestidas, não estando nem ai pro velório, apenas querendo impressionar alguma pobre alma que perdeu a companheira,só pra ganhar uma aproveitadora. E velórios eram ainda piores,quando quem morreu é sua mãe. Aquele ser que te criou desde que nasceu,não. Que até antes de nascer te criou...Esse são os piores, e como são...

Apenas atravessando a rua, para ir ao outro lado,onde a apenas alguns passos pra direita, tinha meu lugar preferido da cidade de Yorman City..Coffe Coffe.

Não era um nome que diriam que é criativo,ou nossa. Uma jogada foda de Marketing, ou qualquer coisa que seja apropriada para o contesto casual de propagandas,mas enfim.

Apenas passei pela porta dupla e escura, igualmente como era lá dentro, escura, como meu café preto, eu nem precisei dizer nada, a mulher a alguns metros da porta, apenas acenou pra mim, eu nem me dei ao trabalho de retribuir. Estava avoada demais,e o vestido não ajudava..

Aquela mulher deveria me conhecer só de olhar ao meu rosto, se eu pudesse vê-lo chutaria que está com a maquiagem borrada..Que se exploda essa merda,só quero meu café..

Para minha surpresa,não foi a típica mulher que pousou o pequeno prato com a xícara de café preto com avelã granulado no fundo, não. Foi um homem, e tanto..Devia ter seus 30 e la vai bomba, barba bem feita, olhos escuros, mais escuros que o café que estava agora adentrando a minha boca,enquanto eu virava um pouco da xícara,pra ao menos tentar me aliviar de morte de minha mãe.

Olhando ele, ele não trabalhava aqui..Quando eu ia me dar o trabalho de falar finalmente com aquela mulher, não estava mais aqui, ninguém estava aqui, a porta que eu deixei ABERTA estava FECHADA, e os dois senhores no fundo que estavam a conversar sobre qualquer merda antiga que não sei o que é. Não estavam mais ali.

O cara que me deu o café, ele mesmo puxou uma cadeira de madeira,e ficou de frente pra mim,optando as roupas dele,um terno escuro, provavelmente mais caro que meu carro quebra galho..Os sapatos, provavelmente mais caros que meus brincos,que ainda não paguei...Mas enfim...

Ele me deixou surpresa quando ele que teve a primeira ação de puxar um assunto comigo.

- Me perguntou qual é o motivo de alguma mulher tomar um café desses. - Ele disse,dando um sorriso muito bonito pra mim, ele queria me levar pra cama? Logo agora? Puft..Sara, você é uma azarada do caralho mesmo.

Se bem que isso foi apenas a minha imaginação, vai que ele só queria conversar? Não, um homem daquele porte não conversaria com uma mulher do meu porte, sem algum motivo foda, talvez uma noite de um sexo filho da puta que deixa marcas por um mês,seja esse motivo? Provável. Mas ele continuou mesmo que eu estivesse em confusão mental.

- Bom, deve ser um motivo incrível pra você tomar esse lixo..- Ele disse,ainda sorrindo,mas logo olhando pra xícara,com um bom resto de café,ainda..- Se quiser, posso te prepara um café que vai apagar todas as suas mágoas, não um de bosta como esse.

Aquilo me chamou a atenção, adorava cafés, e aquele homem me preparar um café, sendo ele o que era, e prepara um que me acalmasse,seria bom.

- Então tá cara,vai fundo..- Eu disse,alto o suficiente pra ele ouvir e ir em direção aos aparelhos pra café atrás do balcão..- Eu gosto de café preto cara,não fode me trazendo café com leite.

- Não se preocupe com isso, vai ser o melhor café do restinho da sua vida..- Ele disse em um tom que eu diria,perigoso? Provável, mas não entendi o restinho, ele colocaria veneno? Que ótimo, mãe morta, facilmente o pedaço de mal caminho mais bonito da cidade querendo me envenenar com o que eu mais gostava,o que me falta agora Deus?

Ele demorou apenas alguns minutos,e me trouxe um café, com uma tonalidade mais escura do que o que até deixei de lado na mesa, ele pegou o prato com a xícara e jogou para trás, só ouvi o impacto de algo quebrando. Bom, estava mais inerte no café feito por aquele cara.

- Isso aqui tá escuro em velho..Como fez isso? - Eu perguntei, seria bom eu mesma saber fazer algo tão aparentemente bom.. - Vai me dizer né ?

Ele apenas riu, a risada dele indicava perigo, meus pelos se ouriçaram com isso,ele pareceu notar,porque voltou a dar um sorriso, e aquilo me assustou..

- Bom,infelizmente não posso dizer,agora você responde uma coisa. - Ele disse,fiquei apenas esperando a pergunta dele. - Quem morreu pra você estar com a cara tão fodida desse jeito?

Então ponto pra mim, minha cara devia estar...Uma merda pra até mesmo um cara jogar isso pra mim, realmente um ótimo dia, e eu precisava desabafar,e agora parecia ser a hora Fuking perfeita.

- Minha mãe, que Deus a tenha.- Eu respondi, sentindo um vazio, mas depois eu choraria. - Ela deve estar em um lugar melhor.

- Acho que Deus não é quem vai ter ela, pelo menos não agora. - Ele disse,totalmente enigmático, despertando ainda mais meu interesse naquelas palavras.

- Como assim? Por qual motivo não teria ela? - Perguntei,honestamente comecei a pensar que aquele cara devia ser um anjo pra saber algo que eu não sabia,provavelmente...- Você é um anjo por acaso cara?

Ele jogou as mãos na testa,talvez brabo,me desculpei e ele acenou,mas me respondeu.

- Bom, eu só sei de coisas que vocês normalmente não sabem. - Ele me respondeu, não entendi a parte de vocês. Perguntei exatamente isso.

- Vocês como ? Humanos? Você também é. - Eu disse,um pouco mais alto do que deveria.

Ele apenas jogou a cabeça para trás e deu uma risada um pouco seca, muito seca na verdade.

- Bom, na aparência eu sou. - Ele disse,ainda rido em seco. - Mas, eu não te culpo criança, seres humanos são muito limitados pela própria ignorância. Os sábios, que se denominam sábios, não sabem nem ao menos uma gota inteira, de um mar vasto de conhecimento, que eu possuo..

Cara modesto esse em? Puta Que Pariu...

- Bom cara,enfim, por que Deus não a teria?

Ele me respondeu como se tivesse explicado aquilo diversas vezes.

- Deus não é regente das almas, muito menos as leva,quem faz isso é o Anjo da Morte,vocês tem diversos nomes pra isso, mas o correto é ''Colector'' ou Coletor. Ele apenas coleta as almas e já era, Deus não tem nada a ver com isso. - Ele disse, só ai parando pra respirar.

Fiquei um pouco surpresa com isso, se fosse verdade seria foda como ele sabia disso.

- O que quer dizer com aparência? Você não é humano?- Perguntei,esperando uma resposta,que não veio. Em troca ele me perguntou algo..

- Quer ver sua mãe de novo? - Ele perguntou, agora com um rosto mais sério do que antes,bem mais..

Eu não tinha dúvidas do que respondi.

- Claro que quero, mas como um café pode me ajudar a ver ela? Vai fazer alguma macumba? - Eu disse, rindo um pouco, seria hilário. Mas ele estava sério, aqueles olhos escuros pareciam ver minha alma então parei de rir.

- Acredita que a morte um dia pode se tornar gentil? - Ele disse,seco..

- Bom, talvez. Mas o que tem demais nisso?- Eu contrarespondi.

- Bom, talvez a morte tenha se tornado gentil, e queira dar uma chance pra alguém,quem sabe até..com uma xícara de café?- Aquelas palavras me arrepiaram por completo, quem diria.. Um louco que diz ser a morte que mata com cafés,foda esse dia..

- Bom, então tá..Morte, se eu tomar o café,eu morro?- Perguntei,achando aquilo uma noia de fumo total,mas era o que eu tinha.

- Tome o café, criança. Prometo por meu nome que você vai ver ela de novo..

Fiquei em silêncio. Mas peguei a xícara e fiquei com ela perto de minha boca,ameaçando virar,mas antes de virar fiz uma última pergunta..

- O gosto é bom?

Milagrosamente ele não me deu uma resposta ignorante. Foi até culta

- Bom, você está a procura de um café.- Ele disse,achando graça da minha pergunta.- Esse café vai ser o melhor que vai tomar na vida. Pelo menos no resto dela.. O gosto é ótimo, afinal é o gosto da morte, o meu gosto..- Ele disse,a última parte em sussurros, me deu até vontade de provar mais ainda se esse era o gosto dele...

Bom, cá estou eu..Fazendo loucuras no dia da morte de minha mãe, conheci a morte, que ia me matar com um café..

Virei a xícara em um gole, e o gosto...

Eu nunca esquecerei aquele gosto

Nem agora e nem nunca, nem vou esquecer o sorriso gentil, que ele me deu, nem quando ele me colocou no colo,em meio ao piso e fechou meus olhos com os dedos.

Nem quando eu já fora do corpo, vi que ele tinha asas escuras, tão escuras como a noite.

E eu não esqueci que ele fez jus a promessa.

Eu vi a morte, e vi minha mãe.

Mas o gosto daquele café. Era algo intrigante,mas um intrigante perigoso..

Acho que estou amando o gosto da morte.


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