Meu xampu azul escrita por Pink Plush


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Continuo esperando que gostem e me perdoem

;*



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Ao contrário da maioria das pessoas eu amava segundas-feiras. Atraía-me a ideia de recomeçar, se reinventar, se reorganizar. A chegada de uma nova semana sempre me fazia bem.

— Dani, você tem alguma caneta pra me emprestar? - Victor me perguntou virando na minha direção. Pela cara dele, concluí que detestava biologia tanto quanto eu.

— Tome. - Ofereci uma caneta azul. Ele sorriu e se virou pra frente. Eu continuei olhando-o. Nunca havia reparado nele de verdade. Ele.. era.. bonito, constatei.

Nesse momento o sinal tocou indicando o intervalo. Então comecei a guardar meu livro na mochila, enquanto Manu me esperava.

— A senhora Dilos faltou hoje! - Amanda nos avisou assim que passamos pela porta. - Não se animem tanto, ela deixou tarefa.

Cláudia começou a reclamar, e Sara por estar ouvindo música, não teve nenhuma reação.
                                                                               ***

— Bom dia turma! Como vocês já devem saber, a Senhora Dilos estará ausente hoje.. - alguém interrompeu a Senhora Ferreira, a substituta, para perguntar o motivo. Ela disse que não sabia e continuou.- Teremos atividade para complementar a nota, por isso é muito importante que façam.

Em seguida ela distribuiu para cada um de nós algumas folhas. Olhei-as. Não fiquei muito preocupada porque gosto de matemática, por mais estranho que isso possa parecer, mas antes mesmo de começar a ler o exercício, Sara e Manu já me perguntaram se poderiam copiar quando eu tivesse terminado, ao que eu respondi que sim, porque não sei negar nada para ninguém.

Cláudia já estava com a carteira grudada na mesa da professora. Apesar de não gostar da matéria, ela é esforçada em tudo. 

— Será que você pode me ajudar? Odeio essa droga. - Victor me pergunta. 

Antes de esperar pela minha resposta ele arrasta sua carteira para o meu lado.

Suspiro. As meninas já vão copiar mesmo, ele também pode se quiser. É o que digo a ele. 

— Bem que eu gostaria! Mas preciso aprender pra porcaria da prova, se não vou tomar bomba, certeza!

Fico surpresa que ele esteja preocupado.

— Ah, claro. Na verdade, não é tão difícil.

Demorei o resto da aula resolvendo cálculos, para me dar conta de que o achava muito agradável e divertido.  Por isso, quando as próximas aulas de matemática vieram, como uma rotina, Victor passou a grudar a carteira dele junto a minha para tentarmos fazer as lições. O que me agradou muito.

Era bom falar com as meninas, óbvio, mas é fato que nós somos complicadas. Meninas são assim. Ponto. Mas conversar com o Victor era mais tranquilo e simples. Ele conseguia deixar todos os assuntos leves. 

Talvez por esse motivo, em uma quarta-feira, quando estávamos no intervalo, eu me vi contanto toda a situação do meu pai para ele. Não me lembro bem como o assunto surgiu. Só sei que falei de como me sentia triste e abandonada por ele, e de como depois que ele se tornou mais presente, eu passei a ficar mais confusa. Falei de a mamãe agir tão estranhamente, da Juju gostar tanto dele, e de eu estar com medo, mesmo sem saber do quê.

Ele ouviu tudo pacientemente sem me interromper. Até que o vi levantar a mão e tocar minha bochecha. Só então percebi que havia derramado algumas lágrimas. 

— Você devia chorar mais vezes sabe?

Franzi a testa.

— Precisa por isso tudo pra fora de algum jeito. - disse.

Dei um sorriso triste em reposta e me levantei para ir ao banheiro, porque as meninas - com exceção de Amanda que tinha faltado -, tinham ido comprar algo para comerem e estavam voltando, e eu não queria que elas me vissem daquele jeito.  

                                                                            ***

Nós estávamos indo ao cinema. Papai havia ligado bem de manhã no sábado para avisar que deveríamos - eu e Juju – estar prontas pra sair pontualmente às seis. Ele detestava atrasos. Eu fui contagiada pela animação da minha irmã, mas confesso que também estava empolgada. 

Tudo ia normalmente bem até que ele disse que domingo nos levaria a igreja. Desliguei o rádio e olhei para ele.

— Sério? Por que?

— Quero que.. Entendam o que eu estou fazendo. - explicou meio incerto.

Nós não éramos ateus, mas também não éramos religiosos. Minha ideia de Deus até então era bem rasa. Eu simplesmente vivia aqui na terra, e Ele lá no céu. Para mim estava bem assim. Mamãe também parecia meio distante de qualquer fé.

— Você está tentando ser o papai. - disse Juju erguendo as sobrancelhas como se isso fosse óbvio.

Ele balançou a cabeça, fechou os olhos e sorriu por cinco segundos. 

Tempo suficiente para não perceber o carro preto em alta velocidade que vinha em nossa direção, surgindo da rua à direita.

Acho que gritei, mas não saberia dizer com certeza. Só me lembro do impacto da colisão e de uma dor horrível na costela. E então, desmaiei.


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