Ela observava as três meninas que saíam rindo da cantina e ouviu-as dizendo que morariam juntas. Estava odiando seu irmão por não ter conseguido um lugar digno para eles ficarem e agora teria que procurar pessoas para dividir uma casa boa e luxuosa. Aproximou-se e bloqueando a passagem das garotas, sorriu:

─ Oi meninas, meu nome é Maria Júlia.

─ Oi, eu sou Lílian e essas são Louise e Lúcia.

─ Sem querer acabei ouvindo vocês falando que irão estão atrás de um lugar pra morar. Bom eu conheço um lugar bem grande, porém não tenho como arcar sozinha como aluguel, queria saber se vocês gostariam de morar comigo e meu irmão. Tipo uma república.

Lílian olhou para Lúcia e Louise, e decidiram dar uma chance para a garota nova, porém Lúcia ainda achava Maria Júlia muito misteriosa, decidiu que ficaria de olho na menina. Seguiram então a menina loira, depois de uns cinco quarteirões, chegaram à frente de uma casa de dois andares. Na frente havia um muro baixo com um pequeno portão preto de ferro. A casa era toda de madeira com janelas de vidro que desciam quase até o chão, uma pequena varanda e na frente um jardim. Maria Júlia olhou radiante para a casa, não cansava de admirar o imóvel. Olhou para as meninas e disse:

─ E aí? Gostaram?

­─ A casa é simplesmente linda Maju!­ ─ disse Louise. Maria Júlia franziu a testa de surpresa pelo novo apelido.

─ Maju?

─ Ah me desculpe mais seu nome é muito comprido e me faz ficar com preguiça─ disse Louise, com um pequeno sorriso ─ Você não se incomoda, certo?

─ Oh, claro que não.─ Apenas não conheço pessoas, além do meu irmão, que me tratem tão carinhosamente, pensou Maria Júlia.

─Vamos entrar?─ disse Lílian.

─ Sim, podemos ir...

Maria Júlia não conclui sua fala, pois a porta da frente abriu, dando passagem a um menino muito loiro com olhos pretos e difíceis de decifrar, era mais alto que Maria Júlia, porém o formato do rosto era o mesmo, bem como o tom de pele pálida. Ele vestia uma calça preta, uma blusa branca e jaqueta vermelha que combinava com os tênis. Olhou, friamente para as meninas na sua frente e logo em seguida sorriu.

─ Vejo que já conseguiu algumas pessoas para dividir o aluguel. Olá, eu sou João Pedro, irmão dessa moça loira aí­─ disse o menino, ao mesmo tempo apontava para Maria Júlia.

─ Oi, eu sou Lílian, a outra ruiva é Louise e a moça nerd é a Lúcia.

─ EI! ─ disse Lúcia, dando um tapinha no braço de Lílian, que gargalhava─ não sou nerd.

─ Só um pouquinho!─ disse Louise, gargalhando junto com a irmã que massageava o braço. Depois de ficar com as bochechas vermelhas, Lúcia se rendeu e também sorriu.

─ Vamos entrar logo, suas gêmeas loucas e tagarelas. ─ disse Lúcia

─ Concordo plenamente─ disse Maria Júlia ─ principalmente com a parte das loucas e tagarelas.

As gêmeas pararam de rir e fingiram estarem indignadas com o comentário de Maria Júlia, mas a indignação não demorou muito tempo, pois João logo puxou Maria Júlia, que foi seguida por Lúcia e pelas gêmeas.

A sala de estar era grande e já estava mobiliada com dois sofás de couro preto, uma mesa de centro e na parede uma televisão com pequenas estantes ao lado. Mais na frente tinha um balcão revestido com uma pedra preta lisa e banquinhos com estofados preto. A cozinha tinha alguns armários e uma pia. Saindo da cozinha havia uma varanda onde se encontrava a mesa de jantar e dava acesso ao quintal. O andar de cima era composto de cinco quartos com banheiros incluídos. No andar de baixo, Maria Júlia sentou-se no sofá ao lado do irmão, e observando se as meninas ainda estavam no andar de cima, falou:

─ O que achou delas?

─ São muito bonitas, principalmente a “nerd”.─ disse João, fazendo com as mãos aspas imaginários.─ Você não se sente sua beleza ofuscada por elas?

─ Jamais, eu me garanto João. E não estava falando de beleza.─ disse Maria Júlia, observando as escadas.─ Falo de grana. Você acha que elas poderão pagar?

─ Pelo jeito da patricinha de olhos amarelos, com certeza!

─ Ok, eu amei essa casa. Pelo menos não é o casebre que você arrumou. Incompetente!

─ Olha como fala irmãzinha! Você sabe que não precisa usar máscaras comigo, sei o que você é! ─ disse João com os olhos cintilando de raiva, fazendo Maria Júlia se encolher em um canto.

Ninguém sabe como sou! Ninguém nunca vai me conhecer verdadeiramente, nem o meu próprio irmão. Não posso baixar as barreiras, afinal levei anos para construir, pensou Maria Júlia. Olhou para as escadas novamente e viu as três garotas descendo e percebeu que todas elas vinham com o olhar sério e cheio de mistérios.