Madness Of Teens escrita por Thamiris Malfoy, Marina G


Capítulo 13
Verdades Secretas


Notas iniciais do capítulo

Olá queridos... ;)
O que estão achando?

Esse capítulo está cheio de novas verdades. Espero que gostem!
Boa leitura.



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Lúcia estava aborrecida e cheia de bolinhas de papel ao seu redor. Ela se encontrava sentada em uma das áreas de convivência de seu bloco, tentando terminar um trabalho de pesquisa sobre direito tributário. A garota não tinha problemas nenhum com cálculos, o que a irritava eram as tabelas, planilhas e gráficos que o professor exigira, e ainda por cima ele queria manuscrito, e pior era individual, Louise já havia feito tudo, afinal a ruiva não tinha problemas em desenhar então estava adiantando um dos muitos outros trabalhos que tinham para entregar essa semana. A menina já estava perdendo a paciência e amassando mais uma página para se juntar a pilha e logo começou a tentar desenhar a tabela da apostila mais uma vez. Lucia ouviu uma risada baixinha bem atrás dela, não havia percebido que alguém estava ali e quando se voltou para observar quem era viu um par de olhos dourados brilhando. Caleb observava o seu trabalho com uma expressão curiosa e divertida.

– Você não consegue nem desenhar uma linha reta?! - disse o garoto com um meio sorriso - e ainda por cima está usando uma régua.

Lúcia enrubesceu.

– O que você está fazendo aqui? - disparou a garota - não cansa de ser inconveniente?

Caleb sorriu para ela com os olhos brilhando enquanto se sentava por trás da garota e acomodava o caderno e a régua segurando a mão de Lucia com o lápis e percorrendo este pelo papel, formando linhas com auxilio da régua.

– Não seja assim tão rabugenta Lu. E a propósito, só estou aqui porque a Lou me pediu para trazer um livro da biblioteca.

Só então Lucia notou o volumoso exemplar de um Vade-mécum ao lado do garoto.

– Ela não devia estar com muita razão quando pediu isso. Tenho pena dos livros quando você está por perto.

– Não pense que eu me esqueci daquele - disse Caleb sorrindo enquanto entregava a ela um pacote que ele estava guardando atrás de si.

Quando Lucia abriu encontrou um exemplar de o Códex dos caçadores de sombras. Os olhos da menina brilharam ao ver aquele livro, mas a expressão era triste.

– O que houve? - Perguntou Caleb preocupado enquanto parava de rabiscar o papel para encarar a garota - não era este? É só me dizer que...

– Não, era este mesmo - disse Lucia interrompendo o Rapaz - é só que... Nada, deixa pra lá. - Ele a observava com os olhos atentos e preocupados.

– Você disse que ele era especial.

– Nem tanto o livro em si - ela respondeu com um olhar distante e marejado - é que... Aquele foi o último livro que o meu pai me deu.

Caleb estava incerto ao que fazer para tentar confortar Lucia, tinha medo de novamente não ser bem recebido por ela, então se limitou a apenas dizer:

– Sinto muito, as meninas me falaram que você perdeu seu pai, deve sentir muita falta dele, eu... Ah, eu estou me sentindo um estupido agora pelo que fiz.

Lucia sorriu fracamente o que fez algumas lagrima percorrerem seu rosto. Ela balançou a cabeça secando as lágrimas.

– Esta tudo bem. - disse a garota. Era estranho ter aquele tipo de conversa com Caleb, quando estavam perto um do outro geralmente brigavam o tempo todo, ou por força maior, pela presença dos amigos se toleravam e se ignoravam.

Caleb sorriu para ela sinceramente, nada de sarcasmos ou cinismos desta vez e ela pode observar como ele era lindo, o formato anguloso de seu rosto, os cachos dourados emoldurando a face e os lábios. Em um momento de fraqueza Lucia se pegou querendo ter aqueles lábios nos seus novamente e desviou o olhar do rapaz.

– Você vai terminar de me ajudar ou vai simplesmente ficar ai bancando o sentimental? - perguntou Lucia voltando a ficar séria

– Ah então agora você quer minha ajuda? - perguntou Caleb sorrindo - tudo bem então.

Ele se inclinou para mais perto dela a fim de retomar as linhas que estava desenhando no papel. Ela podia sentir o cheiro dele, canela e mais alguma coisa amadeirada, Caleb tinha uma expressão seria enquanto percorria o papel com o lápis.

Até que por fim havia acabado de desenhar a planilha que a garota tanto teve dificuldade em passar para o papel.

Lucia estava impressionada com a agilidade que o rapaz conseguira concluir aquilo, ela havia quase desmatado metade da Amazônia para tentar fazer aquilo e não chegou nem perto de concluir a tabela.

– Obrigada - falou ela fitando o rapaz. Ele sorriu e deu de ombros enquanto ela se levantava, mas antes que conseguisse fazer isso Caleb a segurou pelo braço.

– Lu? - ele a olhava nos olhos de uma forma que nunca havia feito antes enquanto se aproximava ainda mais da garota - quando eu disse que não parava de pensar em... - ele parecia ter dificuldades em encontrar as palavras que queria dizer, ela o olhava atentamente, mas ele parecia ter se perdido ali - eu não consigo parar de pensar no que aconteceu no passeio. Mas isso não é tudo, eu não consigo parar de querer repetir aquilo, várias e várias vezes com você.

Ele se inclinou para mais perto dela até encontrar os lábios da menina de olhos cinzentos. Os lábios dele eram macios e gentis dessa vez, diferente da fome voraz que havia tomado conta dela no dia do passeio e dessa vez ela não resistiu, deixou que Caleb a beijasse docemente e retribuiu o beijo do rapaz. Os dedos dele se emaranhavam nos fios de cabelo da nuca de Lucia enquanto ela acariciava o rosto do rapaz com as pontas dos seus dedos. A garota podia sentir um leve roçar da barba de Caleb que estava crescendo nas partes do seu rosto que encontravam as partes do dele e até aquilo era agradável no rapaz.

Caleb sentia o coração acelerar conforme o beijo se intensificava gradativamente e enquanto ele percorria as mãos pelas costas de Lucia pode sentir o coração dela respondendo as batidas do dele, acelerando enlouquecido contra as costelas.

Quando eles finalmente ficaram sem fôlego se afastaram e se encararam longamente. Lucia estava rubra com os olhos de Caleb repousando em seu rosto e pelo beijo, um sorriso bobo estava no rosto do rapaz que a puxou para perto a envolvendo num abraço e repousando o queixo sobre a cabeça da garota, inalando o cheiro dos cabelos castanhos dela, macadamia. Eles ficaram ali conversando baixinho por um longo tempo, fazendo brincadeiras um com o outro e trocando mais alguns beijos quando Lucia resolveu, com muito esforço, retomar sua atenção para o trabalho. Enquanto ela preenchia a planilha que Caleb havia desenhado para ela o Rapaz folheava o seu novo Códex. Eles quase perderam a noção do tempo e quando Lucia havia finalmente terminado o seu trabalho já era hora do almoço e ambos se dirigiram para o refeitório juntos.

Lilian já estava no refeitório quando avistou Louise e acenou para a irmã se juntar a ela. A ruiva de olhos amarelos estava com uma expressão aborrecida e exasperada.

– Você viu o Caleb? - perguntou a irmã à Lilian - eu pedi para ele levar um livro para mim e ele não apareceu.

– Não vi - respondeu Lily - ele deveria estar ocupado, ou em sala de aula.

– Ele me disse que teria as primeiras aulas livre - respondeu Louise enquanto Lilian deu de ombros. As irmãs já haviam pegado o almoço quando James se juntou a elas

– Olá ruivinhas - disse o Rapaz com um meio sorriso no rosto sentando-se ao lado de Lily - Onde está o Caleb? Tenho um convite para fazer a vocês

– Estamos tentando descobrir isso também - disse Lou ainda aborrecida.

– Um convite? - Lilian se empolgou - mas por que temos que esperar o Caleb? Estou curiosa, vamos James, diga logo do que se trata.

Ele não pode deixar de dirigir um sorriso enorme para a ruiva.

– Sinto muito senhorita, mas você terá que conter a curiosidade. - Ela fingiu estar aborrecida enquanto James brincava com seus cachos ruivos. Quando de repente Louise soltou uma exclamação:

– Finalmente! Apareceu a Margarida! Que irmão tratante é você senhor Caleb.

Ele sorriu para a irmã que franziu o cenho ao ver quem estava com ele, sua amiga Lucia. Louise e Lilian se entreolharam, o que era aquilo? Aqueles dois tão perto um do outro sem brigar? Só podia ser o fim do mundo.

– Por onde você andou? - perguntou Lily ao irmão inquisidoramente fazendo o rapaz ficar um tanto desconfortável.

– Ele estava me ajudando com aquele trabalho das planilhas. - disse Lucia fazendo as garotas ficarem mais confusas ainda.

– Sua amiga não consegue nem fazer uma linha reta com uma régua - disse Caleb sorrindo e ganhando um belo de um beliscão de Lúcia - Ai! Mas é verdade!

– Tudo bem, tudo bem - falou Lilian agitada, ela estava desconfiada daqueles dois, mas também estava curiosa com o que James tinha a dizer - depois vamos realmente querer saber sobre essas réguas e planilhas, mas o James quer fazer um convite para nós.

– Tudo bem, estamos ouvindo - disse Caleb sentando-se ao lado de Lucia e de frente para James e Lily.

– Bom, - começou James - meu avô insiste em conhecer meus novos amigos e propôs que os convidassem para um jantar em minha casa. Se estiverem de acordo será amanhã a noite. E claro se os outros quiserem ir, serão todos bem vindos.

– Seu avô é uma pessoa curiosa - disse Caleb.

– Sabe como são os britânicos - respondeu James dando de ombros.

– Oh, sim claro - disse Caleb ao rapaz - é só curioso, mas nós iremos sim e estamos gratos pelo convite.

– Muito bem - disse James sorrindo e olhando para Lily que estava com os olhos brilhantes - os esperaremos às sete da noite.

Eles já estavam terminando o almoço quando Amber apareceu com um garoto a acompanhando, ele usava óculos com armação quadrada, camisa cinza, jeans e All Star surrados. Lucia franziu o cenho ao ver a cena e lembrou-se da amiga reclamando sobre SEUS All Star. Ambos sentaram-se junto aos cinco que já estavam na mesa.

– Oi gente - disse Amber animada - esse é o meu amigo Luiz.

O rapaz cumprimentou a todos, ele tinha cabelos escuros, a pele clara e olhos amendoados.

As gêmeas e Lucia trocaram olhares maliciosos, suspeitando que aquilo entre Amber e o tal Luiz renderia mais que apenas uma amizade.

O Amigo de Amber era de fato um cara legal. E depois do que Amber havia passado com o tal Mauricio, as amigas ficaram feliz por alguém como Luiz ter aparecido na vida de Amber.

Elas observavam como os olhos dele brilhavam ao olhar para Amber e acharam tudo aquilo uma fofura.

Quando o casal saiu para se dirigir às suas salas de aula as amigas comentavam o quanto eles eram fofos juntos.

– Viram como os olhos dele brilhavam? - indagou Louise sonhadora.

– Achei que eles formam um casal tão fofo - disse Lily

– Ah, eu estou feliz pela Ambby - disse Lucia sorridente.

Mas os garotos estavam ali afinal de contas, para quebrar o encanto das meninas.

– Vocês não acham que estão antecipando as coisas por eles? - perguntou James franzindo o cenho.

– Não seja estraga prazeres James - disse Lily para ele fingindo estar aborrecida

– Ok garotas, acho que podemos deixar Amber e Luiz decidirem isso e ir para nossas aulas - falou Caleb levantando-se e dando uma piscadela para Lucia ao sair.

–O que foi isso? - Louise perguntou à amiga quando o irmão já havia se retirado. Lucia estava rubra e deu de ombros ao responder para a amiga:

– Quem entende o seu irmão?

Mas Lily tinha a resposta exata para aquela pergunta, esta noite ela e Caleb teriam uma conversa séria, ele não lhe escaparia. Além do mais Soffi já não era sua hospede, poderia interrogar o irmão a vontade.

Maria Julia e Thomas estavam no seu lugar preferido outra vez. Naquele dia a loira estava se sentindo mal pela noite anterior com as meninas, quase não havia dormido direito. Ela nunca havia contado tanta coisa de sua vida antes para ninguém, a única pessoa que estava habituada a quem ela realmente era o irmão.

Mas Thomas havia ganhado grande espaço por entre as barreiras de Maria Julia, ele observava o quanto tinha evoluído com a garota, ela já não tratava friamente a grande maioria das pessoas. Por vezes ele podia enxergar uma Maria Julia adorável, encantadora e meiga, mas outras vezes ela ficava triste, ou distante como naquele momento.

Ele sabia que ela precisava de tempo para lidar com as mudanças e estava ajudando-a com aquilo vigorosamente todos os dias. Ela já havia tomado um espaço no seu coração e ele não podia e nem queria abandoná-la naquele processo, por mais longo que fosse.

– Você quer falar? - perguntou Thomas suavemente, afagando os cabelos loiros de Maria Julia.

– Não sei - disse a loira, baixinho.

– Se quiser ou não, estou aqui com você. Sabe disso, não é? - disse ele calmamente.

Maria Julia assentiu levemente até que por fim varias lágrimas brotaram de seus olhos enquanto Thomas a embalava gentilmente.

– Você uma vez pediu para que eu te contasse sobre mim, minha família e minha vida. Ainda está disposto a ouvir? - perguntou Maju.

– É claro que sim linda, - respondeu Thomas - sempre que você quiser.

– Meus pais... Eles faleceram quando eu e João ainda éramos muito novos, nem nos lembramos direito deles. Todo esse tempo, moramos com uma tia, que era a única parente viva que nos restava. Mas ela não nos tratava nem perto do que um pai ou uma mãe deveria tratar seus filhos. Nós fomos constantemente castigados, ignorados - a garota estremecia ao relatar aquilo e Thomas continuava embalando-a - maltratados, das varias formas que você consiga imaginar. Uma vez João saiu escondido para brincar com uns amigos na rua quando éramos crianças e ao voltar para casa, nossa tia o agrediu tanto... Que cheguei a pensar que o perderia também. Ela nos proibia quase tudo, amizades, sair para festas de aniversários dos amigos, a única coisa que não nos tiraram foi o estudo. Tem outra coisa que ninguém sabe sobre nós, eu e Joao somos gêmeos.

Ao ouvir aquilo os olhos de Thomas se arregalaram.

– O que? Mas como assim? Pensei que ele fosse seu irmão mais velho. Porque escondem isso das pessoas?- Maria Julia deu de ombros.

– Nós não escondemos, só não contamos, afinal não somos univitelinos e quase ninguém pergunta mesmo. Assim é mais fácil.

Thomas apertou o abraço que envolvia Maria Julia fazendo-a sentir-se mais segura.

– Eu sinto muito - ele dizia - deve ter sido horrível, crescer assim.

– Foi horrível. - afirmou a loira encostando a cabeça no ombro do rapaz - mas ainda não te contei tudo... Quando comecei a crescer, o marido da minha tia começou a me tratar de forma estranha e me olhar de forma peculiar, por vezes eu acordava a noite com ele me observando no quarto e aquilo me assustava tanto...

Lágrimas brotaram no rosto de Maria Julia enquanto Thomas confortava a menina.

– Ele chegou a...? - perguntou o rapaz

– João nunca permitiu que ele encostasse um dedo em mim - disse Maria Julia - e diversas vezes meu irmão foi castigado por aquele homem horrível. Por isso decidimos sair para o mais longe de Santa Catarina, em breve iremos completar a maior idade e ter acesso ao que nossos pais nos deixaram sem precisar de guardiões. Que palavra mais inadequada para aqueles dois.

– Por que resolveu se abrir comigo, MJ?

– Porque quando conversei com meu irmão sobre a Soffia, percebi que existem pessoas que querem meu o meu bem de verdade, sem interesses. Percebi que as máscaras não são necessárias e que elas apenas nos impedem de ser feliz. Isso aconteceu com meu irmão e Soffia e eu não gostaria que isso se repetisse conosco. Eu não conseguiria perder mais ninguém! - respondeu a loira suavemente fazendo Thomas beija o topo de sua cabeça.

Thomas ficou ali fazendo companhia para Maju durante um longo tempo. Ela parecia mais leve após ter desabafado, ele sentia que as barreiras já estavam mais que escassas entre eles e se sentiu feliz por isso. Afinal de contas a garota havia passado por muita coisa, ele esperava que ela fosse feliz agora e esperava fazer parte dessa felicidade.

Ele virou a cabeça da loira que estava em seu ombro para poder olhar naqueles olhos azuis, eles estavam lindos e brilhantes ainda pelas lágrimas, sem conseguir se conter, Thomas se inclinou levemente de forma que seus lábios tocassem o queixo de Maria Julia e levemente os arrastou ate os lábios da garota. O beijo foi gentil e terno, Maria Julia tinha lábios doces e retribuiu o seu beijo suavemente, ele tinha as mãos firmes na nuca da garota, para que aqueles lábios correspondessem mesmo ritmo que os seus. Tal qual em uma dança. Quando eles se afastaram Maju tinha um enorme sorriso nos lábios e o coração do rapaz acelerou ao ver aquilo. Ele de fato poderia fazer parte daquela felicidade.

Soffia mais uma vez estava atrasada, aquelas aulas extras estavam acabando com ela. A menina nunca estava pronta na hora certo o que a fazia sair desleixada e correndo de casa. O tempo passou tão rápido que só deu tempo de colocar um jeans, um all star preto e uma blusa da serie Game of Thrones, onde tinha o desenho de um lobo gigante e embaixo estava escrito “O inverno está chegando", frase que não combinava com o clima quente de BH. Os cabelos estavam presos em um coque, sendo que alguns fios haviam escapados e por conta do suor ficaram grudados no pescoço da garota.

Finalmente chegou à Universidade, mas antes que pudesse se encaminhar para seu bloco, a garota avistou João Pedro sentado embaixo de uma árvore lendo olhando para uma foto que estava em sua mão. A menina parou por um instante e olhou na direção do seu bloco e novamente voltou sua atenção para João. As palavras de Maria Julia soram em sua cabeça como sirenes "meu Deus, eu vi os olhos dele marejarem, sabe o que isso significa? Não, você não sabe. Foi uma tortura ver meu irmão desse jeito". Ele parecia sincero quando foi busca-la em seu quarto para a festa de Lily. Sem pensar em mais nada, a morena andou até o menino, ignorando completamente sua consciência que a lembrava da aula extra. Chegou silenciosamente a fim de sentar-se ao lado dele e talvez surpreende-lo.

– Hum, cheiro de baunilha, passos tímidos e silenciosos, só pode ser Soffia. - o menino disse ainda de olhos fechados e segurando uma foto de um jovem casal. A mulher era muito parecida com Maria Julia, exceto pelos olhos que eram castanhos amendoados e o rapaz tinha cabelos castanhos e olhos iguais ao de João. Eles estavam abraçados e pareciam estar casando, pois a mulher estava com um vestido de renda branco e homem em um fraque preto.

– São seus pais? - falou Soffia, puxando a foto das mãos do garoto.

– Sim - falou João arrancando a foto da mão de Soffia e a guardando na mochila.

– Maria Julia falou o que aconteceu com eles. Sinto muito por sua perda. - disse a garota sinceramente.

– Que seja. Eu não cheguei a conhecê-los mesmo. - falou o menino de forma ríspida.

– Por que você está sendo tão idiota? - perguntou Soffia.

– Por que eu precisei disso pra sobreviver, e ainda preciso. Maria me contou sobre a festinha de vocês. Contou-me que revelou sobre nossos pais e sobre tudo o que vivemos nas mãos daquelas pessoas asquerosas. Contou-me também que discutiu com você. Soffia eu não tive culpa no caso de Amber, mas tive culpa ao te maltratar e fingir que você não era importante. Eu te peço perdão porque hoje eu vejo como você é importante. Maria me disse que não preciso usar mais máscaras, mas só nós sabemos quão doloroso é se livrar delas. Então, me desculpe, mas não posso te oferecer abraços, beijos ou palavras bonitas. Primeiro preciso deixar de ser idiota. - afirmou João limpando os olhos. Soffia encarou o menino por alguns segundos com os olhos marejados. Nunca havia visto os olhos azuis de João tão sinceros. Mas, essa sinceridade que ela tanto almejava estava distanciando os dois.

– Mas... - sussurrou Soffia quebrando o contato visual e segurando as mãos do garoto nas suas.

– Nós precisamos disso Soffia. No fim tudo irá ficar bem. - disse Joao chegando mais perto da morena e lhe depositando um beijo na testa. Logo em seguida pegou sua mochila, levantou-se e sem olhar pra trás sumiu na multidão de alunos.

Naquela noite eles chegaram bem tarde da universidade. E graças a Deus Soffia havia voltado a cozinhar. Ela preparara uma macarronada divina para a janta, além de carne assada de forno, empadão de frango e um delicioso arroz, também um mousse de limão para a sobremesa.

Todos eles jantavam juntos e conversavam animadamente. Lily porem estava calada e distante, Caleb observava. Coisa muito incomum para a ruiva.

Entre os risos e conversas Caleb observou a irmã o fitando, não da costumeira forma, aquele olhar estava carregado de magoa e solidão. Logo todos terminaram a refeição e saíram da cozinha, Lilian foi a primeira. Restaram apenas ele e Lucia para lavar e guardar a louça.

Era agradável ter a presença dela, principalmente quando não estavam brigando. Mas algo ainda incomodava o rapaz, para se mais especifico um par de olhos verdes.

Caleb despertou de seu devaneio quando um copo de vidro se espatifou no chão. Quando ele focou seus olhos observou uma Lucia com as sobrancelhas franzidas e braços cruzados.

– Desculpe - murmurou ele.

– Qual é o problema? - perguntou ela de maneira inquisidora.

– Lily. Você viu como ela estava hoje?

– Acho que você deveria ir falar com ela - disse Lucia com os olhos cinzentos sérios.

– Eu ia fazer isso mesmo...

– Pode ir agora - ela o interrompeu com certa rebeldia - prefiro terminar sozinha a ter você quebrando o resto da louça. Mas não vá se acostumando com isso!

Caleb sorriu enquanto depositava um beijo na testa da menina. Logo ele estava subindo as escadas e se dirigindo ao quarto de Lily.

A porta estava entreaberta então ele bateu antes de entrar. Quando adentrou o cômodo ele viu algum moveis afastados enquanto a sua irmã pintava de branco a sua parede de rabiscos. Isso o deixou inquieto, Lily adorava rabiscar aquela parede. Por que simplesmente resolvera fazer isso agora?!

O que houve Lily? - perguntou Caleb se aproximando da irmã. A ruiva o observou com a expressão distraída e os olhos ainda com um pouco de mágoa.

– Ah, achei que estava na hora de algumas mudanças - disse ela, enquanto pintava o raio desenhado na parede.

Ele se aproximou dela e a ajudou a pintar a parede. Ambos trabalharam em silencio por um tempo até que Caleb não aguentou mais e disse:

– Não entendo porque você esta fazendo isso?

– Sinto que está na hora de esquecer algumas experiências e viver outras. - afirmou a menina enquanto apagava uma citação de Orgulho e Preconceito, o que deixou Caleb mais intrigado.

– Está acontecendo alguma coisa que você queira me contar? - perguntou Caleb gentilmente, tocando no ombro de Líliam.

– Talvez eu devesse perguntar isso a você Caleb. - disse a ruiva com um sorriso triste e um tom de voz frio. - Caleb ficou sem jeito e por um instante não soube o que dizer.

– Acho que estamos um tanto misteriosos - disse o menino tentando melhorar o clima.

– Sabe Cal, eu tenho novos amigos agora, assim como você e isso me faz ter medo de perdê-lo!

– Ei calma aí Líliam, você não está me perdendo. Eu só... - Caleb não conseguiu terminar, na verdade não saberia explicar o que estava acontecendo entre ele e Lucia.

– Só? - indagou a ruiva com os olhos vermelhos. Caleb a puxou para um abraço.

– Maninha, meu Lírio você é e sempre será minha melhor amiga. Não questione isso nunca mais.

– Não parece - disse Liliam enquanto empurrava o irmão para o lado e voltava a pegar o pincel. - Nicholas sabe mais do que eu. E eu ainda continuo sem saber de nada.

– Ok ele sabe, mas eu tinha que pedir conselhos a alguém, homem como eu!

– Isso não é justo - disse a irmã incompreensiva - você esta sendo machista.

Lilian estava com os olhos marejados enquanto falava num tom que começou a ganhar fúria.

– Fale a verdade para mim Cal - dizia ela em tom histérico apontando o pincel para ele - já está me esquecendo, é isso, agora o Nicholas vai tomar o meu lugar?

Ela fazia beicinho enquanto falava. Os olhos estavam imensos e brilhantes e antes que Caleb pudesse responder Lily o atingiu com uma pincelada de tinta no rosto. O rapaz não teve outra reação se não começar a rir enquanto se aproximava da irmã para envolvê-la em um abraço.

– Ninguém NUNCA vai tomar o seu lugar lírio - dizia ele entre risadas.

– Não é o que parece - disse a ruiva fazendo beicinho.

– Você já disse isso - rebateu ele com um sorriso enquanto sentava na cama da irmã - tudo bem, tudo bem. O que você quer saber? Já até imagino.

– Então porque não me contou desde o inicio?! - rebateu uma Lilian aborrecida.

– Porque eu precisava entender primeiro, antes de te contar.

– Então? Já entendeu? - perguntou Lilian levantando as sobrancelhas

– Na verdade não, - disse Caleb suspirando um pouco sem jeito - mas se você quer saber. No dia do passeio até a cachoeira, a Lucia e eu, bom...

– Eu sabia! - disse Lilian batendo palmas ansiosamente enquanto o irmão tentava fazê-la parar.

– Não Lily, não sabe, quer escutar?! - disse ele retomando a história - bom, eu... NÓS, acabamos nos beijando e, bom não sei ao certo o que está acontecendo ainda. No inicio ela ficou ainda mais irritadiça comigo, mas agora parece estar bem e sabe-se lá como vai estar depois, eu não compreendo. Ainda está tudo muito confuso.

– Hoje no seu tempo livre. Você não estava apenas ajudando ela com o trabalho das planilhas não é?! - perguntou Lily com uma expressão sagaz fazendo o irmão corar enquanto ela ria.

– Não - admitiu Caleb, Lilian ria histericamente.

– E você preferiu pedir conselhos ao Nick? - ela falou ainda rindo - francamente Cal, o Nick é um fofo, mas eu poderia te ajudar muito mais. Vocês garotos nunca sabem o que fazer nessas ocasiões.

– Não é bem assim - rebateu ele arregalando seus olhos dourados.

– É claro que sim, é bem simples. Você gosta dela?... Não, quer saber, isso é obvio, não responda - dizia a ruiva sem parar quando o irmão indagou um "óbvio?" Indignado - vocês tem que parar de implicar um com o outro e deixar as coisas acontecerem. E você principalmente, tem que parar de andar por ai fingindo ser arrogante e convencido, mostre a ela o rapaz que você é por trás disso.

Lilian estava com os olhos brilhantes, agora ela havia relaxado, Caleb observou. Ele fora um tratante escondendo aquilo da irmã, afinal eles sempre compartilharam os segredos um do outro, não sabia por que daquela vez ele tinha feito diferente. Mas não imaginou o quanto aquilo a afetaria. E logo outra coisa tomou conta de seus pensamentos, algo que ele tinha para conversar com Lily.

– Tudo bem, tudo bem. Mas agora chega de falar de mim, quero conversar algo serio com você - disse ele cautelosamente - é sobre o James.

– O que tem o James? - perguntou a irmã confusa

– Eu ainda não confio nele - disse Caleb encarando-a com olhos dourados e sinceros - e todo esse mistério? É para que? Nós não sabemos quase nada dele. E isso ainda me incomoda.

– Mas ele nos convidou para conhecer o avô - contestou Lily. Caleb ainda não estava convencido, tinha a expressão preocupada.

– Ainda assim... Lily, o que quero é que você tome cuidado com ele, não quero te ver sofrer outra vez por um cara que não vale a pena. E se ele te machucar... Meu Deus, que ele não chegue a isso, pois nem eu sei o que faria com ele.

– Você não tem por que se preocupar - disse ela num tom de indiferença que era muito bem fingido - James é meu amigo apenas e nada mais.

– Se é o que você diz - falou Caleb olhando-a de forma inquisidora. Líliam percebeu que o irmão havia ficado inquieto.

– Ei, não fica assim. Eu prometo que vou tomar cuidado. - prometeu Lílian, enquanto acariciava o rosto do irmão.

Ela novamente pegou o pincel e retomou seu trabalho. Caleb olhava para a irmã com curiosidade. Líliam havia se tornado tão forte. Ele estava orgulhoso das irmãs que tinha e jamais perdoaria o avô por um dia tentar impedir que os pais ficassem juntos.

– Líliam, será que o nosso avô se arrependeu de ter feito mal ao papai e a mamãe? - disse Caleb encarando a irmã.

– Sinceramente, acho que não. - disse a ruiva - creio que esse senhor não tem escrúpulos e não pretendo procurar saber sobre ele.

– Às vezes eu penso que...

– Não pense sobre isso, ele não merece - disse Líliam em um tom mandão.

– Lírio?

– Hãm? - respondeu a ruiva largando o pincel

– Te amo. - Líliam voltou- se para Caleb, mas antes que pudesse falar alguma coisa Louise entrou no quarto, emburrada.

– Não é justo! Vocês ficam de segredinhos e nem compartilham. - Líliam olhou para Caleb e gargalhou. - O que foi?- disse Louise indignada.

– Não compartilhamos informações com meninas pestinhas. - disse Caleb sujando Louise de tinta.

Louise ficou rubra fazendo Líliam engasgar e Caleb dar pequenos tapinhas nas costas dela.

– Me contem tudo, preciso contar sobre...

– Não quero saber sobre o Nicholas. - disse Caleb categoricamente.

– Ele é um fofo né?- perguntou Líliam com o olhar sonhador, fazendo Caleb revirar os olhos.

– Sim, ele é perfeito. - disse Louise chegando perto da irmã.

– aaaaaaa que perfeito! - gritou Líliam dando pulinhos juntamente com Louise.

– Estou enjoado - disse Caleb, vendo um travesseiro voar em seu rosto. – GUERRAA - gritou o menino.

Ficaram ali brincando ate que decidiram que estava na hora de dormir. Caleb falou de Lucia para Louise e Líliam de James. Muito tempo depois eles dormiram, juntos, como nos velhos tempos.


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Notas finais do capítulo

O que acharam???
Qual casal vocês preferem?
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e por favor tirem um tempinho para cometar. Isso me deixa feliz e inspirada. Beijos.



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