Mandamento 6: Tenha paciência, mas muita paciência mesmo. Principalmente se a pessoa desejada for de colocar coelhos na frente do beijo.

A não ser o Dake, não sei se outro alguém já beijou Lynn. Um bom pressentimento — jornal de fofoca da Peggy — faz eu crer que não, ou caso contrário, já saberia. Por isso, coloquei em minha cabeça que eu seria a primeira, e talvez última, pessoa que conquistaria o beijo de Lynn. E desde então venho tentando, com muita garra e paciência o tão esperado beijo.

A primeira vez que tentei, foi um desastre. Ela foi capaz de colocar um bendito coelho fofo na frente, atrapalhando meus planos de forma catastrófica. Resolvi que não tentaria mais daquele jeito, quando fosse beijá-la, seria de uma forma em que eu tivesse certeza que ela também queria. Mas, vocês sabem, Lynn é ruim nessa questão. Creio que Dake só conseguiu forçando, mesmo que pouco, a barra. E eu não vou fazer isso de maneira alguma.

A segunda vez não foi menos trágico que a primeira. Foi um dia de reunião e Lynn estava mega nervosa por causa de sua nota em química.

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Lembro como se fosse hoje, um alguém me puxando para dentro da sala A.

— Kentin, meus pais vieram. Já estão conversando com a professora.— Seu rosto estava pálido. Se tinha uma coisa que a deixava paranoica, era reunião de pais para comentarem as notas.

— Relaxa, Lynn. A não ser que você seja o Armin ou o Castiel, você não ficará em apuros.— Me sentei numa mesa e ela se sentou na cadeira.

— Como pode ter certeza?

— Confio na sua capacidade intelectual. Eu aceitava fazer dupla com você no fundamental porque sabia que não me deixaria fazer tudo sozinho.

Ela sorriu e apertou minha mão. Um silencio estranho se instalou na sala e quando percebi, estava encarando Lynn de forma constrangedora. O pior de tudo? Ela retribuía o olhar com mais intensidade que o normal. Foi então que me iludi, achando que aquela seria uma ótima hora para nosso primeiro beijo.

Tudo parecia que ia dar certo, Lynn estava só alguns palmos de distancia, me inclinei sobre ela e coloquei uma das mãos em seu rosto. Era só ela se aproximar mais...era só...

— Você vai me beijar? — Perguntou ela, seu hálito ia em direção ao meu rosto, bem que poderia estar na minha boca... Péssima hora para puxar assunto, hein, Lynn?

— É o que você quer? — Péssima pergunta, mané. Anota aí: quando for beijar alguém, apenas se cale e o faça.

— Hã...— E, seguindo meu conselho, não deixei que Lynn terminasse a frase, simplesmente segurei sua nuca, me aproximando mais, mais, quando...

— Hum-hum, o que, exatamente, vocês estão fazendo? — uma voz masculina falou atrás de mim.

O susto foi tanto que me desequilibrei da carteira e cai por cima de Lynn, de maneira tão, mas tão vergonhosa que se o chão me engolisse eu o agradeceria.

— Philippe, você os atrapalhou! — Falou uma voz bastante conhecida. A ilustre mãe de Lynn.— Ah, é aquele garoto...

Ela colocou uma ênfase estranha na última frase, mas a única coisa que eu conseguia reparar era no quanto o homem ao seu lado parecia bravo. Me coloquei em pé rapidamente e ajudei uma versão vermelha de Lynn fazer o mesmo. Nós dois nos posicionamos em frente a seus pais, como se tivéssemos sidos pegos fazendo algo errado. E não, beijar não é errado, meu erro foi apenas deixar a porta aberta.

— E-eu só estava acalmando a Lynn — gaguejei. Percebi que a frase poderia ter outro sentido.— Quero dizer, não acalmar da forma que vocês pensam que eu estava acalmando; acalmar por causa das notas, entende?

Lynn me deu uma cotovelada e meu sangue — que antes estava somente no rosto — pareceu sumir das minhas veias e artérias. Philippe me olhava com cara de poucos amigos, muito poucos amigos mesmo. Boatos que apesar de não parecer ameaçador, ele seja uma fera.

Dona Lucia sorria, e ao contrario do pai de Lynn, ela parecia gostar de mim. Isso pelo menos me alegrou um pouco.

— Hã...como foi a reunião? — Perguntou a garota ao meu lado, mudando de assunto. Ufa.

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E minha segunda tentativa nunca mais foi assunto, nem mesmo entre nós dois. Simplesmente morreu, assim como a primeira. E para mim isso é terrível, é como se todo meu esforço estivesse indo por ralo a baixo. Exatamente por este motivo, que o mandamento 6 é paciência. Mas, este mandamento é mais de Rosa do que meu. Pois foi a ela que recorri quando percebi que minhas investidas nunca dariam certo, a não ser que eu me tornasse um surfista gostosão e cara de pau. Ou o Castiel, porque...bem, deve ser difícil resistir ao Castiel.

Não foi fácil admitir que precisaria de ajuda, mas, quem mais poderia me dar um bom conselho? As duas são melhores amigas, é natural que talvez Lynn comente algo sobre mim.

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— Você o quê? — Rosa gargalhava. Tratei de pôr minha mão em sua boca, antes que ela anunciasse para escola inteira meu pedido de ajuda.

— Quero ficar com Lynn. Que novidade tem nisso?

— Não é questão de ser novidade, bobinho. É questão de você vir me perguntar como.— Finalmente ela se acalmara e assumira um tom sério.

— E então...

— Certo, vou te contar como foi meu primeiro beijo com Leigh.

— E isso vai me ajudar em quê? — Perguntei, irritado.

— Fique quieto e escute.— Ela bateu o pé no chão, brava.— Ele era muito tímido, parecido com a Lynn e bom, eu sabia que se eu não tomasse iniciativa, ele nunca tomaria. Então, num belo dia, simplesmente apareci na loja e...bum, o beijei.

— Assim, tão fácil?

Rosa fechou a cara, levemente ofendida .

— Isso não quer dizer que você deva fazer o mesmo com Lynn.

— Então, por que me contou? — Mulheres...são todas complicadas assim, ou Rosalya tem problema em ser direta?

— Você quer um conselho ou não quer? — Perguntou, ainda mais irritada. Apenas balancei a cabeça, não queria irritá-la mais.— Não sei o que Lynn sente por você, infelizmente, ela não se abre sobre essas coisas. Porém, certa vez ela queria mudar o visual para agradar alguém.

— Hã...quem?

— Você! — Ela sorriu, como se tivesse anunciando um oscar.— Então, isso quer dizer algo, não quer? Preste atenção no meu conselho, é simples e eficaz: paciência.

E ela parou de falar. O conselho era só a palavra "paciência". Não acredito que depois de tanta enrola eu só ia escutar uma única palavra.

— O que isso quer dizer?

— Quer dizer que Lynn é lerda e a menos que você não a pegue de surpresa - digo pegar no sentindo literal -, ela não vai te dar uma chance. Mas, não seja afobado, espere o momento certo, quando ela estiver relaxada, quando vocês estiverem sozinhos e num lugar especial. Fim e tchau.

E assim, Rosalya saiu, me deixando ainda mais confuso. Se o que eu estava fazendo todo aquele tempo não era ter paciência, o que exatamente é a paciência? E foi assim que resolvi não tentar mais beijar Lynn, eu ia deixar a coisa rolar naturalmente, demorasse o tempo que for. Afinal, tudo tem seu tempo.