Mandamento 4: faça a pessoa também sentir ciúmes. Não por maldade, mas como um...teste.

Não sou um galã como o Nathaniel, que tem a Melody atrás dele. Nem gentil como o Lysandre, que tem a Nina. Muito menos o Armin, que não percebe, mas tem a Íris. E sei que não seria certo usá-las para fazer ciúmes a outra pessoa, aliás, não faça isso, é muita falta de Lysandrisse tal feito. Mas, se a vida te der uma chance de provocar ciúmes (ciúmes do bem, claro) na pessoa que deseja conquistar, agarre esta oportunidade. Foi isso que fiz, e esse mandamento é sobre como o fiz e o quão estranho que foi.

Demorei um bom tempo para perceber que Alexy era a fim de mim. Hoje em dia é até estranho falar assim, pois eu não queria que ele fosse; não por ser gay, mas por ser um humano, e ninguém merece sofrer por alguém que não retribui seus sentimentos. Mas sei que Alexy sairá dessa, ele sabe se virar bem. Quando descobri, foi por Rosa ( e ela ainda diz que é um túmulo), e admito que fiquei abalado. Isso tudo foi depois do acampamento, por isso, não entendia o porquê do ciúmes de Lynn em relação a Alexy. Agora tudo faz sentido.

O mais interessante do mandamento de hoje é, por incrível que possa parecer, Ambre. Ela tinha colocado na cabeça que eu havia escrito uma carta de amor para ela, mesmo depois de Alexy e Rosa admitirem que tinha sido eles. Mas, a cabeça de ventou preferiu não ouvi-los. O que aconteceu? Ficou duas semanas no meu pé, enchendo o saco para eu admitir que tinha escrito a carta para ela. E, uma dessas semanas foi a do acampamento. Não estava animado para ir, mas não deixaria os paqueras aproveitarem esse momento com Lynn. Eu que o faria.

Ficou confirmado que dividiria a barraca com Alexy e Armin, e foi aí que surgiu o primeiro rastro de ciúmes.

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– Com o Alexy? Por que com ele? - Perguntou Lynn, parando de andar e me olhando de forma estranha.

– Com o Alexy e o Armin. Porque são meus amigos, ora.

Ela voltou a andar, em total silencio. Tinha combinado de ir ao lado dela na poltrona do ônibus e era para lá que estávamos indo. Boris estava na frente, recolhendo as autorizações. Quando me viu, ele trincou os dentes, pegando a minha autorização com mais força que era necessário.

– Estou de olho no senhor.- Ele advertiu. Lynn e eu sorrimos.

Chegamos nas respectivas poltronas e abri espaço para ela se sentar ao lado da janela, sei que gostaria de ver a natureza lá fora. Mas, um vulto loiro a empurrou para o lado e me jogou em direção a janela; a janela que seria de Lynn. Era Ambre se sentando ao meu lado e me obrigando a viajar com ela.

– O que você pensa que está fazendo? - Falei, olhando para Lynn, mas ela já tinha se sentado com outra pessoa, parecendo com raiva.

– Assim você não poderá fugir de mim.-Respondeu Ambre. Não deu tempo de discutir mais, pois o ônibus começara a lotar.

Sim, foi horrível ouvir Ambre tagarelando por horas com Lynn tão perto de mim. E ainda me perguntam porque a odeio.

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Esse foi o começo de um longo fim de semana que só tendia a piorar. E logo no sábado, Boris inventou de fazer um caça bandeiras, é nesse tipo de brincadeira que chego a conclusão que o velho Ken, que não leva jeito para esporte, ainda está aqui, e isso me deixa feliz. Gosto do Ken, apesar de tudo. E gosto mais ainda do Kentin. O que deu? Ambre fez com que Armin fosse mandando para outro grupo (o que foi fácil, lembrando que Boris também o odiava) e eu, pobre Kentin, tive que aguentar Alexy, Nathaniel, Ambre, Lynn e Rosa na mesma equipe. Bom, perdemos feio.

Domingo não foi muito diferente. Teve joguinhos chatos e Ambre no meu pé, trocando patadas com Alexy. Armin ficava nos jogos, e Lynn bem longe de mim e perto demais do suco de tomate (vulgo Castiel) e Lysandre. E domingo à noite na fogueira, fui surpreendido quando ela resolveu sentar ao meu lado. Uma pena que automaticamente Ambre também chegou, se colocando em frente à ela.

– Acho que você ocupou meu lugar...

Lynn revirou os olhos e respirou fundo.

– Você não percebeu que está incomodando o Kentin, não é mesmo? - Ela se levantou, ficando cara a cara com Ambre. Podia sentir o cheiro de confusão no ar.- Cara de pau, por sua culpa ele foi parar num colégio militar e agora, você gruda nele, como se não tivesse feito mal algum no passado. Meu poupe, Ambre!

Ambre abriu a boca, como se fosse responder, mas, fez algo pior: empurrou Lynn para trás, que teria caído não fosse um Nataniel ninja, que apareceu bem a tempo. Mal deu tempo de me recuperar dessa, quando Lynn se recompôs e deu o troco com outro empurrão, e quando vi, as duas já estavam discutindo e trocando empurrões. Lynn estava agarrada aos cabelos de Ambre.

– Me ajude a separá-las! - gritou Nath, me despertando. Nunca, jamais imaginaria que as duas um dia cairiam nos tapas.

Nathaniel agarrou Ambre por trás, enquanto eu agarrava Lynn. Olhei ao redor e percebi que todos na fogueira tinham se levantado.

– Voltem aos seus lugares, acabou a palhaçada! - exigiu Nathaniel, levando Ambre a força para longe do grupo.

Todos começaram a se sentar novamente, percebi que Peggy segurava seu gravador com um sorriso malicioso. Fiz Lynn se sentar novamente.

– Você que deveria falar com a Ambre que está incomodado com a presença dela.- A garota falava apontando para mim o dedo indicador, um sinal bem claro de raiva. Apesar da fogueira, a noite continuava fria e Lynn estava meio encolhida. Peguei minha blusa e joguei em seus ombros.

– E quem disse que estou incomodado? - Brinquei.

Ela empinou o nariz, parecendo entrar numa guerra interna que decidia se me matava ou se só jogava na fogueira junto com Ambre.

– Parece que não está mesmo.- Então se levantou, junto com o resto do pessoal que começava a se dispersar pela clareira. Eles ficariam a última noite observando o céu em busca de estrelas cadentes.- Boa noite.

Me levantei e fui atrás, segurando-a pelo braço.

– Sabe que estou brincando, né? Falando assim, até parece que você tem ciúmes dela.

Lynn continuou andando, olhei ao redor e achei Ambre perto de Castiel. Ai meu coração, é mesmo uma traidora. Caramba, não achei que me trocaria tão rápido. Agora pelo menos entendo Castiel, ele deve sofrer bastante com toda essa paixão.

– Olha lá, Ambre já me esqueceu.- Eu sorri.- Ou melhor: já voltou para o ruivo dela, pois ninguém resiste a um ruivo.

Lynn finalmente abriu a cara num sorriso meio sem graça, nos sentamos na grama e ficamos olhando para o céu. As estrelas queriam colaborar bastante com nosso momento sozinhos, aliás, era bem raro conseguir fica sozinho com Lynn quando o pessoal da escola estava por perto. Sempre tinha algum paquera atrapalhando, quando não era paquera, era algum problema. Esse é o lado ruim de gostar de alguém como Lynn: ela gostava de ajudar a todos e sua vida acabava ficando um pouco limitada nisso.

De repente, a risada dela me despertou dos pensamentos.

– O que foi? - perguntei, preocupado.

– Nada...é só que...seria realmente estranho se a Ambre levasse essa história de se apaixonar por você a sério. Já não basta o...- e ela parou. E sim, não me toquei que ela ia se referir a Alexy.

– Estranho porque você está com ciúmes.

– Se toca, Kentin! Por que sentiria ciúmes de você?

Me virei para ela e comecei a fazer cócegas em sua barriga. Lynn se debatia e gargalhava, e seu eu pudesse, faria um vídeo daquilo, pois era...lindo. Era absolutamente lindo ver seus cabelos sendo bagunçados ao vento, seu corpo se encolhendo para perto do meu com os espasmos de risos, e seus seios balanç...chega.

– Tá, admito!

Nos deitamos na grama e fitamos o céu, Lynn estava ofegante ainda. A puxei para mais perto, porque era impossível mantê-la longe quando estávamos a sós. Um pequeno rastro de luz cruzou o céu.

– Olha, Kentin, uma estrela candente! Faça um pedido, rápido!

Encarei a estrela e pensei: "Por mais dias e por mais casais que acabem com as crises de ciúmes em cócegas".