“Você pode pensar que eu só falo besteira e sou um puta de um Deus louco... Mas penso que se você ainda se dá ao trabalho de ler esse livro, os conselhos que passo devem fazer algum sentido, não?”

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O local de hoje era o prédio principal da Peace and Smile Company; PS Company, chame como quiser... Era estranho voltar à realidades do dia-a-dia corrido do the GazettE depois de uma folga tão bizarra e proveitosa, mas lá estávamos os cinco esparramados numa sala qualquer.

Sentara-me ao lado de Kou no grande sofá de couro do local de propósito, é claro. Não seria em uma noite que eu deixaria de ser sádico, não?

Num sussurro, iniciei uma conversa:

– Hei, Uru, você comentou com os outros sobre as “aulas” que você vem tendo? – fiz aspas com os dedos e apontei os outros três com a cabeça. Extramente ocupados com os próprios pensamentos, não prestavam atenção em nós.

– Não, Aoi, e ficaria agradecido se você fizesse o mesmo – respondeu sério – Já é constrangedor demais uma pessoa ficar sabendo do meu problema, imagina quatro! E o Sakai, então? É lógico que os outros contariam a ele! – desesperou-se; sua voz elevou-se uma oitava, mesmo que continuasse um leve sussurro.

Por um tempo, fiquei só me dando ao luxo de apreciar suas feições delicadas que estavam tingidas com um sutil rosado de vergonha. Permite-me aquela visão enquanto fazia um esforço para me lembrar do que queria dizer.

– AH, SIM! – exclamei mais alto do que esperava. Ruki, que descansava numa poltrona ali perto depois de um dia cansativo de trabalho, abriu os olhos assustado. – Desculpa Ruru, não era minha intenção te acordar. Pode voltar a dormir... – desculpei-me.

– Filho da puta – sibilou antes de voltar a fechar os olhos, cobrindo-os com um dos óculos-escuros-que-mostram-tudo de sua própria marca. Por Mana, algumas divas não tem cura...

– Yuu, seu louco! – Uruha criticou com uma palma sobre o peito – Não me mata de susto assim!

– Relaxa, relaxa... – abanei a mão num gesto indiferente, voltando a falar baixo – Enfim, lembrei o que queria te dizer.

– Ah, sim... O que é?

– Pensou naquele assunto de ontem? – indaguei normalmente. Kou, por sua vez, engoliu em seco, nervoso. Não parecia esperar que eu me lembrasse da questão assim tão cedo.

– Pensei sim, sensei. – respondeu.

– Certo, e decidiu que... ?

– E-etto... E-eu me decidi...

Ah, mas que demora!

– Está tudo bem Uruha, pode falar de uma vez – tentei incentiva-lo. Ora, eu estava me corroendo de curiosidade!

Ele tomou fôlego e fechou os olhos, tomando coragem.

– Eu me decidi por ser uke. – soltou por fim.

Por um instante fiquei surpreso, mas até que fazia sentido... Ele não tinha o jeito para ser seme.

Certo, admito! Eu é que ficava imaginando o Kou como uke mesmo!

– Bom, agora podemos realmente começar nossas aulas – falei sem pedir por suas explicações. Porque eu precisaria saber dos motivos de sua escolha? Afinal, eu era só o professor que o ensinaria a conquistar outro cara, mesmo... E isso não é um ataque de ciúmes, não mesmo!

Levantei do sofá e esperei que Kouyou fizesse o mesmo.

– Vamos dar umas voltas? – perguntei.

– Claro... – e saímos do local. A falta de assunto predominou sobre nós e eu tentei quebra-la falando sobre a aula do dia.

– Escute Kou, hoje faremos uma pesquisa de campo.

– Anou... – sem entender, continou – Como assim, Aoi-sensei?

– Quero dizer – recomecei a andar, puxando-o pelo pulso – que nós vamos fazer uma pequena pesquisa sobre alguns dos ukes dessa companhia. Como escreveu Mana em seu livro, “todos começam observando e analisando as ações dos outros”, e não me pergunte o que ele quis dizer com isso, longa história – ri – ... Só tenha isso em mente, certo?

– Certo – afirmou confuso – E por onde começamos?

Chegamos a uma bifurcação, mas eu já sabia que caminho tomar.

– Nós vamos começar por Alice no País das Maravilhas – sorri maroto e o puxei comigo.