Há muito tempo atrás havia uma grande e próspera terra. Esta terra era habitada por um reino majestoso e povoado pelos mais diferentes tipos de pessoas. O mundo inteiro almejava viajar para este reino.

Porém o que fazia desta terra tão grandiosa não eram as pessoas ou o próprio reino em si. Neste lugar, por alguma razão, a magia era mais forte do que nos outros. E lá ficava o templo e morada dos xamãs mais poderosos do mundo.

Neste templo os xamãs cultuavam os oito grandes ídolos de pedra negra, e eles acreditavam que a magia descendia deles. Sendo assim, uma vez por ano, era celebrado o Festival Do Eclipse, uma festa dedicada aos ídolos e agradecendo pela magia que eles forneciam aos seres humanos.

Nesta festa, quando o sol e a lua se alinhassem e a noite cobrisse totalmente o reino, uma mulher era oferecida como sacrifício. Eles a deitavam em um altar, desenhavam selos em seu corpo e por final apunhalavam seu coração, dando a vida da mulher como oferenda para os ídolos.

Por anos a fio o reino prosperou e atraiu cada vez mais pessoas, crescendo e se desenvolvendo, assim como o Festival era mais e mais cultuado.

Em um certo ano, com multidões tão grandes reunidas para ver o sacrifício, algo diferente aconteceu.

A população se estendia até o perder dos olhos, e todos queriam ver o grande sacrifício e festejar o próximo ano que viria. Tudo tinha sido feito como sempre fora, mas ao cravar o punhal no coração da mulher algo diferente aconteceu.

Todos já tinham começado a gritar e festejar, mas o lorde xamã sabia algo não estava certo. Ele levantou sua mão pedindo silencio e assim se fez. A barriga da mulher começou a se mexer e crescer então ele percebeu. A mulher estava grávida e carregava um filho. Devia ser o começo da gestação porque quando a selecionaram ela não aparentava estar gravida, porém, havia uma criança dentro de seu ventre e ela estava se desenvolvendo rápido.

O lorde xamã então pegou uma adaga e cortou a barriga da mulher para retirar a criança. Ele se assustou com o que viu, o recém-nascido tinha sua pela preta como o eclipse e era pesado como uma rocha. Como ele tinha sido um erro no sacrifício ele achou justo que fosse sacrificado também, porém, antes que o lorde xamã pudesse cravar a adaga no coração do bebê, o pequeno soltou uma força negra e maciça de dento de si que cresceu em volta do corpo da criança. Depois de alguns minutos se juntando, e aquela multidão gigantesca assistindo, o bebê tinha tomado outra forma. E disse:

- Dormin – Uma voz masculina e feminina saiu da criatura, ecoando por todo o reino.

- Suplico que me diga quem é você! – O lorde xamã retrucou.

- Nós somos Dormin.

- Mas porque vieste para nosso mundo humano? Qual seu propósito?

O podereso Dormin pensou e finalmente respondeu:

- Não possuímos tal conhecimento, porém vocês que nos trouxeram aqui devem saber.

Assim o xamã percebeu, os ídolos não davam a força para os humanos, os humanos é que davam a força para os ídolos. A crença na magia e nos ídolos de toda aquela gente reunida que tinha dado vida para o monstro negro. Vendo a oportunidade o xamã se aproveitou e disse:

- O poderoso Dormin, tu vieste a este mundo para a servidão. Vê estes aqui presentes? Tu deverás servi-los!

E assim se fez, Dormin se pôs a serviço dos xamãs. Ele fazia tudo o que lhe mandassem. E com o passar do tempo os xamãs perceberam o potencial mágico de Dormin. Todo ano eles faziam com que Dormin usasse seu poder para buscar almas que já haviam partido e dar vida a um ídolo, e este despertava como uma rocha viva. Assim, ao final de nove anos, todos os ídolos cultuados tinham sido criados e serviam os humanos.

Dormin, com o passar destes anos começou a observar os humanos e ver suas características. Ele começou a entender que cada ídolo que ele dava vida se formava de pedras e magia negra e não mais da crença das pessoas, estas haviam se esquecido de acreditar e davam todo o trabalho para Dormin. Com o passar dos anos Dormin pode observar que os colossos só se levantavam para serem servos daquele reino. Até que um dia o lorde xamã convocou o reino todo e pronunciou:

- Hoje foi decidido pelo conselho xamã que construiremos mais ídolos. Eles serão guardiões e servidores para nossa terra abençoada. Criaremos mais dezesseis, cada um com um propósito, e Dormin os dará a vida como deu aos nove primeiros.

Dormin temeu, viu que mais ídolos seriam construídos para servir os humanos, e ele sentiu que isso não deveria acontecer, e decidiu que faria algo para mudar esta situação. Dormin acreditava que criaturas tão majestosas não deveriam se curvar a seres tão insignificantes e pequenos.

As pessoas se dedicavam a todo custo para construir os ídolos, e quando eles estavam prontos recorreram a Dormin, para dar aos ídolos vida.

O que eles não sabiam era que Dormin já não era mais o mesmo que antes, ele havia começado a pensar, e a ganância dos humanos é que tinha causado isto. Ele também havia entendido que só ele, dentro os oito colossos criados tinham poderes mágicos e conseguia trazer almas perdidas de volta à terra, ele então percebeu que não era apenas um servo dos humanos, mas sim um verdadeiro deus. Ele era um deus e devia ser tratado como tal, não como uma ferramenta de reviver.

Foi então que a guerra começou. Dormin dominou os oito colossos e os colocou contra os humanos. Aqueles que uma vez serviram agora tinham se tornado inimigos.

O povo correu para fora do reino e dos limites daquela terra, só sobraram os mais bravos guerreiros e os xamãs que juraram destruir os colossos e banir Dormin deste mundo.