Sui Generis escrita por Human Being


Capítulo 8
Lei de Gumperson: A probabilidade de algo acontecer é inversamente proporcional à sua desejabilidade.


Notas iniciais do capítulo

No capítulo anterior...
Os bravos guerreiros de Ouro e Bronze, acompanhados de sua Deusa protetora na terra, seguem em direção ao Salão do Grande Mestre para tentar encontrar uma solução para a situação insólita que vive Kanon, que foi convertido em uma mulher após ser jogado dentro de uma lagoa cujas águas possuem propriedades medicinais mágicas. Passam pela casa de Capricórnio, Aquário e Peixes, enquanto o general marina e cavaleiro de Gêmeos, acompanhado por Aiolos e Máscara da Morte, recebem a ajuda das amazonas Marin de Águia e Shina de Cobra...



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Salão do Grande Mestre...

Aleluia!

A voz de Shiryu cortou o imponente salão, anunciando aguardada chegada da trupe aos domínios do Grande Mestre do Santuário, precisamente na imensa biblioteca que ocupa a ala leste da construção. E quando dizemos imensa, não é figura de linguagem.

— Gente, que loucura... - Saori suspirava, abanando-se para tentar dissipar o calor. - Nem eu estou acreditando que nós finalmente estamos aqui. Mas eu tenho a impressão de que isso vai demorar uma vida... E eu não creio que o Kanon vá ter paciência de esperar tanto.

— Então, vamos procurar logo alguma coisa que nos ajude a solucionar o problema. - Shion seguia agastado. - Não se animem muito. Temos uma biblioteca inteira para procurar.

— Mas... - Dohko,ainda assim, parecia animado. - Existe aqui um material que, creio eu, pode nos ajudar. É um antigo manuscrito em chinês que eu encontrei sem querer por aqui e que falava precisamente sobre essa famigerada lagoa e a maldição de homens que se transformam em mulheres. Eu estava tentando traduzi-lo, e tinha bastante coisa escrita, acho que pode sim ter algo que nos ajude.

— É mesmo? E onde ele está?

— Bom eu tinha o deixado... Aqui? - Dohko aponta para uma mesa, antes ocupada por inúmeros livros e manuscritos, mas agora completamente arrumada. - Onde está?

— Ah... - Saori baixou os olhos. - Eu tinha pedido para o Tatsume arrumar a biblioteca...

— O QUÊ? - Shion ficou subitamente vermelho.

— Mas estava uma bagunça! Um chiqueiro! - Saori devolveu. - Eu não entendo como qualquer pessoa civilizada conseguia trabalhar naquela desordem!

— Zeus... Minha Deusa, o Tatsume? É extremamente capaz de que ele tenha jogado o manuscrito que estamos procurando na lata do lixo!

— Isso não! - Bradou Saori. - Que ele tem ordens expressas de não jogar nenhum pedaço de papel fora sem antes me consultar!

— É verdade. - Disse Shiryu. - O Tatsume não joga coisas fora. Ele simplesmente as emburaca longe das vistas de qualquer um para sumir com o problema...

— Shiryu, não fale assim do Tatsume. - Saori ralhou com o cavaleiro de Dragão, que não pareceu se importar muito.

— ...Concluindo o raciocínio, vamos procurar com afinco, porque o tal manuscrito pode estar em qualquer lugar.

— Literalmente. - Completou Hyoga, no seu tom blasé.

— Deixe-me ver se entendi... - Matutava Camus. - Por acaso Kanon caiu nessa tal lagoa mágica e virou uma... Mulher?

— Sim. - Assentiu seu pupilo.

Mon Dieu.

— Aqui pra nós... Moça loura, alta e espadaúda... Muito muito muito bonita. Lembra mamãe.

Milo, ao ouvir o cavaleiro de Cisne, dá uma palmada na testa. Mu revira os olhos e Aiolia dá um suspiro de incredulidade.

— Hyoga, você já ouviu falar em complexo de Édipo? - Saga perguntou.

— Ah, isso? Normal, vindo do Hyoga. Aliás, é por isso que ele prefere as loiras. Sempre foi assim... - Seiya comentou. - O que, no Japão, pode chegar a ser um problema, aliás...

— Peraí. O Shun foi exceção, então? - Perguntou Aiolia.

— Aiolia... - Camus estreitou os olhos.

— Mas Camus... Brincadeiras à parte, eu admiro muito o sangue frio do seu pupilo, sabia? - Milo disse, mantendo uma expressão absolutamente séria e extremamente parecida com a expressão do cavaleiro de Gelo. - Porque olha, se eu de repente acordasse num lugar estranho, com um homem aconchegadinho em mim, eu estaria inutilizado para todo o resto da minha vida. E ele não, se levantou e foi lutar como se isso não fosse nada de mais... É digno da minha mais profunda admiração.

— Milo... - Camus levantou uma sobrancelha, o que em seu código facial particular significava um grau elevado de irritação. - Não tem a mais mínima graça ficar levantando esses falsos testemunhos sobre meu pupilo.

— Ah, mas apesar de detestar dizer isso, como vocês bem sabem, eu tenho que concordar que nessa o bicho tem razão... - Aiolia percebeu que Milo tinha conseguido tirar o Camus do sério, na medida do possível para Camus sair do sério, e estava disposto a ver o circo pegar fogo. - Eu também encararia como uma tragédia grega. Literalmente.

— Milo e Aiolia, parem com isso. Vocês não entendem os sentimentos do Hyoga. - Camus disse, novamente levantando uma sobrancelha.

— Ah? Em relação ao Shun, não mesmo. Mas o resto... Resumindo seria 'Mamãe, mamãe, mamãe'. - Respondeu Milo.

Camus fecha os olhos e meneia a cabeça, em sinal de negativa.

— Gente, eu não aguento mais falar isso, mas... Vamos mudar de assunto? - Mu estava positivamente irritado. - Vocês estão aí brincando de "irritando Alexei Hyoga", mas não estou vendo ninguém de vocês procurando o tal manuscrito.

— Mu, isso vai ser como procurar uma agulha num palheiro. - Seiya bufou. - Conhecendo o Tatsume, ele pode ter enfiado esse pergaminho em qualquer lugar. Qualquer lugar!

— Falando nisso... - Shion, num movimento rápido, segurou pelo braço esquerdo de Camus, que já aproveitava a pequena discussão entre Seiya e Mu para sair à francesa. - Onde você pensa que vai, Aquário?

— Para o meu templo, bien sûr. - Respondeu Camus, impassível apesar de ser pego no flagra. - Eu não tenho nada o que fazer aqui.

— Claro que tem. Você também vai ajudar a procurar o manuscrito!

— Moi?— Camus arqueou as duas sobrancelhas levemente, em surpresa.

— Oui, monsieur. Ou achou mesmo que viria até aqui só para descobrir o que se passava e depois bater em retirada? - Shion deu um meio sorriso, arqueando levemente o canto direito da boca. - Nós precisamos de toda a ajuda possível para auxiliar um companheiro de armas em apuros. E, sendo você o cavaleiro de ouro valoroso e altruísta que eu sei que é, obviamente você não se negaria a ajudar. C'est vrai?

— Oh... Que sorte triste a minha... - Camus soltou um suspiro derrotado. Xeque-mate do Grande Mestre, que certamente não o era à toa.

Em pouco tempo, todos procuravam entre pilhas e pilhas de livros, pergaminhos, manuscritos e papéis soltos dos mais variados tipos, tamanhos e idades; o que logo se comprovaria uma tarefa hercúlea.

OOO

Casa de Gêmeos.

Depois de uma boa hora e meia, Marin e Shina voltam para a terceira casa com algumas roupas e sapatos nas mãos.

— O que é isso? - Perguntou Kanon.

— Algumas roupas que a gente conseguiu por aí. - Disse Shina, jogando as peças no sofá. - A maioria são malhas de treino, mas algumas roupas eram de uma antiga amazona que era alta assim que nem você. Os sapatos, pelo menos, devem ficar bons.

— Ah... - Kanon olhou para a pilha de roupas, consternado. - Obrigado, eu acho...

— O que você vai fazer agora? - Perguntou Aiolos.

— Eu vou vestir alguma coisa e ir atrás daqueles parvos lá no salão do Grande Mestre.

— E vai cruzar todas as casas zodiacais? - Aiolos levantou uma sobrancelha.

— Ah, eu já desencanei disso. - Kanon deu de ombros. - A essas alturas, o Seiya já deve ter posto isso no jornal.

— Se a gente subir junto, eles podem achar que você é minha acompanhante. - Máscara da Morte deu um risinho.

— Aí é capaz de algum engraçadinho querer me perguntar quanto é o programa.

— Ei! Tá pensando o quê? Eu não preciso pagar pra isso não!

— Precisa naaaada... - Respondeu Kanon, irônico. - A propósito, tenho que te parabenizar por contar uma mentira desse tamanho sem nem tremer a cara... Mas enfim, você vem comigo só pra distrair os outros cavaleiros enquanto a gente sobe. Não tô pensando em demorar.

— Ah... - Aiolos parecia querer perguntar algo. - Eu...

— Pode vir também, pivete. Quanto mais gente, mais distração, acho. As meninas não querem ir também? Para quem está de fora, acho que vai ser divertido...

— Ah, eu e a Shina vamos ter que voltar à área dos cavaleiros de prata... - Marin desconversou.

— O Xaninho vai estar lá, Marin. - Shina ironizou a colega.

— Quem? - Perguntou Aiolos, e Marin não pôde disfarçar seu constrangimento. Shina ria-se por dentro.

— Vamos embora, que nós temos que voltar pra treinar daqui a pouco, sua naja. - Disse Marin, puxando a colega pelo braço, enquanto Kanon pegava as roupas e levava para seu quarto para tentar vestir-se com alguma que lhe coubesse, por ora, e os outros dois cavaleiros o esperavam do lado de fora.

Cerca de quase uma hora depois, Kanon ainda não tinha saído do quarto.

Porca miseria, mas o cara virou mulher não faz nem um dia e já me pegou a mania mais escrota que elas têm. - Máscara da Morte estava impaciente. - Ô noivinha, não vai sair mais daí não?

— Vá pro c******! - A voz feminina respondeu de dentro do quarto.

— Gente do céu, não é pra menos que o Olia fala palavrão desse tanto. - Aiolos suspirou, irritado. - Aliás, é muito feio uma moça ficar com um palavreado desses.

— Olha, bambino, que tem umas horas que é uma delícia, viu... - Máscara da Morte deu um meio sorriso mais do que safado. Mas Aiolos preferiu ignorar o colega.

Súbito, a porta do quarto se abre e uma moça loura, alta e de formas perfeitas sai para fora metida em trajes de treinamentos típicos de uma amazona; que consistiam em sandálias de treino, uma malha justa e um collant com protetores peitorais femininos arrumados em forma de espartilho, o que realçava ainda mais seu busto bem modelado e fornido, os ombros e braços definidos e cintura fina e bem delineada.

Demorou um tempo até os rapazes presentes recuperarem o fôlego.

— Tão olhando o quê, bando de inúteis? - Perguntou Kanon, irritadíssimo.

— Ah... A roupa ficou... boa. - Aiolos sentia suas orelhas arderem, de novo. - Olha só, serviu direitinho...

Kanon lançou um olhar assassino ao sagitariano, que achou mesmo melhor calar a boca. Máscara da Morte, porém, não estava disposto a perdoar essa...

— Kanon, meu colega, eu sei que até onde eu sei você é macho e tudo, mas... Agora, com os atuais acontecimentos, se você resolver reconsiderar suas preferências nós estamos aqui, viu?

Domenico Pierino Lucchese, mais uma palavra que seja e eu corto seu peru fora. Entendido?

— Calma, não precisa ficar tão bravo... - Disse o canceriano enquanto o grupo subia em direção ao salão do Grande Mestre.

OOO

Salão do Grande mestre, cerca de três horas e meia depois da cena inicial...

— Eu disse. Eu disse. Era como procurar uma agulha numa porcaria de palheiro. - Seiya, empoeirado como nunca, balançava os braços em exasperação. - Aliás, o palheiro mais empoeirado que eu já vi.

— Não sei porque estão reclamando tanto. Ela está bem menos empoeirada o que o de costume. - Cortou Shion, atraindo olhares de incredulidade dos cavaleiros ali presentes; todos afetados, em maior ou menor grau, pela poeira da biblioteca. - Sinal de que realmente ela foi arrumada...

— Mas que brilhante ideia, o Tatsume arrumar a biblioteca. Saori, desta vez você se superou. - Hyoga, mais irritadiço do que o de costume, lançava olhares furibundos para a Deusa.

— Sabe o que eu estou achando realmente estranho? - Shiryu, com os longos cabelos negros quase cinzas pela poeira, estava matutando algo.

— Nós ainda não termos morrido asfixiados por overdose de ácaros no ambiente? É realmente estranho, mas não se anime: o Saga, pelo menos, parece estar chegando perto. - Colocou um Hyoga sarcástico, enquanto Saga realmente parecia estar à beira de um ataque de asma.

— Não... - Shiryu não pareceu importar-se com o rabugento colega. - É que esse tipo de serviço não parece ser o tipo de serviço que o Tatsume faria. Pelo menos, não sozinho. Ele não é bom em fazer nada, ele é bom em...

— ...Mandar fazer! - Seiya estalou os dedos. Hyoga levantou os olhos, sua expressão se iluminando.

— Mas é... Claro! - E Hyoga deu um raríssimo sorriso. - E, se vocês prestarem bastante atenção, existe meio que uma espécie de 'ordem' nessa arrumação toda!

— Eh? - Saori não parecia entender, no que era seguida pelos outros cavaleiros presentes, que olhavam o trio de cavaleiros de bronze com estranheza. - Do que é que vocês estão falando?

— Do Shun! - Responderam os três, em uníssono.

— Shun? Como assim?

— Mas é óbvio, Saori-san! Tá na cara que o Tatsume não arrumou isso daqui! Só você mesmo pra acreditar que ele na realidade faz as coisas que você manda! - Seiya falava rapidamente, não se importando com a expressão raivosa que subitamente apareceu no rosto delicado da Deusa. - É que quando o Tatsume se dispõe a fazer um serviço desses, ou ele faz do jeito mais porco possível, o que não é o caso aqui, já que a biblioteca foi efetivamente arrumada; ou ele acha algum outro pobre coitado que faça o serviço pra ele. Aqui no Santuário ele não tem subordinados para obrigar a fazer as coisas por ele, então isso só pode ter sido um favor que ele pediu a alguém. E só uma pessoa nesse mundo seria idiota, quero dizer, ingênua o suficiente para fazer um favor para o Tatsume...

— O... Shun. - A própria Saori complementou o raciocínio, para depois iluminar seu rosto com um sorriso. - Mas isso é... Fantástico! E, se foi o Shun quem arrumou isso, podem apostar que ele vai saber onde colocou cada alfinete dessa biblioteca!

— Vocês estão falando sério? - Saga estava incrédulo, tanto pela capacidade dos rapazes de concatenar um raciocínio complexo no meio de tanta poeira quanto, e principalmente, pela possibilidade de encontrar o pergaminho sem sua alergia respiratória seguir colocando sua vida em risco. - Existe essa esperança?

— Existe sim! - Saori deu um sorriso luminoso, enquanto se afastava para ir ao telefone. - É só a gente chamar o Shun aqui!

— Mas ele vem rápido? - Aiolia, com os nariz vermelho e os olhos lacrimejando, perguntou. - Porque veja bem, olha só o tempão que a gente demorou até chegarmos aqui...

— Olha, se você mandar ele vir aqui em quinze minutos, ele vem em quinze minutos. - Shiryu respondeu. - É só ligar na filial daqui da Fundação Graad, ele está por lá hoje.

— Certeza? - Aiolia, agora fungando pelo nariz, não parecia estar muito convencido.

— Absoluta. - Hyoga assentiu.

Enquanto isso, Saori Kido já ligava na fundação para falar com Shun.

—Alô? Oi? Aqui é a Senhorita Kido!Sim, sim, eu mesma... Você poderia me chamar o Shun Amamiya, por favor? Ah... Obrigado...

— E aí? - Shion perguntou.

— Ele já vem... Ah? Alô? Shun? Shun, que bom que você está aí! Ah... Claro, Shun, eu sei que você estaria aí mesmo, mas é que eu estou precisando muito que você venha para cá! É... Shun, me escute, eu sei que fui eu quem te pedi para fazer essa cobertura aí hoje, mas é uma situação urgente... Ah... Eu? Na biblioteca... Aliás, o Tatsume te pediu para arrumar... Pediu, né? Ahrr, eu sabia! Mas... Eu? Ah, eu estou precisando muito, muito achar um manuscrito antigo em chinês que o cavaleiro de libra estava olhando outro dia... Ah... Aaah... Você tem certeza? Mesmo? Porque você sabe, essa biblioteca é... Ah, sei.

— E então? - Shion tentava depreender alguma coisa da conversa telefônica entabulada pelos dois.

— Ah... Tá, eu vou procurar... Mas você realmente tem certeza que é esse mesmo o manuscrito e... Está certo, Shun, eu sei que foi você quem arrumou tudo e eu tenho plena confiança no que você está me falando, desculpa por ter duvidado e... Claro, claro. Eu vou procurar aqui, qualquer coisa eu te ligo. Ok, pra você também... Tchau.

— E então? - Shion não podia conter o olhar esperançoso.

— Ele disse que o manuscrito está na terceira prateleira da quinta estante à esquerda, contando a partir da mesa.

— Ele disse isso? - Dohko parecia não acreditar. - Mas ele tem certeza disso?

— Aparentemente, sim. - Saori disse, calmamente.

— Ok... - Mu já tinha se adiantado e estava no lugar apontado pelo cavaleiro de Andrômeda, revirando cuidadosamente um bolo de papéis, pergaminhos e manuscritos que estavam ali. - Tem vários pergaminhos aqui, mas já é um bom avanço.

— Melhor do que continuar procurando livro por livro dessa biblioteca poeirenta. - Milo fungou, sentindo seus olhos arderem. - E aí?

— Ah... - Mu tinha um par de pergaminhos nas mãos. - Deve ser um desses aqui, não?

— Mas você não sabe mandarim? - Aiolia coçou o queixo.

— Eu sei, e alguns dialetos também, mas esses estão em um dialeto que eu não conheço... Dohko?

O cavaleiro de Libra pegou os pergaminhos e, depois de examiná-los, assentiu com a cabeça.

— É esse aqui. Mas até eu estava com dificuldades de traduzir o que está escrito nele.

— Como assim? - Shion perguntou.

— Esse manuscrito tem mais de mil anos! Não é que eu seja assim tão velho...

— Tá. Então a gente tem o dito pergaminho, mas a joça está escrita em mandarim antigo? - Aiolia impacientou-se.- Então ele não serve de nada!

— Não é bem assim! - Shion rebateu, também franzindo o cenho tentando entender o que dizia o pergaminho. - Bom seria se nós tivéssemos algo como uma pedra de roseta(1), mas creio que isso já seria pedir demais.

— Pedra de quê? - Seiya perguntou.

— Aff... - Hyoga revirou os olhos, de novo.

— Ah, então o que é uma pedra de roseta, Hyoga? - Seiya ironizou. - Nos aclare com sua sapiência, ó estimado guru...

— Ela é... bom, simplificando, ela ajudou os arqueólogos a traduzir os hieróglifos egípcios. - Hyoga explicou, e Camus assentiu com a cabeça, mal contendo o seu orgulho.

— Tenho que reconhecer seu bom trabalho com os conhecimentos gerais de seus pupilos, Aquário... - Shion elogiou o cavaleiro da décima primeira casa.

— Merci beaucoup, Grand pope. - Assentiu o francês, não contendo um discretíssimo sorriso vitorioso.

— ...Por isso, eu gostaria de lhe propor que assuma a tutela educacional dos cavaleiros mais novos e dos aprendizes. Com certeza se beneficiarão de sua cultura e de seu talento para o magistério.

...Triste que ma chance...— Completou o aquariano, o sorriso já morrendo em seus lábios, enquanto Milo afogava um risinho.

— Ah... - Mu interrompia a pequena charla. - Mestre Shion e Mestre Dohko... Olhem isso aqui... Parece estar no mesmo dialeto do manuscrito.

Shion e Dohko olham um pergaminho amarelecido nas mãos de Mu, aparentemente quase tão velho quanto o que queriam traduzir, e o examinam por algum tempo.

— Mu, isso parece ser uma receita de Pato Cantonês! - Suspirou Dohko. - Muito prolixa e detalhada, é verdade, mas ainda assim uma receita. Por ser antiga desse jeito, deve ser deliciosamente tradicional, mas não nos vai ajudar agora.

Mu solta um bufido desgostoso e vira o pergaminho.

— Oh... Oooohhh! - Shion mal contém a interjeição alegre. - Traduziram a receita para o Grego Antigo! Aliás, muito bem traduzido, com notas de tradução e tudo!

— Pois é. - Disse Mu. - Aí está a pedra de Roseta de vocês. Agora dá pra gente progredir nisso, não?

Shion se apoderou dos dois pergaminhos e se pôs a trabalhar na tradução; pois era o que mais tinha familiaridade com o grego antigo.

Pouco tempo depois, porém, ele já não estava assim tão animado.

— O que foi? - Perguntou Dohko. - Não está conseguindo traduzir.

— Bem... Na realidade, eu até já terminei, mas o que está escrito aqui não faz sentido nenhum!

— E o que é?

— Bom... O pergaminho diz que a lagoa é amaldiçoada por uma poderosa feiticeira oriunda do clã Joketsuzoku(2), que se rebelou contra o imperador Qin Er Shi(3) há mais de dois mil anos atrás...

— Jo... Joketsuzoku? - Dohko parecia meio pálido.

— É. É uma tribo antiga, muito antiga, de ferozes amazonas que dominam com presteza artes marciais diversas e técnicas milenares de magia. Eu já tinha lido alguma coisa sobre esse clã, e pessoalmente sempre achei que elas eram uma das muitas lendas rurais da China; mas esse pergaminho e a real existência da lagoa estão me fazendo rever meus conceitos...

— Aham...

— Elas, dizem, não aceitavam homens em seus domínios, a não ser aqueles que se comprovavam guerreiros valorosos e fossem capazes de derrotá-las em combate. Esses guerreiros eram desposados por elas. Uma variante da regra das amazonas de matar ou amar, suponho...

Dohko ficou ainda mais pálido, mas Shion não pareceu dar atenção.

— Enfim, a tal feiticeira, de nome Xian Pu(2), liderava as Joketsuzoku quando a dinastia Qin tentou invadir o território delas. Foi uma batalha sangrenta, onde a feiticeira foi capturada e condenada à morte por afogamento na tal lagoa, mas ela lançou uma maldição que fez com que o exército do imperador fosse... dizimado.

— Como assim?

— Pelo que o pergaminho conta, todo e qualquer homem que mergulhasse na lagoa se convertia em uma mulher. E, assim, as amazonas venceram o exército do rei ganharam seu território de volta, mas perderam a feiticeira.

— Bom, mas até aí a história parece meio fantasiosa, mas faz sentido. - Disse Saori.

— Pois sim, até aí realmente não houve problema algum, mas quando o pergaminho começa a falar de como a maldição pode ser desfeita, que é o que realmente interessa... As coisas ficam... difíceis.

— Como assim? Não tem como desfazer o encantamento?

— Bom... Segundo o pergaminho, o encantamento pode ser desfeito sim, mas... Essa é a parte em que as coisas deixam de fazer sentido. - Shion suspirou. - Pelo que o manuscrito diz, o espírito da feiticeira vive nas águas da lagoa, ou algo assim. Parece... que é por isso que a magia acontece. E para que ela seja desfeita, parece que a pessoa afetada tem que fazer algo que agrade esse espírito. Esse pedaço foi especialmente difícil de traduzir, porque faltam muitas palavras aqui, mas... tem alguma coisa a ver com ser capaz de demonstrar amor incondicional e verdadeiro, alguma coisa assim, eu acho...

— Hã? - Saori franziu a testa.

— Pois é. Eu disse que não fazia sentido.

— Me parece... Algo como provar seu valor? Isso pode ser entendido assim, não?- Saori perguntou, reticente, pegando o pergaminho e olhando os caracteres antigos de que não entendia bulhufas.

— Não sei, mas pode ser...

— Mas como a pessoa faria isso, ainda mais para um espírito encantado que mora dentro d'água?

— Não sei... - Shion suspirou, e os outros se olharam entre si, com consternação em seus olhos.

Saga coçou a cabeça.

— Eu não sei vocês, mas eu não vejo o Kanon sendo capaz de demonstrar amor incondicional e verdadeiro por ninguém...

— É impressionante como você me tem em alta conta, Saga. - A voz feminina e rouca do ex-rapaz corta a biblioteca, prenunciando a entrada de Kanon, junto com Aiolos e Máscara da Morte, para a estranheza de todos. E, como era de se esperar, nenhum dos representantes do sexo masculino presentes no recinto deixou de reparar na... boa forma da moça, realçada pelos trajes de amazona que ela usava agora.

Especialmente Camus, que a via pela primeira vez, e se demorava em olhares indiscretos (para os padrões de Aquário) pelo corpo da moça.

— Eu disse, não disse? - Hyoga meneou a cabeça, falando com seu Mestre, que balançou a cabeça afirmativamente, murmurando um 'ooh-la-la' quase imperceptível.

— Kanon, pelos deuses, que roupas são essas? - Saga mal podia acreditar no que seus olhos viam.

— Roupa de treinamento de amazona, que Águia e Cobra me emprestaram. - Disse Kanon, sem esconder o tom sardônico. - Obviamente, eu não tinha roupas de mulher no meu armário, e nem você; a não ser que você seja um crossdresser ou alguma coisa do tipo e eu não saiba.

— E o que o Máscara da Morte está fazendo aqui? - Perguntou Saga, irritado.

— Ele foi lá no templo de Gêmeos e acabou descobrindo o que aconteceu. Por quê?

— E ele não apanhou nem nada? - Nem Aiolia parecia acreditar.

— E por que ele apanharia? Foi ele quem me deixou assim? Não. Foi o Quarteto Fantástico aí. - Kanon disse isso e apontou com o queixo para onde estavam Mu, Aiolia, Milo e Dohko. - Foi ele quem me acusou injustamente de ter dopado uma mulher e trazido pra dentro de casa? Também não, esse foi o Saga. Como no último eu já bati e nos outros eu ainda não tive oportunidade, eu não vejo porque eu daria uns sopapos no italiano. Apesar dele ter me enchido muito o saco, vale salientar. Mas isso só mostra a boa pessoa que eu sou.

— Ah, sim, claro... - Disse Saga, estreitando os olhos, e recebendo de volta um olhar ainda mais carregado de ironia.

— Bom, voltando ao que interessa... - Kanon dirigiu o olhar a Shion e Saori. - Vocês já acharam a solução pro meu problema?

— Er... bem... - Shion desconversou. - Nós achamos sim algo que fala sobre como desfazer isso, mas não é muito esclarecedor...

— Como assim?

— Bom... - Saori resolveu tomar a palavra. - Nós achamos um pergaminho antigo que fala sobre a maldição dessa lagoa e como revertê-la, mas a informação é muito confusa, fala sobre 'ser capaz de demonstrar amor incondicional e verdadeiro' para apaziguar a alma da feiticeira que fez esse encantamento...

— Hã? - Kanon não podia acreditar no que ouvia. - Como assim?

— Nem nós entendemos...

— Demonstrar amor incondicional e verdadeiro? Espírito da feiticeira? Mas como diabos eu vou fazer isso?

— Eu... Não sei. - Saori baixou a cabeça. E Kanon apertou os lábios, até eles quase ficarem brancos.

— Em resumo - Kanon disse, após um suspiro fundo. - Eu tenho que 'demonstrar amor verdadeiro e incondicional' para um espírito de uma feiticeira que morreu há milênios atrás. Como, de que jeito e por que, ninguém sabe. É isso?

— ...É.

— Em suma, eu estou ferrado. - Kanon continuava apertando os lábios e os punhos, em um gesto que seus colegas já tinham aprendido a reconhecer como um sinal de fúria mal contida. - E eu vou ter que ficar... desse jeito. É. Legal. Jóia. Muito legal mesmo.

E, sem mais dizer, deu as costas e deixou o lugar pisando duro com Shion em seu encalço, quase trombando com Shura e Afrodite, que subiam para o local.

— Mas quem é... - Shura olhou assombrado para a loira que quase o atropelou, enquanto Afrodite dava uma bela conferida no material da moça.

— Gente, de onde saiu aquela beldade? - Afrodite questionou os colegas. - Porque eu estou totalmente certo de que ela é nova por aqui. Não tem nenhuma mulher no Santuário com aquele rosto e aquele corpo. Né, Shura?

— Só... - Shura também olhava a moça sair ventando de lá.

— Nem queiram saber... - Disse Seiya, em um tom grave. - Mas, já que vocês querem saber sim, aquela moça é o Kanon.

— O QUÊ? - Perguntaram os dois, ao mesmo tempo.

OOO

Kanon andava para fora do salão do Grande Mestre, pisando duro e apertando os lábios para tentar dissipar a raiva infinita que sentia.

— Kanon, espera! - Gritou Shion, enquanto seguia o ex-rapaz que a essa altura já quase corria e enveredava por uma das descidas alternativas do templo do Patriarca, para não ter que passar pelas doze casas de novo.

— Kanon, espera! - Shion gritou de novo, e quando ia gritar outra vez sentiu o ex-rapaz levantar seu cosmo furiosamente. - Kanon, NÃO FAÇA ISSO!

Uma explosão de cosmo se seguiu, e Shion ficou ainda mais alarmado.

Ele sabia que a situação de Kanon era delicada, para dizer o mínimo, mas também tinha a estranha sensação de que aquilo não era tudo. Sentia que o cosmo de Kanon permanecera o mesmo, idêntico ao que tinha em seu corpo masculino e igualmente poderoso, mas totalmente desconsoante com o atual corpo do ex-marina.

E isso, sim, podia ser perigoso.

— KANON, PARE!

— ORA VÁ PRO DIABO QUE TE CARREGUE! - Virou-se o ex-rapaz e gritou a plenos pulmões para o lemuriano que quase foi atingido pela pequena explosão. - Se eu saí de lá sozinho, era porque eu QUERIA FICAR SOZINHO! Agora pega e deixa e SOME!

— Kanon, abaixe esse cosmo, pela Deusa! - Shion estava preocupadíssimo, porque sentia sem sombra de dúvida que suas suspeitas eram verdadeiras e o cosmo do outro estava totalmente descontrolado. - Tem uma coisa que eu preciso te falar-

— Eu vou contar até três pra você se teleportar pra longe da minha vista! - Rugiu o ex-rapaz, cortando a frase de Shion em seco enquanto levantava ainda mais o cosmo ameaçadoramente (e, enraivecido como estava, não percebia a dissonância de seu cosmo ou o perigo da situação)

— Kanon-

— Um...

— Espera, Kanon-

— Dois...

— Espera!

Kanon seguiria levantando o cosmo até espantar Shion dali, quando finalmente sentiu seu corpo inteiro queimar e ficar subitamente fraco e pesado. Parecido com o cansaço que sentiu quando foi tomar banho em seu quarto, mas muitas vezes mais forte. O ardor em seu corpo aumentou, o que engatilhou memórias dolorosas de seu último embate com Rhadamanthys, seu corpo pesou ainda mais e ele não pôde conter um grito.

— KANON! - Shion adiantou-se na direção do ex-marina, que caiu de joelhos enquanto sentia seu corpo arder e suas forças serem drenadas de si. O lemuriano apoiou o ex-rapaz em sua queda, e lentamente elevou seu próprio cosmo para tentar controlar o de Kanon, antes que os problemas ficassem ainda maiores. E conseguiu, porém não antes de Kanon desabar em seus braços como uma boneca de pano, arquejando enquanto tentava gemer de dor.

— O... que... - Kanon ainda estava lutando para respirar, sem forças para levantar sequer um dedo, enquanto Shion o acomodava.

— Calma... - Shion usava seu cosmo para ajudar o ex-rapaz, enquanto a própria Saori em pessoa vinha correndo na direção deles.

— O que aconteceu? - Perguntou a deusa, alarmada. - Eu senti o cosmo do Kanon totalmente fora de controle!

— Era isso que eu estava tentando dizer para ele... - Disse Shion. - O corpo dele mudou por arte de magia, isso é notório, mas o cosmo permanece exatamente o mesmo. E o novo corpo dele, por mais que seja ele feito mulher, não tem a mesma estrutura de antes. É como se outra pessoa tentasse usar o cosmo dele, entende?

— Não. - Saori disse, franzindo o cenho. Shion continuou.

— Senhorita, o cosmo é uma assinatura energética única e intransferível. No caso do Kanon, nesse atual corpo ele seria incapaz de usar seu cosmo sem correr um sério risco de exaurir completamente sua energia vital na tentativa de sustentá-lo. Entendeu?

— Ahn... Não... - Saori levantou as sobrancelhas.

— Co... como é... - Kanon arquejava ainda, mas estava atento às explicações do Grande Mestre que seguia ajudando-o.

— Em resumo, ele até pode usar a totalidade do seu cosmo e seus golpes, mas... Existe a probabilidade real de ele exaurir seu corpo a ponto de ele simplesmente parar de funcionar e morrer.

— Oh, Zeus! - Saori levou uma mão à boca.

— Por... isso... lá no... templo, eu... cansado...dormi na... banheira...

— Shh, Kanon, não fale, sim? Eu vou continuar explicando. Mas é exatamente por isso sim que você se cansou lá naquela hora depois de levantar seu cosmo em seu templo, e está assim agora depois de levantá-lo desse jeito agora.

— Mas... que... merda... viu...

— Fique quieto, Kanon. Você vai se recuperar mais devagar se continuar falando assim...

— O... O que significa isso? - Rugiu a voz grossa de Saga, ao ver Shion quase debruçado em cima do corpo agora feminino de seu irmão, languidamente sustentado pelo grande mestre.

— É um problema entre o novo corpo e o cosmo de seu irmão. - Respondeu Shion, meio irritado pela maneira desconfiada com que Saga o olhava. - Ele temporariamente está impedido de usá-lo.

— Como que impedido? Ele o usou ainda agorinha, que eu senti. - Treplicou Saga, ainda desconfiado e incomodado pela proximidade do Grande Mestre com o corpo agora vulnerável do ex-rapaz.

— Bom, o novo corpo do Kanon não é capaz de sustentar o cosmo dele sem exaurir sua energia vital. - Saori tentou explicar.

— Eh?

— É, ele não vai poder usar seu cosmo por isso. Bom, ele até pode usar o cosmo, mas ele pode acabar morrendo se fizer isso.

— Como assim?

— Saga, cada cosmo tem uma assinatura energética única, uma para cada corpo, entende? - Shion tentou explicar enquanto seguia ajudando o ex-marina. - Mas o corpo do seu irmão não é mais o mesmo. Ele ainda tem seu cosmo, e ele é tão poderoso quanto antes, mas o seu novo corpo não pode sustentar esse cosmo, e pode exaurir sua energia vital se fizer isso.

— Ah... Tá. - Saga pareceu entender, embora ainda parecesse confuso. - Então ele...

— Ficou assim desse jeito porque tentou elevar seu cosmo. - Completou Saori.

— Mas ele vai ficar... bom?

— Ele já está melhorando. - Disse Shion, ainda com o ex-rapaz nos braços. - Mas será muito prudente que ele não tente nada com o cosmo, pelo menos por enquanto.

— Certo... - Saga seguia aturdido.

Saori se ajoelhou junto de Shion para ver como Kanon estava, e conseguia ver nos olhos do ex-rapaz o quão mortificado ele estava. Apiedou-se dele, pois sabia o quanto era orgulhoso...

— Kanon... - Disse a deusa, com uma voz macia. - Eu sei que esta é uma situação dificílima, eu entendo. Mas... Não se preocupe, sim? Eu prometo, eu juro que vou te ajudar. Vou achar uma solução pra isso, e tudo vai ficar bem...

O ex-rapaz tentou abrir a boca para falar, mas foi interrompido pela jovem.

— Shh... Não fale nada agora, sim? Eu te prometo que nós vamos fazer tudo que estiver ao meu alcance para tentar resolver isso. Só que, enquanto isso, você vai ter que ter um pouco de paciência. Mas nós vamos cuidar de você.

Kanon baixou os olhos, se sentindo mais humilhado do que nunca. Mas, por algum estranho motivo, o jeito como Saori falava com ele o acalmava.

— Eu... vou tentar... Mas... Obrigado...

— Imagina... - Saori sorriu. - Agora, o Shion vai te levar até seu quarto, e você vai descansar um pouco. Certo, Shion?

— Claro! - Disse Shion, já pegando o ex-rapaz nos braços.

— Ei... Eu já estou melhorando... Não precisa me levar no colo. - Retorquiu Kanon.

— Deixe de besteiras. Já carreguei muitos de vocês nos braços quando eram menores e eu mais velho! - Riu o jovem Grande Mestre. - Não é incômodo nenhum, pode acreditar. Vem comigo, Saga?

— Hã?

Vem comigo, Saga?— Shion repetiu, e Saga entendeu que não era uma pergunta.

— Claro...

E os três se puseram em direção ao templo de Gêmeos, enquanto Atena voltava ao Salão do Grande Mestre.

OOO

Salão do Grande Mestre

— Como é que é? - Shura franzia a testa. - O Kanon virou uma... garota? Aquela garota que saiu daqui?

— Como pode isso? - Afrodite arregalou os grandes olhos azuis celestes.

— Bom, resumindo a ópera toda, ele caiu em uma lagoa mágica que ficava perto do nosso acampamento, naquela famigerada missão na China. - Aiolia explicou. - E o Dohko, nosso honorável mestre ancião aqui, não avisou ninguém dessa particularidade.

— Eu disse para vocês não se banharem na lagoa!

— Gente, mas que lagoa mágica é essa? - Perguntou Afrodite.

— Ah, tem a ver com uma lenda de uma feiticeira que morreu afogada nela há milênios atrás... E que amaldiçoou a lagoa. - Respondeu Milo.

— Mas a lagoa faz o quê, transforma homens em supermodelos? - Afrodite voltou a questionar.

— Mais ou menos isso. - Milo replicou.

— Que loucura... - Afrodite exclamou de si para si. - Uma lagoa que transforma homens em mulheres...

— Interessou, Afrodite? - Camus levantou a sobrancelha na face inexpressiva.

— Acho que você seria mais útil se eu te jogasse lá dentro, Camus. - Afrodite replicou. - Quem sabe você não virava uma ruiva que desse para o gasto e você seria mais feliz.

— Mas... Como o Kanon foi cair na lagoa? - Shura perguntou, interrompendo a troca de gentileza dos colegas.

— O Milo e o Aiolia começaram a brigar, para variar, e eu e o Kanon fomos tentar separar. - Bufou Mu. - Ele acabou levando a pior e foi arremessado para dentro da lagoa.

— Então... O Kanon deu uma coça em vocês? - Perguntou Shura.

— Ah, não. Ele estava tentando matar o Saga, para variar, e nós fomos tentar separar. - Aiolia respondeu, contrariado. - Aliás, já deu pra ver que esse negócio de separar briga não dá certo...

Aiolos lançou um olhar reprovador ao irmão mais novo e suspirou.

— Mas e aí, como é que vai ser agora? - Aiolos perguntou, entre curioso e preocupado com o mais novo dos cavaleiros de Gêmeos.

— Nós vamos tentar trabalhar uma solução para ele, custe o que custar. - Disse Saori, entrando altiva dentro da biblioteca. - Enquanto isso, eu conto com a ajuda de todos vocês. Como vocês bem imaginam, é uma situação complicada...

— Complicadíssima... - Concordou Shiryu, assentindo afirmativamente com a cabeça.

— ...E tudo que ele NÃO precisa é de vocês fazendo brincadeiras e piadinhas a respeito. - Acrescentou Saori, franzindo levemente as sobrancelhas finas. - Assim, espero que tenham compreendido meu ponto de vista.

Os cavaleiros presentes assentiram, todos entendendo a deixa da Deusa.

OOO

Casa de Gêmeos...

— É impressionante como é mais rápido descer essas escadarias do que subi-las. - Observou Shion, que já chegava com Kanon em seus braços e Saga ao seu lado na entrada dos fundos da Terceira Casa.-

— Para baixo todo santo ajuda. Atena então, nem se fala. - Colocou Kanon, ainda com a voz cansada. - Até porque, descendo, dá para vir pelos caminhos alternativos sem passar de casa em casa...

— É... - Concordou Shion, entrando na área privativa do templo de Gêmeos e tentando ignorar a bagunça que tomava conta do local, depois da crise de fúria dos ex-rapaz. - Qual é o seu quarto?

— O da esquerda. Mas pode me colocar no chão, eu já posso andar sozinho, não sou nenhum inválido.

— Melhor pecar por excesso do que por falta, Kanon. - Shion advertiu, entrando no quarto com a agora moça ainda no colo. - Saga, vem cá e levanta esse cobertor para eu colocar seu irmão aqui.

Saga, sentindo-se sumamente desconfortável, entra no quarto do irmão e faz o que lhe foi pedido; para depois ajudar Shion a colocar o ex-rapaz na cama na posição mais confortável possível.

— Muito bem, agora vamos tirar essas sandálias, que você não vai sujar sua cama com a poeira lá de fora, não é mesmo? - Completou Shion, já desamarrando as sandálias de treinamento.

— Ei, não precisa fazer isso não! - Kanon protestou imediatamente. - Eu já falei que eu não sou nenhum inválido! Eu posso fazer isso sozinho, dá licença?

— Ora, Kanon, deixe de besteiras. - Ralhou Shion, sem se desviar da tarefa que já terminava. - Você precisa descansar a contento! Não vai gastar mais energia do que o estritamente necessário por agora, sim? Vai ficar deitado aí, e vai fechar os olhos e procurar o sono. Certo?

— Não precisa falar comigo como se eu fosse criança.

— Não estou fazendo isso. Apenas estou me certificando que descanse. - Shion já cobrira o ex-rapaz com a manta e agora fechava as cortinas de pano da janela para diminuir a claridade no local. – Qualquer coisa que precisar, peça que o Saga fará para você.

— Eu não preciso de babá. - Ralhou o ex-marina, mas sua voz traía o cansaço que já amolecia seu corpo.

— Imagine, Kanon. Saga não lhe serviria de babá jamais, não é mesmo? - Sorriu Shion, enquanto se dirigia à porta e discretamente para que Kanon não visse, segurava Saga pelo antebraço para levá-lo para fora também. - Ninguém está aqui para ser sua babá, não se preocupe. Agora feche os olhos e descanse.

Dito isto, os dois saíram e encostaram a porta do quarto, para depois se dirigirem à sala em silêncio.

Já na sala, Shion quebra o silêncio.

— Mais tarde, deixe uma garrafa de água e um copo ao lado da cama de seu irmão, sim?

— Ah... - Saga apertou os lábios em uma expressão de incômodo. - Ele vai brigar comigo se me ver lá.

— Por isso eu lhe disse para ir mais tarde, e não agora. - Completou Shion, num tom que não admitia réplica. - Esgotado como ela... ele está, estará profundamente adormecido em menos de cinco minutos.

— Sim, senhor.

O cavaleiro oficial de Gêmeos mantinha a expressão de estranhamento no rosto.

— Saga... - Shion olha bem no fundo dos olhos do cavaleiro de Gêmeos. - Quero que escute atentamente o que eu vou te dizer.

— Sim. - Respondeu o outro mecanicamente, incomodado como nunca pela situação toda.

— Acho que eu não preciso explicar para você que seu irmão está em uma situação muito difícil. Certo?

— Certo. - Outra resposta mecânica de Saga, que involuntariamente deixou Shion irritado.

— Pois bem. Além de ele estar preso em um corpo que não é o seu, ele pode ser afetado negativamente pelo seu próprio cosmo, como eu já lhe expliquei há pouco. E eu gostaria que você entendesse que, quando ele elevou seu cosmo por furioso que estava, ele esteve muito perto de se machucar seriamente.

Saga meneou a cabeça, dando a entender que tinha compreendido.

— E, por isso, eu conto com você para que faça o que for necessário para que se minimizem ao máximo as situações de desentendimento entre vocês.

Saga levantou uma sobrancelha.

Shion sempre tivera a mania de manifestar suas posições com eufemismos, mas definir como 'situações de desentendimento' os embates que tinha com o irmão foi sem dúvida o maior eufemismo que já ouvira dele até hoje.

— Mas... Isso não depende só de mim. - Saga respondeu, sem disfarçar a irritação em sua voz; mas foi interrompido em seu raciocínio pela expressão severa de Shion e pelo dedo índice da mão direita do lemuriano, que se elevara em riste, em um sinal inequívoco gravado em sua mente desde que tinha memória, e que ele sabia perfeitamente o que significava.

Shion não admitiria tréplicas.

Calou-se e esperou que Shion terminasse.

— Conto com sua ajuda, Saga. - Completou o Grande Mestre, já se dirigindo à porta de saída da área privativa enquanto era seguido pelo outro para que lhe abrisse a porta para sair. - Até logo.

Saga ficou sozinho na saída de sua casa, com a sensação de incômodo e muita coisa em que pensar.

OOO

Conseguirá Kanon superar o trauma de se ver em um corpo de mulher e sem poder usar seu cosmo? Conseguirá Atena cumprir sua promessa e encontrar uma outra solução para resolver o problema do ex-rapaz? Conseguirão os outros cavaleiros preservarem o colega de armas em apuros de piadinhas, brincadeiras e outras situações constrangedoras? Conseguirá Camus de Aquário sobreviver à sua indicação de tutor educacional da juventude do Santuário?

Tudo isso e muito mais nos próximos capítulos!

Stay tuned!


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Notas finais do capítulo

"Google Translator":
Bien sûr: Certamente
Moi: Eu
Oui, monsieur: Sim, senhor
C'est vrai?: Não é verdade?
Merci beaucoup, Grand pope: Muito obrigado, Patriarca.
Triste que ma chance: Que sorte triste a minha.

1- A Pedra de Roseta é um fragmento de uma estela de granodiorito do Egito Antigo, cujo texto foi crucial para a compreensão moderna dos hieróglifos egípcios. Sua inscrição registra um decreto promulgado em 196 a.C., na cidade de Mênfis, em nome do rei Ptolomeu V, registrado em três parágrafos com o mesmo texto: o superior está na forma hieroglífica do egípcio antigo, o trecho do meio em demótico, variante escrita do egípcio tardio, e o inferior em grego antigo. (Fonte: Wiki)

2- Joketsuzoku: Outra referência descarada a Ranma1/2! Mas para quem não sabe, é uma criação da (MARAVILHOOOOOSA) Rumiko Takahashi dentro do universo de Ranma 1/2, que representa uma tribo de amazonas chinesas expertas em técnicas de luta e magias diversas. E é a tribo a que pertencem Shampoo e Cologne. A propósito, o nome chinês da Shampoo no mangá não é Xian Pu, e sim Shan Pu; então eu resolvi pegar o Xian Pu para a poderosa feiticeira, já que segue a linha dos nomes da tribo (Shampoo, Mousse, Cologne e outros artigos de toucador ahahahahahahaha)
A propósito, alguém reparou que Dohko ficou estranhamente desconfortável à menção das amazonas lendárias?

3- Qin Er Shi: Segundo imperador da dinastia Qin, reinou há aproximadamente dois mil e quinhentos anos atrás. Seu reinado foi marcado por várias revoltas de seus súditos e foi assassinado por um de seus ministros e foi substituída pela dinastia Han.



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