Até o Fim escrita por Juh Nasch


Capítulo 2
Um bando de babacas


Notas iniciais do capítulo

Então aqui começamos a história o/
Boa leitura :)



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“Eu liguei milhões de vezes ontem à noite pra você e nada de você me atender.” disse Eliza vindo rapidamente em minha direção.

“Bom dia pra você também, Liz.” disse com um sorriso de canto enquanto abria meu armário.

Ela estava com seus cabelos crespos e avermelhados soltos, caindo pelas suas costas. Seus olhos verdes fuzilavam-me, com agressividade. Estava de braços cruzados e vestindo um vestido florido, de margaridas, e um par de sapatilhas combinando. Aos poucos sua expressão foi se suavizando e ela encostou-se ao meu lado.

“Eu estava bem nervosa.” ela admitiu mordendo o lábio inferior e olhando para os lados.

“E com o quê?”

“Fala sério, Sam.” ela me olhou perplexa e passou a mão pelo rosto. “É nosso primeiro dia como calouras da Hayles.” ela deu ênfase no nome da escola. Tudo bem. Era uma das melhores escolas do país e eu tinha me esforçado muito para conseguir uma bolsa ali. Também estava nervosa, mas por motivos totalmente divergentes aos de Liz.

“Se algum dos veteranos vier com alguma das gracinhas desses trotes, eu vou arrebentar a cara deles.” disse Nathan se aproximando e logo abraçando Eliza pela cintura. Ela lhe deu um beijo na bochecha e eu fiz a melhor interpretação de vômito que pude, fazendo os dois caírem na gargalhada.

Nathan, ou como era mais conhecido, Nate, tinha os cabelos loiros e espetados, assim como um lindo par de olhos castanhos, como os meus. Estava de calça jeans escura e uma blusa de manga azul, dobrada até os cotovelos. Eles namoravam há quase um ano e eram meus amigos desde que eu me conhecia por gente, ou seja, desde a primeira série.

Quando eu avisei que iria mudar de colégio, eles fizeram questão de fazer o mesmo. Nunca me senti mais agradecida. Odiaria ser a garota nova solitária.

“Onde você estava ontem?” Liz voltou sua atenção pra mim.

“Na casa do meu pai.” dei de ombros encostando as costas na parede.

“E custava atender?”

“Estava ocupada.” desviei o olhar para meu amigo. “E você, Nate? Como foram as férias?”

“Passei na fazenda do meu avô com meus irmãos.” Nate tinha mais três irmãos mais velhos. Eu sinceramente, sentia pena da mãe dele com toda aquela testosterona presente na casa. “Foi como relembrar a infância.” ele riu balançando a cabeça. “Fizemos as merdas de sempre. Vou levar você lá na próxima vez, amor.” ele disse no ouvido de Liz. Ela ficou empolgada no mesmo instante.

O sinal tocou e um resmungo coletivo anunciando o inicio do ano letivo foi ouvido, não pude deixar de dar um sorriso.

Ao final da aula, fui para o canto mais afastado e calmo do colégio. Tinha comprado um livro novo na noite anterior e minha ansiosidade era tamanha, não conseguiria esperar até chegar em casa.

Quando cheguei lá um grupinho de garotos estava parado num canto. Não pareceram me ver e fiquei feliz por isso. Sentei-me na mureta, encostando-me na pilastra e abri o livro.

Segundos depois ouvi algumas risadinhas mais próximas. Bufei. Era impossível se concentrar assim. Quando levantei os olhos, três garotos estavam a minha volta.

“E aí gatinha?” o de cabelos loiros me lançou um sorriso sugestivo. Seus olhos azuis brilhavam maliciosamente.

“E aí.” respondi de forma seca, sem levantar o olhar das páginas, tentando ao máximo esconder meu nervosismo. Eles estavam próximos. Até demais.

Os outros dois pareceram surpresos por eu ter respondido.

Todos se vestiam de maneira semelhante. Calças jeans justas e pretas e jaquetas de couro. Tinham alguns piercings e seus braços eram cobertos por tatuagens. Eram altos e, pelo menos naquele momento, bastante intimidantes. Os outros dois tinham cabelos escuros e curtos. Um estava com uma camisa vermelha e um sorriso mais discreto. O outro garoto parecia simplesmente entendiado e estava inteiramente vestido de preto.

“Que tal você largar um pouquinho esse livro pra fazer uma coisa legal com a gente?” o loiro continuou. Fez menção de tocar minha perna, mas eu a afastei.

“Deixe a garota, Alex.” disse um quarto garoto se aproximando. Os outros o fitaram, como eu. Ele se vestia do mesmo modo que os outros, mas seu corpo era menos tatuado. Seu cabelo era escuro, penteado em forma de topete, e sua pele morena clara. Possuía uma barba rala, porém bem aparada. Tinha dois piercings: um no nariz e outro de argola no lábio inferior. Fiz toda essa observação em poucos segundos e logo desviei o olhar.

Ele me olhava com uma expressão de puro tédio. “Vai acabar assustando ela.”

“Está defendendo a novata, Adam?” o de camiseta vermelha provocou.

“Não estou defendendo ninguém, Simon.” ele deu de ombros. “É só olhar pra ela. Parece que vai sair correndo daqui a qualquer momento.”

Era evidente que estava zombando de mim. Meu rosto queimou de raiva e eu agarrei minha mochila, me levantando dali. Nenhum deles tentou me impedir.

“Ei gatinha, você não respondeu minha pergunta.” disse Alex rindo.

“Vá pro inferno!” disse em alto e bom som enquanto voltava pro refeitório. Todos caíram na gargalhada, menos Adam, que continuou me observando com o olhar até eu sumir de vista.

“O que aconteceu?” perguntou Liz me encarando quando me sentei à sua frente.

“Veteranos babacas.” suspirei.

“Eles tentaram algo contra você?” perguntou Nate prendendo a respiração.

Balancei a cabeça em discordância. Não tinha que preocupar meus amigos com isso. E fora apenas uma brincadeira.

Adam e seus amigos (ou deveria dizer sua gangue?) entraram no refeitório naquele momento.

Tentei disfarçar, mas Liz percebeu. Ficou mais evidente quando Adam me fitou por alguns instantes, antes de sentar-se e puxar uma garota morena para o seu colo. Estava certa. Era só um bando de babacas.

***

Assim que cheguei em casa, ouvi um barulho vindo da primeira porta.

“Aonde você está indo?” perguntei assim que invadi o quarto de minha mãe. O local parecia uma cena de guerra. Dezenas de jóias, vestidos e sapatos estavam espalhados, por todos os cantos.

Ela estava incrivelmente bonita num vestido azul-marinho. Os cabelos soltos, com cachos nas pontas e uma maquiagem impecável. Todos diziam que eu parecia muito com minha mãe, com exceção dos cabelos, os dela loiros e os meus castanhos.No momento, ela tinha uma expressão quase histérica no rosto.

“Fui convidada para sair.” ela desviou o olhar novamente para o espelho.

“O quê?” juro que tentei reprimir o choque na voz, mas ela havia me pegado desprevenida.

Ela se permitiu um risinho nervoso antes de me responder.

“Um colega do trabalho” ela deu uma pausa enquanto ajeitava seu colar. “Ele me convidou pra jantar e ir ao cinema hoje. Não necessariamente nessa ordem.”

“Quando?”

“Já tem uns dois dias.”

“E por que não me contou?” não pude evitar o tom magoado. Contávamos tudo uma para outra.

“Eu nem sabia se iria aceitar.” ela passou os dedos nervosos pelos cabelos.

“Não sei por quê.” sorri tentando tranquilizá-la. “Está maravilhosa.”

“Mesmo?” ela se virou pra mim ansiosa e fiz que sim.

Ela soltou o ar, como se o estivesse prendendo nos últimos minutos. A campainha tocou e uma expressão de choque se formou no rosto dela.

“Fica calma!” aconselhei. “Não vou abrir a porta porque seria muita pressão para ele conhecer sua filha logo no primeiro encontro.” me aproximei dela e segurei firme suas mãos. “Vai dar tudo certo!” ela assentiu e então saiu do quarto. “Mãe!” ela voltou-se e me encarou. Apontei para a cama. “Sua bolsa!”

“Ah, meu Deus, Samanta!” ela voltou atrapalhada e eu tive que sorrir. Parecia uma adolescente no seu primeiro encontro.

“Juízo.” aconselhei e ela me deu língua antes de sair. Tão madura!

Ouvi alguns comentários quando ela abriu a porta e também algumas risadas. Depois a porta foi fechada e o apartamento ficou num absoluto silêncio.


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Notas finais do capítulo

Bom? Ruim? Independente da quantidade de capítulos, quero críticas individuais sobre cada um.
Um beijo, um queijo e até o próximo.



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