H.E.R.O.I.N.(M)E.(SS) escrita por Lena


Capítulo 2
Capítulo 1 - Probabilidades


Notas iniciais do capítulo

ADVINHA QUEM RESOLVEU POSTAR?
Correndo sérios riscos de ir pra recuperação final nas duas provas que preciso fazer amanhã, terminei o capítulo e vim correndo entregar à vocês antes que eu surte e perca a coragem.
Obrigada a quem aguardou pacientemente meu hiatus, a quem me caçou, mandou MP no twiiter, no nyah, no snap e quase pichou no muro da minha casa “atualiza aquela merda”. Vocês são os melhores, obrigada.
Pra quem não está entendendo nada, a história foi reescrita, eu excluí todos os capítulos e mudei o nome da Fic, antes Passos Ao Vento, agora, H.E.R.O.I.N.(M)E.(SS), HM pros mais íntimos. Espero que vocês gostem dessa nova versão tanto quanto eu, demorei muito pra ter coragem de fazê-la.
Pra quem estranhar muito algumas mudanças sérias, não se preocupem, a fanfic ainda terá o mesmo seguimento de Passos Ao Vento, só que com algumas mudanças sérias no Plot.
Nos vemos lá em baixo ♥



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Fevereiro de 2014

Fogueira de Iniciação Aos Calouros do Panem High School

 

— Que merda! – resmunguei quando meu sapato prendeu em um emaranhado de folhas no chão.

         Esse lugar não deveria ter menos mato no início do ano letivo? Lembro de Gale falando algo sobre estarem cortando os gastos, mas não levei tão a sério na época, agora fazia bem mais sentido. Gale Hawthorne! Crispei os lábios enquanto abaixava e tentava, sem sucesso, soltar meu pé do que só agora notei que era uma raiz de árvore. Eu vou matá-lo. Vou matar Gale Hawthorne lenta e dolorosamente e fazer questão de arrancar cada fio ensebado daquele cabelo arrepiado no processo.

         Eu sabia que não devia ter vindo. A fogueira de iniciação aos calouros de Panem High School não foi algo que eu almejei; na verdade, se dependesse da minha força de vontade, eu enrolaria até o último segundo possível para aparecer nessa escola, mas, como todo ser absolutamente idiota, é claro que eu me deixaria levar pela animação de Prim e a lábia de Gale. Eu realmente devia ter batido a porta na cara dele quando apareceu na minha casa de manhã com piadinhas do tipo “tentando fazer parte dos móveis, Catnip?”,  não que fosse adiantar algo é claro, Gale Hawthorne é um cara grande, além de irritante e ambos sabemos que eu teria deixado ele entrar só pra parar com aquela mania chata de ficar assobiando completamente desafinado.

         – O que você quer? – perguntei mal humorada assim que ele entrou em casa. – Não. – afirmei, antes mesmo que ele fizesse a pergunta.

         – Vamos, Kat, vai ser legal...

         – Sabe o que seria muito legal? Se você fosse embora e me deixasse praticar.

         Ele ergueu a sobrancelha esquerda do mesmo jeito que eu sempre fazia.

         – Praticar ficar jogada no sofá enquanto procrastina?

         Suspirei.

         – O que posso dizer? Esse sofá é realmente muito confortável. – Gale riu e me encarou daquele jeito de quem sabia que eu iria concordar com ele desde o segundo em que bateu na porta. Odeio esse cara!     

Os pais de Gale são uma espécie de advogados fodões que fazem qualquer um acreditar no que eles estiverem defendendo, seria incrível se não fosse assustador. Não consigo negar nada para Beatrice Hawthorne e tenho certeza que a situação seria a mesma com o Sr. Hawthorne, caso eu o conhecesse.

— Já conseguiu convencê-la? – Prim, minha irmãzinha, perguntou a Gale enquanto descia as escadas correndo.

         Ele negou desanimado.

         – Merda!

         – Olha a boca, patinha. Desde quando vocês dois se dão tão bem?

Gale ergueu uma sobrancelha.

— Ciúmes, Catnip?

— Ele me prometeu chocolate. – Prim se explicou.

Eu ri, sabia que aí tinha alguma coisa, Prim e Gale nunca se deram muito bem.

— Temos um objetivo em comum. – Gale a recriminou com um olhar.

— Infernizar minha vida?

— Te tirar de dentro de casa! – Prim me implorou com o olhar, aquela coisa de gato de botas definitivamente não ia funcionar dessa vez. – Você pode estar perdendo a maior oportunidade da sua vida não indo à essa festa.

Segurei-a pelos ombros, olhando no fundo dos olhos azuis.

— Prim, é só uma festa de colégio.

— Que o seu melhor amigo organizou e ficaria muito feliz se você resolvesse aparecer por lá. – Gale opinou.

— Lavo sua roupa por uma semana.

Ah, claro, chegamos na parte do suborno.

— Não vai acontecer. – falei pausadamente.

— Três semanas?

Bufei.

— Olha, não sei porque vocês querem tanto que eu vá nessa festa, mas não há nada nesse mundo que me faça aparecer em Panem antes de ser obrigada à isso.

Claro que eu não deveria ter dito a última frase, Gale me infernizou começando um papo de que eu precisava urgentemente parar de negar as oportunidades que a vida me dava de conhecer pessoas e fazer amizades, tudo bem, ele até nao estava errado, mas pelo amor de Deus, eu não estudei sem parar pra conseguir uma bolsa em Panem High School pra fazer amizades. Eu tinha uma plano, conseguir uma bolsa em Panem, entrar para a equipe de dança, conseguir uma carta de recomendação da Capitã para entrar em um preparatório intensivo que me levaria à cursar dança em Juilliard.

Gale nunca concordou com isso, ele diz que não há vantagem na vitória se não aproveitar o caminho. Filosófico na teoria, mais difícil do que parece na prática. Claro, eu nunca ter sido uma pessoa muito amigável e toda a simpatia e gentileza da família terem se alojado nos 1,50m de Prim, ajudaram bastante na minha posição de chegar onde eu queria.

Meu histórico de amizade começou a desandar quando tinha 7 anos e decidi fazer um ritual de sacrifício aos deuses do teatro e da dança para que me ajudassem a aprender um passo - não tão difícil assim - de balé, lembro que havia visto um filme de terror naquela semana e aprendido que precisaria sacrificar uma virgem em um lugar sagrado chamado Floresta da Maldição - nunca entendi como um lugar sagrado pode ter a palavra Maldição no nome, mas tudo bem -, como eu não conhecia nenhuma floresta amaldiçoada na época fui para o melhor lugar sagrado que eu havia conhecido até então: a caixa de areia do parquinho de perto de casa; e claro, para representar a virgem, uma boneca nova com a qual jamais houvessem brincado, boneca essa que eu raptei simultaneamente da minha vizinha e amiga, Olivia.

Faça tudo pelo que acredita! - eu dissera a Prim sabiamente na época.

Então, começamos o ritual na caixa de areia do parque, o que não deu muito certo já que minha vizinha aparecera com sua mãe, exigindo a boneca de volta. Juro que tentei devolver a boneca, mas já estava num estágio avançado do Ritual quando nos encontraram e a boneca virgem se encontrava soterrada na caixa de areia. Nunca encontraram a boneca e fui chamada de bruxa pelo restante do ano no colégio, boato o qual Olivia fizera questão de espalhar. Não liguei pra isso, eu havia conseguido aprender o passo de balé. Na minha mente tola de 7 anos, os deuses haviam recebido o sacrifício. Olivia até hoje não olha na minha cara e se isso não foi uma prévia do que teriam sido a maioria das minhas outras amizades, não sei o que foi.

Entrar na minha primeira academia de dança no ano seguinte fora, simplesmente, libertador. Havia algo na maneira como meu peito vibrava cada vez que ouviu as primeiras notas da música ou na dor que eu sentia cada vez que forçava os músculos demais que me fazia sentir mais humana, mais carnal, do que a maioria das pessoas. Quando essa sensação poderosa tomou conta de mim pela primeira vez eu soube, eu queria aquilo pelo resto da minha vida e não precisava de mais ninguém pra isso.

Meu celular tocou no meu bolso pela primeira vez na noite e quase chorei de alegria ao saber que estava com área.

— Catnip? – Gale perguntou do outro lado.

— Eu vou matar você - murmurei irritada enquanto tentava falhamente soltar meu pé do galho.

— Opa, alguém está de mal humor. O que aconteceu?

— Se você soubesse. – passei as mãos nervosamente no cabelo. – Escuta, estou presa por um galho no meio de muito mato, por que não me disse que essa escola estava tentando competir com a Mata Atlântica?

— Quem cola pra ir na Atlantida? O quê? Katniss, não consigo ouvir direito, onde você está?

— No mato, Gale! Bem no meio dele. – me exasperei e então ouvi um farfalhar de folhas ao meu lado. – Ai meu Deus, espera um pouco, acho que tem alguém aqui. – sussurrei, mas a ligação já tinha caído.

Que ótimo!

Eu vou morrer estuprada no meio de uma matagal com o pé preso em uma árvore demoníaca. Definitivamente uma ótima maneira de morrer. Me levantei e segurei o celular com mais força quando ouvi seja lá o que fosse se aproximar e então, não me pergunte porque diabos, atirei o meu celular na pessoa. Ouvi um gemido de dor, mas estava escuro demais pra enxergar o indivíduo.

— Jogar o celular em um desconhecido não é um atitude muito inteligente. – ele se aproximou. – Eu poderia ser um ladrão.

— E estava tentando assaltar quem? A mãe-natureza? – ergui as sobrancelhas indicando as folhas na camisa dele que riu.

Um sorriso bonito, admiti pra mim mesma, exatamente o tipo de sorriso que eu imaginava encontrar nessa escola, brilhante e caro. Rolei os olhos.

— Você venceu. – me devolveu o celular que por um milagre divino ainda funcionava. – O que tá fazendo no meio do mato?

— Eu poderia fazer a mesma pergunta.

Não conseguia enxergar seu rosto direito devido a baixa luminosidade, mas sabia que estava sorrindo de novo. Mas, que diabos?

 - Precisa de ajuda? – indicou meu pé preso.

 Balancei a perna desconfortável enquanto ele abaixava e tentava soltar meu pé dali afastando o galho. Tentativa falha.

— Está preso, não vai soltar assim. – me exasperei quando ele tentou mais uma vez.

O cara olhou pra cima, provavelmente se perguntando qual o meu problema e porque eu estava agindo de forma tão babaca. Bem, eu estava tendo uma noite de merda, ele podia pensar o que quisesse.

O desconhecido abaixou seus olhos novamente, calculando o próximo movimento e eu cruzei os braços pelo frio, me perguntando se todas as vezes que comprei, por pura pena, aqueles biscoitos das escoteiras querendo ganhar medalhas não deveriam me dar alguma espécie de desconto com o universo. Aparentemente, ele não concordava comigo.

Meu cérebro travou quando os dedos do cara se fecharam no meu tornozelo descoberto pela calça e tentaram removê-lo gentilmente. Engoli seco pela reação exagerada e agradeci mentalmente por ele estar concentrado demais para notar.

         – Como conseguiu prender o pé desse jeito? – perguntou tentando remover meu pé mais uma vez.

         – Garanto que não foi proposital. - Murmurei, arfando quando pronunciei a última palavra tendo o tornozelo finalmente livre. – Graças à Deus. – massageei o local, que antes estava preso, com os dedos, enquanto o estranho me encarava.

         – Essa é a parte em que as pessoas agradecem. – Sorriu. Certo, eu havia me decidido, ele era bonito e tinha sérios problemas de ser sorridente demais.

         – Eu ia chegar lá.

         – Por que está no meio do mato, morena?

         Franzi o cenho pro apelido, mas lhe devo algum crédito por ter me ajudado quando podia ter me largado ali, o que me lembrava, eu tinha uma dívida com ele agora. Que ótimo!

         – Suponho que usei a entrada errado do colégio.

         Ele riu.

         – Vamos. – me indicou um caminho, ergui a sobrancelha estacada no lugar. – Escuta, se eu quisesse te atacar, já teria atacado, não acha?

         Fazia sentido.

         – Há quanto tempo estuda aqui? – murmurei o seguindo.

         – A partir de amanhã, exatos um dia. – ergui as sobrancelhas. – Relaxe, conheço o lugar como a palma da minha mão e... Você tem essa mania de ficar fazendo isso com as sobrancelhas? -  não me deu tempo de responder. -  Enfim, Meus pais estudaram aqui, e meu irmão.

         – E agora você. – concluí. – Cumprindo as expectativas da família, uh?

         Ele deu um sorriso sem mostrar os dentes.

         – Gosto de bater, pra onde mais eu iria se não Panem? Sem ser preso, é claro.

         A piada na frase era clara, mas eu sabia que era sério.

         Panem era conhecido como o colégio de Seattle que lança mais profissionais, atletas e artistas no mercado. A divisão do colégio era feita por Casas, uma para cada atividade financiada pela próprio colégio, Casa Verde para dança; Casa Vermelha para luta; Casa Azul para futebol; Casa Cinza para ciência e tecnologia; e Casa Amarela para Música. O sistema exclusivo de Panem havia funcionado tão bem que deixava o colégio como referência para qualquer outro na cidade, não era à toa que eu havia me esforçado tanto pra conseguir uma bolsa aqui.

         – E você? – ele me perguntou. – Não acho prender o pé em uma árvore uma habilidade muito convincente.

         E, inacreditavelmente, eu ri. Gale ficaria orgulhoso.

         – Eu danço. – deu de ombros, como se não importasse.

         Mas importava pra mim, muito, e algo me dizia, que ele também sabia.

         Quando enxerguei ainda longe a luz da fogueira, descobri que ele estava certo, realmente conhecia o lugar como a palma da mão.

         – Obrigada por, uh, soltar meu pé. – murmurei.

Quase rolei os olhos por parecer que eu estava nervosa, então endireitei a coluna.

— Eles devem ficar soltos, não é? – piscou pra mim.

Quando finalmente avistei o pessoal perto da fogueira, ele se afastou, havíamos chegado.

— Te vejo por aí, morena.

— Esse não é o meu nome.

— Eu sei.

Eu ri pensando que ele provavelmente não sairia do meu pé.

— Catnip! – Gale gritou sobre a música, agarrado a uma loira baixinha, assim que me viu.

Bati nele assim que estava próxima o suficiente.

— Por que não me disse que esse lugar tinha duas entradas?

— Porque ninguém usa a segunda entrada. – respondeu rindo e então viu minha careta. – Exceto você, é claro. Então você realmente disse mata atlântica no telefone, faz bem mais sentido.

A garota, agarrada nele, sorriu pra mim.

— Apenas ignore a idiotice como eu, depois de um certo horário o cérebro de Gale não funciona tão bem como o esperado.

Sorri minimamente pra ela, apesar de ainda querer matá-lo.

— Pare de falar mal de mim, ok? – pediu a ela. - Catnip, essa é Delly Right. Dell’s essa é...

— Katniss Everdeen. – ela o interrompeu estreitando os olhos de um jeito engraçado, parecia uma boneca, nem um pouco assustadora. – Eu vi sua ficha junto com as outras, interesse na Casa Verde?

Sorri.

— Você não tem ideia do quanto.

— Não deixe o sorriso fácil e o rosto de boneca lhe enganarem, Kat. Delly sabe de tudo, até mesmo dos seus pensamentos, é assustador. – ele estremeceu visivelmente.

Delilah arqueou as sobrancelhas duas vezes e fez piada sobre, mas não negou. Enquanto entravam numa pequena discussão sobre a personalidade – nada – fácil de Delly e eu me distraí no momento que uma morena passou por onde estávamos, sendo carregada nos ombros de quatro garotos, ela tinha cabelo curto e sorria abertamente enquanto acenava e as pessoas batiam palmas. Reprimi um resmungo por já estar esperando aquilo quando vim estudar aqui.

— Quem é? – perguntei a Delly que me encarou divertida.

— Johanna Mason. Presidente do grêmio estudantil, Capitã da Casa Verde, melhor amiga de Gale. – a loira me encarou quando terminou a frase. - E eu nem preciso dizer que manda nisso aqui.

Vi o momento que eles a colocaram no chão e ela se estendeu na ponta dos pés pra dar um abraço no mínimo doloroso e apertado em Gale, que eu nem ao menos vi se afastar de nós.

E então fez sentido, claro, Johanna Mason. Johanna Dona da Porra Toda Mason. Não precisava de mais descrições porque só o nome já dizia tudo. Era Johanna Mason. A mulher a quem eu supostamente teria que convencer a me dar uma carta de recomendação com a assinatura de um suplente. A visão dela olhando para todos ali como se lhe devessem algo não fez essa parte do meu plano parecer fácil.

Delly cruzou o braço no meu rindo.

— Não olhe assim, ela não é uma completa vaca. Só de vez em quando. – piscou pra mim. – É meio bipolar, mas é um ótima pessoa. E é muita leal. Vai descobrir que isso é valioso por aqui. – Seus olhos brilharam com algo que eu não conhecia e em seguida ela riu. Mudei de ideia, ela é assustadora. – Sabe de um coisa? Vocês se dariam muito bem.

Dessa vez eu ri e percebi que era fácil gostar de Delly. Ela carregava um leveza com ela, não era forçado, ela simplesmente... estava ali.

— Duvido muito.

A loira me virou pra ela e me segurou nos ombros como fiz com Prim mais cedo.

— Escute-me, gafanhoto. Vou te ensinar tudo sobre esse lugar, acredite. – franzi o cenho pra maluquice dela, parecia animada. – Você tem uma coisa. - se na mente dela aquilo era uma explicação, na minha, não era.

— Que coisa? – ela abriu um sorriso psicótico. Assustadora. – Você e Johanna parecem próximas. – ela deu de ombros.

Eu realmente ainda não sei o porque tento conhecer os amigos de Gale.

— O loiro tá olhando pra você.

Virei o rosto devagar e vi o cara de mais cedo, dessa não estava sozinho, uma garota loira pendurada no seu ombro, uma ruiva de costas pra mim e dois outros garotos loiros. Ah, um deles eu conhecia. Isso não era bom.

— Está enganada. – afirmei pra Delly que riu.

— É fofo você achar que consegue mentir pra mim. – esquisita e assustadora.— Vocês se conhecem? – murmurou em tom conspiratório, não respondi. – Você não é muito de falar, é? De qualquer forma, escolheu bem, ele tem essa pose de cara durão e sorriso de propaganda de pasta de dente, mas é um realmente cara muito legal.

Franzi o cenho.

— Não escolhi nada, Delly.

— Tenho certeza que não. - ela sacudiu os cabelos enquanto falava. – O mais legal é que a beleza nem é a maior qualidade dele.

— E qual é? – perguntei quando ela nos virou, provavelmente me apresentaria a algumas pessoas, eu não ligava, não era nessas pessoas que eu estava interessada. Pensei em Johanna Mason e no estranho do outro lado do lugar.

— Peeta é gentil. – a loira sussurrou pra mim antes de se aproximar de um grupo de pessoas que eu tinha a impressão de já ter visto antes. Redes sociais de Gale?  – Meninas, quero que conheçam Katniss Everdeen.

Delilah só saiu do meu pé quando Gale resolveu fazer um discurso junto com Johanna. Boas Vindas, espero que se sintam em casa, toda aquela coisa para Calouros com uma simpatia que eu sabia que acabaria assim que começassem as admissões paras as Casas. Meu amigo sempre me dissera que o período de admissões era um massacre, as vagas eram poucas e eu quase me batia mentalmente toda vez que lembrava que a Casa que eu queria era a mais exigente. Nenhuma caloura pode entrar na Casa Verde. Só dispõem 10 vagas por ano. Capitães da Casa Verde só podem ser formandas.

Eu sabia que ia sofrer um inferno nas admissões esse ano como um teste e só poderia entrar ano que vem, não importava, eu não estava disputando apenas as vagas, estava disputando o mérito. A atenção de Johanna e da futura capitã poderiam significar muito para mim nas reais admissões. Distrações não eram uma coisa que eu permitiria nem de longe.

— Uma moeda por seus pensamentos. – O loiro de mais cedo, que agora eu sabia se chamar Peeta, se aproximou de mim. Longe da aglomeração de pessoas em volta da fogueira.

Eles estavam queimando algo?

— São desinteressantes, portanto passo a oferta.

Ele riu.

— Acredite em mim, nada em você é desinteressante.

Eu sabia que se fosse qualquer outro daqueles babacas, que estavam fazendo brincadeiras estúpidas desde que cheguei, que tivessem dito isso, a reação seria diferente, mas, com Peeta, eu não havia me incomodado com o flerte. Talvez eu houvesse parado de me importar. Talvez eu queira a atenção dele. Talvez eu queira provar pra mim mesma que Madge estava errada, ele não era gentil, era um cara qualquer. Definitivamente a última opção.

— Vai ter que se esforçar mais pra conseguir alguma coisa. – avisei e ele riu.

— O que eu tenho a perder?

— Sua noite, sua dignidade. – listei.

Ele levou os olhos pra longe de mim e a próxima frase veio como um tiro, ele não disse como alguém que queria me levar pra cama, nem como se estivesse avaliando o meu corpo enquanto o fizesse, foi apenas a constatação de um fato:

— Vale a pena.

— Peeta! – uma voz estridente gritou.

Ele olhou por cima dos meus ombros e ficou em pânico com alguma coisa. Era engraçado seu rosto assim, olhos arregalados, levemente desesperado.

— Merda! – murmurou antes de sair correndo e me arrastar com ele pela mão.

  Hum, não me puxou pelo braço, ganhou um ponto.

— Ele é gentil. – ouvi a voz de Delly sussurrou dentro da minha cabeça.

 E, isso não é nada, nada bom.

Peeta Me soltou quando chegamos atrás de um dos prédios do colégio, o lugar era iluminado e eu ainda conseguira ouvir a música e as comemorações do resto do pessoal, eu estava perdendo a festa e não poderia me importar menos.

— Aparece furtivamente no meio do mato, no escuro; Me arrasta a força com você pra longe dos olhares dos outros. – apoiei meu corpo na lateral do prédio. – Você é um stalker, Peeta?

O loiro, que até então estava olhando pra ver se a pessoa que tinha gritado seu nome histericamente não tinha o seguido, se virou pra me encarar e dessa vez corou desconfortável.

— Eu não quis... - não me controlei e comecei a rir. Ele suspirou aliviado. – Não acredito que caí nessa.

— Nem eu. – respondi. – Por favor, você nem ao menos tem cara de que faria algo de errado.

— Posso pensar em uma ou duas coisas pra fazer agora.

Parei de rir quando notei o tom da sua voz, ele estava flertando de novo, ele era bom. Tinha a dose de confiança certa para não soar prepotente e mesmo assim confiante.

— Quem te fez abandonar a festa? – perguntei realmente querendo uma resposta, aquilo não acabaria bem se cada atitude dele gritasse que Delly estava certa. Não mesmo.

Ele levantou uma sobrancelha por eu estar disposta a conversar agora.

— Vai me dizer seu nome?

Estreitei os olhos.

— Touché.

Ouvi passos perto e uma risadas, e ele tentou olhar quem era sem sair de trás do prédio.

—  Fugir da pessoas é feio, Peeta.

Ele se virou pra mim parecendo envergonhado. Deus, ele não era um babaca. Eu sei reconhecer um.

— Escuta, essa é provavelmente a pior frase pra se dizer pra uma pessoa que você acaba de conhecer, mas... – ele pareceu se incomodar com uma mecha da minha franja que caía nos meus olhos e então a colocou pra trás da minha orelha com a ponta dos dedos. Parei de sorrir, algo em meu estômago martelou, eles estava sendo gentil. – Eu normalmente não ajo assim. - gesticulou agitadamente enquanto falava e algo entre a agitação do dia e a bebida que Gale deixou comigo me fez achar aquilo fofo. Não sei se gostei disso. - Nem arrasto garotas contra a vontade atrás de mim, nem entro no meio do mato escuro sozinho. – ele riu nervoso no final.

Ele não podia ser assim, ninguém podia ser tão certo, não existia nem 10% de probabilidade de isso acontecer.

Não sei o que me levou a fazer o que fiz a seguir, de madrugada eu provavelmente diria a mim mesma que só queria provar que ele era um idiota, mas eu não conseguia pensar em um pretexto bom o suficiente enquanto ri, balancei a cabeça concordando, segurei ambos os lados da cabeça de Peeta e pressionei meus lábios nos dele. Suas mãos não se moveram e ele parecia verdadeiramente surpreso, merda, até eu estava.

Me afastei lentamente e quando olhei em seus olhos chocados forcei minha mente a trabalhar atrás de uma desculpa plausível, eu não a tinha e aparentemente não precisava, não quando Peeta riu de um jeito, como se achasse que eu era louca, e então segurou minha cintura e me beijou. O aperto das mãos era forte, mas a boca, sua boca... nossa. Nossa. Eu nunca soube como alguém podia soar seguro, protetor e gentil ao mesmo tempo. 

Seria um longo ano.

Tive certeza quando suas mãos me seguraram com mais força e não me soltaram mais pelo resto da noite.


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Notas finais do capítulo

Querem me matar?
Pra quem sempre teve curiosidade, foi assim que Peeta e Katniss se conheceram, apressados? Talvez, mas em defesa dos pombinhos, quem nunca conheceu um cara e na mesma noite ficou com ele em uma festa? Não romantizem tanto esses beijos assim que eles se conheceram, quero tornar a estória o mais real possível.
Sobre Johanna e Katniss, muitas águas ainda vão rolar nessa fanfic meus amores, fiquem calmos, nossas megeras preferidas estão só se apresentando.
O próximo capítulo será um ano depois, no mesmo tempo em que se passava PAV, no começo do 2 ano do ensino médio de Peeta e Katniss, os capítulos serão intercalados assim mesmo, prestem atenção nas datas e não irão se perder, garanto.
Pra quem está sentindo falta de Madge, Finnick, Annie e Cato, esperem o próximo capítulo. Spoiler: Eu amo demais Finnie nessa fic, sério.
Acho que por hoje é só, não esqueçam de comentar, preciso do incentivo de vocês. Spoilers e avisos no Twitter: @GreenSonserina
XOXO, Lena



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