2017- 3° Ano do Ensino Médio

Dia da Formatura - Ritual de Passagem

            Fizemos um pequeno burburinho enquanto corríamos pelo corredor com lanternas nas mãos. O colégio fora trancado há horas e nenhum de nós realmente se importa por termos que correr de um cachorro, dois seguranças e ainda pular um muro. Ou por ter que entrar no colégio, escondido e tarde da noite, o que é considerado invasão de propriedade particular.

            Finalmente achamos a porta do auditório e uns meninos das Casas Azul e Vermelha comemoraram.

 - shii!— Peeta e eu pedimos ao mesmo tempo. Se nos encontrassem ali, a consequência maior seria nossa.

            Os meninos arregalaram os olhos e ficaram imóveis, contive-me para não rir enquanto lutava contra a fechadura. Minhas mãos tremiam e a maldita chave não entrava. Perguntaram se eu queria ajuda e não respondi, eu precisava fazer aquilo sozinha.

Ouvi passos no fim do corredor e imaginei que seria um dos seguranças novamente.

— Ah, vamos lá... – murmurei pra mim mesma destrancando, finalmente, a maldita porta. – Graças a Deus! Vamos, vamos...

Eles praticamente se atropelaram entrando no auditório, fugindo dos olhos curiosos do segurança. Quando já estávamos dentro, não pudemos conter a risada.

E então, Peeta ligou o interruptor geral de luz e lembrei o porque estávamos ali.

            O auditório de Panem High School é a maior sala desse edifício, fora o primeiro lugar com uma plateia realmente grande no qual eu havia me apresentado e, pelos olhares de todos, acho que guarda um momento especial para cada um. As paredes do lugar são forradas de lâmpadas que sempre estão desligadas, pilhas de lâmpadas, que vão do inicio da parede até o fim.

Sempre. Desligadas.

Menos hoje.

Hoje metade das lâmpadas estavam acesas, cada parede com sua cor. Cada parede com a cor de uma Casa, cada parede com a cor de uma modalidade ensinada e motivada pelo Panem High School.

Enquanto observava cada lâmpada daquelas fiz a contagem mental das modalidades que havia feito na primeira vez que ouvira falar desse lugar, quando decidira que estudaria aqui. Casa Cinza, Informação e tecnologia; Casa Amarela, Literatura, poesia e música; Casa Vermelha, Luta; Casa Azul, Futebol; e Casa Verde, Dança.

Aproximei-me da parede com todas as lâmpadas verdes, cada uma com seu interruptor do lado. Algumas luzes estavam apagadas e com as iniciais de alguém rabiscada na ponta, as iniciais dos alunos que já estiveram no meu lugar, as iniciais dos Katniss, Peetas, Finnicks, Annies e Madges do passado.

— Cada um escolha uma lâmpada de acordo com a cor da sua Casa. – Peeta instruiu e sorriu. – Vamos começar.

Estava acabando, eu sabia disso. Passado esse ritual, seria como se o fim do colegial se tornasse concreto finalmente, uma última etapa do inferno emocional que é a adolescência.

Passei meus olhos pelas lâmpadas verdes, primeiro pelas que estavam apagadas. Um dia eu seria só uma inicial ali que não faria diferença pra nenhum dos próximos alunos, eu não ligava. E nem conseguia escolher.

E então, achei uma lâmpada com as iniciais J.M. E logo depois, V.M.

Johanna Mason.

Victoire Mellark.

Lembrei-me de tantas vezes que eu quisera ser como elas. Todas souberam deixar sua marca como líderes da Casa Verde, eu esperava também ter deixado a minha. Foi quando escolhi finalmente um lâmpada verde, brilhante e intensa, na altura dos meu ombros.

— Coloquem suas iniciais na lâmpada.

Recebemos mais instruções de Peeta e eu sorri sabendo que ele se encaixava tão bem em todas as Casas. O garoto sorridente ainda ia longe. 

Escrevi minhas iniciais na lâmpada.

K.A.

Katniss Abernathy.

E então, já estava acabando.

Cada momento que passei nos últimos três anos passaram pela minha cabeça, desde a festa de iniciação até o baile de formatura. Desde o desespero de conseguir o primeiro lugar no Orion até as manifestações em prol da não sucatização do meu colégio. Desde a quase expulsão da presidência do grêmio até a condecoração por ter quebrado as regras sociais desse lugar. De indecisa à focada. De megera a heroína.

Meu estômago formigou quando cada um de nós ergueu as mãos para o interruptor das lâmpadas com suas iniciais e eu sabia o que aquilo significava.

Acabou o show.

Respiramos fundo.

Fecharam as cortinas.

Desligamos o interruptor apagando a pequena lâmpada colorida com nossa iniciais.

Apagaram-se as luzes.