Os olhos de Leo se abriram e logo se fecharam novamente, por causa da claridade. Agora, preparado para a luz que estava bem acima de sua cabeça, abriu-os novamente, se espreguiçando. Sentiu um peso em seu peito e olhou para baixo, ainda sonolento. A cena que viu foi acompanhada das memórias da noite anterior.

Reyna Avila Ramírez-Arellano, a garota dos seus sonhos, fazia seu corpo de travesseiro. Ela usava a blusa de mangas compridas do garoto, e estava abraçada a ele como se fosse uma criancinha.

Leo passou uma de suas mãos no rosto dela carinhosamente, e, em troca, ela se aninhou mais ainda ao seu corpo. Achando aquela cena adorável, tirou a mão, com medo de acordar a garota.

"– Reyna Avila Ramírez-Arellano num bar bebendo Tequila? - Perguntou, se sentando ao lado da garota. - Pensei que a realeza fosse mais fina.

– E o quê você sugere que eu faça? - Ela perguntou, bebendo mais dois goles da bebida. - Me sente em meu trono e beba vinho?

– Exatamente. - Ele sorriu.

– O problema é que a coroa caiu, o trono já não existe mais...– Ela passou os dedos na beirada do copo. Não olhara para Leo nem por um segundo. - E o vinho não passa de suco de uva vencido.

– O que aconteceu? - Perguntou, preocupado. Reyna riu sem humor.

– Eu fui traída pelo meu namorado. - Respondeu, com amargura na voz. - Minhas notas ultimamente não estão nem perto de serem boas, o que me trouxe muitos problemas com meu pai, meus amigos me abandonaram e eu cheguei ao ponto de ter que desabafar com você.

– Essa foi cruel, Rey. - Ele fez um biquinho. - Jason te traiu? Com quem?

– Adivinhe! - Propôs, falsamente animada. - Se você pensou em Piper McLean, parabéns, você acertou!

Leo suspirou. Ele já sabia que o amigo estava de olho na McLean, mas nunca pensou que ele trairia Reyna. Sentindo nojo do loiro, olhou para Reyna, que parecia estar muito interessada em seu copo quase vazio."

Já havia meia hora que Leo acordara, e não se cansava de observar a garota dormindo tranquilamente. Parecia tão em paz, sem nenhum problema, o que não era verdade. Provavelmente, ela acordaria, jogaria alguma coisa nele, e sairia. Por essa razão, Leo queria aproveitar cada milésimo de segundo daquele momento, sem nenhuma exceção.

"– O problema não é que ele não gosta de mim, ou coisa assim. - Ela reclamou. Estava mais bêbada do que antes, e Leo também já havia ingerido alguns copos da bebida. Aparentemente, ou ela estava bêbada demasiado, ou com a cabeça cheia demais, pois não via nenhum problema em conversar normalmente com o garoto. - Eu também estava pensando em terminar o namoro, de qualquer forma. O real problema é o fato de ele ter mentido e me feito de idiota.

– Você estava pensando em terminar o namoro? - O garoto perguntou, uma ruga de surpresa se formando em sua testa e seu sorriso se alargando.

– Há um tempo eu percebi que Jason não é um príncipe encantado. - Respondeu, alheia à alegria do garoto. - E, de qualquer forma, eu gosto de outra pessoa.

– E quem seria essa pessoa? - Leo perguntou, curioso. Reyna pensou por alguns segundos, o álcool atrapalhando seu raciocínio. Então, num movimento quase rápido demais, ela se levantou.

– Está ficando tarde, é melhor eu ir. - Declarou, e se virou para começar a andar. Leo se levantou também, tropeçando em seus próprios pés por causa da bebida, e segurou o pulso da garota, forte o suficiente para que ela parasse, mas tão leve que com um único puxão ela conseguiria se livrar.

– Você me disse que seu pai não gosta que chegue bêbada. - Ele lembrou-se. - Venha para minha casa, então."

Reyna se mexeu e resmungou algo, antes de abrir seus olhos. Olhou ao redor, confusa, até que chegou ao rosto do garoto, que tinha um sorriso de canto e olhos que carregavam uma certa ansiedade. Lentamente, as lembranças voltaram para sua cabeça, como em um filme, e ela se afastou do garoto, cujo sorriso desaparecera.

"– Aqui é inesperadamente limpo. - Ela observou. - Eu imaginava isso aqui como um lixão.

– Isso quer dizer que você imaginava como era meu apartamento? - Ele perguntou com um sorriso convencido. Ela apenas fez uma careta, sem responder, e andou até o sofá, se jogando no mesmo com uma gargalhada contagiante, que fez Leo rir também.

– Think I can fly, think I can fly when I'm with u.– Cantou, desafinada.

– My arms are wide, catching fire as the wind blows.– Leo continuou. Reyna levantou a cabeça para ele, e, como o movimento foi rápido, acabou vendo três Leo's, o que a fez rir, pensando que mal conseguia se segurar com um.

Olhou para o teto mais uma vez, pensativa.

– Vamos fugir? - Perguntou. Leo franziu a testa. - Vamos fugir para algum lugar, por esta noite.

– Você está bêbada. - Foi tudo o que ele disse. Reyna se sentou, olhando fixamente nos olhos do garoto.

– Você também está. - Ela sorriu. - Nós temos que aproveitar, não temos?

Se encararam por alguns segundos, ambos tentando imaginar o que se passava na cabeça do outro.

– Mesmo que eu concorde com essa ideia maluca, para onde você pretende ir? - Perguntou, sem acreditar que realmente pensava na possibilidade de fugir com ela.

– Tem uma praia aqui perto. - Ela disse animada, se levantando. - Vamos, não é longe."

Ainda sem saber o que fazer, Reyna se levantou, puxando a blusa - que lhe era quase um vestido - para baixo, e começou a andar de um lado para o outro na areia. Leo a observava, sem ter coragem de falar nada. Não sabia como ela reagiria, não sabia o que deveria fazer, então apenas se sentou, apoiando-se em seus braços.

"– Vamos nadar? - Reyna perguntou. Os olhos de Leo se arregalaram.

– A água deve estar gelada! - Exclamou. Ela riu, tirando a blusa.

– Perfeito. - Sorriu, enquanto tirava a saia e jogava perto de onde antes deixara seus sapatos, então começou a andar na direção do mar. - Você vem?

Leo tentou pensar, mas a visão da garota usando apenas roupas íntimas e o álcool o impediram. Tirando a blusa e a calça, começou a correr atrás dela.

Reyna já estava com água na metade da cintura, e riu quando Leo deu um pequeno pulo ao entrar na água fria. Nadou até ela, agradecendo pelas ondas não estarem muito altas. O garoto tremia de frio, enquanto ela não parecia se importar com aquilo. Rindo dele, Reyna jogou água em seu rosto, iniciando uma pequena guerra, que acabou quando o garoto a puxou pela cintura, beijando-a sem pensar no que estava fazendo."

Por fim, ela se sentou no chão, na frente do garoto, e abraçou suas próprias pernas, escondendo sua cabeça. Só depois de alguns segundos, Leo se deu conta de que ela chorava. Tomando coragem, engatinhou até ela, passando as mãos em seu cabelo e falando palavras em espanhol, para acalmá-la.

Perderam a noção de quanto tempo ficaram daquele jeito, mas Reyna se acalmou aos poucos. Um tempo depois que suas lágrimas já haviam secado, levantou a cabeça, olhando nos olhos de Leo.

– Eu te disse ontem que gosto de alguém, que não é o Jason. - Lembrou. Leo balançou a cabeça, concordando. - Você sabe quem é?

Leo olhou para o chão e negou com a cabeça. Reyna prensou os lábios, pensando por um segundo no que iria fazer, antes de levantar o queixo do garoto de orelhas pontudas e dar-lhe um selinho. Leo arregalou os olhos, seu coração batendo mais rápido do que o normal. Pensou em se beliscar, para ter certeza de que não estava sonhando, mas achou que aquilo não seria legal. Ao invés disso, se inclinou para frente, aprofundando o beijo.

Quando se separaram, Reyna sorriu para ele e se levantou, pegando sua roupa e tentando sacudir a areia de seu corpo.

– Rey? - Leo chamou. Ela se virou para olhar para ele. - Você disse ontem que a coroa tinha caído e o trono não existia mais, certo?

Reyna balançou a cabeça, concordando. Leo mordeu o lábio, deixando um sorriso divertido escapar.

– Você deixaria que eu recolocasse a coroa em sua cabeça e construísse um novo trono? - Perguntou. O sorriso de Reyna poderia ter rasgado seu rosto.

– No final, o Chapeleiro quem sempre fora o mais fiel a Rainha Branca. - Disse. Leo riu e se levantou, puxando a garota para si e dando-lhe um beijo na testa.

– Seu Chapeleiro estará aqui para sempre, minha Rainha. - Sussurrou, antes de encostar seus lábios aos dela.