Vi a indecisão em seus olhos, mas além disso vi algo que me fez perceber o quão egoísta eu fui pensando só no Ian. Nate também a havia perdido e duas vezes, na primeira para o melhor amigo e na segunda vez para o destino. Não sou idiota. Tenho certeza que ela é a garota pela qual eles brigaram. Me fazendo pensar, quais eram os motivos de Eva para se suicidar.

Isso é o que acontece quando se envolve com Ian. Essas foram as palavras de Cassandra, será que o Ian tinha algo haver com a morte dela? Por isso ele era tão... ele?

— Acho que seu namorado não vai gostar disso. – Nate me tirou de meus pensamentos.

— Depois eu me resolvo com ele. – me concentrei nele. – O que faz aqui sozinho?

— Estou... estudando. – levantou o livro em suas mãos para dar ênfase.

— Hum. – o encarei e um silêncio surgiu entre nos, eu não sabia como começar. Eu já tinha perdoado o Nate, na verdade não tinha o que perdoar, já que quando ele ficou com a Yasmim não estávamos juntos e eu queria realmente que voltássemos a ser amigos, só não sabia como fazer isso sem quebrar o acordo com o Ian. – Sinto muito.

Ele me olhou sem entender. Nem eu sabia o porque de ter dito isso, talvez eu estivesse com pena dele, querendo ou não, ele foi o que mais sofreu.

— Você gostava muito dela. – não foi uma pergunta.

Ele sorriu amarelo.

— Não estou te entendendo Lise.

— Eva, eu estou falando da Eva.

— Não quero falar disso com você. – ele começou a juntar as suas coisas.

— Não espere. – suspirei pesado. – Eu só queria me desculpar pelo incidente no shopping, eu não devia ter sido grossa com você.

Ele me encarou.

— Tudo bem, a culpa foi minha, seu eu... – parou deixando a frase morrer.

— Eu sei. – sorri sem graça. – Pensei que talvez pudéssemos começar de novo.

— Acho que não vai ser uma boa ideia.

— Eu sei. - murmurei. - Mas eu não tinha o direito de ficar com raiva de você, nos não éramos nada um do outro.

— Lise, eu te entendo, se fosse ao contrário eu faria o mesmo que você. – ele se aproximou pegando minhas mãos que estavam em cima da mesa. - Eu me arrependo do que fiz, na verdade me arrependo de muitas coisas, mas agora não tem mais volta e se você aceita um conselho, seria melhor para você ficar longe de todos nós. Não sairá nada de bom disso e quem mais tem a perder, é você.

Por que todo mundo quer me afastar?

— Não tenho medo. – disse puxando minhas mãos. Aquela proximidade me deixou desconfortável.

— Eu sei. – sorriu amarelo.

— Não vou me afastar.

— Eu sei.

— Então... amigos?— estendi minha mão.

— Amigos. – ele apertou a minha mão estendida, beijando a palma no processo. Um arrepio subiu pela minha coluna e puxei a mão rapidamente. – O Ian não vai gostar nada disso.

— Como disse anteriormente, depois eu me resolvo com ele. – e esperava realmente que eu conseguisse amansar a fera, porque quando ele descobrisse o que eu fiz, não vai ser legal.

Ficamos mais algum tempo conversando até que o sinal tocou e percebemos que era a hora do almoço. Nos despedimos e procurei por Monique e Ian, mas não os avistei em lugar nenhum. Onde será que eles estão?

***

O almoço foi calmo e solitário, Ian e Monique estavam desaparecidos e eu estava indecisa sobre mandar uma mensagem para ele. Qual é, vai que ele ache que eu sou uma namorada de mentirinha grudenta. Estava nesse dilema quando Monique se materializou na minha frente, me dando um susto.

— Nossa. – suspirei pesado com a mão no coração. – Não faz mais isso.

— Desculpe. – disse sorrindo. – O que você está fazendo?

— Eu que faço as perguntas aqui. Onde você estava?

— Bem, eu estava na primeira aula, mas você não apareceu. Nem na primeira, segunda... – a cortei percebendo que a desaparecida havia sido eu.

— Tá. Já entendi, eu que não fui as aulas. Estava na biblioteca. – conversando com o Nate.

— Te procurei por todo lugar, mas você não estava. – murmurou esperando uma resposta mais completa, mas ela teria que se contentar com isso.

— Tudo bem, onde está o Ian? Ele não veio hoje?

— Veio. – murmurou.

— E onde ele está?

— No deposito. - disse cabisbaixa.

— E onde é esse deposito?

— É a mesma sala que ele te levou no outro dia.

Eu lembrava dessa sala. Eu pensava que era de musica.

— E o que ele está fazendo lá? – perguntei franzindo o cenho.

Meus pés se movimentaram sozinhos e quando dei por mim estava em frente a porta da sala, abri sem pensar duas vezes e encontrei um Ian distante com o olhar fixo numa parede a sua frente, mas precisamente uma estante de vidro.

Na primeira vez que estive nesta sala não havia reparado nos diversos objetos que havia ali, eu só havia pertado atenção nos instrumentos musicais me fazendo pensar que era a sala de musica, mas não era, era um deposito e o que mais chamou minha atenção foi o ponto para onde ele olhava. Me aproximei da estante cautelosa, pelo canto do olho vi quando ele percebeu minha presença, peguei o quadro com a foto de uma garota ruiva, já tão conhecida por mim com uma medalha e roupa de natação, seu sorriso era lindo e contagiante, mesmo por uma foto tive vontade de compartilhar de sua alegria, mas o que mais me intrigou foi a escrita abaixo.

Eva Lopez, campeã Nacional de Natação 2014.

Se Eva sabia nadar, como ela conseguiu se afogar no rio? Não teria sido um acidente ao invés de suicídio como a polícia pensava? Não que seja impossível, mas essa história está tão estranha.