S. O. S escrita por PeKs


Capítulo 1
Capítulo Único - S.O.S


Notas iniciais do capítulo

~ Boa Leitura



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Luana pegou a pequena folha de papel, leu calmamente seu conteúdo, e sentiu uma lágrima escorrer pelo rosto magro e pálido. Seus cabelos escuros impediam que a sua face fosse observada claramente, mas o vento forte que entrou na sala afastou os fios para que a sua expressão pudesse ser contemplada por si mesma através do espelho à sua frente. Ela estava com calafrios, e as gotas escorriam de forma descontrolada, mas não sabia se era tristeza ou profunda alegria. Cansou de analisar seu rosto inchado e começou a pensar nas feições de seu amor: a pele suave, os olhos castanhos, os lábios macios e tudo o mais que a faziam se apaixonar.

Cada milímetro do seu corpo ardia enquanto ela pensava no significado daquela mensagem. Tanto sentimento reprimido em um pequeno papel que agora explodiam de dentro de seu interior. O que antes parecia carnal, sujo e detestável, agora aparentava puro e afável, como um algodão doce de cereja que derrete entre a língua e o céu da boca, espalhando o sabor e a essência enquanto desaparece com a matéria. Por cada segundo em que pensava, a ideia de sucesso e esperança se ampliava e mostrava-se cada vez mais palpável, real e indubitável.

Guardou o papel no bolso junto a seu orgulho e saiu de casa imaginando um reencontro fantástico após um longo período de dúvida e distância. Luana passou pela porta e a fechou. Enquanto girava a chave, sentia-se selando um acordo de que tudo ocorreria perfeitamente, sem segundas chances.

O primeiro passo dado ao sair de casa fora o mais difícil, contudo os outros que se seguiram foram naturais, automáticos e repletos de devaneios gentis. A calçada assemelhava-se a uma rodovia livre e preparada para altas velocidades, na qual a garota fazia questão de caminhar devagar para aproveitar cada segundo da viagem. O por do sol que estava à sua frente era brilhante e a chamava como uma luz no fim do túnel que sempre buscara e que finalmente encontrava, representando, de mesmo modo, a luminosidade que sempre era refletida das pupilas comumente dilatadas de quem ela amava. O vento forte fazia com que seus longos cabelos castanhos voassem e que suas pálpebras trabalhassem arduamente para se manterem abertas, como quem se prepara um profundo sono, aguardando um sonho maravilhoso.

Tanta euforia que se construía naquele momento vinha de poucas palavras misteriosas em uma carta que foi interpretada da forma mais otimista, preenchida de sentimento e sincera possível. Mas, quanto maior a altura, maior a queda. O egocentrismo daquela situação foi se mesclando com o julgamento insensível das pessoas na rua e a rápida rodovia foi se transformando em uma grande montanha que deveria ser escalada.

Ninguém falava nada nem pensava de nada, mas a jovem sabia, sentia e ouvia os comentários de todos em sua mente, como se fossem pronunciados, sílaba a sílaba, por sua própria voz. A sua identidade e seu ego dançavam incansavelmente com a sua razão, e Luana já não podia definir o que era o quê, muito menos quem era ela mesma naquele instante. Parou a caminhada. Estava enganada? Certa? Errada? Confusa? Perdida? Segura? Confiante? Arrasada? Sincera? Mentirosa? Amada? Odiada? Aceita? Esquecida? Julgada? Morta ou viva?

Lembrou-se da chave e do papel em seu bolso. Podia ser tudo um grande engano, no entanto não havia dúvidas daquilo que ela tanto se preparara para fazer. Não havia mais opção de desistir, reprimir ou continuar em conflito eterno, perpetuando cicatrizes e estigmas na sua alma. Mesmo que nada tivesse sido feito, armado ou planejado para chegar àquela situação, o momento acontecia e não havia razão em fugir, esquivar ou continuar evitando a certeza e o fulgor caloroso que inundavam sua mente. Focou nos olhos que não eram seus, cheios de paixão, e seguiu de corpo erguido e horizonte direcionado. Enquanto caminhava, sentia que as pessoas na rua eram tratadas como meros figurantes desfocados durante o clímax de um emocionante filme, quando a avenida vira personagem e os personagens saem do controle narrativo e desenvolvem vida própria dentro de um universo criado.

A longa distância, mas curta, direcionava a uma pequena casa no fim daquela rua. Os azulejos brancos refletiam a luz do crepúsculo vespertino, o segundo andar fazia Luana se sentir pequena, e a porta de metal a separava de seu almejado destino de maneira eficaz. Tensão. Luana levantava o braço para tocar a campainha e dar fim àquela insegurança e desconforto. “Ding-Dong”. O som suave e irritante do aparelho parecia muito alto, como se um fone de ouvido no volume máximo estivesse em seu ouvido, e as vibrações sonoras percorressem todo o seu corpo, provocando uma arritmia psicológica incontrolável. Um momento. Alguns barulhos de chaves, passos, pegadas, vento e portas movendo começaram a se organizar em harmonia, imitando uma terrível orquestra preparando-se para o seu ato final. Só restava esperar a última nota do concerto.

Chave inserida na fechadura do outro lado da porta. Respiração pesada. Molho de chaves soando circularmente. Nó na garganta. Maçaneta se movendo. Arrepios. Olhares.

Quando ambas as visões se encontraram, não foram preciso palavras, papéis ou qualquer outra coisa para definir uma mensagem que já havia sido enviada e recebida. Os corpos se tocaram, os braços se entrelaçaram, um abraço foi compartilhado, e as personalidades foram salvas durante aquele suspiro rápido, momentâneo, sincero e apaixonado. As perguntas que se faziam eram respondidas sem respostas, sendo simplesmente jogadas ao vento e devolvidas com ternura e gentileza que nunca havia sido sentida por nenhum daqueles seres humanos. Com tanto sentimento, só havia uma única coisa que restava a Luana para ser dita:

- Olívia!

O papel caiu do bolso de Luana. No chão, as palavras grafadas de caneta azul com caligrafia mal elaborada eram quase ilegíveis. Não havia emissor, destinatário ou outra indicação de quem enviou ou o propósito do texto. Todavia, independente daquele mistério, o momento valia a incerteza de uma mensagem repleta de sentimento único, autêntico e puro.

S. O. S, eu te amo.


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Notas finais do capítulo

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