And In This Pool Of Blood escrita por gaara do deserto


Capítulo 21
Meia-noite


Notas iniciais do capítulo

sem notas hj...



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Depois da minha breve conversa com meu querido amigo pigmeu, Way pediu pra falar com ele e para eu sair. Um pouco incomodada com isso, saí, mas fiquei no mesmo corredor tentada a ficar ouvindo atrás da porta.  Sorte minha era que a Jamia não estava lá. Encostei-me na parede, olhando para o vazio, esperando aqueles dois terminarem de confabular seus planos malignos. Continuava pensando no que fazer.

"Way pegara novamente o livro e recomeçara a lê-lo. Me levantei da cadeira, pois não havia mais motivos para conversar com ele.

- Ah, Natallie - disse Way, de repente - Espero que você também não se esqueça por quem eu faço isso."

Seria realmente pelo Frankie? Ou pelo Way mesmo? Pela Jamia?

"Apague ‘Jamia\'. Claro que não é por ela..."

Ri disso, sozinha naquele corredor. A música tocava com força no saguão.

"Que coisa divertida..."

Podia sentir o impacto dos pés das pessoas que pulavam ao ouvirem o som pesado da música.

"My reflection, dirty mirror / there\'s no connection to myself / I\'m your lover, I\'m your zero / I\'m the face in your dreams of glass / so save your prayers..."

Gostava daquela música. Fechei os olhos, sentindo-a emparelhar com minha audição. Era uma sensação muito boa.

"... she\'s the one for me / she\'s all I really need / cause she\'s the one for me..."

- Natallie?

Reabri os olhos. Frankie falara comigo. Way estava parado no portal, sorrindo de me ver sozinha lá.

- Viu a Jamia? - perguntou Frankie.

- Ah... ela deve tá no saguão, porque quando vim pra cá, ela não tava aqui.

- Tá, então vou procurar ela... E - acrescentou sussurrando - meia-noite. Não esqueça...

- Okay...

Ele saiu rápido, sua capa de vampiro esvoaçando por causa do vento que entrava pela porta aberta da sacada.

- Zero, não é? - perguntou Way, quando Frankie desapareceu.

Concordei com um aceno.

- Não sabia que gostava de Smashing Pumpkins, Natallie.

- Você não sabe de muita coisa, Way.

Ele continuou sorrindo, não fazendo caso com a minha resposta.

- Então estamos empatados - disse ele, chegando perto - Você também não sabe de muita coisa.

- Isso é uma decisão minha. Não quero mais discutir com você.

- Por quê? Cansou?

- Talvez - respondi, simplesmente. Sentia-me pouco a vontade de estar novamente sozinha com ele.

- Voltemos para a festa, então - disse Way, sorrindo maliciosamente - Mas antes...

- O quê?

Ele levantou a mão e, suavemente, com um toque de sua pele fria no meu rosto, rearrumou uma mecha do meu cabelo para trás da orelha.

- Bem melhor, vamos.

Aquilo me deixou realmente surpresa. Prendera a respiração em meio a esse momento confuso. Sentira arrepios.

- O que foi, Natallie? - perguntou, sorrindo ainda mais.

- Nada - respondi, saindo do lugar.

Andamos de volta ao saguão. As pessoas pulavam que nem malucas, bebendo e fazendo o que se faz numa festa. Não me pergunte o que é, não direi nadinha.

*^ ^ Brincadeira...*

Olhei para os lados, me perguntando onde Frankie teria ido.

- Aê, Gerard! - veio uma saudação da direita. Olhei para quem falara com o Way. Era um de seus colegas transgressores, Ray.

Way riu ao vê-lo, pois ele usava correntes nas mãos, como um fantasma.

- Assustador - disse Way, rindo para ele.

Ray também riu, mas parou quando me viu. Lembrei-me que ele fizera a minha caveira para os outros colegas do Way.

- É... oi, Hill - cumprimentou ele, indeciso.

- Oi.

Way ria com mais vontade quando apareceu outra pessoa lhe chamando. Dessa vez era o garoto loiro, com cara de poucos amigos, que eu raramente via por ele estudar na classe de Frankie. Ele vinha com uma roupa normal, calça jeans, camisa de manga comprida preta e uma jaqueta por cima.

- Do que você veio, cara? - perguntara Ray, olhando visivelmente confuso para o garoto.

- Por quê? - indagou ele - Era pra vim de alguma coisa?

- De uma olhada em volta - disse Way, indicando as pessoas.

O garoto olhou, não demonstrando entendimento.

- O que é que tem? - perguntou.

Way e Ray se entreolharam, como se estivessem pensando a mesma coisa. Olhei para o garoto, que continuava não entendendo nada.

- Quem é ele? - perguntei baixinho para o Way.

Ele fez uma cara de intrigado.

- Por que você quer saber? - indagou, desconfiado.

- Me lembra você num estado mais primitivo.

Way pareceu mais satisfeito com minha resposta.

- É o Bob - respondeu, quando Ray saiu de vista com o loiro - Nem adianta você falar alguma coisa pra ele, demora séculos para chegar ao planeta que ele habita.

- Por isso lembra você - comentei, num tom de entendimento.

Ele riu novamente.

- Sabia que ia valer a pena trazer você, Natallie.

Antes que eu respondesse qualquer coisa, mais uma pessoa chamara Way. Dessa vez, era um garoto magricela e de oculos que eu supunha que só poderia ser seu irmão, pois ambos tinham o mesmo nariz e a mesma expressão de estar aprontando algo.

- Onde você tava, Mikey? - perguntou Way, quando ele se aproximou, fantasiado de doutor.

Mikey pareceu levemente incomodado com a pergunta.

- Não é da sua conta - respondeu, rispidamente, manchas vermelhas surgindo em suas bochechas.

Lembrei-me que era o garoto de que Frankie falara que tinha sido atacado pelo time de natação.

- E então? - perguntou ele ao Way - A hora está chegando, não?

Way consultou o relógio.

- Falta pouco - respondeu para o irmão.

Mikey sorriu maliciosamente, numa quase imitação de Way. Mas como Ray, parou repentinamente quando me viu.

- Essa é a Natallie - disse seu irmão ao ver sua expressão de espanto.

Cruzei os braços, pouco me importando.

- Essa não é a garota que você...? - começou, mas Way o imterrompeu.

- Vá buscar uma cerveja pra mim - ordenou.

- Tá pensando que eu sou seu empregado?! - exclamou Mikey, furioso.

- O irmão mais velho manda quando os pais não estão, se lembra? - retrucou Way.

Mikey abriu a boca para responder, mas fechou-a depois, derrotado. Saiu de perto, olhando para o irmão com raiva.

Começara outra música.

- Quer dançar, Natallie? - perguntara Way, de repente.

"O que tenho a perder?"

- Okay - respondi. Ele ficara surpreso com minha concordância. Nos misturamos com o resto do pessoal que dançava, pulava e se divertia.

"As you look through my window / Deep into my room / At the tapestries all faded / Their vague and distant glories / Concealed in the gloom / The icy fingers of forgotten passions / Softly brushing my lips / At the tips of my primitive soul"

Ao sentir uma energia passar pelo meu corpo com aquela música, percebi que meu ódio por Gerard Way havia se tornado mais leve. Porém, de modo algum extinto.

Tinha que organizar minha cabeça.

"Bert..."

Tinha que organizar... minha cabeça... O que tá acontecendo comigo?

11 horas. Faltava pouco para a meia-noite.

Paramos. Sentia-me exausta. Sorte que o dia seguinte fosse sábado e não um dia de aula.

- Cansada? - perguntou Way, quando sentei em um sofá que havia perto. As outras pessoas pareciam não se cansar.

- Um pouco - respondi, alisando as dobras da saia-vestido. Way sentara ao meu lado e sabia, mesmo não olhando para ele, que estava me observando.

Mikey voltara.

- Imbecil, toma - disse, jogando uma garrafa de vidro para o irmão. O outro não fez caso, pegou-a e murmurou um rápido "obrigado". Logo Mikey sumiu novamente.

Tentava encontrar Frankie no meio daquilo tudo, mas achava que ele não estava lá.

- Dança bem, Natallie - disse ele, simplesmente, continuando a beber.

Olhei para o teto, querendo por tudo que meia-noite não tardasse em chegar. Tinha que voltar para cãs e esquecer que havia isso com o Way.

Precisava também decidir o que contaria e que o que não contaria para Bert. Tinha certeza que ele não gostaria de saber que fora com Way.

Tornei a olhar para aquela massa de pessoas. Várias delas em vez de estar dançando estavam subindo para os andares superiores, com se a casa lhes pertencesse.

- Tá procurando alguma coisa? - perguntou uma voz que de repente me trouxe a realidade.

- Talvez, pigmeu. - respondi, mau-humorada, quando Frankie sentou do meu lado. Way sumira.

- Ele foi procurar o Ray e o Bob - comentou Frankie em resposta a pergunta que eu não tinha feito.

- E cadê a Jamia? - perguntei, rindo por vê-lo sozinho.

Frankie se recostou no sofá, fechando os olhos.

- Parece que uma das coleguinhas tá aí. Acho que foi procurá-las.

- Sei...

Ficamos conversando enquanto Jamia não estava por perto, aliviados.

- Vi você dançando com o Gerard - disse ele subitamente - Que é que tá acontecendo? Pensei que você o odiasse...

- Cala a boca... Senão fico sem te ajudar.

- Okay, já parei...

Mas seu olhar congelou ao olhar para o relógio em seu pulso.

- Droga... é-é agora, Natallie - gaguejou ele - Você já sabe o que vai fazer.

- Acho que sim - respondi, nervosa com o que havia pensado.

- E o que é? - indagou ele.

- Você vai ver.

Do nada, Way apareceu.

- Bem, Natallie - começou ele, cruzando os braços - Frankie tem que fazer algo agora, não é, Frankie?

- É... - concordou ele, se levantando e lançando um olhar preocupado para mim. Como Way olhava para os lados, aparentemente procurando o resto de seus colegas transgressores, não percebeu nada.

Levantei-me também, na hora em que Jamia apareceu, pulando no pescoço de Frankie. Way olhou-o de forma engraçada, algo entre pena e hilariedade.

- Vamos? - perguntou ele, olhando de volta para mim. Acenei com a cabeça.

Todos voltaram para o saguão, até os que estavam lá em cima. Frankie subira as escadas, visivelmente nervoso.

Ficamos parados lá, esperando seu discurso. Jamia olhava o namorado com certa curiosidade. Dava aleluias por ele não estar me olhando.

- Bem, acho que a maioria de vocês não sabe por que está aqui - começou meu querido amigo - Mas, saibam: estou fazendo dezesseis anos! Sei que isso não é nada especial e...

Ele continuou tagarelando e isso me deu tempo para olhar para o Way e perceber quando ele daria o sinal para Frankie dizer o que pretendia.

-... E já que vocês se encheram de cerveja, comeram bastante em todos os sentidos - ao que a maioria das pessoas riu com gosto - Tá na hora de dizer uma coisa muito importante...

Way olhou-o, dando um alerta de que a hora chegara. Frankie entendeu e desviou seu olhar para mim. Entendi também.

- Não sei se a maioria vai gostar, mas eu vou com certeza.

Era a hora.

Saí correndo. Tentava não atrair a atenção das pessoas erradas, pois só havia uma que interessava.

Parei ao dobrar para o corredor da sacada. Olhei para trás. Conseguira.

Voltei a correr até chegar à porta de vidro.

- Na-natallie...! O que deu em você...?!

Abri a porta, não me importando com os gritos do Way. Parei junto ao parapeito e olhei para baixo. Não era alto. Pulei.

- Natallie! Volta aqui...!!!

A queda foi macia, por causa da neve. Continuei correndo e me permitindo por ter dado tão certo. Mas não havia mais para onde correr. Chegara ao fim, um muro de tijolos vermelhos que separava o jardim dos Way e as casas seguintes. Encostei-me no mundo, esperando.

E lá vinha ele, correndo, confuso. Mas meu intento estava garantido. Frankie não diria nada, nada sobre o plano, nada sobre Jamia. Restava saber o que ele inventaria.

- O que... deu... em você! - exclamou Way, correndo até parar, no muro de pedra.

- Nada - respondi, de forma aparentemente inocente.

- Nada? NADA? Você sai que nem uma maluca da festa, pula um parapeito e me faz correr até aqui por NADA?

Ri de sua expressão. Depois lhe dei as costas. Sentia Way respirar em arquejos, ofegante.

- Isso não vai dar mais certo, Way - sussurrei, de forma gélida.

- O quê? - perguntou sem entender - O que não vai dar mais certo?

- Seu plano, ora...

- Por que não? Frankie já deve ter falado e...

- Ele não vai dizer nada - interrompi-o, ainda com a frieza na voz.

- Como sabe?

Ri sarcasticamente. A neve caia com mais força do que no começo da noite.

- Você não consegue imaginar?

Ele calou-se. Podia sentir que ainda estava confuso com minha correria.

- Do que está falando, Natallie? - perguntou ele.

- Ele se apaixonou. - respondi.

- Do que está falando, Natallie - Way repetiu a pergunta.

Virei para ele, e o ódio voltara.

- Não está obvio?! É do Frankie! Ele se apaixonou pela Jamia e é por isso que seu planinho idiota não vai dar certo, porque ele gosta dela!

- Lógico que não.

- É lógico que sim. E sabe o que você vai fazer?

- O quê?

- Vai deixá-los em paz. É isso. Se você tem um pingo de vergonha na cara.

Ele calou-se novamente, incrédulo no que tinha acabado de ouvir.

- Por que ele se apaixonaria por uma garota mimada como a Jamia?

- E é a mim que você pergunta? Você armou tudo isso. Agora você vai deixá-los em paz.

Way parecia irritado com o que havia escutado.

- Não acredito que vai me dar lição de moral, Natallie.

- É o que você precisa, Mas não vou gastar meu tempo com isso.

Ele riu, sarcástico.

- Tempo! Seu precioso tempo! Adora gastar ele com outra pessoa, não é?! Isso não é dá sua conta!

- Só por que a vida pode se moldar do jeito que você quer?

Ele pareceu assustado.

- Onde você ouviu isso?

- Rachel. Você adora tortura-la, não é? Por que você faz isso com a vida das pessoas, Way?! Por que adora estragar tudo?

- Cala a boca. Já disse que não vou ouvir sermão de você.

- Então responde.

Way olhou para o céu, onde a neve caia em abundancia.

- Não adianta - sussurrou de repente, sua voz se tornando mais humana - Eu nunca consigo o que quero.

- Será mesmo?

Ele riu sem sarcasmo e olhou para o chão, balançando a cabeça.

- É. Eu nunca vou conseguir, se é o que quer saber. É por isso que faça isso. Pra esquecer que nunca vou conseguir...

- O quê? - perguntei, assustado com a repentina mudança dele - O quê não vai conseguir?

- Será que não está obvio? - perguntou, olhando-me.

Me sentia espantado com isso. Agora eu não entedia nada.

- Sabe, Natallie, até que não somos tão diferentes.

- Por quê?

- Você não tem pais. Pra mim, é o mesmo também. Os meus podiam estar mortos e não faria diferença.

- Hã?

- Mas pelo menos tem alguém que te ame. Várias pessoas.

Não conseguia entender onde ele iria chegar com isso.

- Eu já tive alguém que se importava comigo. Mas ela já morreu. Estranho como isso acontece...

- Quem?

- Minha avó. Ela era como a sua. Como uma mãe... talvez eu tenha sido realmente um mau garoto...

Ele parecia perturbado, por que falava coisas desconexas. Senti medo e pena de vê-lo assim. Não sabia o que fazer.

- Por que me odeia tanto?

- Eu já disse...

- Esquece - interrompeu ele, passando a mão pelos cabelos - Você tem razão. Sou um idiota. É por isso que o McCracken merece você.

- O que você não vai consegui - tentei insistir.

- É, o McCracken merece você, ele não é como eu... ele...

- O que você quer dizer com isso?

- Tomamos caminhos diferentes, Natallie. Você soube lidar com seus problemas. Eu não - e continuou passando as mãos pelos cabelos, desesperado.

Sabia o que tinha que fazer. Entendia Way.

Fui até ele. Chegando perto, segurei suas mãos, forçando-as a voltarem ao normal. Ele pareceu surpreso.

Beijei-o.


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Notas finais do capítulo

Sem historinhas hj tbm....



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