Sinceridade escrita por Blyez


Capítulo 2
Capítulo 2: Cuidados




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/633278/chapter/2

Não houve erro: a Sra. Weasley logo havia pedido aos filhos, Harry e Hermione para que limpassem a cozinha enquanto ela se juntava aos outros na reunião da Ordem. Como punição pela bagunça, Jorge fora obrigado a não usar magia e dar o retoque final a cozinha quando todos tivessem acabado. Por solidariedade, Fred abdicou de sua varinha – pois Molly disse que lhe devolveria apenas para ajudar na limpeza – e juntou-se ao irmão na difícil missão de arrancar o melado das paredes e do teto.

Acabou sendo um trabalho demorado necessitando de paciência: pior do que grude, o doce deixava uma camada gordurosa de onde era retirado, e exigia o dobro de poções para limpeza até sair todo. Rony insistia em falar sobre Fleur mesmo quando ninguém lhe perguntava nada ou soltasse qualquer comentário sobre o quão perfeita a garota era, bastava que a cozinha mergulhasse no silêncio por mais de cinco minutos que ele desatava a falar. Até mesmo Harry estava começando a se irritar com o falatório, aquilo ficou bem claro quando ele usou magia para rasgar seu pano de limpeza em dois pedaços e enfiá-los nos ouvidos. Os gêmeos até consideraram em prender a cabeça do irmão dentro da panela onde estavam recolocando o melado, mas Gina os impediu quando disse que iria matá-los se os obrigassem a recomeçar a limpeza.

Fred olhou por sobre o ombro enquanto se esticava sobre uma cadeira para alcançar o teto e reparou na expressão de Hermione: não era de cansaço ou tédio ou até mesmo irritação, era infeliz. Franzindo o cenho, ele voltou sua atenção para a mancha de melado sobre sua cabeça: Hermione raramente ficava triste, normalmente seu humor só ficava infeliz quando envolvia notas ou Monstro sendo tratado mal, talvez até mesmo quando sabia de notícias ruins sobre alguém da Ordem, mas durante limpeza? Esticou o braço um pouco mais apoiando um dos pés nas costas da cadeira.

–Jorge, me ajuda aqui. Segure a cadeira. – disse ele quando sentiu seu equilíbrio vacilar.

–Estou ocupado. – respondeu ele quando localizou outra poça de melado embaixo do armário. – Rony, vá ajudá-lo.

Rony, feliz por finalmente largar o pano e poder se esticar, segurou a cadeira onde o irmão mais velho estava.

–...então duas semanas depois da primeira tarefa nos esbarramos na fonte do pátio principal: ela estava linda, sabe? Tem as bochechas realmente rosada pra quem não pega sol. Não consegui falar alguma coisa, mas valeu totalmente a pena, porque...

–Rony, se disser mais uma palavra sobre essa garota, juro que você vai ser a próxima coisa a explodir nessa cozinha. – grunhiu Fred revirando o pano na mão e esfregando com mais força o teto.

–Nem pense nisso! – ralhou Gina finalmente acabando de lavar os garfos, facas e colheres. – Nem acredito que acabei com isso aqui. Quem foi o idiota que deixou a gaveta de talheres aberta?

–Culpado. – gritou Jorge sob o armário.

–Não seja tão mal educado! – retrucou Rony para Fred. – ninguém reclamou quando você falava sobre Angelina ano passado.

–Porque meus comentários se resumiram a um dia, seu babaca. – Fred pôs-se nas pontas dos pés alcançando seu último trecho de melado – E pelo menos o que eu tinha a dizer era mais interessante sobre alguém de beleza não questionável.

Aquilo foi o suficiente para Rony pregar um susto no irmão e sacudir a cadeira. Ele apenas queria dar a Fred medo para não fazer aquele tipo de brincadeira enquanto ele o ajudava, porém seu irmão não conseguiu manter o equilíbrio e caiu sobre a pia, o som horrível de algo duro batendo no mármore da bancada fez a todos ficarem em um silêncio mortal.

Jorge foi o primeiro a se recuperar, atirando Rony para longe do caminho e segurando o irmão gêmeo nos braços. Os outros se reuniram em um círculo em torno de um Fred desacordado enquanto Rony perdia a cor do rosto e gaguejava:

–E-Eu...eu estava brincando, eu não queria....

–Eu juro que vou jogar uma saca de aranhas na sua cama assim que você dormir! – urrou Jorge – Olha o que você fez!

–Eu não queria! Juro! Não achei que ele fosse cair.

–Rony, dessa voz você foi longe demais! – Gina segurou o irmão pela gola da camisa e sacou a varinha e a apontou para seu rosto assustado. Ela sabia que não tinha permissão para usar magia, porém sua raiva falava mais forte.

–Oh, saiam da frente. – Hermione empurrou os dois para o lado e procurou alguma coisa no armário de conservas enquanto Jorge dava tapinha no rosto do gêmeo e tentava reanimá-lo. Ela voltou com um pequeno frasco cheio de uma solução verde pastosa e retirou a rolha sobre o nariz de Fred. Quando ele inspirou, tossiu com força e encolheu-se contra o irmão com uma crise de espirros.

–Que droga é essa? – resmungou, esfregando o nariz violentamente – Parece o cheiro das meias do Jorge depois de um treino de Quadribol.

–Já disse que aquelas meias eram suas, Fred. – retrucou o irmão, feliz por ver o outro acordado e já com o humor preso na língua.

–Alho, essência de mandrágora e suor de gnomo. – respondeu Hermione com tranqüilidade enquanto recolocava o frasquinho no lugar. – Olho Tonto as vezes gosta de pingar isso na bebida para dar um gostinho a mais. Ele me avisou quando quase bebi um de seus cálices em um jantar. – ela apressou-se a acrescentar quando todos a olharam de um jeito estranho.

Rony tentou aproveitar a oportunidade para se esgueirar para longe das mãos de Gina, porém os reflexos de sua irmã eram afiados como os de um gato, e ela logo se lembrou de onde havia parado com Rony. Só depois de pedir perdão vinte e sete vezes para o irmão, aceitar ser cobaia de um de seus experimentos para doces que venderiam na loja de Logros e Brincadeiras e dizer que limparia o resto da cozinha sozinho Gina decidiu não azará-lo ali.

Quando estavam todos no corredor – o que foi um custo para Harry, já que o amigo tentou convencê-lo de todas as maneiras a ficar e ajudá-lo – Fred lançou um sorriso para o irmão que o ajudava a andar.

–E nem doeu de verdade. – riu, mas logo parou quando sua cabeça fez a casa rodar.

–Você deveria dar uma olhada nisso, Fred. – Harry avaliou o hematoma no maxilar do rapaz onde a quina da pia o havia acertado em cheio. – Vai ficar bem roxo.

–Você acha? – Jorge parecia sinceramente preocupado: não queria que nada estragasse o lindo rosto de seu irmão idêntico.

–Acredite, já tomei muitos tombos e topadas na casa dos Dursleys. Eu pegaria gelo, mas corro o risco de ficar preso com Rony e sua interminável narração sobre como os cabelos de Fleur brilham sob as luzes de velas.

Mais uma vez Fred conseguiu flagrar um muxoxo rápido no rosto de Hermione, porém se desfez tão rápido que ele se perguntou se realmente vira a expressão infeliz.

Eles ajudaram Jorge a levar o irmão até o quarto, onde deitou Fred na cama e foi buscar um pano molhado. Depois de se certificarem que ficariam bem, saíram, porém, Jorge alcançou Hermione antes que ela fosse longe.

–Quero pedir um favor. – algo em seus olhos castanhos a fez estremecer. Hermione fez um aceno positivo para Gina, que estava aguardando a amiga, e acompanhou o Weasley para dentro do quarto.

A bagunça ali dentro era inigualável. Hermione não conseguia entender como os rapazes eram capazes de fazer tanta sujeira e conviver dentro de tal chiqueiro sem ter um mínimo de incomodo. A quantidade de poções, doces e materiais de utilidade questionável largados no chão era tamanha que a garota rezava a cada passo.

–Fale rápido. Ei! – ali, sobre a cadeira da escrivaninha que os gêmeos dividiam enquanto faziam pesquisas, havia um amontoado de calças, camisas e, para seu horror, uma cueca onde seu livro descansava. Ela pegou o objeto como se fosse pus e o guardou sobre o braço – Isso é meu.

–É? Eu não sabia. – justificou-se Jorge enquanto acomodava-se ao lado do irmão – Ele nunca lê esse tipo de coisa e quando apareceu aqui com isso, achei que fosse da Gina.

–O que você quer, Jorge? – já irritada, Hermione tentou não pensar nas condições pelas quais seu livro passara naquele quarto.

–Só queria que desse uma olhada nele. – Jorge indicou o irmão gêmeo com a cabeça – Você sabe bem sobre curativos trouxas e mágicos, então é uma ajuda melhor do que a de Harry. Por favor, Mione. Prometo dar milhões de bombons açucarados de Natal.

Ela iria se recusar, sair do quarto as pressas e se trancar em algum lugar para ter paz, porém a forma com que Jorge implorava com o olhar para ver se seu irmão estava bem a comoveu. Ela nunca entendeu o elo que ligava os dois, imaginou a força de uma relação fraterna entre gêmeos. Sendo filha única, Hermione até mesmo sentia certa inveja dos Weasleys, principalmente de Fred e Jorge. Nunca admitiria, seria um pesadelo, mas cedeu ao pedido de Jorge.

–Vá lá embaixo e veja se consegue que sua mãe empreste a varinha para fazer um pouco de gelo, coloque em um pano ou saco e traga pra cá. – suspirou ela sentando-se perto da cabeça de Fred enquanto seu irmão saia por afora.

O rapaz estava quieto, sentia a cabeça zumbir e latejar, as coisas ainda estavam sem foco e com certeza havia gosto de sangue em sua boca. Mal podia sentir o travesseiro onde sua cabeça estava apoiada, porém corou quando as mãos de Hermione seguraram seu rosto.

A garota tentou ser o mais gentil possível, esquecer o quanto Fred a havia importunado mais cedo, e ficou chocada com o tamanho da marca no maxilar do rapaz. Certamente era um daqueles hematomas que passaria do estado roxo e viraria uma mesclagem de verde com preto. Pela altura de onde ele havia caído, deveria ter alguma fratura naquela região, mas ela estava certa de que deveria ter alguma poção em sua maleta para aquilo.

–Eu estou tão feio assim? – perguntou Fred sentindo a cabeça doer.

–O que? – surpresa pelo diálogo repentino, ela voltou sua atenção para os olhos do rapaz.

–Sua cara... Faz perecer que estou tão charmoso quanto o Filch depois de um dia de trabalho. – ele tentou rir, porém aquilo lhe custou uma pontada de dor na boca. – Eu acho que quebrei alguma coisa.

–Pode apostar que sim. – ela o forçou a abrir a boca e deu uma longa olhada na arcada dentária de Fed. – acho que rachou seus primeiros molares e o segundo molar direito. – depois de notar o olhar indagador de Fred, ela completou – Meus pais são dentistas.

–Dentistas? Ah, médicos dos dentes. – disse ele por fim quando Hermione o soltou. - Papai já falou deles. Que nojo mexer na boca dos outros.

–Eu estou mexendo na sua. – retrucou ela com um olhar de censura.

–Mas eu sou um cara limpinho: sem cáries ou mal hálito.

–Ao julgar por esse quarto, tenho que discordar.

Hermione virou o pano molhado que Jorge havia posto na testa do irmão e deu uma última avaliada em Fred.

–Bom, peça para o seu irmão ir até meu quarto depois e pegar uma poção de calcificação de ossos comigo. Snape passou como dever para as férias e eu preparei demais. – ela corou diante da própria mentira: sempre fazia o triplo das doses que eram pedidas para pontuação extra e prevenção para falhas. – Até lá, fique em absoluto repouso, tente dormir e, principalmente, fique de boca fechada. Daqui a pouco isso vai inchar e começar a doer, então melhor não falar ou comer nada até reparar esses dentes.

Seria apenas outro dia ordinário, ela pegou o livro e começou a levantar-se quando Fred capturou sua mão direita e beijou seus dedos gentilmente. Ela nunca se esqueceu como os lábios dele estavam mornos no momento, e como foi macio o gesto, nem ele deixou de pensar naqueles dedos delicados ou a forma como Hermione corou diante de seu pequeno sorriso de agradecimento. Ela balbuciou qualquer coisa antes de sair do quarto e quase deu um encontro com Jorge quando ele retornava do térreo com um saco abarrotado de neve que ele recolhera da rua. Obviamente Molly não lhe dera a varinha e ele precisou se virar.

O rapaz não perguntou o porque da pressa quando entrou no quarto e viu a expressão de Fred.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E continuamos....



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sinceridade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.