E o dia que poderia ser o pior deles, acabava de começar. Eu não estava pronta.
–Tracy vai dar tudo certo, se você quiser pode ser seus últimos dias de aula nessa escola. Você consegue aguentar.
–Isso é o que eu espero. - Forcei um sorriso.
–Você não vai comer nada?
–Não to com fome.
–Você precisa comer alguma coisa!
–Dá um tempo mãe! Desde quando você é assim comigo? Corta essa! Eu ja to saindo.
Caminhei à passos largos até aquela escola. Cheguei lá e os olhares foram em mim. Pude ouvir aqueles que eram da minha aula cochichado, não liguei, são sempre aqueles idiotas.
–Olha só, se não é a querida Tracy. Não esperava te ver aqui. - Hanna carregava aquele sorriso falso em seus lábios.
–Pois é que pena, parece que vou ter que ir no banheiro vomitar, por que só de ver essa sua cara já me deu uma ânsia.
–Quem você pensa que é? Se olha no espelho! Você não tem nenhum amigo, é estranha, vai ficar sozinha a vida inteira.
Não falei nada, apenas acendi o cigarro, encarando-a pela última vez, e saí andando.







–Aquele lugar é um pesadelo! Não aguento mais um dia naquilo! Por favor me tira dali!
–Tudo bem, hoje mesmo vou falar com a diretora de uma escola que eu achei, acho que você vai se dar melhor nela, não se preocupe ok? - Minha mãe sempre carregando aquela tranquilidade na voz.
–Ótimo. - Falei indo em direção ao meu quarto e trancando a porta.
Me olhei no espelho, e simplesmente observei cada detalhe do meu corpo.
Como poderia não me adaptar a nada? Não aguentei as lágrimas, deixei que elas corressem livres pelo meu rosto.
Deitei na cama e fechei os olhos, não queria fazer nada nem pensar em nada.



–Tracy! - Me acordei com o som das batidas na porta. Olhei no relógio e eram 9h da noite, não sei por quanto tempo eu dormi.
–O que foi? -Falei enquanto abria a porta
–Já que você não está fazendo nada, se importa de levar o lixo pra mim?
–Agora? As 9h da noite? Por que não vai você? Eu estava ocupada demais dormindo.
–Qual é filha, eu e seu pai estamos preocupados com você, vá lá e tome um ar puro.
–Tá. - Falei sem um pingo de animação na voz.

Passei a chave na casa e atravessei a rua.
Enquanto largava o saco de lixo, avistei um garoto sentado na esquina do quarteirão. Ele era moreno, tinha os olhos cor de mel. Estava fumando na frente daquela casa.
Fiquei alguns segundos o encarando, ele acabou percebendo e me olhou de volta, com um sorriso torto nos lábios. O olhei séria e depois atravessei a rua. Eu não sei exatamente o quê, mas algo me chamou a atenção nele.



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Não sei com o que me fez acordar tão irritada essa amanhã. O despertador avisando que eu tinha que ir para aquela maldita escola, ou o Sol batendo em meu rosto.
Levantei e fui para o chuveiro. Vesti uma saia preta batendo um pouco acima dos joelhos, uma meia 7/8 listrada, uma blusa preta e um casaco de lã. Passei um batom escuro nos lábios e calcei meu coturno preto.
–Bom dia. -Disse meu pai sorrindo
–Bom dia - Respondi simplesmente.
–Já vai indo?
–Vou sim - Respondi enquanto pegava uma barra de cereais e colocava na boca. -Tchau - Falei sorrindo
–Tchau, boa aula




Fui andando reto até meu armário, peguei alguns cadernos de lá e o tranquei. Coloquei meus fones de ouvido e fui para uma classe vazia.
Passou um certo tempo e mais pessoas começaram a entrar. Até que vejo o mesmo garoto de ontem à noite. Ele realmente era muito bonito. Usava uma camisa xadrez, uma calça jeans e um All Star surrado. Tinha um topete bagunçado e um cigarro nos dedos. Ele me viu e sorriu timidamente, sentando-se um pouco a minha frente.


A aula acabou e todos iam saindo. Peguei minha bolsa que estava pendurada em minha carteira e levantei.





–Tracy! Que bom que chegou, tenho ótimas notícias pra você.
–Vai conseguir me tirar daquela escola?! -Perguntei quase gritando de felicidade.
–Sim! Você terá que fazer um teste para ver se vai conseguir passar.
–Ah... Pelo menos vou me mandar de lá.
–Bem, a notícia ruim é que só vai poder ser no mês que vem.
–Não acredito! Mas por quê?!
–Era o único dia disponível, me desculpe.
Assenti com a cabeça e subi as escadas para o meu quarto.
Peguei um cigarro e coloquei na boca, apenas encarando o nada por aquela janela.
Era nessa horas onde eu não fazia absolutamente nada, que me vinham perguntas que eu não conseguia encontrar respostas.
"Por que a vida é assim? Por que tenho que ser tão fraca ao ponto de me deprimir por algo tão pequeno? "
Era o que eu não conseguia entender. Agora aquelas lágrimas dolorosas caíam descontroladas pelo meu rosto. Fechei os olhos e continuei chorando em silêncio, de frente para aquela janela onde mostrava aquele final de tarde. Só me restava aguentar.