Na noite passada, depois que achamos o nosso amigo Happy, o gato azul do time, ficamos mais empolgados, e decidimos que ao amanhecer iríamos adentrar mais na floresta e achar os outros. Eu acordei primeiro esta manhã, achei algumas frutas pro café da manhã e lavei meu rosto com a água do rio que tinha perto de onde estávamos acampando enquanto procurávamos nossos amigos.

Enquanto me lavava, vi meu reflexo na água, estava com olheiras, o cabelo oleoso e despenteado, minha pele estava seca, minhas unhas sujas, estava sem escovar os dentes a algum tempo. Eu não tinha parado para me admirar, ainda bem, estava péssima, molhei o cabelo só pra tirar a sensação de sujeira dele, melhorou um pouco.

Enquanto eu estava sozinha ali na beira do rio, lembranças do passado me vieram a cabeça, tentei achar em alguma delas, um vestígio do que poderia ter acontecido com os outros, por que a teoria de estarmos simplesmente enterrados e termos sobrevivido é muito vaga, eu queria respostas, todos queríamos.

_Opa, achei você. – olhei para trás e sorri ao ver Erza. – Bom dia.

_Bom dia, como você está? – perguntei a ruiva que suspirou e fez o mesmo que eu, tentou lavar o cabelo.

_Até que estou bem. – respondeu dando um sorrisinho disfarçado.

Concordei e me levantei, voltei para onde os meninos estavam. Natsu e Gray ainda dormiam, resolvi acordar o Gray antes, eu sabia que seria mais rápido.

_Gray. – mal o chamei e ele já abriu os olhos. Deu sorriso e levantou. – Bom dia.

_Oi. – ele respondeu e levantou colocando a camisa. Fui ate Natsu.

_Natsu. – chamei, nada. – Natsu.

_Acho que vai precisar mais do que isso para acordá-lo Lucy. – escutei a voz fina e fofa de Happy, fui até ele.

_Oi, como você está se sentindo? – ajoelhei-me ao seu lado, Natsu o havia embrulhado em seu cachecol.

_Estou bem, você pode me contar o que houve? Eu não lembro de nada. – ele me olhou esperando uma resposta.

_Olha Happy, vou ser sincera com você. – eu disse e ele concordou. – Nós não sabemos muita coisa, acordamos há poucos dias e estamos procurando pelos outros, você foi o único até agora.

_Não sabem onde está a Charlie? Wendy? – ele começou a chorar.

_Calma, nós vamos achá-las. – eu falei isso e o abracei, que me abraçou de volta com suas patinhas. – Você precisa de um banho ok? Vá com o Gray até um rio que tem logo ali, Erza está lá também.

Ele concordou e seguiu Gray, olhei para Natsu e o vi franzindo o cenho e gemendo de dor enquanto dormia.

Chequei mais perto para acordá-lo.

_Na..

_Lucy... Lucy.. Lu.. Por favor, não morra... Lucy.. Eu preciso de você... Lucy... não... – ele dizia e se debatia. Fiquei espantada, por que ele se preocupava tanto assim comigo? Éramos amigos, mas por que? Tudo bem que eu me preocupava assim com ele também, mas eu devia a ele, ele me salvou tantas vezes, mas ele não me deve nada, não precisava fazer isso.

_Natsu... acorde. – o chamei cutucando seu braço. – Natsu...

Ele continuava dizendo, não tive escolha, cheguei perto e o abracei.

_Pronto, eu estou aqui, tudo bem, você está bem, eu estou bem, pronto, sch, sch... Natsu pronto. – ele começou a se acalmar com as minhas palavras.

_Lucy... – Ele parou de soar e de gemer, sua expressão ficou mais leve. Ele me olhou e em seguida fechou os olhos, passando a mão pelo rosto mostrando cansaço.

_Tudo bem? – perguntei.

_Desculpe, você me chamou muito? – ele pediu sentando ficando de frente comigo.

_Ahm.. não. – menti, ele estava preocupado, não ia contar a ele sobre o que estava falando enquanto dormia. – Os outros estão se lavando no rio, Happy está lá também antes que você fique preocupado.

_Ah.. – ele olhou para o cachecol sujo e fez sinal positivo com a cabeça. – ele está bem?

_Sim, ele ficou chateado por não termos achado a Charlie, mas compreendeu a situação. – expliquei. – vou deixar você se arrumar, quer uma banana? Ou uma laranja?

_Obrigada. – ele me olhou.

_De nada, você quer qual? – perguntei sorrindo.

Ele se levantou e me abraçou sem que eu pudesse questionar.

_Eu não sei o que eu faria sem você. – ouvi sua voz sair pesarosa.

_Hey, eu já disse que vai ficar tudo bem. – me afastei dele, meu coração tinha acelerado de novo, o que era aquilo. – preciso ir.

Ele ficou confuso, mas me deixou ir, fui para onde estava minha “cama” de improviso e só sentei lá olhando o mar. O que estava acontecendo? Eu nunca fiquei assim perto do Natsu, por que isso agora?

*

_Hey vocês estão prontos? – a voz de autoridade de Erza soou assim que ela terminou de se lavar.

_Vamos lá! – a voz de Happy e Natsu soaram juntas e empolgadas.

Gray e eu nos olhamos e sorrimos, pelo menos isso não mudou.

_Então está certo, peguem tudo o que vocês tem por que não vamos voltar, vamos apenas seguir em frente. – ela deu as instruções. – entendido?

_Sim senhora! – Happy e Natsu mostraram a empolgação de novo.

_Senhora? – Erza pareceu pensativa. – Gostei.

Eu sorri com isso, assim seguimos em frente, passamos por boa parte da floresta, e nada, parávamos quando escutávamos alguns ruídos na mata, mas logo continuávamos.

_Essa ilha é tão grande assim? – perguntou Happy que tinha se cansado e agora estava no meu colo.

_Você está no meu colo, nem está fazendo força gatão. – eu retruquei.

Ele fez beicinho pra mim, eu sorri pra ele. Olhei para o lado e percebi que Natsu estava nos olhando e com um singelo sorriso no rosto, assim que percebeu que eu o estava olhando ele ficou um pouco envergonhado e voltou a olhar o caminho por onde estava andando, e se concentrou em qualquer cheiro que sentisse.

Desde que eu acordei todos tem agido de forma diferente do habitual, principalmente Natsu, ele esteve bem mais quieto, mais cauteloso, mais preocupado, não sei o que se passava direito na cabeça dele, mas as vezes me assustava, mas seja lá o que for, eu sempre vou estar ao lado dele.

_Olhem! – Gray gritou para todos. Olhamos na direção que ele apontava e vimos um tipo de acampamento perto do templo da Mavis, a fundadora da Fairy Tail.

_Vamos! – Erza mandou seguindo para lá. Nós corremos atrás dela, chegando perto, vasculhamos nas barracas, pelas rochas mais próximas e não tinha sinal nenhum do pessoal.

_A fogueira está bem fria e as madeiras estão quase podres. – Gray disse abaixado analisando a fogueira do acampamento. – Isso aqui não é aceso a muito tempo.

_Mas tem um cheiro familiar aqui. – Natsu fechou os olhos e inspirou fundo. – Mas faz muito tempo também, sei que é de alguém da Guilda, mas está irreconhecível no momento.

_O cheiro que você está sentindo pode ser até de quando viemos fazer as provas aqui. – Erza disse.

Eu andei com Happy no meu colo para dentro do templo enquanto os outros continuavam a discutir as suas teorias.

Entrei no lugar e um silêncio harmonioso reinou, uma certa paz me invadiu, olhei para Happy.

_Você sentiu isso também? – ele concordou um pouco assustado.

Eu me aproximei mais de onde estava o tumulo de Mavis, respirei fundo e coloquei uma mãe sobre ele.

_Por favor nos ajude!? – eu pedi fechando meus olhos.

“Vocês precisam partir da ilha, não vão encontrar nada aqui!”

Happy e eu nos olhamos assustados, pelo menos o gato tinha ouvido também, eu não estava louca.

_Quem está aí? – eu pedi.

“Vão, seus amigos precisam que vocês voltem, o mundo precisa que vocês voltem.”

_Lucy? – a voz de Happy mostrava que ele estava com medo, mas o que eu podia fazer, eu estava também.

_Calma, vamos contar aos outros. – falei pra ele e dei as costas ao tumulo saindo do templo.

_Natsu?! – Happy gritou pelo amigo.

_O que foi? Vocês dois estão bem? – ele apareceu preocupado.

_Nós ouvimos vozes. – Happy respondeu. – eu estou com medo.

Happy se encolheu nos meus braços. O olhei sem reclamar.

_Acho que Mavis falou conosco. – expliquei melhor.

_O que? – Erza apareceu escutando a conversa. – Vocês falaram com a fundadora?

_Ahm não.. – tentei explicar.

_O que ela disse? Disse onde estavam os outros? – Gray apareceu também.

_Gente, calem a boca. – eles me olharam espantados. – Obrigada! Agora, Happy e eu entramos no templo, e eu apenas pedi ajuda, assim escutamos uma voz dizendo para irmos embora da ilha, que todos precisavam que nós voltássemos, que nossos amigos precisavam que voltássemos. Eu acredito que eles tenham partido sem nós pensando que estávamos mortos, ou não nos acharam.

Erza ficou sem palavras, Gray olhou para o céu com as mãos na cabeça, e Natsu se proximou de mim e sussurou.

_Você tem certeza disso?

Olhei pra ele, eu não tinha certeza, mas eles precisavam ouvir isso.

_Sim. Eu tenho certeza. – falei.

_Ótimo, então vamos construir um barco ou algo assim pra sair daqui. – Natsu disse a todos.

_Um barco? Pensei que você ia ser contra um meio de transporte. – Gray olhou pra ele sério.

_Happy está muito cansado, e não tem como ele levar todos nós, você está muito cansado pra ir congelando a água por onde passamos. – ele explicou. – Só vejo a opção do barco.

Gray concordou, ele sabia que não conseguiria nos levar a terra firme, Erza só fez sinal positivo, então seguimos para beira mar em busca de madeiras boas e cipós para construir um transporte para todos nós sairmos dali.

Gray e Erza traziam as madeiras que achavam, Natsu ia colocando elas certas e Happy e eu amarrávamos. O barco ficou pronto antes do planejado, mas já estava anoitecendo, decidimos dormir uma noite a mais ali e descansar para seguir viagem no dia seguinte.

Eu me deitei e fechei os olhos, logo senti algo se enroscar de baixo dos meus braços.

_Lucy? – A voz de Happy me chamou. – Posso dormir com você?

_Por que você não dorme com Natsu? – pedi quase sonhando já.

_Por que ele também está aqui com você. – ele respondeu, abri os olhos e Natsu já dormia no mesmo “travesseiro” improvisado que o meu. Suspirei derrotada e sorri para Happy deixando ele se amontoar junto. Assim peguei no sono junto com meus amigos.

“Vocês precisam ajudar o mundo, vocês devem fazer isso.”

As vozes continuavam a dizer a mesma coisa, tudo o que podíamos fazer era escutar e acreditar que nossos amigos realmente foram embora e estavam a salvo, só esperando nossa volta.