O Relógio de Areia escrita por beautifulfantasy


Capítulo 31
Capítulo 31 – Um Pedido de Ajuda




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Teen Titans não me pertence.

Capítulo 31 – Um Pedido de Ajuda

7 de Janeiro de 2012, 23h44min

Robin estava sentado à sua mesa de evidências, uma mão apoiando a cabeça, a outra tamborilando na superfície lisa e fria, sem realmente analisar nada à sua frente. No momento, estava com um problema sério. Mas era um problema que nada tinha a ver com vilões. A raiz de seu problema estava em sua própria Torre.

Para começar, perdera um membro importante de sua equipe. Ele suspirou, se lembrando da conversa que tivera com Ravena cerca de dez meses atrás.

"Sair?" ele perguntou, surpreso e irritado, se aproximando da empata. "O que quer dizer com isso?"

"Quero dizer que estou me mudando para fora da Torre, e não vou mais ser uma Titã" ela respondeu com a voz imutável. "Por tempo indeterminado"

"Ravena, não posso deixar você fazer isso sem uma explicação" ele exigiu, cruzando os braços. "Você falou com mais alguém sobre isso?"

"Não, e nem pretendo" ela deu de ombros. "De fato, só estou te avisando porque você é o líder."

"Não é não" ele afirmou, levantando uma sobrancelha. "Tem mais alguma coisa. Nem tente esconder de mim, sabe tão bem quanto eu da ligação que existe entre as nossas mentes."

O líder assistiu à expressão da empata tremer levemente, e por um instante pensou que ela fosse desabar. Porém, ela fechou os olhos, respirou fundo e quando os abriu novamente, estava impassível como antes.

"O que aconteceu agora pouco?" ele insistiu, se aproximando mais. "Por que tudo começou a explodir? Você teve algo a ver com isso?"

"Tudo bem" ela concordou de má vontade, desviando o olhar. "Mas tem que me prometer que não vai repetir para ninguém o que vou te contar agora"

"Eu..."

"Prometa!" ela exigiu, e Robin viu que ela não iria desistir.

"Tá. Eu prometo" ele disse, ansioso. Ravena olhou para baixo, como se estivesse decidindo alguma coisa.

"Eu estou grávida" ela informou, levantando o olhar. Robin certamente não esperava por isso. O líder perdeu seu olhar sério, sua máscara ficando redonda de surpresa. Abriu a boca para dizer algo, então a fechou de novo, incerto.

"Eu descobri hoje" ela continuou, ignorando suas tentativas de dizer alguma coisa. "E logo depois... Encontrei Mutano e Terra se beijando no quarto dele."

"Não!" exclamou Robin, encontrando sua voz subitamente. Ravena apenas assentiu com a cabeça, e ele soube que ela estava falando a verdade.

"Mas... O Mutano não faria isso..." ele balbuciou, assumindo sua posição de detetive. "E logo depois das explosões, Terra apareceu com ele desmaiado, mesmo que não houvesse nada indicando uma pancada na cabeça... Isso é... Um pouco estranho"

"Robin, o que eu quero que você entenda é que eu não me importo com isso nesse momento" ela disse, o surpreendendo pela terceira vez. "Você viu o que aconteceu quando eu os vi. Aquilo foi muito perigoso. Eu poderia ter derrubado algo em mim mesma e prejudicado minha gravidez."

"Mas... Se você só falar com ele..."

"Estar perto de Mutano vai ser extremamente instável para mim, Robin" ela levantou a mão, interrompendo-o. "E não posso permitir isso, não quando há uma terceira pessoa totalmente inocente e tão frágil por perto. Você entende?"

"É claro que entendo..." suspirou o rapaz, cruzando os braços. Estava ficando sem argumentos. "Então ele não sabe?"

"Não. E nem vai saber, não até essa criança ter nascido e eu estar pronta para conversar com ele" ela afirmou, convicta. "É por isso que você não pode contar isso para ninguém por enquanto."

Eles permaneceram um tempo assim, se encarando, com um problema sem solução diante deles.

"Estou partindo essa noite" ela disse por fim.

"Onde você vai ficar? Precisa de documentos civis?" ele perguntou, resignado. "Eu tenho para todos nós em caso de emergências..."

"Obrigada, Robin. Isso seria ótimo" ela sorriu.

Robin esfregou o rosto com as mãos, tentando se manter acordado. Ravena partira há nove meses, com um mês de gravidez. Era quase certo que já tinha tido o bebê. Ele sabia que era cedo, mas... Não conseguia pensar em um jeito melhor. Outra lembrança passou por sua mente, uma muito mais recente, de apenas três dias atrás.

Ele estava treinando na sala de equipamentos quando escutou um berro. Parou de socar o saco de areia à sua frente, prestando atenção. Então ouviu:

"Robin, vem aqui agora!" a voz de Ciborgue. Não pensou duas vezes. Saiu correndo pelo corredor, na direção dos gritos, agora acompanhados de fortes pancadas.

Entrando na sala comum, encontrou algo que o deixou paralisado momentaneamente. Mutano tinha os olhos opacos de novo, mas dessa vez estava atacando tudo à sua frente, como se estivesse vendo algo que eles não viam – ou algo que não estava lá. Estelar e Terra tinha posições defensivas e Ciborgue correu em sua direção.

"Ajuda as meninas a conterem ele!" ele pediu, sem tirar os olhos do amigo metamorfo. "Eu vou buscar um sedativo!"

"Cara, você não vai a lugar nenhum!" gritou Mutano para o sofá, se transformando em um leão e mordendo o estofado.

"Ele vai destruir tudo se continuar assim..." murmurou Terra, apreensiva.

"Temo o momento em que ele se transformar em um animal maior do que a sala pode suportar..." disse Estelar, exatamente o que Robin estava pensando.

"Tudo bem" ele se aproximou das meninas, falando baixo. "Eu vou tentar falar com ele... se ele me atacar, Estelar, você o leva voando para fora da Torre, não tem problema se quebrar a janela. Terra, você garante que ele tenha um lugar onde pousar para não se machucar"

Sem esperar por uma resposta, ele se aproximou cautelosamente do amigo, que depois de cortar o sofá em dois, andava sem rumo em sua forma humana.

"Mutano" ele chamou com a voz baixa e calma, uma mão estendida. "Sou eu, o Robin. Está tudo bem. Não tem nada te atacando"

"Robin?" ele perguntou, e o brilho quase voltou aos seus olhos. Então ele pareceu avistar algo atrás do líder e gritou "Cuidado!"

Robin se abaixou a tempo de não ser fatiado pelas poderosas garras de um tigre verde. Logo em seguida, viu Estelar passando a alta velocidade, abraçando o felino e o levando até a janela, que se estilhaçou em um milhão de pedaços quando os dois a atravessaram.

Ao se levantar, as portas da sala se abriram e Ciborgue passou por elas, carregando uma seringa grande cheia de líquido transparente.

"Cadê ele?!" ele perguntou, e Robin apontou para a janela, para onde os dois se dirigiram. A poucos metros abaixo deles, Estelar prendia Mutano contra um pedaço de terra flutuante com dificuldade, visto que ele constantemente mutava em um animal diferente. "Segura ele aí, Estelar!"

Ciborgue pulou, aterrissando pesadamente atrás dos dois amigos que se engalfinhavam, e afastou a Tamaraneana com um braço, rapidamente atingindo Mutano com a agulha e injetando o sedativo. O guepardo verde se transformou em uma cobra, então em lobo e por fim em sua forma humana de novo, caindo de joelhos e com uma expressão sonolenta, desabou de vez.

Mutano não estava bem desde que Ravena se fora, mas agora, o estado era crítico. Esse recente ataque causara inúmeros danos, e eles foram forçados a internar Mutano, deixando-o sob dose contínua de tranqüilizantes e atado à cama da enfermaria, sempre vigiado. Ele já não parecia saber quem era ou onde estava. Embora, pelo que Robin pudera observar, o problema não era quem ou onde, mas sim quando. Por algum motivo, a mente de Mutano estava indo e voltando, fazendo-o reviver momentos do passado e agir no presente.

Ciborgue não conseguia descobrir o que estava errado. Eles tentaram chamar um especialista, mas tampouco ele enxergou algo diferente. Sugeriu que poderia ser um quadro desenvolvido a partir de um grande choque, e disse que terapia ajudaria. Mas o metamorfo se recusava a falar com ele, e nem mesmo parecia estar escutando na maior parte do tempo.

Robin perdera mais um membro da equipe. Mas temia perdê-lo para sempre se não conseguisse alguém capaz de curá-lo. E só havia uma pessoa em quem ele confiava e que era capaz de entrar na mente de uma pessoa para ver o que estava errado de perto.

O problema era convencê-la a voltar.

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8 de Janeiro de 2012, 6h55min

Caleb estava com cinco semanas de vida e, nesse momento, estava gritando a plenos pulmões. Ravena acordou de um breve período de sono e se inclinou para o moises ao lado de sua cama. Pegando o bebê choroso no colo, ficou meio sentada e meio deitada enquanto ele mamava. Seus olhos se fecharam pesadamente e quando os abriu novamente, seu filho não mais mamava, mas tampouco parecia disposto a voltar a dormir.

Ela suspirou e olhou pela janela, vendo que o sol estava nascendo no horizonte. Se levantou com moleza e andou até a cozinha, ainda com Caleb no colo. Permaneceu em pé, o balançando levemente para induzi-lo a dormir, enquanto uma chaleira envolta em aura negra flutuava até a torneira, se enchia d'água e se postava no fogão, que se ligou sozinho. O bebê começou a choramingar de novo, e, antes que se tornasse um berreiro, Ravena o posicionou deitado em seu ombro esquerdo e bateu levemente em suas costas, aliviando-o dos gases.

"Agora você pode dormir, certo?" ela perguntou, o segurando à sua frente. No entanto, Caleb apenas o encarou com seus grandes olhos violeta bem abertos. Ravena nunca tinha apreciado tanto sua cor de seus próprios olhos como agora. Sorriu involuntariamente. Para sua surpresa, Caleb sorriu de volta.

"Você sorriu" ela disse abobada, seu próprio sorriso sendo substituído por uma expressão de admiração. O médico lhe dissera que apenas com um mês de vida os bebês realizavam o chamado 'sorriso social', em que reconheciam um sorriso e então sorriam de volta. E ela podia sentir satisfação emanando do pequeno ser humano, que logo deu lugar à confusão pelo fato da expressão de sua mãe mudar tão bruscamente.

"Eu amo você" ela disse, sorrindo de novo e recebendo um novo e lindo sorriso em troca. Tivera tanta dificuldade para dizer essas três palavras a Mutano, mas nas últimas cinco semanas, era algo que ela dizia quase todos os dias, sem sentir nenhum tipo de desconforto, era apenas natural.

A chaleira apitou e ela colocou folhas de chá – felizmente não lhe causavam mais enjoo – em sua caneca azul e despejou nela a água quente. Caleb acompanhava seus movimentos com curiosidade. Estava prestes a voltar para o quarto e tentar dormir mais um pouco quando ouviu um som familiar. Olhando em volta, viu uma faixa de luz em cima da mesinha de correspondência. Era seu comunicador.

Hesitou, sem ação por um momento. Então estendeu a mão na direção do comunicador, e percebeu que tinha Caleb em uma mão e a caneca de chá na outra. Depositou a caneca em cima da mesa e, em seguida, o bebê no berço. Ele reclamou um pouco por ser deixado, mas então ela girou o mobile de pássaros e ele se distraiu completamente, fascinado pelo movimento das cores.

A empata, então, finalmente pegou seu comunicador. A tela dizia 'Robin'. Menos mal. Ela arrumou o cabelo como pôde e atendeu.

"Ravena!" saudou a voz de Robin, acompanhada pela imagem nostálgica de seu líder.

"Oi, Robin" ela respondeu com um sorriso, se sentando com o comunicador à sua frente. "Como vão as coisas?"

"Como vai você? Já teve o bebê?" ela não deixou passar batido o fato de ele não ter respondido à sua pergunta.

"Sim" ela respondeu simplesmente.

"Tudo correu bem? Ele é saudável? É menino ou menina?" ele a bombardeou, curioso.

"Tudo correu muito bem. É um menino, e perfeito" ela disse com um tom de orgulho na voz.

"Fico muito feliz de ouvir isso, Ravena" ele afirmou com sinceridade e um sorriso melancólico. "De verdade. Parabéns."

"Obrigada, Robin. Mas... Não foi só por isso que você me ligou, foi?" ela questionou com sagacidade.

"Bom... Não, não foi" ele admitiu, ainda olhando nos olhos dela. "Precisamos conversar."

"Se for sobre voltar, Robin, eu ainda não estou pronta..."

"Ravena" ele a interrompeu com a voz séria. "Por favor, apenas ouça o que eu tenho a dizer."

"Eu sei que deve estar sendo difícil para você agora, com uma criança pequena para cuidar sozinha... Mas eu... Nós precisamos da sua ajuda. Urgentemente."

"O que aconteceu?" ela perguntou, preocupada, sentindo a seriedade do seu líder.

"É o Mutano" ele revelou, e ela se segurou para não dizer nada, considerando que um milhão de pensamentos cruzou sua mente naquele momento. "Ravena... Ele não está nada bem. Desde que você foi embora, ele tem se comportado... De forma estranha."

"Nós achamos que era apenas o choque de você ter partido, talvez até um pouco de depressão..." Ravena sentiu um aperto no coração ao ouvir isso. "Mas agora, chegamos à conclusão que algo muito mais sério está acontecendo na mente do Mutano."

"Na... Mente?" ela perguntou, sem entender.

"Ravena, ele está pirando" contou Robin com uma expressão miserável. "Não tem outro jeito de explicar. Ele tem ataques de amnésia, às vezes não nos reconhece ou chama por pessoas que já morreram, ou mesmo pessoas das quais nunca ouvimos falar."

"A situação se tornou crítica há quatro dias, quando ele começou a atacar pessoas e objetos na Torre aleatoriamente" A empata levou a mão livre à boca, surpresa. "Fomos obrigados a sedá-lo e interná-lo. Ciborgue já tentou tudo que podia, chamamos médicos, mas foi tudo em vão."

"Você é a nossa última esperança... A última esperança dele" ele finalizou, a testa franzida. "Por favor, Ravena, volte e o ajude."

A empata passou a língua pelos lábios e automaticamente se virou para ver o berço onde estava seu filho. Não estava mais grávida, tinha controle dos poderes e dez meses haviam se passado. Estavam sem desculpas para não voltar.

Além disso... Independente do que tinha acontecido, ela ainda amava Mutano. E não podia evitar se sentir agradecida pelo pequeno milagre no berço que tentava alcançar os pássaros de papel. Não podia ficar de braços cruzados enquanto ele estava sofrendo.

"Tudo bem" respondeu a Robin. "Eu vou partir amanhã de manhã."

"Nós podemos te buscar se você..." ele começou, mas ela o interrompeu.

"Não" ela não queria que eles vissem Caleb ainda. "Eu estarei aí amanhã de tarde. Vou fazer tudo o que puder."

"Obrigado, Ravena. Chame se precisar de ajuda."

"Não tem motivo para agradecer, Robin. Até mais" ela desligou o comunicador sem esperar resposta. Precisava muito meditar.

Andou até o berço e se sentou de pernas cruzadas ao seu lado, flutuando no ar, fechando os olhos e recitando seu mantra.

Estava tão distraída pelas recentes notícias que não reparou que o mobile continuava a girar, sua porção de cima encoberta por uma aura verde escura.

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