O Relógio de Areia escrita por beautifulfantasy


Capítulo 30
Capítulo 30 – Chuva




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Teen Titans não me pertence.

Capítulo 30 – Chuva

'Cause all of the stars

Are fading away

Just try not to worry

You'll see them some day

Take what you need

And be on your way

And stop crying your heart out

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17 de agosto de 2011, 18h14min

Terra nunca tinha se sentido tão mal. Estava guardando um segredo há muito tempo sobre algo que parecia ficar cada dia mais sério. Raramente saía do quarto e ainda mais raramente passava tempo com os outros.

Eles sabiam.

Ela sabia que sim. Estelar nunca mais aparecera à sua porta para convidá-la para ir ao shopping, tampouco Ciborgue e Robin falavam com ela a sós ou sobre assuntos casuais. E às vezes, ela entrava nas salas e os três estavam muito próximos e paravam de falar subitamente. Estavam falando sobre ela, ela tinha certeza.

E todos os dias tentava se fazer acreditar que Mutano estava melhor, que ele não estava pirando por causa dela.

Estava voltando do banheiro para seu quarto quando o metamorfo apareceu, um sorriso no rosto. Um lampejo de esperança faiscou dentro dela.

"Oi, Terra!" ele chamou, acenando e se postando à sua frente. "Está pronta?"

"Pronta?" ela perguntou, confusa. "Pronta pra que?"

"Para o show de hoje, qual é!" ele disse, impaciente. Tinha de novo aquele brilho estranho no olhar. "U2, é!"

Terra sentiu que podia chorar.

"Mutano... Nós já fomos a esse show" ela explicou devagar, vendo o sorriso do metamorfo desaparecer. "Faz uns anos..."

"Ah... Certo" ele murmurou, desapontado. "Certo. Eu... Não quero mais ver você, me lembrei agora."

E se afastou, deixando Terra com um peso ainda maior de culpa em seu coração.

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9 de Outubro de 2011, 15h50min

O parto estava se aproximando, e Ravena estava se esforçando muito para não entrar em pânico. Ela tinha feito sua visita mensal ao ginecologista no dia anterior e quando marcou isso em sua agenda, percebeu que faltavam apenas dois meses para o dia da previsão de parto. Então olhou em volta e viu que ainda não tinha comprado nada para o bebê realmente. Tinha milhões de livros sobre gravidez, mas nenhuma fralda, brinquedo ou berço.

Por isso estava hoje, em seu dia de folga, tempo que gastava meditando, lendo e descansando seus sempre exaustos pés, no shopping, em uma grande loja de artigos de bebês. O berço já havia sido encomendado em uma loja de móveis e seria entregue em sua casa em apenas cinco dias úteis.

E agora estava empurrando um carrinho cheio de fraldas, lenços umedecidos, cobertores, travesseiros de bebê, roupa de cama para berço, e terminava de selecionar roupinhas, que incluíam diversos macaquinhos azuis, amarelos e verdes, camisetinhas e bermudinhas. Ela tinha gasto mais tempo nessa seção do que esperaria de si mesma. Satisfeita com seu trabalho, direcionou o carrinho para o caixa.

Então passou por uma seção de bichinhos de pelúcia. Precisamente, um cachorro verde havia chamado sua atenção. Ele era completamente verde e tinha uma cara de idiota. Ela o encarou por um tempo, tentando não deixar nenhuma memória invadir sua mente.

Pegou um dinossauro azul, um urso marrom com laço no pescoço e uma centopeia colorida. Olhou de relance de novo para o cachorro verde e continuou seu caminho.

Então sentiu um chute no ventre.

Parou, colocando a mão na barriga, olhando feio para ela.

Voltou e pegou o maldito cachorro.

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29 de Novembro de 2011, 11h35min

Ciborgue estava cozinhando uma super macarronada alegremente. Estava sendo difícil para ele se lembrar que tinha que cozinhar apenas para cinco pessoas, e não seis, então ele convidou Sarah para se juntar ao almoço desse domingo.

Tinha acabado de colocar o macarrão na água fervente quando Mutano entrou, parecendo agitado.

"Mutano?" ele chamou cuidadosamente. "Tudo bem com você?"

"Não... não..." ele murmurou, e então se virou como se tivesse acabado de avistar Ciborgue. "Cib, você viu a Esmeralda?"

"Hã... Não" ele respondeu após um instante para digerir essa pergunta. "Não vi nenhuma esmeralda..."

"Não uma esmeralda, a Esmeralda!" ele explicou, irritado. "Para de brincadeira, ela estava aqui, de mãos dadas comigo agora pouco, e agora sumiu, você tem que me ajudar a achá-la!"

Ele começou a olhar para baixo e andar por todo o lugar, procurando em cantos e debaixo de mesas. Como se estivesse procurando um cachorro ou talvez... Uma criança pequena.

"Tá tudo bem, cara" ele tentou o acalmar, andando até onde ele estava e colocando a mão em seu ombro. "Ela vai ficar bem."

"É... Ela vai..." ele concordou, com aquele olhar vazio de novo. "Ravena está morrendo de preocupação..."

Dizer o nome de sua amada pareceu trazê-lo de volta à realidade. O metamorfo sacudiu a cabeça e se sentou em uma cadeira próxima.

"Quem é Esmeralda, Mutano?" ele não resistiu e perguntou, curioso. Seu melhor amigo piscou, com a boca entreaberta.

"Alguém que eu amava... em outra vida, eu suponho"

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21 de Dezembro de 2011, 00h45min

Ravena acordou no meio da noite com uma dor aguda no ventre. Se levantou com dificuldade, arfando, e correu ao banheiro. No caminho, porém, sentiu líquido quente escorrendo por suas pernas. Sua bolsa havia rompido.

Ela respirou fundo. Estava preparada para isso. Acendeu as luzes e foi direto à mesinha onde estava o telefone e, ao lado dele, um cartão de táxi 24 horas. Ligou e pediu para um vir buscá-la. Há dois meses ela chegara à conclusão de que não era seguro usar muito de seus poderes com esse estado avançado de gravidez. Então iria fazer isso à moda antiga.

A espera era angustiante. Ela se trocou devagar, colocando um vestido azul estampado com flores brancas e um casaco por cima. Nunca gostara de usar vestidos, mas descobrira que essa era a peça de roupa mais confortável do mundo quando você está com a barriga e as pernas inchadas, os pés doendo e sentindo calor mesmo com o clima frio. Calçou um par de botas forradas, as mais confortáveis que conseguira encontrar, e pegou a bolsa com roupas para ela e para o bebê que deixara preparada já há uma semana.

Enquanto o táxi não chegava, contou de quanto em quantos minutos as contrações estavam vindo, apoiada no berço novinho, montado no meio da sala, já que seu quarto era muito pequeno. Ele era feito de madeira e tinha belos entalhes nas pontas da cabeceira. O mobile acima tinha vários pássaros coloridos de asas abertas, como que voando.

Mais uma contração dolorosa. Além de aguentar a dor, ela estava se esforçando muito para não deixar nenhuma energia escapar de seu controle. Isso só iria colocar a ela e a seu bebê em perigo. Antes que pudesse se impedir, correu para o quarto e agarrou o cachorro verde que estava em sua cama, o abraçando com força.

Mais uma vez, ela desejou que Mutano estivesse ali.

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Precisamente no momento em que um táxi buzinava à frente da casa de Ravena e ela saía, sabendo que não voltaria sozinha, um estranho fenômeno se iniciava em Nevermore.

Conhecimento estava entretida com um livro quando ela escutou. Levantou os olhos e se aproximou da janela. Uma grossa cortina d'água caía na superfície rochosa do lado de fora. Ela sorriu, abriu o Livro do Bebê na escrivaninha de frente para a janela e fixou seu olhar no pequeno monte de terra onde Afeição havia plantado a semente.

Preguiça estava tirando uma boa soneca, deitada entre as gramíneas douradas de sua savana quando uma enxurrada de água a acordou subitamente. Ela piscou, confusa por um instante, então seu olhar se voltou para sua direita, onde ela se lembrava que Afeição tinha plantado a semente. Deitou ao lado do lugar e se pôs a esperar.

Coragem estava muito ansiosa para se fazer expressar, era difícil Ravena precisar dela, mas não poder liberar os poderes. Quando estava quase decidindo sair assim mesmo, uma chuva pesada começou a cair e ela ficou hipnotizada pela bela imagem de seu lago, sempre parado como um espelho, ondular conforme as gotas d'água nele caíam. Já estava ensopada quando seu olhar foi automaticamente para um espaço vazio à beira do lago, onde uma semente esperava para brotar.

Sabedoria estava em sua clareira favorita, as pernas cruzadas e flutuando no ar, meditando para prover estabilidade agora que Ravena precisava. Sentiu uma diferença no ar e levantou a cabeça no exato momento em que a chuva começou. Sorriu e baixou o capuz, deixando a água correr sobre seu rosto. Isso era estranhamente relaxante. Quando baixou o olhar, foi para encarar o centro de sua clareira, onde a terra estava remexida.

Insegurança ficou assustada com o som de trovão que ecoou por seu pântano de repente. Em seguida olhou por trás de uma árvore, vendo que era apenas uma forte chuva. Estava tão surpresa, que se esqueceu de ter medo de Ravena não ser capaz de dar à luz uma criança. Foi andando lentamente, até chegar ao local mais seco de seu pântano, onde Afeição tinha depositado a bonita semente.

Felicidade estava fazendo jus ao seu nome. Sua capa rosa jazia no chão esquecida, enquanto sua dona corria, recebendo a chuva com os braços abertos e pulando nas poças como uma criança. Quando parou, se sentou de pernas cruzadas no gramado verde claro, encarando com um enorme sorriso o pedacinho de terra onde estava a semente.

Raiva estava em pé, os braços cruzados, encarando seu mundo de destruição e caos como se não houvesse chuva, sua capa vermelha ficando cada vez mais pesada ao absorver tanta água. Subitamente, se virou para uma pequena praça que não estava em chamas, onde um círculo de grama verde rodeava um monte de terra.

O jardim de Afeição parecia ainda mais vivo com a chuva molhando as belas flores, que ficavam mais viçosas e frescas a cada minuto. No centro do jardim, a emoção estava ajoelhada, a ponta de sua capa suja da lama em que repousava, mas a emoção não parecia dar a mínima para isso. Estava concentrada no ponto exato em que plantara a maior parte das sementes, o cabelo molhado grudado ao rosto, os olhos brilhando, um sorriso nos lábios.

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21 de dezembro de 2011, 4h05min

"Você está pronta, Ravena" informou o médio, de quem ela só conseguia ver os olhos, pois ele estava de touca e máscara. "Pode começar a empurrar"

'É esse o momento' ela pensou, falando com todas as suas emoções. 'Por favor, se contenham, só até isso acabar. Aguentem firme.'

"Tudo bem, respire" orientou a enfermeira a seu lado com gentileza. "Você está indo bem. Agora empurre de novo."

Ravena nunca experimentara tamanha dor e esforço antes. Mas se concentrou no objetivo à sua frente.

"Estou vendo a cabeça, Ravena, continue empurrando" ordenou o médico. Quando ele fez sinal para ela parar, ela conseguiu ver uma expressão de surpresa no olhar dele, e ficou preocupada. Então se lembrou que não devia sentir nada. Se encostou à cadeira, arfando, sentindo o suor escorrer pelo seu rosto.

Não conseguia. Era demais. Dor demais, esforço demais.

'Vamos, Ravena' disse uma voz que ela reconheceu como a de Coragem. 'Você consegue, falta pouco!'

'Ravena, você derrotou Trigon, algo que ninguém nunca conseguiu antes!' era agora a voz de Sabedoria. 'Você certamente consegue fazer algo que centenas de milhares de mulheres já fizeram!'

'Me deixem em paz... ' ela sussurrou. Então ouviu algo que teria a feito pular da cadeira, se não estivesse com os músculos tão cansados.

A voz de Mutano.

Ela olhou para o lado, o procurando, pois tinha certeza que fora de onde ouvira a voz. Mas não tinha ninguém lá.

'Você consegue Ravena' ela ouviu de novo, sua voz grave e calmante, como se estivesse ali, segurando sua mão. 'Lembra da imagem do ultrassom? Mais um pouco e vamos vê-lo cara a cara finalmente!"

Não conseguia entender, mas o fato é que a voz lhe deu a certeza de que podia fazer isso. Era quase como se já tivesse feito antes. Cerrou os dentes e empurrou de novo quando ele ordenou. E, no que lhe pareceram segundos, estava acabado.

Ao contrário do que pensara, o som do batimento cardíaco pelo ultrassom não era o som mais confortador do mundo, mas sim o choro alto e agudo que escutava agora. O médio sorriu e lhe mostrou um bebê de pele esverdeada. Ela encarou aquele pequeno ser com estarrecimento, esquecendo de sua dor e cansaço até se encostar na cadeira de novo. Não tirou os olhos da enfermeira que o levou, até ela o trazer de volta, limpo e enrolado em um cobertor azul, passando-o para seus braços trêmulos.

Ravena sabia que estavam dizendo coisas para ela, mas não conseguia ouvir. Só tinha olhos para o bebê que segurava, inchado e chorando, os olhos fechados, a pele verde. Sentia confusão e medo emanando dele.

"Oi" ela sussurrou, e o bebê diminuiu seus berros para um choramingar, confortado pela voz da mãe. "Eu esperei você..."

"Ele já tem um nome?" perguntou a enfermeira com um sorriso. Ravena levantou a cabeça.

"Sim" ela disse, mais uma vez naqueles nove meses, tomando uma decisão de momento, como se estivesse apenas seguindo o roteiro de uma história já escrita. "O nome dele é Caleb. Caleb Roth... Logan."

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Conhecimento sorriu quando avistou pela janela uma mínima folha verde aparecer no meio da terra marrom, entre as poucas gotas que ainda caíam do céu. Então molhou a pena que tinha na mão em um tinteiro e se inclinou sobre as páginas do Livro do Bebê.

Dia 21∕12∕2011, 4:35 – Solstício de Inverno

Você nasceu.

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21 de dezembro de 2011, 5h00min

Robin entrou na sala comum e teve uma surpresa ao ver que alguém já estava lá. E ficou ainda mais surpreso ao ver que esse alguém era Mutano.

O menino-prodígio se aproximou do amigo, que estava sentado no sofá, inclinado. Ele tinha o olhar vidrado fixo nas mãos estendidas à sua frente.

"Mutano?" ele chamou com cautela. "O que está fazendo?"

Mutano não se virou. Em outro tempo, em uma outra vida, ele estava segurando seu filho primogênito pela primeira vez.

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We're all of the stars

We're fading away

Just try not to worry

You'll see us some day

Just take what you need

And be on your way

And stop crying your heart out

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Música: Stop Crying Your Heart Out por Oasis

Tradução:

Faça Seu Coração Parar de Chorar

Porque todas as estrelas
Estão desaparecendo
Apenas tente não se preocupar
Você as verá algum dia
Pegue o que você precisa
E siga seu caminho
E faça seu coração parar de chorar

Nós somos todas as estrelas
Nós estamos desaparecendo
Apenas tente não se preocupar
Você nos verá algum dia
Apenas pegue o necessário
E siga seu caminho
E faça seu coração parar de chorar

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