O Relógio de Areia escrita por beautifulfantasy


Capítulo 20
Capítulo 20 – Bubbles




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Teen Titans não me pertence.

Capítulo 20 – Bubbles

15 de Agosto de 2009, 5h07min

Michael chegou à área de construção de seu projeto irritado. Ele era um arquiteto recém-formado e por isso sentia que seus colegas e principalmente os construtores não o respeitavam, pelo contrário, o achavam algum tipo de piada.

Foi por isso que quase perdeu a cabeça ao colocar o capacete e encontrar todos os construtores parados.

"John!" exclamou com firmeza. O chefe dos construtores se voltou para ele sem o menor traço de intimidação.

"O que é, chefe?" perguntou, com a maior cara-de-pau, pensou Michael.

"O que exatamente vocês estão fazendo parados aqui?" ele rebateu, trêmulo.

"Bom... Parece que o projeto está concluído" ele respondeu, dando de ombros. "Se bem que está um poouco diferente do design original..."

"Do que é que você está falando?" Michael recrutou, andando até onde os construtores estavam, boquiabertos. Então estancou, surpreso.

O chafariz estava terminado. O que era muito estranho, pois ele estivera lá na tarde do dia anterior e ainda estavam na metade. E o design estava, de fato, muito diferente. Ao invés de seu projeto inicial de três chafarizes verticais, com o maior no meio, as vigas de aço estavam organizadas em um enorme coração, com água espichando de todo o seu contorno.

Michael não sabia exatamente o que sentir. Estava totalmente diferente do projeto original. E estava lindo.

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15 de Agosto de 2009, 9h03min

Mutano acordou com um sorriso no rosto. Ele demorou alguns segundos para se lembrar porque se sentia tão feliz. A noite anterior havia corrido perfeitamente, até melhor do que ele esperara. Ele se deitou olhando para o teto. Agora, ele quase conseguia acreditar... Ao menos ter um pouco de esperança... De que Ravena poderia retribuir seus sentimentos.

Será que tinha sido só sua imaginação o fato de ela corar quando ele insistiu em pagar? Será que o choque que passou por seu corpo quando suas mãos se tocaram podia ser unilateral? O fato de ela ter se esforçado para tratar ele como uma pessoa normal poderia querer dizer que ela estava apenas tentando fortalecer seus laços de amizade, ou transformar esses laços em algo mais?

Ele fechou os olhos, sentindo um calafrio ao se lembrar do final da noite. Eles assistiram ao filme em silêncio e voltaram basicamente conversando sobre o roteiro e a animação, e em meros minutos – ao menos foi o que pareceu para Mutano – estavam de volta à Torre. Ele a acompanhou até a porta de seu quarto e descobriu que não queria se separar dela ainda. Estava quase colocando isso em palavras quando a empata se voltou e olhou fundo em seus olhos. Aquele olhar... Parecia estar encarando-o até o fundo de sua alma, e nele havia um sentimento maravilhoso. Ele ainda estava levemente hipnotizado quando ela pareceu ficar envergonhada e fechou a porta na cara dele, parecendo com pressa.

E tudo o que ele sabia agora, era que queria passar mais tempo com ela.

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Ravena havia acordado com sentimentos similares, três horas antes. Ela se esforçou para tirar o sorriso do rosto, mas não conseguia tirar as memórias da noite anterior da cabeça. Era tão idiota, nada havia acontecido. Bom, talvez uma coisa. Ela corou ao se lembrar da onda de calor que tinha sentido quando ele tocara sua mão.

Se lembrava que a mão dele era muito quente, e do contraste que a pele verde tinha feito com a sua pálida e...

Ondas...

Sentido.

Sentido?!

Foi só nessa hora que ela se deu conta. Tinha feito uma coisa que era proibida e nem mesmo tinha percebido! Havia ficado em um lugar público, com pessoas em volta – embora não muitas – sozinha com uma pessoa por quem guardava fortes sentimentos, e se deixara sentir.

Ela derrubou a escova de cabelos que pendia de sua mão e correu em busca do espelho de mão ao lado de sua cama. Em instantes, estava em Nevermore.

Dessa vez, nada havia de cinza na floresta de Sabedoria. Ela andou pelas árvores quase douradas, ouvindo o agradável barulho das folhas secas se partindo sob seus passos apressados. E, no meio de uma clareira, encontrou Sabedoria, flutuando em posição de lótus, os olhos fechados.

"Sabedoria!" ela chamou, ansiosa.

"Sim?" perguntou sua sósia, sem abrir os olhos.

"O que... O que aconteceu ontem?" A emoção abriu os olhos e a encarou.

"Bom, você é quem me diz, você estava lá" ela disse petulantemente.

"O que há com você ultimamente?" ela rosnou. "Eu não podia ter ido ontem, você devia ter me dito..."

"Por que não deveria?" ela a interrompeu, ainda calma. "Ontem, tudo o que você conseguia pensar – e Insegurança falar pra todo mundo – era que aquilo não era um encontro"

"E se não era um encontro" ela adicionou rapidamente, antes que Ravena argumentasse. "Por que você não deveria ir?"

Ravena mordeu o lábio. Maldição.

"Mas era uma... Situação em que eu estaria com a pessoa de quem... gosto" ela explicou, insegura, ao que a emoção deu de ombros.

"Você descobriu seus sentimentos já há meses, e ainda convive com ele sem que o mundo tenha explodido, não?"

"Mas isso é diferente! Nós ficamos... Sozinhos!" ela disse, angustiada. "Eu... Eu senti coisas."

"E foi ruim?"

"Não, foi..." ela parou a si mesma, corando. "O caso é que foi perigoso. Pra mim, para ele, para as pessoas ao nosso redor."

"O que me lembra" ela disse de repente, sem que a emoção de capa marrom tivesse respondido. "Por que nada aconteceu?"

"Bom..." ela suspirou e finalmente saiu de sua posição, pousando suavemente os pés no chão forrado de folhas. "Talvez seja melhor continuarmos essa conversa na biblioteca de Conhecimento..."

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"Bom dia!" cumprimentou Mutano a todos, entrando na cozinha.

"Bom dia amigo!"

"Aí vai você cozinhar essa porcaria de tofu de novo" provocou Ciborgue, a boca cheia de presunto.

"Sim, tofu é ótimo" para a surpresa de todos, Mutano disse isso alegremente, parecendo não notar o insulto.

"Você está bem feliz hoje" constatou Robin, levantando os olhos do computador.

"É, está um belo dia" justificou o metamorfo, colocando o alimento à base de soja na frigideira.

Todos olharam pela janela.

"Está chovendo" informou Terra a uma colherada de cereal, como se houvesse uma contradição nas palavras de Mutano.

"A chuva pode ser bonita" ele respondeu sem se virar. Terra e Ciborgue se entreolharam, como se achassem que o colega verde tinha ficado maluco.

"Por falar nisso, aonde você foi ontem à noite, amigo Mutano?" questionou Estelar, que já tinha terminado seu café. "Quando eu terminei a lavagem de nossos uniformes tentei chamar todos para assistirmos a um programa juntos, mas você não estava."

"Eu fui... hã... jogar flip...pizza" ele gaguejou.

"Flip...pizza?" repetiu Robin, olhando para ele com suspeita.

"É, é... É uma nova máquina no fliperama... com um jogo de pizza" ele explicou, desejando ter pensado em uma desculpa melhor antes. Ele não queria contar a ninguém que tinha saído com Ravena. Iria levantar perguntas constrangedoras. E considerando que sua ex-namorada estava presente, era apenas mais inteligente evitar esse tipo de situação, pelo menos no momento.

"E você não me chamou?" perguntou Ciborgue com uma dor na voz.

"Achei que você ia sair com Sarah" ele disse, e isso era verdade.

"Não... Ela precisou cuidar de umas crianças..." ele disse, chateado.

"Vamos da próxima vez" ele bateu no ombro do homem robô. E então adicionou, com voz mais próxima do casual possível "Então vocês assistiram? Todo mundo?"

"Não... Como você e amiga Terra não se encontravam, desisti, e nem incomodei amigo Ciborgue ou a amiga Ravena" contou Estelar, parecendo feliz. Isso significava que passara um tempo sozinha com seu namorado.

Mutano suspirou. Então não sabiam que Ravena tinha saído noite passada. Isso simplificava as coisas.

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"Mas então..." balbuciou Ravena, sem conseguir acreditar nas palavras à sua frente. "... então meus poderes se manifestaram!"

"Sim" assentiu Conhecimento "Mas vocês estavam tão absortos que sequer perceberam..."

"Mas que tipo de brincadeira é essa?" ela murmurou, lendo. "Um chafariz em formato de coração?!"

"Não era isso que sempre me disseram que iria acontecer!" ela exclamou, indignada "O que me prometeram foram explosões, destruição e dor!"

"Bom, Ravena... Quanto a isso, sei tanto quanto você" Conhecimento deu de ombros.

"Mutano... Parece ter um efeito calmante sobre nós" disse Sabedoria, o indicador e o polegar direitos no queixo. "Você se concentra nele... E isso não permite que a energia se extravase de forma destrutiva."

"Claro... No fim, não são emoções tão fortes assim, certo?" As duas emoções se entreolharam com expressões significativas, mas Ravena não reparou, continuando seu raciocínio. "Era apenas como amigos... Nos conhecermos melhor como amigos... Assim como eu passo tempo com Estelar, Ciborgue ou todos eles juntos... Não tem perigo."

Um sorriso se formou no canto da boca da empata.

"Posso ficar perto dele... Sem perigo..."

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E foi assim que o sábado se tornou um dia muito esperado para Mutano e Ravena. O metamorfo passava a semana tentando pensar em alguma coisa para fazerem juntos que agradasse a ambos, e descobriu que não era assim tão difícil quanto poderia ter imaginado. Se tornara até mesmo uma coisa divertida – ir contra sua noção de normalidade, fazer coisas novas. Afinal, nos lugares óbvios ele já tinha ido um milhão de vezes com Terra, e não estava interessado em misturar as coisas. Desse modo, ambos descobriram que a cidade de Jump City era maior e mais interessante do que eles haviam imaginado.

Na sexta seguinte, Mutano a convidou para uma feira de livros, CDs, DVDs e jogos usados que se passaria nas ruas de um bairro na zona norte da cidade. Ela poderia se divertir com os livros e ele poderia procurar filmes e jogos antigos que não tinham mais em lojas ou eram muito caros em sua versão nova. Eles foram ao final da tarde de sábado, quando o sol estava se pondo e o céu estava laranja. Tinha mais pessoas do que Mutano havia esperado, mas Ravena não pareceu se importar. Ela ficou bem animada ao encontrar livros que não eram mais impressos ou versões raras de outros, e os dois voltaram tarde da noite com sacolas cheias, depois de parar para tomar um café.

Na sexta depois dessa, Mutano a convidou para um evento de cinema alternativo, no domingo, já que era sua semana de lavar a roupa. Dessa vez, o evento foi uma chatice, e os dois foram para uma sorveteria vazia próxima e passaram a tarde conversando. Mutano perguntou a ela o que preferia no sorvete e quando ela disse farofa de amendoim ele colocou um monte quando a empata não estava olhando e conseguiu arrancar um sorriso dela, mesmo que depois tenha sido atingido com um soco de uma mão astral.

O sábado seguinte era o de Ravena lavar a roupa, então Mutano só a acompanhou até a lavanderia e a ajudou, o que deu a eles um bom tempo para conversarem, embora a empata ficasse repetindo que ele a estava atrapalhando mais do que ajudando. Ele perguntou se uma calcinha particularmente rendada era dela e recebeu um forte tapa por uma mão astral em resposta.

Na outra semana, Mutano a avisou para vestir algo confortável e que não se importasse de sujar, e ela ficou receosa, mas se encontrou com ele, não à noite, mas extremamente cedo, às 5 horas da manhã de sábado.

"Aqui, Rae!" chamou Mutano quando ela pousou em uma rua deserta, atrás dela. "Você está legal"

Ravena olhou para baixo. Estava usando uma calça de moletom rosa clara que tinha recebido de Estelar, por isso não se importava realmente se acabasse sujando, e uma camiseta cinza antiga. Mutano não estava muito diferente: estava usando uma calça tacktel preta e uma camiseta azul desbotada.

"O que é que viemos fazer aqui, afinal de contas?" ela perguntou, hesitante. "O que é esse lugar?"

"É o canil de Jump City" ele explicou. "Eles precisam de ajuda para levar cães para passear. Eu sempre venho aqui pelo menos uma vez por mês."

"Lembra daquela vez que o Johnny arranjou um cachorro monstro de verdade para atacar as pessoas?"

Ela assentiu, distraída, olhando as gaiolas onde cães latiam ou pulavam para olhar para eles.

"E você acalmou ele usando seus poderes? Bom, pensei que talvez você pudesse ajudar alguns cães daqui"

"Bom dia, Mutano!" veio uma saudação de uma garota jovem com cabelos cor de cobre. "O senhor veio cedo hoje!"

"Oi Lily!" ele acenou de volta, sorrindo. "Essa é a minha amiga Ravena. Ravena, a Lily cuida dos cães e é supervisora da caminhada com eles."

"Muito prazer, Ravena!" disse a mocinha, com os olhos brilhando. Era claro que ela admirava os Jovens Titãs. Ravena assentiu sem sorrir, encabulada.

"Então nós podemos ir ver os cachorros?"

"Sim, eles estão no fundo, o senhor sabe" ela apontou, e os dois seguiram para lá.

"Aqui ficam os cães que são muito agressivos, Rae..." ele explicou, e Ravena viu que esses cães tinham cicatrizes, olhares hostis e ficavam em gaiolas separadas, ao contrário dos anteriores. "A caminhada dos cães na verdade é mais tarde, e reúne várias pessoas, mas esses aqui não saem, porque são muito perigosos. Eu pensei que talvez você pudesse tentar acalmá-los o suficiente para levarmos eles para passear um pouco..."

"Vou tentar..." disse Ravena, se ajoelhando em frente a uma das gaiolas. Ela não se sentia muito bem. Animais também emanavam emoções, embora não fossem tão complexas quanto às de seres humanos. O que ela sentia dessa área era um grande monte de negatividade. O mais próximo de tristeza que poderia haver.

"Eles foram mal tratados ou usados para rinhas" contou Mutano com a voz séria. "E agora não conseguem mais confiar em seres humanos."

Ravena olhou fundo nos olhos do cão à sua frente. Era um Pit Bull, e começou a rosnar quando ela aproximou sua mão por entre as barras. Mutano viu um filete de aura negra passando do chakra da empata para dentro da cabeça do animal. Ele continuou a encarando por alguns instantes, os dentes expostos. Então sua expressão se suavizou e ela se encaminhou para a mão de Ravena, deixando-a acariciar sua cabeça.

"Uau, incrível!" ele murmurou, e se ajoelhou ao lado dela, também acariciando o animal. Seus dedos roçaram nos de Ravena e ela retirou a mão rapidamente.

"Então, quem mais?"

Alguns minutos depois, eles estavam andando pela rua fracamente iluminada pelo sol, Mutano com três cães ansiosos na coleira o puxando e cheirando tudo o que podiam, e Ravena levando apenas um, o primeiro que havia acalmado, que era uma fêmea e se chamava Bubbles. Ela ainda estava um pouco medrosa e andava calma e cuidadosamente.

"O que você fez foi incrível, Ravena!" disse Mutano, quando conseguiu ficar ao lado da empata. "Muito obrigado!"

"Não tem problema" disse Ravena, e de fato estava se sentindo bem com essa atividade.

"Então, você gosta de cachorros? Ou de gatos?" ele questionou, enquanto era levado mais adiante.

"Eu me sinto mais confortável com gatos" ela respondeu alto para que ele escutasse. "Mas gosto de cães, quando eles não estão tentando me derrubar e encher meu rosto com saliva."

"Ah, sim" ele riu, se lembrando do cachorro verde que anos trás se passara por ele. "Eu gosto dos dois!"

"Sim, eu imaginei que você iria..." Um carro passou por eles e Bubbles se escondeu atrás de sua perna. Ela se ajoelhou e a acalmou com palavras baixas.

"Hm, Ravena?"

"O que?"

"Eu vi que você usou seus poderes para recolher... hã... Os presentinhos da Bubbles..." ele disse, coçando a nuca. "Será que você podia me ajudar aqui?"

Ravena levantou as sobrancelhas, vendo que os três cães haviam decidido ir ao banheiro.

"Nada disso" ela se virou, sem o deixar ver que estava sorrindo. "Cada um é responsável pelos cães que pegou"

"Ah, cara..."

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