O Relógio de Areia escrita por beautifulfantasy


Capítulo 19
Capítulo 19 – Decisões




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/632879/chapter/19

Teen Titans e Mary and Max não me pertencem.

Capítulo 19 – Decisões

Beauty queen of only eighteen
She had some trouble with herself
He was always there to help her
She always belonged to someone else

13 de Agosto de 2009, 23h41min

Mutano estava rolando de um lado para o outro na cama, sem conseguir dormir. Os eventos do dia anterior ainda pulsavam em seu cérebro. Especialmente sua reação ao ver Ravena sendo beijada por outra pessoa. Só de lembrar ele sentia uma espécie de raiva o impulsionando, apertando seu peito e sua garganta, quase o cegando. No começo tentara dizer a si mesmo que era apenas um instinto de proteção em relação à sua amiga. Mas essa teoria caiu por terra ao se lembrar que não sentiu mais do que uma leve surpresa ao ver Estelar beijando um desconhecido, e diabos, nem mesmo quando flagrara Terra, quando era sua namorada, beijando outra pessoa, tivera uma raiva tão intensa quanto essa. Algo... Primitivo, bestial.

Ravena havia terminado de recuperar energia durante o dia anterior e estava ótima. Quando ela veio agradecer por tê-la salvado, ele sentiu uma onda gelada passando por sua barriga que nada tinha a ver com falta de energia ou qualquer injúria.

Então, isso só podia significar que tinha... Sentimentos por Ravena. Claro, ela era muito bonita – parecia ter ficado mais bonita nos últimos tempos, e um dia, há muitos anos ele tivera uma quedinha por ela, e os dois estavam em ótimos termos depois que ele amadureceu um pouco, mas... Era uma sensação esquisita. Ele não se sentira dessa maneira em relação a ninguém desde que terminara com Terra. Não tinha certeza se era uma coisa boa.

Ele se deitou de bruços e deixou sua mente vagar. Assim, novamente a imagem de Ravena sendo beijada contra o céu escuro apareceu, mas dessa vez era ele a beijando, e não contra sua vontade... Uma cálida sensação se espalhou por seu peito e ele sorriu.

Sim, isso era uma coisa muito boa. E ele estava pronto para tomar uma atitude.

–o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o

14 de Agosto de 2009, 10h24min

No dia seguinte, depois do café da manhã, Mutano foi se sentar em sua pedra na beira da pequena ilha onde ficava a Torre Titã, para pensar. Já havia estabelecido na noite anterior que tinha sentimentos por Ravena, e decidido fazer algo sobre isso, mas não sabia exatamente o que. Simplesmente contar para ela, no momento, parecia errado. Ele ainda não se sentia pronto, e sabia que ela não iria levá-lo a sério.

O caso é que Ravena não era uma garota qualquer. Ele havia acompanhado as duas únicas vezes em todos aqueles anos em que a empata saíra com alguém e ambas não terminaram bem. Primeiro aquele dragão, Malchior, que a tinha usado sem nenhum escrúpulo e quebrado seu coração, e depois, o cara gótico de alguns meses atrás, que foi longe demais sem a sua permissão.

Ele precisava fazer alguma coisa, algo que mostrasse a ela sua seriedade no assunto e ao mesmo tempo a instigasse a confiar nele. Mas claro, ela era Ravena. Então precisava ser uma coisa especial. Extra especial. Algo... diferente do que ele normalmente faria.

O que ele faria normalmente, se quisesse marcar um encontro? Primeira coisa em sua mente: ir ao cinema. Mas ele precisava pensar como Ravena. Se tinha aprendido alguma coisa em seu relacionamento com Terra, é que a saída precisava agradar as duas partes. Então, o que Ravena dizia de cinemas? Muito cheio: ela não gostava de aglomerados de pessoas. Outro fator: a empata raramente apreciava filmes. Achava que TV no geral derretia o cérebro e sempre criticava plots e temas dos filmes que ele costumava escolher.

Do que ela gostava então? Ler. Isso era uma coisa que eles não podiam fazer a dois. Uma vez, ele tentara ler um livro por cima do ombro dela, pra ver o que tinha de tão interessante, mas aparentemente a respiração de uma pessoa na sua nuca quando você está lendo não é agradável. Ao menos ele deduzira isso depois que ela afundou sua cabeça em uma almofada.

O que mais? Meditar. Ok, ele até podia fazer isso com ela – Estelar e até Terra faziam às vezes, mas não é uma atividade que dê margem a muita conversa ou conhecer um ao outro. Ele sabia que ela gostava de ir a um café onde recitavam poesia, mas sabia que ficaria tão deprimido só pela aura daquele lugar que não ia conseguir ser ele mesmo.

Ele batia os dedos no joelho, pensando. Sentia que estava perdendo alguma coisa. Então ele se lembrou de um lugar perfeito.

–o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o

Ravena tinha acabado de colocar os pés no chão após algumas horas de meditação quando ouviu alguém bater à sua porta. Ela se esforçou para não sorrir. Quando Mutano e Terra terminaram, o metamorfo parou de lhe visitar por cerca de duas semanas. Claro, ele estava triste e tentando reorganizar sua vida e rotina – Ciborgue o chamava de 'o zumbi Mutano' – mas ela sentira sua falta.

Mas isso não era motivo para baixar a guarda, ela pensou, colocando uma expressão propositalmente mal-humorada no rosto e indo atender a porta.

"O que?" ela perguntou, abrindo a porta apenas o suficiente para que seu rosto aparecesse. Como o esperado, Mutano estava lá. Ele estava mais perto do que de costume, fazendo a empata dar um passo para trás instintivamente, e a porta se abriu totalmente.

"Oi, Rae... Er, Ravena" ele a cumprimentou, com um grande sorriso no rosto. Uma emoção diferente estava emanando dele hoje. Seria... Ansiedade? Preocupação? "Como você está hoje?"

"... Como sempre. Por que pergunta?" ela levantou uma sobrancelha, achando esse comportamento do colega verde um tanto estranho.

"Bom, eu só estava pensando..." ele murmurou, olhando para os pés por algum motivo. "Se você vai fazer alguma coisa amanhã à noite."

"Amanhã é... Sábado, certo?" ela disse, se voltando para dentro do quarto e olhando para um calendário pendurado acima de um dos seus móveis. No quadrinho do dia seguinte estava escrito 'Estelar'. "Bom, como não é meu dia de lavar roupa, vou só meditar, suponho."

"Então, nada inadiável?" ele questionou, muito sério.

"Eu suponho que não" ela deu de ombros, imaginando onde isso ia dar.

"Legal! Então... Quer ir ao cinema comigo?" ele abriu um sorriso de novo. Ela franziu a testa, sentindo que havia algo errado.

"Mas Estelar vai estar lavando roupa" ela disse. Ele a encarou como se não soubesse do que ela estava falando. "Nós vamos ao cinema sem ela?! Robin concordou?"

"O que? Não, não. Eu quis dizer... Só a gente"

Ravena apenas ficou olhando para ele, meio impressionada, meio desconfiada. E se fosse uma brincadeira?

"Por que?"

"Eu só pensei que a gente podia se divertir e ter um tempo pra se conhecer melhor" ele explicou, e não havia traço de gozação em sua voz. Tampouco emanava dele a sensação de excitamento que ele normalmente tinha antes de pegar alguém em uma brincadeira.

"Nós vivemos na mesma torre há uns cinco anos" ela explicou pausadamente. Ela sentia um calor em seu rosto e uma euforia que tinha certeza ter algo a ver com Afeição.

"Bom, nós dois nunca fazemos nada juntos" ele argumentou, olhando em seus olhos. "Eu gostaria de passar mais tempo com você. Bom, vamos?"

Algo no modo que ele disse isso, ou talvez tenha sido apenas seu olhar hipnotizante, fez com que ela respondesse imediatamente, sem parar para pensar ou considerar o significado disso.

"Sim"

O rosto de Mutano se iluminou. Seus olhos brilharam e ele abriu um sorriso gigante.

"Ótimo! Sabe aquela lanchonete onde eu trabalhei? Me encontra na frente dela às 9 horas!"

"Mas... O cinema é do outro lado da cidade" ela disse, sem muita certeza, já que só tinha ido à lanchonete uma vez.

"Nós não vamos naquele cinema. Ah, e eu vou com roupas civis, mas você pode ir como preferir" ele informou sorrindo. "Até mais!"

E com essa enigmática frase ele a deixou, parecendo com pressa de sair antes que ela mudasse de ideia.

'Tem certeza que essa foi uma boa decisão?' perguntou uma vozinha no fundo de sua mente que a fez lembrar de uma certa emoção de capa marrom.

'Me diz você!' ela rebateu irritada, fechando a porta. 'Você é a responsável por me dizer por que não ir!'

'Bom, fica difícil quando alguém grita e empurra... ' ela sabia que a voz se referia à Afeição.

'Sem problemas' ela respirou fundo. 'Porque Afeição está pensando que isso é algum tipo de encontro'

'E não é?'

'Claro que não. Ele disse, nunca fazemos nada juntos, como ele faz com os outros. Ou seja, como amigos.'

"Não é um encontro!" ela disse com firmeza para seu reflexo na janela.

–o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o

'Não é um encontro.' ela pensou naquela noite, enquanto se deitava para dormir e ajustava o relógio para uma hora mais cedo, permitindo que ela tivesse mais tempo para meditar antes do... Evento.

'Não é um encontro' repetiu sua mente, enquanto ela tomava banho e passava mais um pouco de shampoo.

'Não é um encontro' de novo, quando viu o sol se pôr do terraço, terminando de meditar.

'Não, não é um encontro... ' ela considerou, enquanto escolhia cuidadosamente algumas roupas.

'Não é!' enfatizou, se voltando para sua penteadeira e colocando brincos discretos com bolinhas azuis.

'Não...'

"Oi, Ravena!" exclamou uma voz à distância. Ela tinha chegado à lanchonete em questão às 21h03, e um rapaz verde acenava. Respirou fundo e foi em seu encontro. Não um encontro, claro.

–o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o

"Onde estamos indo?" perguntou Ravena, virando uma esquina.

"Ao cinema" respondeu Mutano, olhando para ela mais do que o normal. Ela estava muito bonita, com uma calça preta, uma blusa branca de mangas compridas e um casaco com capuz azul. As botas e o cinto eram o que ela sempre usava, mas tinha caído muito bem com essas roupas também. Tinha mais uma coisa diferente... Brincos?

"Disso eu sei" ela disse secamente.

"Ok, ok, não estamos longe agora, depois desse farol..." ele indicou, e a puxou pelo pulso para atravessar a rua. Foi um toque delicado e sutil, mas fez o coração de Ravena dar um pulo no peito. "Aqui estamos!"

A empata se distraiu da recente emoção, olhando o local que o amigo indicava. Se ele não a tivesse levado até ali e mostrado, ela teria passado reto sem reparar. Era uma vitrine de vidro com alguns cartazes à mostra. Sim, eram cartazes de filmes, mas ela não conseguia ver como aquilo poderia ser um cinema. Tinha quatro cartazes enfileirados, e de ambos os lados já eram outros prédios.

"Por aqui" chamou Mutano, e ela viu que um dos cartazes estava pendurado na porta do local. Ela o seguiu, e os dois desceram por uma escada. Que tipo de lugar era aquele? Por acaso eles iam assistir um filme no porão de alguém?

Ao chegar ao final da escada, porém, Ravena se deparou com um belo saguão, com os mesmos cartazes da entrada pendurados com indicações de horários e preços, iluminação fraca propositalmente e algumas mesinhas espalhadas. Três guichês estavam abertos ao fundo e um corredor levava às salas de exibição. Havia também uma loja de comes e bebes muito completa.

"Então, o que achou?" questionou Mutano ao seu lado.

"Esse lugar é incrível" ela disse com sinceridade. "Como descobriu? Por que é tão escondido?"

"Sei lá, acho que pra diminuir a quantidade de pessoas" ele encolheu os ombros. "Caí aqui uma vez quando estávamos lutando contra o Plasmus. Vamos sentar?"

Ravena o acompanhou até uma das mesinhas. Ele estava usando uma calça jeans azul, camiseta roxa com uma camisa preta por cima e tênis brancos.

"Você escolheu o filme?" ela questionou, examinando os cartazes.

"Sim, tomei essa liberdade, porque esse cinema só exibe dois filmes por vez de qualquer forma" ele lhe passou um bilhete que ela percebeu que tinha sido comprado enquanto ela se surpreendia com a existência de tal lugar. "Vamos ver 'Mary e Max', é uma animação australiana, mas com tema adulto."

"Quanto te devo?" ela perguntou, abrindo sua carteira.

"O que? Não, Ravena, eu te convidei, é por minha conta" ele disse rapidamente, colocando a mão por cima dela e a impedindo de abrir completamente a carteira. Ela levantou a cabeça e seus olhares se cruzaram por um segundo. Então ele afastou sua mão e ela desviou o olhar.

"Isso é bobagem, posso pagar minha própria entrada"

"Deixa pra lá. Enfim, a sessão começa em quinze minutos. Gostou da escolha?" ele complementou, tentando mudar de assunto. Ela mordeu o lábio inferior, sabendo que não seria ludibriada.

"Obviamente ainda não vi o filme, mas..." ela começou, olhando os cartazes. "Acho que essa também seria a minha primeira escolha." Mutano pareceu encantado.

"Mas... Esses não são os filmes em cartaz do outro cinema, são?"

"Muito esperta" elogiou ele de brincadeira. "Não, não são. Na verdade, esse cinema é mais vazio e escondido porque passa uns filmes 'cabeça'... Achei que talvez você gostasse."

"Bom, é bem tranqüilo" ela concordou, se sentindo corar levemente por saber que ele havia se preocupado em pensar em algo que ela gostasse em específico.

"Então, Rae..." ele começou, após alguns minutos de silêncio. "Sabia que eu falo a língua da tribo Africana de Upper Lamumba?"

"Não, não sabia" ela negou, sem saber o motivo por trás dessas palavras.

"Viu, aí está uma coisa que você não sabia sobre mim!" ele exclamou com ar de vitória. "Agora você."

"Eu o que?"

"Me conta alguma coisa que eu não sei sobre você"

"Hm... Eu falo Romeno"

"Pff... Já sabia essa."

"É mesmo?" ela levantou as sobrancelhas, surpresa. "Como?"

"Um dia te perguntei em que língua estava escrito um de seus livros, e você disse romeno" ele explicou. "Manda outra."

"Eu..." ela pensou. Nada do que veio a sua mente ela queria dividir com o colega.

"Tá bem, você é péssima nisso. Em vez disso, eu te perguntou algo" ele determinou, e antes que ela pudesse reclamar, ele disse: "Qual é sua flor favorita?"

"Girassol" ela respondeu, de novo, antes que pudesse parar a si mesma.

"Uau, nunca iria imaginar!" ele parecia animado. "Bom, com isso, acho que podemos ir para a sala. Mas antes, pipoca!"

Ravena passou na frente e, antes que ele percebesse, estava com a carteira na mão.

"Duas pipocas salgadas. Com manteiga." ela pediu ao rapaz de avental vermelho e colocou o dinheiro no balcão. "Um chá gelado e uma Coca grande"

"Ei!" ele protestou, um pouco confuso.

"Você pagou os ingressos, eu pago a comida" ela comandou em voz firme. "Nada mais justo."

"... Tudo bem, fechado" ele concordou, parecendo estar achando graça. Esse certamente era um encontro incomum.

Não, é claro, que fosse, de fato, um encontro.

–o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o

I don't mind spending everyday

Out on your corner in the pouring rain

Look for the girl with the broken smile

Ask her if she wants to stay a while

And she will be loved

And she will be loved

–o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o

Música: She Will be Loved por Maroon 5

Tradução:

Ela Será Amada

Rainha da beleza de apenas 18 anos
Ela tinha alguns problemas com si mesma
Ele sempre estava lá para ajudá-la
Ela sempre pertenceu a outra pessoa

Eu não me importo de passar todos os dias
Do lado de fora, na sua esquina, na chuva torrencial
Procure a garota com o sorriso partido
Pergunte a ela se ela quer ficar por um tempo
E ela será amada
E ela será amada

–o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Relógio de Areia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.