Rouge soltou um suspiro, se apoiando na beirada da mesa de madeira maciça.

–-Vamos. Me conte tudo. Que história é essa de morrer?

–-Bom, é simples. Semana passada, lá na nossa base, chegou um garoto de doze anos que é um gênio.

–-Tipo aqueles de lâmpada mágica?-- Buggy questionou.

–-Infelizmente não. Eu também achava que era, até me explicarem. Ele é só muito, mas muito inteligente mesmo! O nome dele é Vegapunk, e ele sabe tudo.

–-Tudo mesmo?--Shanks não parecia acreditar- Tipo, tudo sobre todas as coisas?

–-Tudo e mais um pouco, porque ele também inventa um punhado de coisas! Três dias atrás ele...

–-Roger, não se desvie, por favor. E meninos, esperem ele terminar sim? Dai podem perguntar o que quiserem ta?

Os três assentiram com a cabeça.

–-Me ensina esse truque?

–-Fique quieto, Rato. Roger, termine sim?

–-Tá! Dai no mesmo dia que ele chegou nós fomos conhecer ele, certo? Dai eu comecei a tossir tipo... COF COF COF-- Ele simulou uma tosse exagerada-- E ele me mandou pra enfermaria pra ele me examinar. Eu fui e ele falou que eu ia morrer em dois anos e pouco. Dai agora eu to aqui. Hehe

Raylegh piscou duas vezes.

–-Você realmente acredita no diagnóstico de um garoto de doze anos?

–-Eu já disse, ele é um gênio!

–-Mas isso não justifica!! Só porque você tossiu ele disse que você vai morrer??

–-Sim! O que você acha, Rouge?

Ela soltou o segundo suspiro do dia.

–-Acho que estamos perdendo tempo, e ele é muito curto para desperdiçar assim.

Roger abriu um sorriso cheio de dentes.

–-É assim que se fala!! Vamos??

–-Vocês podem ir. Meninos, pra casa.

–-Espera!! Você não vai com a gente?

–-Não posso.

–-Porque? Por culpa do Tio? Ei posso ir lá e....

–-O Tio morreu a três anos em um acidente com um caldeirão de sopa.
Um silêncio encheu o salão

.–-Então... Você tem cuidado da biblioteca e desses pirralhos sozinha?

Os pirralhos no tiveram tempo de protestar.

–-Claro que não! Uma forasteira, Shaki, tem me ajudado muito.

–-Shaki? Quem é essa?

–-Uma arqueóloga. Chegou a Long Town a dois anos e meio e acabou ficando comigo na biblioteca. Não posso ir e largá-la sozinha.

–- Chama ela pra vir também ué!

–-E os meninos? São muitos jovens para....

Roger deu de ombros.

–-Nos vamos precisar de alguém pra lavar o chão e os pratos.

–-EI!--Buggy protestou

–-Fica quieto pierrô.

–-De qualquer forma... Shaki está viajando. Foi até Water Seven visitar um amigo e deve voltar ainda hoje. Eu só vou se ela for também.
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Claro que foi uma bela surpresa quando, no dia seguinte, zarpava do Porto um navio enorme com apenas seis tripulantes.

Rouge soprou a franja enquanto jogava a última bolsa para dentro do alojamento feminino.

–-Não acredito até agora nessa coincidência toda.- Ela soltou para a amiga que entrava logo atrás.

Shaki sorriu, divertida.

–-Ora, vamos Rouge! Anime-se! Eu já ia embora de Longue Town de qualquer jeito, então fico feliz que tenha decidido vir comigo.

–-Onde você achou esse barco?

–-Tom-kun tinha acabado de construí-lo, e me deu para testar. Foi muita sorte ter encontrado mais gente disposta a usá-lo porque sinceramente, não conseguiria manejar tudo isso sozinha por muito mais tempo. É muito solitário.

–-Quem é otario?

–-Solitário baixinha, Sozinho.

–-Ah.--Ela se deitou na cama-- de qualquer forma, Roger tem mesmo uma sorte imensa.

–-Com certeza.

–-Ele e os meninos estão felizes.

–-Sim.

–-E eu vou poder finalmente conhecer o mundo.

–-Pode apostar.

–-E nós carregamos todos os livros importantes para a biblioteca, certo?

–-Se nós quer dizer eles então.... Sim.

Rouge não parecia ouvir nenhuma das respostas.

–-Então... Não foi uma decisão errada certo?

–-Claro que não. Fique tranquila, nós vamos ficar bem.

A loira estreitou os olhos, levando a mão aos ouvidos.

–-O que?

–-Nada, nada.

Rouge fechou os olhos com força. Parecia que, a cada dia que se passava, menos ela ouvia. Ouvir Shaki, Shanks ou Buggy se tornava mais difícil. Ter se reencontrado com Roger era uma das poucas esperanças que ela ainda podia ter de ouvir direito e ser ouvida.
Mas o real problema era que Rouge se esforçava para ouvir. Dava tudo de si para conseguir entender corretamente o que todos tentavam lhe dizer. E esse esforço vinha a desgastar os poucos aparelhos de distinção dos ouvidos.

Quanto mais ela se esforçava, menos ouvia. E quanto menos ouvia, mais ela tinha que se esforçar. Era um ciirculo vicioso, e a pobre mulher não estava no meio dele. Era ela todo o círculo.

"É o que se chama círculo vicioso.(...) É um lugar, leitor, em que ninguém desejaria estar.

Mas, como você sabe, ninguém se interessava muito em saber o que Migalha Sementeira desejava.

–-Quanto tempo nós temos com esse navio?

–-O tempo que precisarmos para rodar o mundo. Esse é o sonho do Tom-san.

A mais nova deu um sorrisinho de canto.

–-Tom-San também tem um sonho idiota, né?

–-Todos os sonhos são idiotas, Rouge. Alguns só parecem menos prováveis que outros, e nem por isso nós deixamos de insistir em segui-los.

–-Bem, todo mundo tem um sonho idiota. Gregório, por exemplo, sonha com um mundo em que a sopa seja legal. E esse rato, Gregório tem certeza, deve ter algum sonho idiota também.

–-Navegar o mundo todo.... Esse deve ser o mais idiota de todos Então.

–-Pode até ser, mas muitos ainda tem esse sonho por aí. E nos inclusive estamos tentando ajudar um deles.

–-Eu estou ajudando. Você está aqui pelo seu próprio sonho.

–-Uma coisa não impede a outra, minha amiga. E você pode muito bem estar buscando seu próprio sonho sem saber.

Ela balançou a cabeça.

–-u-uhn. Eu não. Eu... Não tenho sonhos. Eu vou seguir minha vida, vendo os dos outro se realizarem e ajudando sempre que puder.

–-Ver sonhos que não são seus se tornarem realidade não vai te fazer feliz, Rouge. Pelo contrário.

–-Não me importo. Desde que eu consiga realizar o dele, eu posso ficar em paz.

Shaki sorriu.

–-Então vamos. O tempo é curto.