Monotonia escrita por Deusa Nariko


Capítulo 18
18


Notas iniciais do capítulo

Décima oitava drabble que eu dedico à Ariadne pela recomendação linda! Espero que goste! *-*
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Boa leitura!



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Monotonia

Por Deusa Nariko

XVIII

 

Quando a noite caiu, serena e fresca, ambos já tinham tudo preparado para pernoitarem nas entranhas de uma floresta úmida e ruidosa, no interior do país do Rio.

Sakura ajeitou seu saco de dormir perto do ardor tênue da pequena fogueira que Sasuke acendera e acomodou-se dentro dele, grata pelo calor suave das chamas que se derramava ao seu redor. Sasuke, por outro lado, estava a alguns metros adiante, recostado a um velho tronco caído e enrolado no seu manto negro.

Depois da conversa que tiveram pela manhã, ela não conseguiu evitar repetir as palavras que ele proferira na sua cabeça. Desde o tom grave, baixo e aveludado que ele usara, até a intensidade e a convicção que expressara. “Você fez”, ele dissera e esmagara todas as incertezas, todas as suas angústias.

Sakura sempre soube que o marido não era um homem de muitas palavras, mesmo agora ele era bastante reservado e até um pouco tímido com seus sentimentos, por isso ela valorizava cada palavra que ele dissesse, cada gesto que ele fizesse.

Olhando-o agora, a expressão contemplativa que ele carregava no rosto, iluminado pelas chamas alaranjadas do fogo, ela hesitou por um momento antes de se apoiar sobre os cotovelos no saco de dormir e chamá-lo.

— Não vem dormir, Sasuke-kun?

Ele ergueu os olhos para olhá-la e, com dificuldade para disfarçar um pequeno sorriso, meneou a cabeça vagarosamente, negando.

— Ainda não — acrescentou num tom monótono, ajeitando o manto pesado que envergava sobre os ombros.

Ante a negativa dele, ela se perguntou se havia algo o incomodando e sentou-se ereta com a possibilidade.

— Tem alguma coisa errada, Sasuke-kun?

Mais uma vez, ele balançou a cabeça para negar, mas havia uma sugestão de angústia no seu rosto que Sakura não conseguiu ignorar. Mas ela sabia que pressioná-lo para se abrir era inútil, o que podia fazer é garantir a ele que estaria ali para ouvi-lo, quando quisesse se abrir.

Com um suspiro de resignação, foi exatamente isso o que ela fez:

— Se precisar de qualquer coisa, é só me avisar, Sasuke-kun; estarei aqui.

Depois disso, voltou a se deitar e virou-se para o outro lado para tentar dormir. Pareceu haver se passado pouco mais do que alguns minutos quando ela foi acordada por um aperto firme no seu ombro. Sua primeira reação, desorientada pelo sono e como uma Shinobi experiente, foi enrijecer todo o corpo, mas, assim que se situou e se lembrou de quem provavelmente a havia despertado, relaxou os músculos tensionados e bocejou discretamente.

— Sasuke-kun? — chamou-o e rolou sobre o saco de dormir para encontrá-lo ajoelhado ao seu lado, o rosto pairava acima do seu e, numa expiração repentina, seu suspiro se tornou um arquejo pouco abafado.

Piscando os olhos repetidamente a fim de espantar os requícios de sono que turvavam sua mente embotada, Sakura se sentou e roçou uma mão na face do esposo, alisando-a.

— Sasuke-kun, está tudo bem?

Em resposta, ele apenas se inclinou na direção do seu toque e fechou os olhos. Por um momento, ficaram os dois assim: imóveis e consumidos por uma candura aconchegante; ouvia-se, ao longe, o estalar das achas na fogueira, o ruído de insetos e bichos noturnos na floresta e, ocasionalmente, o farfalhar do vento nas árvores vistosas. Junto a esses sons havia a cadência moderada com a qual batia seu coração e o coração de Sasuke.

Compreendendo a necessidade dele sem que ele sequer a houvesse vocalizado, Sakura apanhou-o pela mão e puxou-o para mais perto, invitando-o a se acomodar no saco de dormir ao seu lado. E assim ele o fez, agradecido.

Deitou-se de frente para ele, moldada aos contornos firmes do seu corpo esguio e viril, e inspirou o cheiro limpo das roupas dele: havia uma sugestão de cinzas, grama e almíscar. A fragrância familiar dele, impregnada na sua pele e vestimentas, a acalmava sem que percebesse.

— Às vezes... — ele disse, surpreendendo-a com o som da sua voz. — Eu me pego pensando em como tudo poderia ter sido diferente.

Bastou que ele proferisse isso para que ela soubesse que se referia ao seu passado, ao seu clã, à sua família. Sakura se lembrava do dia em que Sasuke a chamou em particular, ainda se recuperando dos ferimentos da batalha com Naruto no hospital, e contou a ela toda a verdade sombria por trás do massacre dos Uchiha, toda a sujeira empurrada para debaixo do tapete — e que assim deveria permanecer.

Ela nunca diria a Sasuke, mas tinha pesadelos, às vezes, com uma Konoha sombria controlada por um Danzō tirano. Limpando a cabeça de tais pensamentos, abraçou o marido e apertou-se contra o peito dele numa tentativa de consolá-lo.

O passado sempre seria um assunto delicado e doloroso para Sasuke, mas Sakura estaria ao lado dele para ajudá-lo no seu processo de cura — ela se certificaria de fazê-lo feliz a cada dia, como prometera uma vez.

— Eles teriam orgulho de você — sussurrou junto ao estalar das chamas. — De quem você se tornou, Sasuke-kun — reiterou, alisando o peito dele.

— Teriam mesmo? — ele ecoou com uma pontada de ceticismo na voz aveludada.

— Sim, eles teriam — repetiu sem se sentir abalada pela dúvida que ele transpareceu. — Porque todos estamos orgulhosos de você, Sasuke-kun. Eu estou orgulhosa de você, da sua coragem de recomeçar.

Por um momento, ele ficou em silêncio, apenas inspirava e expirava o ar metodicamente. Então, Sakura estremeceu quando sentiu a mão dele acariciar seu cabelo, segurando-a pela nuca e trazendo seu rosto para cima.

— Eu só tive coragem de recomeçar, Sakura, porque pude ser perdoado, porque recebi seu perdão. — A intensidade na sua voz, nos seus olhos, emudeceu-a.

Depois disso, não houve mais oportunidade para confissões, pois Sasuke puxou-a para cima novamente e de encontro aos seus lábios. Beijou-a com ternura a princípio, depois com desejo e, por fim, com desespero. Deixou-a trêmula e ofegante com a força do seu amor e reafirmou para ela mais uma vez a constância fervorosa dos seus sentimentos.

Só mais tarde, ele se afastou e tocou-a no rosto, nos lábios inchados e apartados que arquejavam sem cessar. Roçou a boca úmida na sua testa e suspirou-lhe boa noite.

Dormiram imperturbavelmente por longas horas enfim.


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Notas finais do capítulo

Mil perdões pela demora, estive focada nas últimas semanas em terminar uma Fanfic minha da qual eu gostava muito e assim não sobrou espaço para as demais, mas uma vez que ela está finalizada, aos poucos vou voltando ao ritmo de antes =)
...
Nos vemos nos reviews!
Até o próximo!



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