Monotonia escrita por Deusa Nariko
Notas iniciais do capítulo
Décima sexta drabble dedicada à Juliet McLaren pela recomendação maravilhosa! Espero que goste! *-*
...
Boa leitura!
Monotonia
Por Deusa Nariko
XVI
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Se lhe perguntassem como haviam ido parar naquela situação, Sakura não saberia responder com certeza.
Num momento, estavam os dois sentados à varanda da estalagem, enquanto um pôr do sol quase onírico aprofundava os tons violáceos e carmesins num horizonte límpido, desaparecendo por trás das montanhas.
O silêncio revelou-se acolhedor quando Sakura descansou a cabeça no ombro do seu marido. Havia o cheiro rançoso das folhas em putrefação, que desnudavam os galhos das faias escarlates, e da terra úmida na brisa fresca daquele fim de tarde.
No instante seguinte, um momento breve de carência, quando esfregou a lateral do rosto na gola do quimono que Sasuke usava, a ponta do seu nariz esbarrou num pedaço de pele e aninhou-se ali mesmo, na curva forte do pescoço. A mão calejada que descansava na base das costas de Sakura moveu-se então; deslizou pela lateral do quadril e contornou sua cintura até aninhar-se logo abaixo dos seios, sobre as costelas.
Depois disso, Sakura só conseguia se lembrar de como os beijos de Sasuke devoravam seu fôlego curto e de como pressionar-se contra ele, sentir o calor e o cheiro da pele dele, era bom. Seus dedos embrenharam-se no cabelo grosso, deslizaram pelo rosto de feições finas e lentamente o afastaram dela, segurando-o. Resfolegando, as pálpebras semicerradas, olhou-o nos olhos desiguais, contemplando-o: um era preto como obsidiana, como céu noturno sem luar e sem estrelas, já o outro era um labirinto espiralado de um tom lilás.
Apenas em Sasuke, e somente em Sasuke, tal característica peculiar cairia bem. Mais do que isso: o deixava ainda mais lindo.
Sem receios, ela se levantou e segurou a mão dele para que a acompanhasse para dentro do cômodo. A porta de correr deslizou quase sem fazer som algum, encerrando o quarto numa penumbra suave.
Sakura não soube quando e como seus dedos trêmulos e desengonçados começaram a desfazer o nó no seu quimono, mas depressa sentiu o tecido escorregando pela sua pele numa carícia e empoçando ao redor dos seus tornozelos. Quando se moveu para ajudar a despir Sasuke, ele a encontrou a meio caminho, já seminu, a vestimenta pendendo obscena de um ombro musculoso, e tornou a envolvê-la no seu meio abraço.
Era diferente e igual, de um jeito controverso: suas costas tocaram as cobertas macias e suas pernas afastaram-se para acomodá-lo. A lembrança da sua primeira noite fulgurava, à margem, na sua mente. O corpo de Sasuke era quente e firme sob as suas mãos, e Sakura queria acariciar com beijos cada centímetro dele, levar seus fantasmas embora e soprar toda a dor para longe.
Os lábios dele tocaram seu colo, seus seios, seu ventre e suas coxas, deixando-a perdida numa espécie de delírio febril construído a partir dos seus próprios suspiros. Sakura agarrou-se a um fiapo de sanidade para gemer o nome do marido e envolvê-lo pelos ombros, trazendo-o para cima novamente e de volta para os seus lábios.
Era tão bom senti-lo assim, tão entregue, tão vulnerável, ao alcance dos seus toques e dos seus beijos.
Estremecendo, deixou escapar uma lamúria quando ele se uniu a ela. Seus dedos se entrelaçaram aos dele com força, mas nos seus lábios um sorriso sonhador tomou forma. Sua mão livre agarrou a coberta, sob o seu corpo, escorregou ao longo das costas suadas de Sasuke; senti-lo enrijecer e se arrepiar sob o seu toque a deliciava.
A boca dele, apartada, descansou na sua testa; ouvia-o respirar ruidosamente e sentia o compasso enlouquecido do seu coração quando pousou a palma sobre o peito dele. Apertando as coxas ao redor dos quadris dele, fechou os olhos quando aquela sensação de completude e contentamento mais uma vez explodiu no seu peito.
No fim, encontrou-se extasiada, deitada sobre o peito dele, e um tanto sonolenta. Espreguiçando-se, alongou os membros relaxados e deixou-se ser embalada pelo som do coração de Sasuke batendo.
— Você conheceu muitos lugares durante a sua viagem? — ela perguntou, impulsionada por uma súbita necessidade de quebrar o silêncio agradável e ouvir a voz dele.
Sasuke concordou com um aceno, primeiramente, depois acrescentou num tom vago:
— Estive em praticamente todos os países e conheci muitos lugares, alguns mais memoráveis do que outros, é claro.
— Existe algum preferido? — brincou com um sorriso, traçando círculos na pele dele.
— Alguns — ele respondeu conciso.
Quando pareceu que se manteria em silêncio, deslizou o único braço por debaixo do corpo de Sakura e a trouxe mais para cima, rearranjando-a sobre o seu peito. A mão acariciou-a na base das costas e na lateral do quadril.
— Pode mostrá-los para mim? — ela quase se sentiu tímida ao fazer o pedido, mas, ao espiar a feição serena do marido, surpreendeu-o sorrindo.
— Teremos tempo para isso — ele garantiu com ar solene.
Mais alguns minutos se passaram e Sakura estava prestes a adormecer quando a voz de Sasuke a trouxe de volta do estado de torpor e relaxamento.
— Eu andei investigando algumas... coisas durante a minha viagem.
— Que tipo de coisas? — ela se sentiu impelida a perguntá-lo, ao mesmo tempo em que suprimia um bocejo.
Sasuke deu de ombros, mas ela observou que havia uma tensão na voz dele.
— O clã Ōtsutsuki, principalmente. Busquei nos quatro cantos do mundo por informações sobre o clã de Kaguya e sobre a própria deusa coelho. Infelizmente, recolhi poucas informações de fontes seguras — ele queixou-se ao fim com evidente frustração.
— Algum motivo em particular para fazer isso?
Ele demorou a respondê-la dessa vez.
— Precaução — garantiu um tanto distante, mas a intuição de Sakura dizia que havia algo a mais ali.
Quando intentou se levantar para fitá-lo nos olhos, entretanto, ele a segurou junto a si com mais força, persuadindo-a a voltar a deitar. Seu braço moveu-se para cima, envolvendo-a pelo ombro, e seus dedos enrolaram-se nos cabelos dela.
— Durma um pouco agora, amanhã seguiremos viagem.
Suprimindo um protesto, mas também docemente imbuída pela lábia e pelas carícias de Sasuke, Sakura aconchegou-se ao marido e caiu num sono leve, povoado por uma névoa sutil de sonhos doces.
Na manhã seguinte, sob um sol cálido e um céu límpido, Sasuke e Sakura deixaram a estalagem para trás e seguiram pela estrada de terra que os levaria até a fronteira com o País do Rio: a primeira destinação da viagem.
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Nos vemos nos reviews! ;)
Até o próximo!