O Guardião escrita por Anne Victoria Medeiros Gurgel


Capítulo 3
Lembranças


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem desse capítulo, ele não tem muita ação, mas é bem emocionante.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/632378/chapter/3

– Lembranças.

Não consegui evitar o grito que dei quando Axel pulou do prédio, aquelas asas já estavam me irritando. Ele não falou nada quando dei o grito, apenas me olhou de soslaio e continuou firme em seu voo, nem quando me segurei e praticamente me agarrei a ele quando subiu ainda mais alto. Apenas me lançando aquela mesma cara de preocupado e um meio sorriso tímido como um pedido de desculpas, tentei não repara muito nisso e nele, mas obviamente não estava dando certo. Aquelas asas me assustavam e de certa forma me acalmavam com sua beleza, mas era apenas olhar para elas que mais perguntas surgiam e sem resposta alguma. Por que estavam atrás de mim? Para que precisava de um guardião? Quem havia enviado Axel e o demônio?. E aquela maldita pergunta que estava me atormentado a cada segundo...quem eu era?

Em algum momento daquela viagem acabei dormindo nos braços de Axel e somente lembrava do sonho que tivera que era com sua antiga casa, sua primeira antes mesmo de ter Axel como guardião.

Eu tinha 10 anos quando perdi minha família em um acidente e apenas eu escapei com vida, meus pais haviam morrido na hora sem ter a chance de se despedir. Foi o dia que conheci Axel, ele veio até a ala infantil e disse que cuidaria de mim e que tudo ficaria bem, eu não lembro o que aconteceu no acidente e nem como havia ficado viva, a única coisa que lembrava era das palavras de Axel, “...vai ficar tudo bem”.

E o meu sonho foi exatamente isso, o dia do acidente. O sonho fora apenas pedaços de lembranças das vozes dos meus pais, mas sem seus rostos apenas as suas vozes abafadas e sussurrantes, como se quisessem que eu não ouvisse. Depois lembro de muita água ao meu redor e em seguida...nada. Não lembrava, apenas água, o nada e acordando no hospital com vozes desconhecidas e crianças assustadoras que gritavam palavras sem nexos. Vozes altas que faziam minha cabeça doer, cada vez mais alto, e mais...

– ahhhh – acordei dando um grito.

Eu estava ensopada, dos pés à cabeça. De onde tinha saído tanta água? Eu com certeza não tinha suado e pelo calor, não tinha pego chuva. Me levantei aos poucos sentando na cama e senti minha cabeça doer, talvez fosse uma péssima ideia levantar, pensei.

– o que houve? – vi Axel correr em minha direção. Não tinha reparado, mas estava deitada em uma cama de casal em um quarto grande, com janelas grandes permitindo a entrada da luz do sol, embora uma estava suja o suficiente para que a luz do sol não passasse.

– ah nada – o encarei, mas logo desviei o olhar – apenas um pesadelo.

–oh – relaxou.

Eu estava envolta de lençóis, mas percebi que estava apenas com um short pequeno e a jaqueta dele em mim, estava quase sem roupas. Meu rosto enrubesceu e desengonçadamente puxei os lençóis para cima de mim, me cobrindo totalmente e ficando submersa nos lençóis.

– o que aconteceu com minhas roupas?!- comecei até um ataque, e o pior eu estava ficando extremamente nervosa, put** merda! Ainda bem que ele não podia ver meu rosto, se não veria o quão eu estava vermelha, quase como um tomate.

– ahh – ele gaguejou – eu as coloquei para lavar, estavam cheias de sangue e eu tive que tira-las para cuidar de seus ferimentos. – meu rosto enrubesceu ainda mais.

– não dava para ter esperado eu acordar?!

– você está dormindo a mais de três horas, não poderia esperar tanto tempo alguns ferimentos estão bem profundos e podem infeccionar. – ele se justificou.

– três horas? – me espantei, parecia ter sido apenas alguns minutos.

– sim, você sofreu alguns cortes bem severos, você deve descansar – sua voz ficou suave com uma pequena pontada de preocupação. – depois que descansar deve comer alguma coisa para terminar de recompor suas forças – senti ele se afastar da cama onde eu estava e logo em seguida a porta sendo aberta e fechada.

Bufei assim que ele saiu, odiava quando alguém ficava se preocupando comigo ou me achando indefesa, se não estivesse dolorida e com roupas descentes eu teria dado um soco nele para ver quem era indefeso.

Voltei a me deitar e senti minha cabeça latejar ainda mais, talvez fosse realmente melhor descansar mais um pouco, fechei meus olhos e lembrei-me do sonho. Não era uma boa ideia dormir, mas precisava descansar...

– há outras maneiras de descanso – resmunguei e sai da cama aos poucos, dando tempo para eu ver com mais atenção o local que estava. O quarto era grande, com assoalho de madeira polida, teto branco forrado com alguns desenhos de constelações, as janelas com cortinas vermelhas antigas que agora estavam desbotadas e um pouco rasgadas. Andei até uma das janelas e olhei para o lado de fora tendo uma pequena surpresa, tinha um lago não muito ao longe da casa, muitas árvores que adensavam mais quando se ia para o norte e algumas solitárias aos arredores da casa, mas ainda em grande quantidade. Havia uma pequena ponte que permitia pescar no lago, mas que apenas ia um pouco além da borda do rio. Estávamos em uma casa de veraneio, desde quando tínhamos uma casa desse tipo?

Abri uma das janelas e senti a brisa da manhã, respirei fundo sem tentar me preocupar, virei-me de costa para janela e sentei-me abaixo da janela com um pouco de espaço longe. Ainda poderia sentir aquela brisa, cruzei as pernas, coloquei minhas mãos sobre o colo unindo-as e fechei os olhos; há muito tempo eu não meditava, sempre achei uma perda de tempo, mas agora talvez eu precisasse refletir um pouco e dormir não estava sendo uma boa opção restava então meditar.

Minha audição pareceu aumentar na medida que eu meditava, ouvia os pássaros lá fora, as cigarras, o barulho da água contra as pedras e o vento passando pelo quarto. Meus pensamentos se voltaram para Axel, a única certeza que tinha dele era que ele havia me ajudado e que era um anjo, ou algo assim pelo menos. Talvez ainda pudesse confiar nele, dependeria do que iria acontecer futuramente.

Senti minhas costas doerem um pouco ao tentar ficar mais ereta, me concentrei mais. Por que estavam atrás de mim?

Essa pergunta me assombrava, mas de todas as formas não conseguia responde-la. Nunca se sentira especial ou algo do gênero, eu era uma garota comum, apenas um pouco rebelde as vezes e teimosa.

Talvez devesse mudar um pouco essa pergunta, o demônio falou que eu era difícil de ser encontrada e Axel disse que estava sempre tentando me proteger. Em todos os anos que estive viajando com certeza não era a primeira vez que me acharam, lembro que quando estávamos na China eu tive a sensação que alguém estava atrás de mim, foi o período também que Axel não saia de perto de mim e sempre andava atento para tudo, pelo menos mais do que o normal.

Eu tinha 12 anos naquela época, desde daquele tempo para cá fazia cinco anos. Para alguém achar como eu então aconteceu alguma coisa para ter chamado a atenção. Não foi por eu ter saído de casa, então foi pelo que? Talvez Axel tenha cometido algum erro, ele tinha ficado receoso antes de vir para Índia, e certa vez ouvi ele dizer algo sobre visitar alguém nos arredores da Índia, no dia pensei que era besteira sobre trabalho, bom eu não estava tão enganada assim. Talvez a pessoa que ele foi visitar tenha dito para o demônio onde estávamos, o país e a cidade que estávamos. O que faria Axel se colocar tanto em risco por causa de uma pessoa?

Continuei a pensar em coisas passadas que pudessem me dar a resposta quando ouvi três leves batidas na porta. Abri meus olhos repentinamente, minha cabeça havia parado de doer, mas ainda sentia meu ombro latejar quando o movia muito. Me levantei e fechei a jaqueta que eu estava usando até o pescoço e me joguei na cama, me enrolando completamente nos lençóis, deixando apenas minha cabeça de fora.

– entre – falei

Axel entrou carregando uma bandeja de comida e algo embaixo dos braços, ele colocou a bandeja em cima da escrivaninha ao lado da cama e pegou o que tinha embaixo dos braços deixando em cima da cama.

– obrigada – falei sem o encarar, ele estava sem as asas, como isso acontecia? Como era possível? Controlei-me para não fazer diversas perguntas e me concentrei em apenas uma. – onde estamos?

– no interior da Índia, ao sul de Mumbai – ele falou depois que se afastou um pouco, a tensão pairou sobre nós.

–para onde vamos?

– Japão.

Deveria ter algum motivo para ele querer ir para lá, mas de uma coisa tinha certeza eu não iria. Pensei em questiona-lo, mas ainda não era o momento e com certeza não falaria a ele que não planejava ir com ele.

Ele saiu do quarto, olhei para a bandeja de comida, não sentia fome alguma mesmo assim ainda belisquei um pouco o bolo de chocolate e tomei a goladas o suco de laranja, não poderia correr o risco de ficar mais fraca do que já estava. Coloquei as roupas que ele trouxera, não eram as minhas roupas, ele havia comprado novas que não era tão diferentes das minhas roupas habituais, era uma calça preta, uma blusa branca de mangas de gola V com desenhos esquisitos no meio e havia também um par de luvas pretas. Não entendia para que as luvas, mas coloquei mesmo assim, eram luvas de couro que cobria minha mão até o pulso, conseguia sentir a textura forte dela.

Procurei meus tênis, mas eles não estavam a vista. Tudo bem ficaria um tempo descalça não era ruim, gostava de andar descalça ainda mais quando se estava dentro de uma casa.

Sai do quarto e fui em direção a sala, Axel estava encostado na parede perto de uma das janelas olhando atentamente para o lado de fora esperando que qualquer pessoa aparecesse, ou qualquer coisa, estremeci com a ideia.

Me encostei no sofá que estava perto de mim, suspirei. Eu tinha que perguntar, eu precisava saber.

– por que estão atrás de mim? – perguntei sem rodeios. – o que eu tenho que todos querem?

– o que todos querem? – ele se virou e me encarou – poder.

– poder? – fiquei confusa.

– você é uma fonte de poder, embora não saiba você descende de uma geração de seres poderosos, tanto seu lado materno quanto paterno. – ele me encarava sem nem ao menos piscar – humanos geralmente são fracos, mas a milênios antes mesmo da grande inundação havia homens e mulheres poderosos que conseguiam elevar sua alma e corpo ao máximo obtendo poderes divinos. – prosseguiu – eles eram a tribo que combatia os seres mais poderosos tanto anjos quanto demônios, nós os denominamos de Semini, os que descendem.

Eu fiquei sem o que pensar, eu descendente de uma raça poderosa? Eu?! Continuei parada escutando-o e tentando não entrar em choque quando ele prosseguiu.

– Mesmo sendo uma grande tribo, eles não conseguiram suportar o nosso poder. E acabaram caindo, os Arcanjos os achavam uma ameaça para os anjos então mandou destruí-los – sua voz ficou sombria – mas uma tribo como aquela não se renderia e muito menos se extinguiria fácil. Então com o passar dos milênios eles vem resistindo, mesmo tendo graves derrotas eles sobreviviam, e protegiam seus descendentes dando continuidade à sua tribo.

– o que aconteceu com eles? – perguntei receosa

– se sacrificaram – ele baixou sua cabeça evitando o contato visual – e com esse sacrifício conseguiram salvar três pessoas de seu povo que fugiram e por pouco escaparam com vida do massacre. – ele me encarou novamente – os três fugiram e se esconderam pelo mundo onde ninguém mais os achou.

– Os Semini, por que acham que eu descendo deles?

– você ainda não percebeu? – ele me olhava com certa intensidade. – nunca sentiu nada de estranho que aconteceu com você quando ficava com raiva ou triste? Que as coisas ao seu redor se destruía com uma simples explosão de raiva? – deu um passo à frente – você sempre se meteu em confusão que eram inexplicáveis, sempre acontecendo coisas anormais com você. – seu olhar ainda era sinistro – Mas não é por esse simples fato que sabemos você é uma Semini, e sim pela sua alma pulsante. Por sabermos o quão sua aura tem poder, o quão você é forte. Não apenas em espirito, mas também fisicamente e mentalmente.

– você está maluco – debochei dele.

– maluco? Não, apenas conhecedor da verdade – ele se aproximou – não queria saber a Verdade Ravena, aqui está ela. – seu tom era de compreensão, mas ainda havia algo em sua voz que me assustava. – você é alguém com grande potencial e ai que está o problema. – ele se encostou novamente na janela.

– agora vem a parte que você me diz o porquê de todos estarem atrás de mim, não é?

– sim – ele acenou – sendo você uma fonte de grande poder, então esse poder pode ser usado para desempatar a guerra que acontece entre os anjos e demônios, entre as trevas e a luz. Você é a chave para acabar com a guerra e que um dos lados ganhe definitivamente.

– então querem me usar para ganhar essa guerra, uma guerra que eu nunca vi e que tenho que escolher um dos lados para ajudar. – exclamei – parece um pouco dramático, como uma única pessoa pode desequilibrar uma guerra? E por que eu ajudaria uma guerra da qual nem faço parte?

– você se engana – ele ficou sério – essa guerra definiria o curso da humanidade, o seu futuro. – engoli em seco, aquilo estava ficando sério de mais.

– mas como eu poderia desempatar isso?

– você nem imagina o quanto um Semini é poderoso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

comentem o que vocês acharam deste capítulo. :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Guardião" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.