– Sakura-chan, você vai participar da maratona, não é? Assina aqui! – Naruto praticamente gritava no meu ouvido enquanto esfregava aquele papel na minha cara, que amor.

– Baka, não grita! – disse dando um cascudo nele que começou a reclamar sobre eu ser “violenta demais”.

Já havia se passado quase duas semanas desde o pequeno acidente com Sasuke. Sim, agora eu sabia o nome do gato que eu havia mandado para o hospital e tudo graças a Naruto. Na verdade, eu me aproximei dele para questionar sobre a saúde do sósia de Adônis e acabamos nos tornando bons amigos. O loirinho era bem comunicativo e em muito me lembrava Ino, que ficou enciumada no início com a minha amizade com Naruto, mas aos poucos ela se acostumava com ele, até porque ele parecia ser amigo do instrutor com quem ela ficava flertando quando vinha à academia.

– Então, você não vai participar? – indagou o loiro mais uma vez já com um sorriso enorme no rosto.

– Do que?

– Da maratona! Falta duas semanas e eu estou encarregado de fazer a lista dos participantes no lugar do teme – explicou mostrando mais uma vez o papel e eu suspirei ao me lembrar da droga dessa maratona, porém outra coisa também chamou a minha atenção.

– Porque o Sasuke-kun ia fazer a lista dos participantes? Isso não é responsabilidade da academia? – disse voltando a ligar a esteira para correr e ver se eu aguentava mais do que dez minutos.

– É, mas o teme gosta que as coisas sejam perfeitas, principalmente se ele está organizando o evento.

– Você... falando assim... parece... que o Sasuke-kun... é o dono... da... academia – disse ofegante e o loiro riu de mim, aumentando a velocidade enquanto eu tinha vontade de matá-lo por isso.

– Mas nós somos! Eu, o teme e o Gaara ali – e apontou para o instrutor ruivo com quem Ino conversava animadamente e aquilo, mais o fato de que o Naruto não parava de acelerar aquela droga, foi o suficiente para me fazer perder o equilíbrio, tropeçar no vento, diga-se de passagem, e rolar até o final da esteira. – Sakura-chan, você tá bem? – gritou Naruto vindo me acudir.

Gemi, sem saber exatamente o que responder, Ino veio correndo ao ver que era eu quem pagava mico na academia, de novo, junto com o instrutor ruivo que agora eu sabia se chamar Gaara. Eles me levantaram e Ino e Naruto fizeram o favor de começar a gritar no meu ouvido:

– Ai meu Kami, Testuda! Tá tudo bem? Machucou?

– Eu perguntei a mesma coisa, mas ela ainda não respondeu! – Naruto gritou desesperado e Ino pareceu ficar do mesmo jeito. Abri a boca para dizer que estava bem, mas...

– Ela deve ter se machucado! Ah e se ela machucou o ouvido e não pode mais escutar? – ok, alguém aqui estava exagerando, tentei me manifestar de novo, só que foi a vez do Naruto me interromper:

– Essa não! Temos que levá-la para um hospital! Sakura-chan consegue me ouvir? – berrou, ferindo meus tímpanos – Vamos te levar para um hospital!

– Não se preocupe, Sakura! Tudo vai terminar bem! – foi a vez de Ino gritar e eu só pensava que iria realmente ficar surda ao lado desses dois.

– Oe, calma, os dois. Deixem a rosada falar e parem de gritar! – Gaara se manifestou para minha salvação – Como você está rosada?

– Um pouco surda depois dos berros desses dois, mas acho que nada está fora do lugar – falei com a mão na orelha e Naruto e Ino coraram, envergonhados pelo show.

– É melhor você descansar um pouco – Gaara me ajudou a ir até um banco e ouvi Ino resmungar algo como “Devia ter feito isso primeiro!”. Revirei os olhos, claro, cair da esteira é uma ótima tática para conseguir a atenção de um ou talvez todos os caras da academia que no momento riam de mim, não tão discretamente. Malditos!

– Sakura-chan, me desculpe, eu pensei que você ia conseguir correr naquela velocidade – Naruto ao meu lado parecia realmente arrependido, mas eu não pude deixar de me irritar.

– Eu tenho cara de Flash, por acaso? – retruquei e Ino colocou uma bolsa de gelo no meu joelho e agradeci internamente pela sensação refrescante. – E que história é essa de vocês serem donos da academia? – a verdade era que eu havia me surpreendido com isso, o que ocasionou todo o resto.

– Eu, o teme e o Gaara somos sócios – disse esfregando a mão no cabelo, meio sem graça – Eu e o Gaara fizemos educação física e o teme administração, como sempre fomos amigos resolvemos montar um negócio – explicou dando de ombros.

– Sério? V-Vocês são os donos da academia? – Ino se mostrou surpresa e eu confusa, o que aquilo tinha de mais? Ao ver minha cara, ela resolveu esclarecer – Sakura, essa é a academia mais famosa do país, há diversas filiais no Japão todo! Uchiha Sasuke é um dos mais importantes empresários do ramo! Como eu não me dei conta disso? – e dramática do jeito que era, Ino fez questão de gesticular exageradamente.

– Oe, nós também somos empresários, porque será que só se lembram do Sasuke? – Naruto indagou indignado para Gaara que deu de ombros, não se importando com isso.

Pera aí... deixa eu ver se entendi direito. Eu, Haruno Sakura, havia machucado um dos maiores empresários do Japão? Ah não! Era só o que me faltava ter meu rosto estampado nos jornais e na televisão por acabar com o rosto de Narciso, vulgo Sasuke, e ainda sofrer com um processo por ser desastrada. Eu já conseguia ver as manchetes “Rosada, distraída por pensar no ex, ataca o grande empresário Uchiha Sasuke com um peso, danificando a face e o corpo esculpidos pelos Deuses! Milhares choram!” Sim, era isso que iria aparecer e pior do que ouvir o barulho das sirenes vindo me buscar, seria ver Sasori balançar a cabeça me vendo de camarote ser presa, dizendo que sempre soube que algo assim aconteceria comigo por ser desajeitada. Não, isso seria humilhante demais!

– Oe, Sakura, Sakura! – Ino me chacoalhou me fazendo sair do torpor que estava.

– Eu não quero ser presa! Eu tenho muito a viver ainda! – bom, talvez não completamente.

– Do que você está falando, Sakura-chan? Ninguém vai te prender ‘tebayyo! – Naruto afirmou e eu sorri sem graça ao ver que havia dito aquilo em voz alta.

– Me desculpe, acho que exagerei. – e suspirei.

– É melhor você ir para casa e descansar um pouco, amanhã podemos continuar o treino – Gaara disse atencioso e eu concordei rapidamente, afinal descanso era descanso, mesmo que somente de um dia.

– Certo! Vamos Ino – e a loira me ajudou a levantar, meu corpo parecia estar todo dolorido e meus ossos quebrados, estava acabada e me senti uma velha ao andar.

– Cara, você exagerou com ela na esteira – ainda ouvi Gaara dizer, provavelmente penalizado da minha situação. Ele realmente era um amor, iria incentivar o relacionamento dele com Ino depois disso.

– Eu só aumentei para a velocidade nove, não imaginei que a Sakura-chan não iria conseguir correr nessa velocidade – falou Naruto e pude perceber que ele estava sentido.

– O que? Nove? Eu pensei que fosse mais... acho que a amiga da Ino é mais desengonçada do que eu pensava – disse e pude ouvir um risinho zombeteiro dele. Desgraçado. Acho que mudei de ideia, não vou ajudar em nada, ele que se vire com os ataques da Ino sozinho.

– Não ligue pra eles – ouvi Ino murmurar com um sorriso sem graça ao meu lado, então ela também havia escutado?

– Não ligo! – menti, mas sentia meu rosto esquentar de vergonha.

Depois disso eu desisti de continuar malhando, naquele dia, e fui para casa dormir um pouco. A minha vontade mesmo era de jogar tudo para o alto após essa queda e voltar a minha rotina pacata, mas toda vez que eu pensava em desistir Ino me fazia o desfavor de falar como a siliconada iria esfregar essa desistência, e os peitos dela, na minha cara e ter essa imagem na minha mente era o suficiente para me fazer bufar e voltar para a academia. Além disso, queria infernizar a vida de Gaara de alguma forma por ter me chamado de desengonçada, porém como eu tinha pouquíssimo tempo antes da maratona, me esqueci do ruivo, momentaneamente, e me foquei no treino e nos plantões do hospital. Afinal eu ainda precisava trabalhar para viver.

Foi por causa disso que depois que assinei aquele papel do Naruto dizendo que iria participar, rezei para todos os deuses me protegerem daquele ato de quase suicídio e fui em direção ao trabalho. Suspirei agradecida ao me ver rodeada por algo que me era familiar, sem pesos, anilhas e esteiras assassinas, apenas o bom e velho bisturi, estetoscópio, injeções, desfibrilador e o termômetro, tudo muito tranquilo. Era assim que eu gostava, me sentia feliz por poder ajudar os outros, ali, no meu trabalho ninguém me chamava de desajeitada, desengonçada, lerda, desastrada ou desanimada, simplesmente porque eu amava muito o que eu fazia e me dedicava de corpo e alma nisso.