26 DE SETEMBRO

            — Então, Marg…

            Margaery suspirou, não gostando nada do tom sugestivo na voz de Elinor. Lançou o olhar mais desinteressado que era capaz para sua prima, colocando um Starburst de limão na boca — ela era a maior fã de limões nos últimos tempos.

            — O que foi desta vez?

            — Eu é que te pergunto.

            — Me pergunta o quê?

            — Como foi?

            — Como foi o quê?

            — Você sabe.

            — Não, eu não sei.

            — Claro que sabe, Marg. Não se faça de difícil, porque, pelo jeito, você com certeza não é.

            — Eu não tenho ideia do que você esteja falando. E já que você está sendo deliberadamente ambígua e irritantemente sorrateira, não me dizendo de maneira explícita o que você quer, fica ainda mais difícil desvendar suas charadas fajutas.

            — Tudo bem. Já que você está sendo deliberadamente e irritantemente desgraçada e agindo como uma cadela de merda, eu vou jogar minhas apostas na mesa e dar meu palpite: sua queridíssima paixão homoafetiva, Sansa Stark, foi até a sua humilde mansão de dezenove mil metros quadrados na tarde de ontem para que você pudesse cumprir seu belo papel de tutora de Cálculo I e suprir um pouco dessa sua obsessão. No meio de todos aqueles números e fórmulas e letras intrometidas que não deveriam estar em contas matemáticas, vocês conversaram. Deram risadinhas de lembranças de um passado distante e acharam graça de adoráveis piadas internas. Mas aí começou a ficar um pouco mais sério. Vocês entraram naquele tópico que até alguns dias atrás era uma zona proibida. Mas é óbvio que vocês não se jogaram de cabeça e dissecaram seus corações juvenis e feridos, porque é um pouquinho demais, e um pouquinho cedo pra isso. Apenas arranharam a superfície. Falaram do que aconteceu brevemente, como duas adolescentes patéticas que tomaram decisões patéticas e que continuam fazendo coisas patéticas. E aí, Vossa Graça, a Rainhazinha Tyrell, não suportando manter sua aura gay dentro de suas calças reais, partiu para ação e tomou a iniciativa. E então vocês rolaram pelos lençóis de seda perolada como porcos rolam na lama e foi por isso que você chegou aqui com um sorriso idiota, com a pele sedosa, os olhos brilhando e uma cara de otária ainda maior. E foi por isso que você ficou tão na defensiva quando captou meu interesse. Ah, e mais uma coisa: Isso não é piração da minha cabeça. Isso aconteceu de verdade.

— E como você pode ter tanta certeza? Alguém por acaso aumentou a dosagem dos seus remédios? Ou você encontrou uma droga ainda mais forte da que já usa?

— Pode zombar, priminha. Esculacha bastante. Isso não faz do que eu disse menos verdade.

— De onde você tirou tudo isso? Okay, nós estudamos Cálculo I na minha casa, isso não é novidade, Loras sabia, então, consequentemente, você também sabia. Mas e aí? O que tem demais nisso? E o resto da sua histórinha? Veio de onde?

— Eu sou uma garota muito perspicaz e sábia. Eu te conheço de trás pra frente, de dentro pra fora. Sei como te ler como uma edição da Vogue. E, além do mais, esse chupão no seu peito meio que te entrega.

— Ai, deuses! — Margaery exclamou, olhando para seu próprio colo, arregalando os olhos quando viu que um botão de sua camisa havia aberto, mostrando parte da marca roxa nervosa salpicada de pontilhados cor-de-rosa em sua pele, no começo de seu seio direito.

— Não envolva os deuses nas suas infâmias carnais e pecaminosas, sua garota profana, desavergonhada, habitante de Sodoma e Gomorra, sua-

— Okay, okay, eu já entendi, eu sou uma prostituta de quinta, obrigada!

— Não, Marg, você não é uma prostituta de quinta. É uma prostituta de luxo, já que você é uma das vadias mais ricas desse país.

— Eu fico tocada com suas palavras de amor.

— Deveria estar mesmo. Você nunca vai encontra alguém com o sentimento mais verdadeiro do que eu.

— Eu odeio você.

— Odeia nada, você é louca por mim. E sinta-se grata por eu ter visto a prova da sua libido — Elinor comentou casualmente, enrolando uma mecha de cabelo castanho em volta do dedo, mascando um chiclete de framboesa de maneira despreocupada, como uma Lolita mais velha.

— Me sentir grata? E por quê? Você vai falar disso pra sempre!

— E você preferia que vovó te pegasse com esse hematoma nas tetas?

—… Não.

— Pois é, não. Vovó sabe que somos umas loucas degeneradas, mas ela não quer ver ou ouvir sobre isso. Porque se ela testemunhar algo…

— “Te jogo num colégio interno cheio de freiras fedendo a ameixa e sabão de glicerina, num lugar tão deprimente que você vai esquecer o que são as canções e poesias e só vai sair de lá quando não precisar mais de mim para absolutamente mais nada, e todos nós sabemos que isso não vai acontecer”. É, eu já sei esse discurso do avesso.

— Exatamente. Eu não tô aqui pra pegar no teu pé, Marg. Não tanto assim. Eu torço por você e por aquela she-wolf que mais parece um filhotinho. Vocês são fofas juntas e jamais se esqueça que eu e Loras somos shippers fervorosos. Te dou o maior apoio.

— Desculpe. Eu estou sendo meio injusta, eu sei. Mas é que da outra vez acabamos enterradas em merda até o pescoço e agora que estamos caminhando em direção aos eixos, eu meio que tô apavorada de acabar como antes.

— Eu sei. Você tá usando seu mecanismo de defesa, jogando seu veneninho nos outros pra não se magoar de novo. Mas, entenda, Marg, eu sei que sou uma vagabunda chata pra caralho, mas eu sou sua família. E família serve pra te zoar e pra te apoiar. E eu faço as duas coisas maravilhosamente bem, muito obrigada.

— Você tá certa. Foi mal, eu estou sendo uma babaca é só que… eu tô meio traumatizada.

— Sem problemas. Como eu disse, eu entendo. Mas sério, me conta, o que aconteceu?

Margaery sorriu — um sorriso idiota, como diria Eli — as lembranças da tarde anterior inundando sua mente.

— Digamos que… se não fosse por minha adorável e inconveniente prima ligando no meu celular, esse chupão não seria o único.

Elinor soltou um gritinho agudo, batendo palmas como uma criança feliz.

— Sim! Eu nem sei que prima é essa, mas se é sua também é minha, e vou quebrar a cara dela por interromper o momento smut do meu OTP! Me conta, me conta, pelo amor dos deuses, eu tô há séculos sofrendo com vocês duas!

— Okay, mas se controle.

— Eu não te prometo nada.

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MENSAGENS DE TEXTO ENTRE DAENERYS TARGARYEN

E MARGAERY TYRELL

            11:52AM: Fiz meus contatos.

            11:52AM: E antes que eu te dê qualquer resposta, eu preciso que você me garanta, com 100% de certeza, de que nos apoiará caso algo vá pra merda.

            11:54AM: Como assim?

            11:55AM: Meu povo é numeroso e tem influência nas ruas, mas quando se trata de peixe grande como esse que estamos nos metendo, ninguém é idiota o suficiente de ir com a cara e com a coragem sem ter algum tipo de segurança.

            11: 58AM: O exato motivo por eu ter te procurado foi porque não posso me expor.

            11:58AM: E agora você vem me pedir o que? Proteção? Achei que essa gangue fosse badass.

            11:59AM: E é, acredite.

            11:59AM: Mas badass não significa burra.

            12:00PM: Eu não posso me expor.

            12:00PM: Nem a mim, e nem a minha família.

            12:03PM: Então eu acho que sua garota Sansa e os irmãozinhos dela serão belos sacos de pancada. Carmim brilhante, com um leão dourado no meio.

            12:04PM: E você sabe o porquê do carmim, não é?

            12:04PM: Assim o sangue não fica visível.

            12:19PM: Espera.

            12:19PM: Okay.

            12:19PM: Você vai ter a proteção Tyrell caso algo dê errado.

            12:20PM: Não gosto de palavras vazias, Margaery.

            12:21PM: Não são.

            12:21PM: Eu me comprometo a proteger você e os dothraki dos Lannister e de qualquer outro que quiserem retaliação pelo o que eu te pedi.

            12:22PM: E como você vai fazer isso, exatamente?

            12:22PM: Isso é problema meu.

            12:24PM: Não tô querendo nenhuma inimizade com você.

            12:24PM: Espero que saiba disso.

         12:24PM: Mas da mesma forma que você quer proteger as pessoas com quem se importa, eu também quero.

           12:25PM: E eu quero te ajudar.

           12:25PM: Também tenho minha própria rixa com essa gente.

           12:26PM: Eu sei, Dany.

           12:26PM: Eu não quis ser grossa, me desculpe.

           12:26PM: Mas fica despreocupada. Ninguém vai ferir vocês.

           12:27PM: Obrigada, isso é tudo que eu preciso.

           12:32PM: Agora me responde uma coisa.

           12:32PM: O que você acha de pirotecnia?

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MENSAGENS DE TEXTO ENTRE SANSA STARK

E MARGAERY TYRELL

            17:11PM: Aconteceu uma coisa.

            17:15PM: Hm?

            17:15PM: Não exatamente uma coisa.

            17:15PM: Na verdade não foi nada extraordinário.

            17:16PM: Foi tipo, normal.

            17:16PM: Bem comum.

      17:16PM: Eu nem me importaria muito se fosse em outras circunstâncias.

            17:16PM: Sansa.

            17:16PM: Para de dar voltas e me diz o que houve.

            17:17PM: Robert veio aqui falar com meu pai.

            17:17PM: Seu tio Robert?

            17:17PM: Sim.

            17:17PM: E imagino que seja sobre a briga.

            17:18PM: Imaginou certo.

            17:18PM: Eu mandei a Arya ouvir a conversa dos dois.

            17:18PM: Ela é pequena, consegue se esconder mais fácil.

            17:18PM: Pequena, mas mortal.

            17:19PM: Mas no que deu?

           17:19PM: Parece que Robert não deu muita bola. Segundo a Arya, ele disse que sabe que Joffrey não é um menino muito confiável, e que não se surpreende disso ter acontecido.

            17:20PM: Ele até ficou feliz que alguém deu uma surra nele.

            17:20PM: E pediu desculpas pelo Joff.

            17:21PM: Disse que eu não merecia isso.

        17:21PM: Não por ser filha do Ned, mas porque sou “uma boa garota”.

            17:22PM: Você é.

            17:23PM: Aparentemente, Cersei não concorda com isso.

            17:23PM: Ela acha que sou o diabo na Terra.

            17:23PM: Eu e meus irmãos.

            17:24PM: Claro que ela acha.

            17:24PM: Vocês mexeram justo com o queridinho dela.

          17:25PM: Quem disse que não existe favoritismo no amor de uma mãe nunca conheceu essa mulher.

            17:26PM: Robert disse que Cersei está furiosa, mas que ele está tentando controlá-la.

          17:17PM: Essa é uma ótima piada. Quem é que controla Cersei Lannister?

             17:17PM: Exatamente.

             17:18PM: Ela vai fazer alguma coisa, Marg.

           17:18PM: Robert adora fingir que é ele quem segura às rédeas, mas todo mundo sabe da verdade.

             17:18PM: Cersei está sempre por trás dele.

             17:19PM: E Tywin por trás dela.

         17:20PM: Acha que Tywin daria bola pra isso? Uma briga de garotos não seria irrelevante demais pra ele?

             17:20PM: Talvez.

            17:20PM: Mas mesmo que os Lannister sejam quem sejam, eles têm um senso familiar muito grande.

            17:21PM: Você não me disse que Tywin nem gosta do Joffrey? Do próprio neto?

            17:21PM: Ele ainda é um Lannister.

            17:21PM: Ele é Baratheon.

            17:21PM: Ele é Lannister.

            17:22PM: E não foi só ele.

            17:22PM: Os primos dele também estavam naquela confusão.

           17:24PM: E por mais que eles são de um nível inferior da cadeia alimentar da família, ainda são família.

            17:25PM: Seus irmãos fizeram um estrago tão grande assim?

            17:26PM: Eu não sei de detalhes.

            17:26PM: Mas segundo a lenda, Robb fraturou o pulso do Lancel.

            17:26PM: Ouch.

            17:27PM: Pois é.

            17:27PM: Disso eu fiquei com pena.

            17:28PM: Ele não é um garoto ruim. Só meio bobo.

        17:28PM: Sempre foi gentil comigo quando não estava sob influência do Joffrey.

       17:29PM: É, pelo que ouço por aí, Lancel é o Lannister mais razoável.

            17:30PM: Por mais que ele tenha essa ânsia pela aprovação da família, ele ao mesmo tempo odeia todo mundo.

            17:31PM: Sério?

            17:31PM: Ele nunca foi valorizado.

       17:33PM: Quando eu ia aos eventos da família, Lancel era o membro favorito pra se tirar sarro. Seja pelos primos, pelos tios, pelos avós. Ele fazia parte do grupinho do Joffrey, mas era o mais humilhado.

            17:34PM: Essa gente é doente.

            17:34PM: Fico feliz que você tenha saído desse antro.

            17:36PM: Eu também.

            17:39PM: Marg?

            17:39PM: Sansa?

            17:40PM: Meus pais estão no Norte. Jon e Robb estão na hípica e Arya está sendo uma delinquente em algum lugar.

            17:40PM: Estou sozinha em casa.

            17:40PM: Vem pra cá.

            17:41PM: 20 minutos.

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            — Margaery?

            —… Sim?

            — Você sabe que horas são?

            — Hm… Onze?

            — Onze e cinquenta e sete.

            — Oh, okay.

            — Você sabe que dia é hoje?

            — Vinte e seis?

         — Quinta-feira. Um dia de escola. Você sabe que eu não me importo com muitas coisas e que deixo você e seu irmão bem soltinhos, mas estudo é algo que eu não tolero que vocês negligenciem. Eu pago esse colégio ridiculamente caro, então exijo que seja levado a sério. E não, não é pelo dinheiro, mas porque quero o melhor pra você. Além do mais, você é uma Tyrell. Honre seu nome.

            Margaery abaixou a cabeça, aceitando a bronca, mesmo que ela achasse meio exagerada. Chegar relativamente tarde em um dia de colégio, embora não acontecesse com muita frequência, também não ocorria pela primeira vez, e Vovó Olenna nunca criou tanto caso. De qualquer forma, concordando ou não, ela era sua avó e sua responsável e Margaery poderia ser muitas coisas, mas jamais desrespeitosa.

            — Desculpe — Disse humildemente.

            — E não pense que me esqueci do seu castigo e que não deveria ter saído, mas tenho problemas maiores agora. Lido com isso depois.

            — O que aconteceu?

            — Lannisters são a pior raça que existe.

            — Acho que disso não posso discordar. Mas por que está dizendo isso?

          — O maldito Tywin parece não entender o termo “Primeira Ministra”. Eu sou a droga da chefe do parlamento, mas ele insiste em me desafiar.

            — Se a senhora é a chefe do parlamento, qual o problema? Apenas diga pra ele não se intrometer.

            — Ah, minha querida, se fosse fácil assim. Você sabe o que é uma linda bênção? A democracia. E sabe o que é uma terrível maldição? A democracia.

            — Eu não sei se entendi.

            — Marg, meu bem, quando a democracia é entregue na mão de idiotas e retardados submissos, torna-se um verdadeiro inferno. Os Lannister são poderosos. Nós Tyrell obviamente também não estamos atrás, mas as minas de ouro que eles têm em Rochedo Casterly tristemente ofuscam nossos campos de rosas na Campina. Com uma promessa aqui, uma casa nova ali, favores legais acolá, todos se viram contra a velha das flores para seguir o poderoso leão.

            — O que ele fez exatamente?

          — O que ele não fez? São coisas que acontecem a todo o momento. Em reuniões parlamentares, não existe um único minuto em que ele não está ali, me desafiando, questionando o que eu digo. Sempre tentando burlar meus projetos e simplesmente me deixando espumando de raiva. Você acredita que ele teve a audácia de trazer você e Loras à tona?

            — Verdade? Sobre o que?

            — Coisas que nem valem à pena repetir.

            — Será que eu posso te ajudar em alguma coisa?

            — Não, meu bem. Eu cuido disso, não se preocupe. Eu só preciso que ele se coloque em seu lugar. Não direi que o quero fora do parlamento. Gostando ou não do desgraçado ou daquela família, eles têm papel importante.

            — Mas isso não significa que você não possa… revidar, certo?

           — Ah, isso com certeza. Mas isso vai levar algum tempo. Não quero tirá-lo de sua posição, só preciso mexer onde dói. E, conhecendo os Lannister como eu conheço, devo fazer algo que vá afetar a coisa que eles mais valorizam: A reputação.

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27 DE SETEMBRO

MENSAGENS DE TEXTO ENTRE MARGAERY TYRELL E

ALLA TYRELL

            08:42AM: Você se lembra da vez em que pegou meu vestido Miu Miu, sem me consultar, de uma coleção que ainda nem estava disponível nas lojas, e simplesmente o destruiu quando derrubou cerveja barata em cima?

        08:43AM: E também se lembra de quando eu assumi a culpa quando você falsificou a assinatura da vovó?

        08:43AM: Ou de quando você me contou o clímax de Garota Exemplar?

            08:46AM: Tenho problema na memória, não me lembro de nada.

            08:46AM: Não seja sonsa.

            08:47AM: Você já me fodeu bastante, agora está na hora de me retribuir.

            08:48AM: Embora isso vá contra os rumores que correm por aí, nem todo Tyrell é gay, Margaery.

            08:48AM: O que você tem não me interessa, sai daqui.

            08:49AM: Não é nada disso e você sabe.

        08:50AM: Preciso que você utilize do seu talento em ser uma jornalista mau caráter e descubra algo pra mim.

            08:50AM: Opa.

            08:50AM: Me ofendeu.

            08:50AM: Mas falou minha língua.

            08:50AM: Devo destruir a vida de quem?

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MENSAGENS DE TEXTO ENTRE MARGAERY TYRELL E

DAENERYS TARGARYEN

            10:36AM: Sobre o que eu te pedi.

            10:36AM: Segura um pouco.

            10:39AM: Dando pra trás?

            10:39AM: Não mesmo.

            10:39AM: Você não me pediu proteção?

            10:40AM: Estou trabalhando nisso.

           10:40AM: Se tudo der certo, tenho o jeito perfeito de proteger a você e a mim.

            10:40AM: Mas pra isso eu preciso de tempo.

            10:41AM: Como você quiser.

            10:41AM: Ainda bem que eu não dei o sinal verde.

            10:41AM: Eu sabia que você não tinha ideia do que ia fazer.

            10:45AM: Cala a boca.

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        Alla Tyrell agradecia aos céus por suas conexões com os drogadinhos da oitava série. Eles eram como malditos camundongos, sempre se rastejando por aí, com seus olhinhos nervosos e febris, enxergando a tudo e a todos. Ela era uma pessoa individualista, mas devia ser justa o suficiente para lhes dar crédito na formação de sua carreira de jornalismo investigativo.

            Depois de seguir as direções de uma menina baixinha e de cabelos desgrenhados, que fedia à mais pura e natural maconha, Alla estava na biblioteca do colégio. Encontrou, na seção de História da Arte, Lancel Lannister com o nariz enfiado em um grosso livro colorido, com seus cabelos claros cobrindo-lhe a face e as costas magras curvadas como um corcunda.

            — Olá? — Ela disse docemente, já puxando uma cadeira para se sentar na frente dele.

            — Hm… Oi? — Ele parecia confuso, e até mesmo olhou para os lados como se esperasse câmeras de um programa humorístico ou um predador atacar sua jugular.

            — Você é o Lancel, né? Alla. Alla Tyrell. Acho que nós temos aula de… geografia? Você sabe, juntos?

           — Acho que sim. Você não é a garota que escreve sobre o Nymeria naquele blog?

              — Ah, sim. Fico feliz que meu trabalho seja reconhecido.

              — Seu último post foi sobre a briga do Joff com os Stark.

              — Um dos meus melhores trabalhos, modéstia parte.

              — Hm.

             — Vai dizer que não gostou do meu mais bem construído relatório investigativo?

              — Foi… okay, eu acho.

              — Puxa, assim você me machuca.

              — Sem querer ser babaca. Não é nada contra você, seu texto, ou seu complexo de Sherlock Holmes. É só que o artigo mexeu comigo e minha família.

              — Bem, isso é a consequência do jornalismo. Juro que não tive a intenção de te prejudicar, mas esse é o meu trabalho e quando um furo como esse aparece, eu simplesmente não posso ignorar. Mas de qualquer jeito, eu peço desculpas se de alguma maneira meu post mais elogiado e aclamado pela crítica acabou te afetando negativamente.

              — Tá tudo bem. Desculpe, eu é que estou meio chateado.

              — Ah é? E por quê?

          Quando Lancel já havia aberto a boca para responder, ele de repente pareceu desconfiado. Se aprumou em seu lugar e lhe encarou de maneira acusatória.

              — Por que quer saber? Por que veio falar comigo? Você e seu jardim de florzinhas nunca se interessaram em mim.

            — Eu não posso responder por minhas primas, mas posso te garantir que sempre estive de olho em você, querido.

                 — Não me diga.

               — Pode acreditar. Eu te vejo por aí, andando pelo colégio, com seu bando de leões e deixe-me dizer uma coisa: Você certamente é o mais bonito de todos.

                 — Acha mesmo?

               — Acho mesmo. Você é meio bad boy, mas ao mesmo tempo tem esse ar de bondade. Sem falar no seu cabelo, é claro. Essa juba dourada faz coisas comigo.

         Quando o brilho do ego de Lancel brilhou em seus olhos esverdeados, Alla soube na hora. Por mais que ele fosse o mais bobinho, ainda era um Lannister, e faltava gozar de tesão quando sua vaidade era acariciada.

                — Mas eu vou parar de falar. Não quero parecer atirada demais. Não é esse tipo de garota que eu sou.

                — Sei disso.

                — Mas então, por que está tão chateado?

              Pela segunda vez, Lancel interrompeu a si mesmo antes de falar.

                — Você é a irmã de Loras Tyrell?

                — Eu sou a prima. Margaery é a irmã.

           Ele parou por um segundo, parecendo ponderar, e Alla se perguntou o que diabos aquilo significava.

            — Várias coisas estão me chateando. Isso poderia levar um tempo.

               — Ah, para um garoto tão deliciosamente charmoso como você, todo o tempo do mundo ainda é pouco.

         Lancel sorriu, seu peito enchendo-se como o de um pombo orgulhoso.

                — Se você não se importa em me ouvir…

             E quando ele começou a falar, despejando picuinhas internas sobre a mesa, Alla sabia que seria a próxima Lois Lane.