Clem acordou arfando. Não agüentava mais aqueles sonhos sem sentido.

Levantou-se decidida a ir até o quarto de Loki saber se ele ainda estava invadindo seus sonhos, mas parou ao encontrar uma luz vinda do fim do corredor. Não poderiam ter deixado a luz da sala acesa. Não numa casa com um AI. Caminhou até a sala e observou um homem com um copo de qualquer coisa na mão observar o nada. Ela não era a única com problemas para dormir.

– Problemas com o sono? – Perguntou Clem parada a soleira da porta da sala fazendo o moreno se virar para encará-la.

– Vejo que não sou o único – Ele sorriu torto para ela oferecendo o copo que estava em sua mão. A menina aceitou de bom grado e tomou um gole. A bebida queimou sua garganta e ela sorriu. Adorava whisky.

Ela escorou-se no sofá e eles ficaram fitando o nada até o silencio se tornar constrangedor.

– Isso tudo esta sendo tão estranho pra você quanto pra mim? – A menina rompeu o silencio.

– Sem duvida nenhuma sim – O homem a sua frente suspirou – Sinceramente? Nunca me imaginei sendo pai, na verdade nunca achei que faria um bom trabalho sendo um – Disse caminhando até o bar e enchendo novamente seu copo e servindo um para a garota – Tipo agora, seu deveria lhe dar uma bebida alcoólica?

Ela riu da ultima frase e caminhou até ele pegando o copo.

– Levando em consideração que sou maior de idade – Ela obteve um sorriso do moreno – E que eu gosto de whisky, sim deveria.

Eles riram e um longo silencio se seguiu.

– Sabe Tony – Começou Clem fitando o copo em sua mão – Sempre imaginei como seria ter um pai... Bom, nunca tive meu avô por perto e quando começava a me apegar a algum dos namorados de Jannet eles rompiam – Ela suspirou balançando a cabeça tentando afugentar as memórias que tinha do ultimo namorado de Jannet – Sempre tive inveja das minhas amigas quando o pai delas ia buscá-las na escola, ou até mesmo quando elas reclamavam que haviam discutido com o pai – Ele a olhava fixamente, absorvendo cada palavra – Sempre imaginei como você seria, seu rosto, sua voz – Admitiu a garota olhando para o moreno – Como seria chegar em casa e encontrar você... E bom, agora sei como é tudo isso... E é Incrível.

Os olhos de Tony se encheram de lagrimas mas ele olhou para o teto para afugentadas.

– Quando Jannet me disse que estava grávida – Ele disse depois de algum tempo em silencio – Não fiquei nada feliz com o fato, admito. Primeiramente, eu era novo de mais e nunca fui de me apegar as mulheres com quem saia. E também por que nunca tive um relacionamento bom com meu pai. Então quando ela me disse que havia perdido o bebe foi como se um peso saísse de minhas costas – Ele baixou os olhos e segurou o copo com mais força que o necessário – Sempre tive medo quando o assunto era filhos – Admitiu a contra gosto – Como te disse nunca imaginei que seria um bom pai... Mas quando Jannet foi até a torre e me contou sobre você... – Ele a olhou com carinho, as lagrimas novamente em seus olhos – Bom... Primeiro eu fiquei com muita raiva, por ter sido privado de te conhecer... Mas depois o medo me invadiu. Queria muito conhecê-la mas essa idéia me assustava – Ele deu um longo gole na bebida – E quando eu te conheci... – Fitou a menina sorrindo – No momento em que entrou na minha sala eu tive certeza de que era minha filha – Lagrimas silenciosas corriam pelo rosto de Clem que o fitava com um mínimo sorriso nos lábios – Na primeira vez que sorriu torto para mim, soube que nunca mais seria capaz de me afastar de você – Percebeu que haviam lagrimas em seu rosto também, mas não se importou – Na primeira vez em que te abracei... Prometi a mim mesmo que nunca mais soltaria.

Ele então abraçou a menina. Ficaram um tempo naquele abraço e então Stark conduziu-a até o sofá e a aninhou em seu colo.

– Fiz muitas coisas das quais não me orgulho Clem. Minha fortuna foi forjada a base de mortes. Mas só existe uma coisa da qual eu me arrependo. E essa coisa é não ter te visto crescer. – Ele a apertou mais forte contra si – Não ter estado lá quando perdeu o primeiro dente, quando caiu o primeiro tombo, quando teve seu primeiro namorado – Ele afagava os cabelos da menina como se ela fosse uma garotinha de 5 anos – Quero recuperar o tempo perdido. Foi por isso que te chamei para morar comigo.

Ela levantou os olhos para ele e então o abraçou fortemente.

– Você será um ótimo pai Tony – Ela disse com a voz embargada – tenho certeza disso.

Ficaram dessa maneira por longos minutos até que Clem se afastou limpando as lagrimas.

– Tony eu quero pedir uma coisa – Ele a fitou curioso enquanto passava a mão no cabelo – Posso te chamar de... Pai?

O rosto de Tony se encheu de espanto e então as lagrimas voltaram a seus olhos. Ele sorriu abertamente para a menina.

– Nada me deixaria mais feliz – Então a abraçou novamente.

Continuaram sentados no sofá durante mais alguns minutos até que Tony se levantou.

– Acho que nós dois deveríamos tentar dormir – Disse sorrindo carinhoso para a menina estendendo-lhe a mão.

Ela assentiu, levantou-se e segurou a mão dele. Caminharam até o corredor dos quartos em silencio.

– Boa noite – Disse Clem ao chegarem a porta de seu quarto – Pai – Ela sorriu dando-lhe um beijo na Bochecha.

– Boa noite minha filha – Tony sorriu enquanto ela entrava em seu quarto e ele seguia para o dele. Agora sim poderia dormir tranqüilo.

O mesmo não aconteceria com Clem. A garota ainda estava mais desperta que nunca e sabia que o sono não voltaria, mas agora estava em paz. Deitou-se na cama ligando a TV, encontrou uma temporada de American Horror Story. Pegou o celular, apertou o display: 2:50hr, 19 chamadas de Jannet. Ela não retornaria tão cedo.

Assistiu dois episódios e decidiu tomar um banho.

Encheu a banheira, despiu-se e entrou. Passou a esponja lentamente por todo o corpo relaxando. Quando a esponja tocou a pele de suas costas ela estremeceu. Largou a esponja e passou a mão nas três marcas que se estendiam ao longo de suas costas. Seus olhos foram tomados por lagrimas e ela prendeu um grito na garganta. Ela prendeu a respiração e se afundou na banheira. Quando sentiu que desmaiaria pela falta de oxigênio voltou.

Saiu da banheira, trocou-se. Eram 4:15. Saiu do quarto e caminhou até o elevador.

– Jarvis, me leve até a sala de treinamento.

– Claro senhorita Stark – E então as portas do elevador se fecharam.

Quando voltaram a abrir ela se encontrava no subsolo da torre. A sala de treinamentos era gigantesca com um pé direito de no mínimo uns 15 metros. “ O Hulk caberia aqui tranquilamente” Ela pensou e então achou que a intenção talvez fosse realmente essa.

– Jarvis quero um treinamento com luta. Comece pelo nível mais leve e a cada vez que eu derrotar todos os oponentes aumente o nível. – Ordenou para o nada.

– Como desejar Senhorita Stark. – Respondeu o AI.

– E mais uma coisa – Prosseguiu a garota – Toque a musica Ready, aim, fire para mim.

O lugar foi preenchido pelo som e por dois hologramas que partiram para ela a atacando.

With our backs to the wall, the darkness will fall

(Com as costas para a parede, a escuridão cairá)

We never quite thought we could lose it all

(Nós nunca pensamos que poderíamos perder tudo)

Ela desviou de um deles e atingiu o outro com um chute no peito o fazendo cair. Virou-se para o outro e acertou-o com um soco na barriga.

Ready, aim, fire, ready, aim, fire

(Preparar, apontar, fogo Preparar, apontar, fogo)

Mais três apareceram.

An empire's fall in just one Day

(A queda de um império em apenas um dia)

You close your eyes and the glory fades

(Você fecha os olhos e a glória desaparece)

Ready, aim, fire, ready, aim, fire away (fire!)

(Preparar, apontar, fogo a distância! (Fogo!))

Ela continuou lutando enquanto sua mente era tomada pela figura de um moreno com cavanhaque. Onde será que ele estaria? Por que tinha ido embora daquele jeito? Nada daquilo tinha sido culpa dele. Era de Jannet, sempre foi.

Socava os hologramas com cada vez mais força.

A musica foi repetida por três vezes até que a garota sentiu as lagrimas nos olhos e deixou o corpo cair de costas no tatame.

– Por hoje chega Jarvis.

Apertou os olhos fortemente afugentando as lagrimas e pensamentos.

– Não sabia que lutava tão bem. – Disse uma voz masculina calma e familiar se aproximando.

Clem respirou fundo se acalmando e então se levantou as costas do chão sentando-se e fitou o loiro a sua frente.

– A muitas coisas que não sabe sobre mim – Ela sorriu de canto para ele que retribuiu o sorriso.

– Deveria me contar – Disse divertido.

– Quem sabe um dia Capitão. – Ela riu para ele enquanto o mesmo se sentava ao seu lado.

– Por que não fazemos um jogo? Eu conto algo sobre mim e você conta algo sobre você – Ele propôs sorrindo.

– Pode ser... – Disse a menina, não conseguiria dizer não aquele sorriso.

– Vou começar com a primeira pergunta – Ele disse e ela apenas assentiu – Como aprendeu a lutar tão bem?

Ela riu sem humor e as lembranças invadiram sua mente.

– Flashback on –

Clem estava sentada no enorme gramado nos fundos de sua antiga casa. Fitava um menino que brincava com um boneco do Capitão America.

– Devia aprender a lutar – Disse uma voz masculina atrás dela. Não precisava se virar para saber quem era.

– Devia me ensinar a lutar.

– Levante-se.

Ela obedeceu e ficou de frente para o moreno.

– Saiba que não pegarei leve com você – Ele disse com um sorriso sombrio nos lábios.

– Não esperava que pegasse.

– Me ataque – Ordenou o homem.

E ela o fez. Direcionou um soco em seu peito mas ele desviou com facilidade se posicionando atrás da menina e torcendo seu braço.

– Tão previsível – Ele disse soltando-a e a olhando desafiador.

– Você não devia me ensinar algum golpe ou coisa do tipo?

– Só depois que você deixar de ser tão previsível.

Ele era um professor impaciente mas ela uma aluna dedicada. Aquela cena iria se repetir por dias a fio até que a menina aprendesse a pega-lo desprevenido. Após isso ele a tornaria uma lutadora tão boa quanto ele mesmo.

– Flashback off –

– Acho melhor deixarmos a brincadeira para outro dia – Ela disse secamente levantando-se e dando as costas ao loiro para sair da sala, mas ele a impediu segurando seu braço.

– Me desculpe Clem, não quis ser invasivo – Ele disse a olhando profundamente. Seus olhos eram um misto de desculpas e magoa. Ela tinha sido grossa de mais. “Otimo, estava demorando para a verdadeira Clementine se apresentar” pensou a menina vendo o olhar de Steve.

– Você não tem culpa Steve, eu aceitei a brincadeira, não quis ser rude – Ela lhe lançou um olhar sincero – Só não estou pronta para falar sobre certos assuntos - “e acho que nunca estarei” completou mentalmente.

– Quando estiver, quero que saiba que pode conversar comigo, sobre qualquer coisa – Ele a olhou carinhoso acariciando seu rosto com o polegar.

– Obrigada Steve – Ela sorriu torto corando um pouco.

– Jarvis, que horas são? – Perguntou o loiro para o nada.

– 5:50 Capitão Rogers – A voz ecoou pela sala enorme.

– Otimo, bem a tempo – Ele sorriu grande e então olhou para Clem – Quero lhe mostrar algo.

Antes que ela pudesse fazer qualquer menção ele já havia lhe arrastado até o elevador.

– Aonde vamos Steve? – Perguntou ela quando o elevador abriu revelando a garagem.

– A um dos meus lugares preferidos – Ele sorriu entregando a ela um capacete e já subindo em uma grande moto. Ela subiu em sua garupa e então o portão da garagem se abriu. Steve acelerou um pouco a moto e parou quando chegaram a rua.

– Segure firme – Ele avisou e ela passou os braços em volta da cintura dele. E ele acelerou.

O céu negro estava dando lugar aos primeiros tons amarelos e vermelhos indicando que o nascer do sol estava próximo.

Clem moveu-se para o lado olhando para o rosto de Steve. Ele tinha um sorriso no rosto, amava a velocidade. Acelerou um pouco mais a moto o que fez a menina apertar mais os braços em volta dele, não pela velocidade, mas pelo vento que cortava sua pele.

– Não vai me contar pra onde vamos? – Ela gritou nos ouvidos dele.

– Não! – Ele riu e acelerou mais a moto – Você vai gostar, confie em mim.

Ela então encostou a cabeça em suas costas.

“Você é maluco Capitão” Pensou fitando a orla da praia ao lado da estrada.