As Máscaras de Sakura escrita por Siryen Blue


Capítulo 30
Primeira Fase: Cativos


Notas iniciais do capítulo

Oi! Senti saudades! Bom... Nas notas finais eu explico um pouco pra vcs pq demorei e falo da relação SasuSaku, então... Não deixem de ler!

Eeeeeeeeeee... TEMOS TRÊS RECOMENDAÇÕES NOVASSSSS *---*

Dana Uchiha: ai, sua divaaaa! Vc captou mt bem sobre do q se trata a fic!! Sua recomendação além de linda me encheu de alegria! Obrigada!

Floco de Verão: Se fiquei emocionada? Ha! Magina! Kk Obrigada por gostar tanto da fic e pela recomendação lindaaaaa!!!

bruaanji: vou garantir q a Sakura receba sua mensagem! Haha! Muito obrigada pela recomendação maravilhosa, florzinha!!!

Capítulo dedicado a essas três divas!

Enjoy!



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A fome estava me consumindo.

Parecia que tinha um buraco em meu estômago, corroendo-me. Doendo.

Eu não fazia ideia antes, mas agora sabia... A fome dói. E não, não é uma dor psicológica. É física mesmo. Eu estava faminta e todo meu organismo estava clamando por comida.

A água que eu tomava, apesar do gosto horrível, já nem me incomodava mais. Bebia sem restrições.

Não era como se eu tivesse muita noção de tempo, presa naquele lugar fechado onde dez minutos tinham o peso de uma hora, mas podia apostar que um dia inteiro já passara desde a 'visita' de Deidara e Sasori. Talvez dois... Não sabia bem... Era difícil dizer. Na verdade, sentia como se estivesse ali há semanas... Mas tentava ser realista.

Eu e Sasuke-kun estávamos sentados lado a lado, encostados na parede, apenas esperando que algo — qualquer coisa — acontecesse. Tínhamos tentado matar o tempo dormindo, mas até isso era difícil. Apesar de exaustos e sem forças, não tínhamos sono. Apenas cochilávamos, vez ou outra.

Em minha última soneca sonhei com Deidara me fazendo mal.

Não pretendia mais dormir tão cedo.

Quem estava em pior situação, no entanto, era Sasuke-kun. Ele tentava se fazer de forte, dizendo que seus machucados não incomodavam tanto, mas cada vez que cochilava gemia de dor. Ele estava mal.

"Seu olho ficou roxo." Comentei, ao analisar seu rosto com o olhar.

"Não está tão machucado quanto meu orgulho, garanto." Resmungou, mantendo seus olhos vidrados na parede em nossa frente.

Naquele momento eu percebi o quão chateado Sasuke-kun estava. Mas do que eu pensava. Ele estava evitando me olhar e seus lábios se apertavam em uma linha rígida.

Ele se culpava? Por apanhar?

Será que Sasuke-kun não via que era apenas uma garoto?

"Ei..." Toquei sua mão, com delicadeza. "Eles são mais fortes e estão em maior número."

O Uchiha balançou a cabeça, com desgosto. "Eu não consegui me proteger... Não consegui te proteger... Apanhei como um fracote e você... O Deidara quase..." Ele engoliu em seco, atordoado. Estremeci. Não gostava de pensar no que poderia ter acontecido. "E pensar que foi o Sasori quem te salvou."

"Nem me fale. Não quero ficar devendo nada para aquele louco." Suspirei. "Mas você tem que parar de se culpar por coisas que estão além do seu poder, Sasuke-kun. Você não é o super-homem."

"Pelo visto não sou nem ao menos homem." Resmungou.

"Não mesmo. É só um adolescente de quinze anos! E eu também! Estou tão impotente como você nessa história. Não há muito que possamos fazer. Apenas ter esperanças de que nos encontrem."

Mas Sasuke-kun estava longe, sem parecer me ouvir.

"Meu pai teria vergonha de mim." Ele disse.

Foi então que eu compreendi.

Tantos anos ao lado de Sasuke-kun, observando-o continuamente, já tinham me dado a habilidade de saber o que se passava em sua cabeça, na maioria das vezes.

E se havia uma coisa que sempre estava em seus pensamentos, era seu pai.

"Se o Fugaku-san soubesse o que está acontecendo com a gente, tenho certeza que ele sentiria preocupação, não vergonha." Afirmei.

"Meu pai preocupado comigo? Comigo? Tem certeza que estamos falando da mesma pessoa?" Falou, em tom irônico.

Sim, Fugaku-san não era alguém fácil.

Apesar de sempre tratar a todos com gentileza e educação —inclusive a mim —, com Sasuke-kun ele agia de modo diferente. Itachi, o filho mais velho, sempre fora notavelmente o favorito. Quer dizer... Nem sempre... Houve um tempo, quando éramos bem crianças, que eu lembro de Fugaku-san tratar os dois com igual amor. Porém um dia... Do nada... As coisas mudaram. Sem explicação lógica, o patriarca Uchiha passou a tratar Itachi com total favoritismo, saindo para passear apenas com ele, dando-lhe os melhores brinquedos e tratando Sasuke-kun com indiferença. Lembro-me de que, na época, o Uchiha mais novo passou muito tempo se culpando e buscando explicações para o tratamento que passara a receber, nunca conseguindo encontrar a resposta.

Quando Itachi fugiu de casa, Fugaku-san quase enlouqueceu e a relação com Sasuke-kun só piorou. Os dois, que não se davam bem, passaram a brigar ainda mais frequentemente que antes.

Sasuke-kun não costumava contar os detalhes das brigas ou como se sentia por sua relação com o pai ser tão maltratada, mas eu o compreendia, afinal, não era como se eu ficasse falando muito sobre mamãe também. Nós dois sabíamos da situação um do outro e nos apoiávamos, porém sem mexer na ferida. Era algo que ele não gostava de falar e eu respeitava.

Com o passar do tempo, e conforme crescemos, ficou mais fácil se acostumar e adaptar à situação. Eu aprendi a não esperar nada de mamãe e Sasuke-kun aprendeu a não esperar nada de seu pai. O abraço que minha mãe me dera no aeroporto, por exemplo, pegou-me totalmente desprevenida. Por isso entendia que Fugaku-san se preocupando com o filho mais novo não seria algo que Sasuke-kun esperasse ver. Afinal, tudo que ele aprendeu a esperar foram críticas.

Mesmo assim, eu gostava muito de Fugaku-san. Ele sempre me tratou com muito carinho. Além disso, seu amor e cuidado com Mikoto-san eram visíveis, algo que eu nunca presenciara em meus pais. Do mesmo jeito, Sasuke-kun gostava da minha mãe, apesar do gênio difícil dela.

Quanto a minha mãe... Bem... Ela parecia gostar de qualquer pessoa mais do que de mim.

Eu me perguntava o que tinha feito pra ser tratada assim tão mal por alguém que deveria me amar incondicionalmente, e tenho certeza de que a mesma pergunta rodeava a cabeça de Sasuke-kun em relação ao seu pai. Tinha certeza também que seu coração doía cada vez que Fugaku-san ria e era amoroso com Itachi, assim como o meu doía quando mamãe fazia isso com Ino.

As coisas não deveriam assim. Itachi era irmão de Sasuke-kun e eu sempre vira Ino como minha irmã. Não deveríamos nos sentir tão tristes com qualquer sentimento bom direcionado a eles, que tanto amávamos. Não deveríamos sentir inveja. Mas há coisas que simplesmente não conseguimos evitar.

Eu sempre me sentira pior que lixo, um desperdício de espaço, alguém tão indesejada que nem deveria ter nascido pra começo de conversa. Sasuke-kun se sentia assim também? Apostava minhas fichas que sim. Mas, pelo menos, ele tinha o amor de Mikoto-san, sua mãe, para lhe acalentar. Tudo que eu tinha era a lembrança de uma amor que um dia recebi de meu pai.

Então, sem saber o que dizer ou como lhe confortar, fiz o que sempre fazia quando o assunto da relação de Sasuke-kun com o pai vinha à tona: apenas continuei ao seu lado, em silêncio. Não havia nada que eu dissesse que pudesse sarar sua ferida. E, honestamente, como eu poderia tentar sarar a ferida de alguém quando tinha uma igual — completamente aberta e dolorida — em meu coração?

Tentando ao menos mostrar que eu estava ao seu lado e o compreendia — como sempre —, levei minha mão até a sua, apertando-a com carinho.

Sasuke-kun suspirou, levando seu olhar às nossas mãos e mantendo-o lá por um momento.

Meu olhar não saiu de seu rosto por nenhum segundo. Sua expressão triste fazia meu peito doer.

Seus olhos, então, subiram lentamente até encontrar os meus.

De repente, tornei-me bem consciente do contato de nossas mãos. Minha pele formigava.

Em seu olhar carregado, tudo que consegui distinguir foi a confusão. Talvez porque a mistura de suas emoções me causasse confusão.

Senti-o vacilar por um segundo, no qual ele pareceu tão perdido nos meus olhos como eu estava nos dele. No segundo seguinte ele piscou, e foi como se o encanto se quebrasse, como se eu acordasse.

Sasuke-kun desviou o olhar, mas não soltou minha mão. Então, baixou sua cabeça e corpo de modo que pudesse se apoiar em meu ombro.

Suspirei, passando minha mão livre em seus cabelos.

"Você está bem?" Perguntei.

"Tão bem como se pode estar num lugar como este." Respondeu.

"É o suficiente." Retruquei. "Temos que aguentar firme."

Ouvi Sasuke-kun rir baixinho. "Você tem a aparência frágil, mas é bem forte, sabia? A maioria das garotas estaria se descontrolando agora. E no entanto, você está aqui tentando fazer eu me controlar."

Meu coração se aqueceu. Eu que sempre achei que ele me via como uma pessoa fraca estava sendo chamada de forte por ele. Sorri levemente.

"Nós dois somos fortes. E vamos sair daqui juntos." Afirmei.

"Já olhou pra mim, Sakura? Eu estou parecendo o oposto de forte."

"Aparência frágil, interior forte, lembra?"

Ele riu.

E então, apoiei minha cabeça na dele e ficamos em silêncio por um bom tempo. Eu cantarolava músicas mentalmente, tentando me distrair do buraco em meu estômago.

Alguns minutos depois, resolvi tomar coragem pra falar sobre algo que havia atiçado minha curiosidade.

"Sasuke-kun?" Chamei.

"Hum?"

"Você e Ino..." Comecei, incerta. "...não pareciam bem. Você até foi um pouco grosso com ela..."

Sasuke-kun suspirou. "Não sei se é certo falar com você sobre Ino, Sakura."

Desencostei minha cabeça da dele, mas ele permaneceu encostado em meu ombro.

"Nós ainda somos amigos Sasuke-kun." Eu disse. "Você pode falar sobre qualquer coisa comigo."

Ele ficou em silêncio por um momento, e quando comecei a pensar que ele não iria mesmo falar, ele disse: "Nós temos problemas... Eu e Ino."

"E que casal não tem?"

"Sim... Mas é normal brigar tanto em início de namoro?" Rebateu. "É difícil... Você sabe que eu e Ino nunca nos demos bem... Sempre fomos afastados, mesmo tendo o mesmo círculo de amigos. E então nós nos..." Ele se interrompeu.

"Apaixonaram. Vocês se apaixonaram." Completei por ele, tentando manter minha voz normal, por mais que me doesse dizer aquilo.

"Sim..." Confirmou. "Isso aconteceu e nós começamos a namorar. Mas é complicado... Porque não somos acostumados a conversar um com o outro, você sabe. Então acabamos por não ter muito sobre o que falar. Quando tentamos um assunto, fica claro que pensamos muito diferente e acabamos brigando."

"Vocês sempre brigaram, Sasuke-kun. Não estão acostumados a se tratarem bem." Falei. "Não é porque estão namorando que isso muda facilmente."

O que ele esperava? Que ele e Ino passassem a se dar bem de uma hora pra outra? Duas pessoas que nem se davam 'bom dia' direito ou conseguiam concordar em assuntos simples não passam a ter assunto do nada. Deus... A paixão tinha cegado esses dois!

No entanto, não podia negar a parte egoísta e horrível de mim que ficou feliz pelo namoro de Sasuke-kun e Ino não estar sendo um mar de rosas. Mas não podia me apegar a isso. Ficar feliz pelos problemas dos outros era coisa de gente ruim. E eu não queria ser assim.

"Você mudaria algo, se soubesse que a relação de vocês seria desse jeito?" Não pude me impedir de perguntar.

"Eu mudaria algo se tivesse percebido que isso te magoaria tanto." Respondeu, em um quase sussurro. "Você estava certa no que disse... Eu deveria ter tido mais cuidado com o seu coração."

"Já está feito." Um nó se formou em minha garganta. "E agora você precisa arrumar sua situação com Ino. Vocês se gostam. Só precisam aprender a ser amigos e parceiros um do outro." Engoli o nó. "Eu vou ficar bem. Realmente há um garoto por quem me interessei, então não se preocupe comigo."

Após mais um curto momento de silêncio Sasuke-kun perguntou: "Como ele é?"

"Ele quem?" Tentei me fazer de desentendida. Não esperava que ele quisesse se aprofundar no assunto.

"Esse cara por quem você se interessou."

Franzi a sobrancelha, pensando no que dizer. "Ele é... Legal...."

"Você pode fazer melhor do que isso." Retrucou. "Como ele é?" Repetiu a pergunta.

Suspirei. Ele havia sido honesto sobre Ino, então resolvi ser honesta sobre isso. Sentia como se minha relação com Sasuke-kun estivesse em um nível diferente de antes... Ou talvez fosse só eu agindo com menos falsidade.

"Bom..." Comecei. "Ele não é como os outros garotos." A imagem de Gaara invadiu meus pensamentos. "Ele é convencido, egocêntrico... Um tanto sarcástico e não muito educado com as pessoas ao seu redor."

"Nossa..." Sasuke-kun tirou sua cabeça de meu ombro e se encostou mais à parede, olhando-me. "E o que te fez gostar dele?"

Parei um segundo para pensar, antes de falar: "Sabe... Às vezes ele me fala verdades duras, sem aliviar. Mas... Em geral... Ele me trata de uma maneira diferente... Como se eu fosse algo precioso... Único e insubstituível." Sorri, com as lembranças de Gaara. "Ele faz eu me sentir especial... Não... Pensando bem... Ele me fez perceber que sou especial. E ele se importa comigo. Está sempre do meu lado, mesmo quando eu o magôo." Franzi as sobrancelhas com a realização que me atingiu. E de repente eu já não falava com Sasuke-kun, e sim comigo mesma. "Acho que ele é o meu melhor amigo."

Sim! Como não percebi antes...? Gaara não apenas alguém que balançava meu coração... Ele era também o meu melhor amigo.

Sim... O melhor. Ele me conhecia melhor do que ninguém.

Seja lá que linha do destino tenha feito ele me ver em situações que mais ninguém vira, o fato foi que eu deixei ele se aproximar. Ao invés de o afastar cada vez que ele descobria um segredo ou traço de minha personalidade, eu deixei Gaara chegar perto. E sua amizade era uma das melhores coisas que já acontecera em minha vida. Talvez a melhor. Se não fosse por seu apoio eu nem sequer teria conhecido a sensação viciante de estar num palco, ou saber como é ser admirada por tantas pessoas — até mesmo ter fãs. Quer dizer... Lümina era a admirada... Mas tanto faz... Somos a mesma pessoa.

Estando na situação que eu estava, o fato de que posso morrer a qualquer hora não poderia ser descartado. Mas graças a Gaara eu tive experiências que pouquíssimas pessoas no mundo poderiam ter. Experiências que Lümina me possibilitou ter. Mas sem Gaara, nunca haveria Lümina.

Ele tem sido realmente meu melhor amigo. Tudo que Gaara fez foi por mim, para o meu bem. E ele me ajudou sem pedir nada em troca.

Ao meu lado, eu podia sentir o espanto de Sasuke-kun, que soltou a minha mão.

"Mas você o conhece há tão pouco tempo..." Falou.

Claro. Pelo ponto de vista de qualquer um, o tempo que eu conhecia Gaara já era pequeno pra chamá-lo de melhor amigo. Mas pelo ponto de vista de Sasuke-kun, era absurdamente minúsculo, já que ele pensava que eu tinha conhecido esse 'cara' aqui em Nova York, no trabalho.

Olhei para o moreno. "Mas talvez, nesse pouco tempo, ele tenha sido a pessoa mais importante que entrou em minha vida."

E no segundo em que a mágoa reluziu no olhar de Sasuke-kun, eu me arrependi do que disse.

Ele tirou seus olhos de mim, passando a encarar a parede. "Fico feliz por você." Disse, tentando parecer convincente.

E como a mestre em disfarces que eu era, percebi que Sasuke-kun estava querendo fingir, forçando as palavras... Tentando soar como se eu não tivesse o magoado.

Meu coração se apertou. Sabia exatamente o que ele estava sentindo.

"Sasuke-kun... Ninguém pode tomar seu lugar no meu coração, você sabe disso, não é?" Tentei consertar. "Eu falei que ele foi a pessoa mais importante que entrou na minha vida. Porém você sempre esteve em minha vida. Desde que eu me entendo por gente!" Sorri, querendo mais do que nunca lhe arrancar um sorriso.

"Está tudo bem, Sakura."

E quanto mais ele falava do jeito que eu falaria, mais preocupada eu ficava. Dizer que estava bem quando claramente não estava era um coisa minha, não dele.

Respirei fundo. "Eu... Não quero retirar o que eu disse..." Hesitei. "Acho que... Ele é mesmo o meu melhor amigo... E talvez... Algo a mais." Sasuke-kun continuou encarando a parede. "Mas você... Você é para mim algo que o dicionário ainda não pode definir."

Foi só ali que ele me olhou. Seus olhos numa confusão mista, novamente. Sasuke-kun engoliu em seco.

Um tanto hesitante, voltei a segurar sua mão, e cortei nosso contato visual ao apoiar minha cabeça em seu ombro.

Uma fagulha de medo trepidava em mim — medo de que ele me afastasse. Mas ele não o fez.

E quando sua cabeça descansou na minha, meu coração se acalmou.

E o silêncio voltou.

Minutos depois, quando já nem conseguia mais me concentrar na minha cantoria mental, comecei: "Sasuke-kun..."

"Hum?"

"Canta pra mim?" Pedi.

"O que você quer que eu cante?" Perguntou, em voz baixa.

"A primeira música que vier em sua cabeça." Respondi.

Ele suspirou.

E quando ele cantou o primeiro verso, pude jurar que meu coração parou — só para voltar a funcionar em velocidade máxima.

Tudo que eu peço é...

Na nossa despedida

Abrace-me como se eu fosse mais que apen—

Ele parou de cantar quando eu pulei de surpresa, afastando-me dele.

"O que foi?" Perguntou.

Como assim o que foi? — quis gritar, mas apenas continuei o olhando com olhos arregalados.

"Essa música..." Balbuciei.

Ele havia cantado o refrão da música que escrevi pra ele e cantei no Soul Talent, após vê-lo com Ino!

Meu Deus! Sasuke-kun sabia de meu segredo! Ele sabia! Ele estava cantando a minha música para mim!

"O que foi, Sakura?" Ele franziu as sobrancelhas, genuinamente parecendo não entender nada. "Essa canção é da Lümina... Sabe a Lümina do Soul Talent? Então... É dela... Qual o problema?"

Sasuke-kun aparentava não saber o porquê de meu espanto, então tentei me controlar. "E por que você está a cantando?"

Ele me olhou como se eu fosse estranha. "Você me pediu pra cantar a primeira que viesse à mente... E, bom... Essa música não sai da minha cabeça... É um vício... Já assisti a apresentação no YouTube dezenas de vezes..."

Apesar do alívio por ele não saber de nada, o choque não diminuiu.

Seria cômico se não fosse desesperador. Era como um karma!

Sasuke-kun se viciou numa canção escrita sobre ele, e nem ao menos sabia! E ainda tinha todo o lisonjeio que eu estava sentindo por Sasuke-kun ter gostado dela.

"Ah... Bom..." Sorri, sem graça... "É que eu me assustei porque na verdade estava pensando justamente nessa música, e como não é muito conhecida, fiquei surpresa por você cantá-la." Tentei contornar a situação.

"Como não é conhecida?" Agora ele me olhava como se eu fosse louca. "O vídeo da apresentação tem mais de duzentos milhões de visualizações... Fora os milhares de covers dos fãs..."

Minha boca se abriu. "D-Duzentos... Milhões?"

E covers de fãs?!

"Na última vez que chequei... Sim... Era esse o número. Provavelmente já subiu muito."

Não podia acreditar!

Eu evitava a internet por querer me concentrar no musical... Na verdade... Eu mal tinha tempo de fazer algo que não envolvesse o processo criativo do musical.

Gaara e Tsunade me avisaram que eu estava fazendo sucesso, mas ninguém havia falado em números! Eu estava abismada!

"Eu não sabia desse sucesso todo!"

"Você conhece uma coisa chamada internet?" Perguntou, irônico. "Lümina está por todo o canto de lá."

Sorri. "E as pessoas gostam dela?"

"Gostar?" Ele riu pelo nariz. "Está mais para idolatrar."

Gargalhei. "Isso é maravilhoso!"

Sasuke-kun parecia divertido. "Você parece gostar dela."

Dei de ombros. "É... Gosto."

Ele assentiu. "O Sai também é muito popular, mas acho que ela ganha."

E foi então que eu fiquei triste.

Não, eu não iria ganhar... Porque provavelmente nem conseguiria participar.

"O que foi agora?" Sasuke-kun perguntou, notando minha mudança.

"Nós não vamos vê-la ganhar." Falei.

O Uchiha me encarou. "Vamos. Vamos sim. Temos que ser fortes pra sair daqui, lembra? Não podemos nos entregar."

Assenti, concordando.

Mas mesmo que conseguíssemos escapar... Eu nunca prepararia o musical a tempo. Seria desclassificada. Gaara não poderia renovar seu contrato com a gravadora... Eu não ganharia o meu...

Deus! Como eu queria vencer! Como eu queria continuar a cantar, mostrar meu talento ao mundo... Conhecer o mundo... Ainda havia tantas coisas que eu queria fazer! Eu deveria ter a vida inteira pela frente, certo? As coisas não podem acabar assim. Não agora que eu finalmente tinha começado a viver.

Mas o que eu podia fazer? Mal tinha forças para levantar, quanto mais para lutar.

A única coisa que me restava era rezar... Rezar para um milagre acontecer.

*

*

*

POV: Senju Tsunade

"Vocês já encontraram alguma pista?" Fui logo perguntando ao adentrar a sala do policial Hanks, acompanhada de Shizune e Gaara.

Hanks parecia não prestar atenção na nossa presença, concentrado em algo que um segundo policial lhe mostrava em seu notebook.

"Um minuto." Pediu, ainda sem nos olhar. Gaara se remexeu inquieto ao meu lado.

"Eles ficaram na casa o dia todo. Não houve movimento." O policial do notebook falou.

"É possível que as crianças estejam lá?" Hanks perguntou. Automaticamente prestei atenção à conversa. As "crianças" às quais ele se referia podiam ser Sakura e seu amigo.

"Improvável." O homem respondeu. "Uma casa num conjunto residencial com câmeras e seguranças não é exatamente o tipo ideal de cativeiro."

Hanks assentiu. "Continue vigiando. Qualquer novidade me avise."

"Certo." E pegando seu notebook, o policial se retirou da sala.

"Vocês estavam falando sobre Sakura?" Gaara se apressou a perguntar.

Hanks assentiu com a cabeça, encarando o Sabaku.

"Entramos em contato com a equipe do Soul Talent e pegamos o número de Roger e Sasori. Conseguimos rastreá-los, mas até agora não houve nenhum movimento suspeito. Os dois ficaram na casa de Roger o dia inteiro, e devido ao sistema de vigilância do conjunto onde ele mora... As probabilidades de Sakura e Sasuke estarem lá são baixíssimas."

"Mas não inexistentes!" Gaara ralhou, alterado. "Vocês precisam ir até lá!"

"Não é assim que funciona." Hanks manteve a compostura. "Não podemos chamar atenção. Se as crianças não estiverem lá — e provavelmente não estão — tudo que conseguiremos é alertar Sasori e Roger de que eles estão sendo vigiados. Isso é... Se eles forem mesmo culpados."

"Se?" Shizune indagou.

"Temos que trabalhar com outras possibilidades." O policial disse.

"Eu quero o endereço da casa desse Roger." Gaara falou, de repente.

Hanks ergueu a sobrancelha. "Isso é algo que eu não posso lhe dar."

"Você disse que a polícia não pode ir até casa dele pra não chamar atenção. Mas eu não sou da polícia. Eu posso." O ruivo continuou.

Hanks bufou. "Ah, claro... Porque certamente o superstar mentor da garota desaparecida não iria chamar atenção de jeito nenhum ao aparecer por lá."

Gaara cerrou os punhos. "Nós temos que fazer alguma coisa! Qualquer coisa!"

"Nós vamos encontrá-los." O policial afirmou.

"É só isso que você sabe dizer? Foi a mesma coisa que me disse ontem!" O ruivo rosnou, quase gritando. "Tempo é precioso, você já deveria saber! E já se passaram dois dias!"

Hanks se levantou, encarando Gaara com seriedade. "Abaixa o tom, garoto. Aqui você não manda. Já olhamos todas as câmeras de segurança possíveis, investigamos a placa da van e rastreamos os celulares dos caras que vocês nos deram como suspeitos. Infelizmente, meu jovem, ainda não sou vidente pra saber onde as crianças estão. A única coisa que posso fazer é usar os recursos da polícia para encontrá-los. Sei que você está acostumado a fazer e acontecer, mas neste caso sua única opção é sentar e confiar na polícia. Você é um ótimo artista, e eu um ótimo policial. Eu não te diria — ou saberia — como fazer o seu trabalho, então não venha me dizer como fazer o meu."

O ruivo permaneceu calado por um momento, olhando para o policial com olhos um tanto surpresos e trêmulos.

"Eu só quero a Sakura de volta." Gaara falou, com a voz meio embargada. "E se você pensa que eu vou simplesmente sentar e esperar enquanto ela está sofrendo nas mãos de bandidos, você não sabe nada sobre mim."

"Sei que é um garoto de dezesseis anos desesperado pra encontrar a garota que gosta." O policial rebateu. "E pessoas desesperadas costumam fazer besteiras, às vezes até atrapalhando o trabalho da polícia. Eu tenho mais que a sua idade só de experiência nesse trabalho. Já vi essa cena centenas de vezes. Então me deixa te dizer uma coisa… Você não é um herói, muito menos um profissional. Mas eu sou. A minha equipe é. E somos acostumados arriscar nossas vidas sempre que alguém precisa. Se tivermos que fazer isso por Sakura e Sasuke, faremos. Mas antes precisamos encontrá-los, sem fazer barulho, com cautela e profissionalismo. Tomar atitudes impulsivas como ir até a casa de um suspeito têm apenas o potencial de causar uma tragédia."

"E se a tragédia já estiver acontecido enquanto você 'age com cautela'?" O ruivo rebateu.

"Já chega, Gaara." Falei. "Eu sei que é difícil ficar parado, mas você precisa deixar a polícia fazer seu trabalho sem interferências."

O ruivo respirava com dificuldade, provavelmente tentando se controlar.

"Tudo que eu consigo pensar é que, enquanto estamos aqui, Sakura está sofrendo sabe-se lá o quê nas mãos dos sequestradores." Ele balançou a cabeça.

Aproximei-me dele, abraçando-o pelas costas.

"Precisamos ter fé." Falei, enquanto percebia Gaara tremer sob meus braços.

Eu nunca pensei que veria isso acontecer tão cedo, mas aconteceu... Meu menino... Estava muito apaixonado. E se algo acontecesse à Sakura... Isso iria destruí-lo.

Interrompendo o momento, o policial do notebook entrou novamente na sala, correndo.

"Eles estão se movendo!" Falou.

Gaara se soltou de mim, aproximando-se do policial. "Para onde?"

"Não diga!" Hanks se apressou a dizer. "Do jeito que ele está, a possibilidade de fazer alguma besteira é grande! Vamos para a sala de estratégias." E os dois policiais saíram antes que alguém pudesse falar alguma coisa, deixando um Gaara visivelmente frustrado para trás.

"Eu tenho que fazer alguma coisa, Tsunade." Virou pra mim, com olhos desesperados.

O Sabaku não estava acostumado a esperar os outros irem buscar o que ele queria. Mas dessa vez não havia nada que ele pudesse fazer.

"Você não está no controle de tudo, Gaara." Falei, firme. "Eu também quero a Sakura de volta, mas vamos ter que esperar e confiar na polícia. Eles sabem o que fazem."

"Eles não se importam, Tsunade!" Gaara rebateu. "Pra eles, Sakura é apenas mais uma garota desaparecida entre milhares!"

"Você está sendo injusto." Shizune falou. "Eles estão realmente empenhados na busca."

"Eu não vejo esse empenho!" O ruivo bufou. "Mas talvez seja porque eu sou o único aqui que me importo." Rosnou, dando-nos um olhar duro e saindo da sala.

Respirei fundo.

"Ele só está com medo." Shizune disse.

"Eu sei." Passei a mão nos cabelos.

O problema era que Gaara deste jeito só piorava a situação.

Ele não estava pensando claramente. Mas afinal... Que pessoa apaixonada pensa?

*

*

*

POV: Haruno Sakura

Eu me sentia fraca e dormente. Parte de mim despertando, mas a outra querendo voltar a dormir e nunca mais acordar.

Uma carícia suave em meus cabelos me trouxe de volta à consciência de vez, e me encontrei deitada na perna de Sasuke-kun.

"Dessa vez você dormiu pesado." Ele falou.

Bocejei, levantando-me. Tomei um tempo observando seus machucados com o olhar. "Você está horrível." Comentei.

Ele riu pelo nariz. "Vivi pra ouvir você dizendo isso." Falou, arrancando um sorriso de meu rosto.

"E como você se sente?"

"Pareço pior do que realmente estou." Respondeu.

"Isso é bo—"

Antes que eu pudesse terminar a frase, fui interrompida por um estrondo vindo do lado de fora do cativeiro, que fez eu e Sasuke-kun nos sobressaltarmos. Parecia que uma porta tinha sido fechada com brutalidade. Logo, barulhos de vozes exaltadas se fizeram presentes.

"Eles estão aqui!" Olhei com pavor pra Sasuke-kun.

Ele me deu um olhar estranhamente assustado e corajoso ao mesmo tempo — eu nem ao menos sabia se um olhar assim era possível, se podia ser real.

"Escuta!" Sussurrou, segurando em meu braço. "Enquanto eu apanhava, fiquei atento se eles tinham alguma arma na roupa. Não tinham. Mas Deidara... Eu vi... Quando eu estava deitado no chão vi que ele carregava uma faca na bota." As vozes ficavam mais altas. "Presta atenção, Sakura! O Deidara carrega uma faca na bota! Não falei antes pra você não ficar mais nervosa... Mas eu vou tentar pegá-la."

"Não!" Sussurrei, desesperada. "É um risco muito grande."

"Nossas vidas já estão em risco, Sakura. E se não fizermos nada... Não vamos sair daqui vivos."

"Não!" Choraminguei. "E se o Deidara não vier? E se ele não estiver com a faca?"

"Se ele não trouxer a faca, então estamos ferrados. Mas ele vem sim. Deidara não viajou de Konoha até aqui pra nada."

"Mas..." Balancei a cabeça, sem conseguir encontrar argumentos negativos para completar a frase.

"Eu pego a faca e faço Deidara de refém! Todos os bandidos estão aqui pelo dinheiro dele. Mas se ele morre, nada de dinheiro." O Uchiha continuou. "Por isso a vida de Deidara é preciosa aqui. Faço ele de refém e a gente sai daqui!"

O plano fazia sentido. E era o único que tínhamos… A única esperança de sairmos do cativeiro vivos.

E foi então que eu descobri que o olhar que Sasuke-kun me dava podia sim ser real.

Em meio a todo o medo e pavor que eu sentia, dei a ele o olhar mais corajoso que já dera em minha vida.

"Vamos nessa."

A adrenalina alimentou meu corpo, deixando-o fortalecido, pronto pra fuga. E eu podia ver que ela fazia o mesmo efeito em Sasuke-kun.

Como num furacão, a porta do cativeiro foi aberta. Sasori e Deidara entraram, sozinhos, fechando a porta em seguida. Sem os mascarados.

Dessa vez, no entanto, não foi Deidara quem me assustou, e sim Sasori.

Diferente da primeira visita — em que estava calmo e frio — agora ele parecia um louco saído direto do hospício, com cabelos desgrenhados, olhos vermelhos de choro e expressão de maníaco.

Respirei com dificuldade.

O que acontecera? Nunca tinha o visto em tal estado deprimente.

Não perca o foco, Sakura! — disse a mim mesma.

Olhei para a bota de Deidara e encontrei o cabo preto da faca quase camuflado com o preto da própria bota e da calça. Mas estava lá.

Um rosnado quase sobre-humano atraiu minha atenção de volta a Sasori. Sua respiração estava pesada.

Todo meu corpo se arrepiou.

"E-Ela... Se foi..." O Akasuna disse, com uma lágrima descendo por seu rosto. E então seus pulsos se apertaram até seus dedos ficarem brancos. "E alguém tem que sofrer." Completou, com sua voz assumindo um tom psicopata.

E naquele momento eu duvidei que qualquer plano que tivéssemos conseguisse parar sua fúria.


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Notas finais do capítulo

Desculpem a demora! Bom, eu viajei a trabalho, voltei, estudei... E no meio desse tempo corrido tentava escrever. Eu iria postar há alguns dias, porém meu pai deu um susto em todo mundo e foi parar na UTI. Eu já não pensava em mais nada. Graças a Deus ele está bem agora. Então... Sobre minha demora pra escrever... Olha... Escrever cenas SasuSaku em AMDS é tão difícil! Muito diferente das de GaaSaku que eu escrevo num piscar de olhos! Mas, ei... Não é questão de que eu prefira um ao outro. Já falei muitas vezes que por conhecer muito bem cada um dos personagens e saber as coisas que vão acontecer, eu tenho um carinho especial pelos dois e realmente não sei quem shippo mais. Mas é o seguinte... GaaSaku é leve, natural... Já SasuSaku tem uma carga emocional grande demais e que eu preciso ter cuidado. Na verdade, é como se Sasuke e Sakura que tivessem que ter muito cuidado ao estar perto um do outro. Há muita mágoa, dor e segredos nessa relação, diferente da relação entre Gaara e Sakura... E mesmo assim Sasuke e Sakura são amigos de infância que tem um amor incondicional um pelo outro — por mais que sejam amores diferentes. Então... Escrever sobre eles é muito difícil pra mim... É como se eu estivesse pisando em ovos. Eles se conhecem tanto, mas ao mesmo tempo... Não se conhecem. Por esse motivo, levei um tempo pra escrever algo que achasse minimamente digno pra eles e que não ficasse forçado. Pq pra vcs, uma cena de apoio ou carinho entre eles pode parecer estranha, quando na vdd, não tem q ser assim... Eles estão um ao lado do outro há aaaanos! Nos últimos tempos foi q se afastaram. Mas enfim... É isso... Espero q não tenha ficado forçado, que vcs tenham entendido mais da relação deles e que tenham conhecido um pouco mais do Sasuke. Espero tbm que ainda estejam por aqui e que não tenham esquecido da história! Acho que o próximo capítulo será mais fácil de escrever.

Desculpem tbm a demora q eu tive pra responder vcs! Tbm tenho q ser mais rápida nisso! Ao povo q me mandou mensagem privada... Tbm peço desculpas por não ter respondido. Eu só entro em dias de postagens ou de responder comentários, por isso ñ as li antes!

XOXO