— Emi!!!! – ouvi Yumi gritar meu nome desesperadamente. – Eu preciso MUITO de você!

— Fala mais baixo! Estamos em uma biblioteca! – sussurrei o mais audível que pude para ela.

— Foi mal! – ela sussurrou de volta.

Yumi sentou-se do meu lado, e parecia extremamente nervosa.

— Tudo bem – ela disse, inspirando e expirando cuidadosamente. Logo depois que pareceu se acalmar, tirou algo de sua mochila e estendeu para mim.

— O que é isso? – analisei o que ela havia me dado; era uma carta. – É pra mim?

— Não! É para o Naoki...

— Shinohara Naoki?! Você não deve estar em seu juízo perfeito – eu devolvi a carta para ela.

Então você deve estar se perguntando: quem é Shinohara Naoki? Pode deixar, eu respondo. Ele é simplesmente o garoto mais repugnante daquela escola. E ignorante. E egoísta. E desagradável e antipático. Mas, por uma infeliz sorte, esse mesmo garoto também era o mais inteligente e bonito daquele lugar; e isso eu precisava admitir, por mais que eu odeie com todas as minhas forças.

Mas o mais triste de tudo é que ninguém tem o mesmo pensamento que eu tenho sobre ele; para os alunos, ele é o máximo! Todas as garotas o querem, todos os garotos querem ser seus amigos... até mesmo os professores! Ao menos não somos da mesma sala; ele é da classe A e eu da classe B; como as classes onde estudamos são decretadas de acordo com o nosso desempenho nas notas e disciplinas, eu pretendo continuar onde estou.

— Yumi, por que você quer dar essa carta para ele?

Ela pareceu hesitante antes de responder.

— Olha, eu sei que você o odeia – ela começou, e pude notar que estava escolhendo suas palavras cuidadosamente. – Mas ele não é o que você pensa... e eu juro que quis te dizer isso antes, só que eu ficava com medo do que você pensaria, mas eu decidi que não aguento mais guardar esse sentimento só para mim! – então ela respirou fundo e disse logo em seguida, decidida: – Eu o amo! E vou me declarar hoje através desta carta! Que aliás, eu vou entregar agora mesmo, e quero que você vá comigo.

Oh, santo Deus! Onde estava o cérebro da minha amiga?

— Yumi, como sua melhor amiga eu tenho o dever de te avisar que isso não é uma boa ideia! Na verdade, gostar do Naoki não foi uma boa ideia!!!

— Eu não quero saber da sua opinião, ok? – ela disse, levantando-se. – Eu vou entregar essa carta e pronto. Mas eu não consigo fazer isso sozinha... por favor, esqueça o que sente por ele só por cinco minutos e me apoia, por favor!!! Eu não vou descansar até que ele saiba o que eu sinto por ele.

Aquilo definitivamente não era uma boa ideia. Não com aquele garoto. Eu sabia que se ela fizesse isso ia terminar mal, por que ele com certeza não sente o mesmo por ela, e não vai hesitar em dizer isso da pior forma que ele achar. Nao que eu esteja sendo pessimista, mas para falar a verdade, eu nunca o havia visto com uma garota! Ele pode até ser gay!

Eu já estava me preparando para dizer isso para ela, mas então eu vi seu rosto: ela estava empolgada. E estava determinada a fazer isso. Eu conhecia Yumi; quando ela colocava uma ideia em sua cabeça, não havia quem tirasse de lá! Apenas respirei fundo antes de dizer a frase seguinte:

— Tudo bem, vamos.

***

Estávamos no pátio. estava parcialmente cheio, com alunos espalhados por aí, conversando, comendo, estudando... a situação me parecia cada vez mais imprópria para o que minha amiga queria fazer.

— Você está vendo ele? – Yumi sussurrou em meu ouvido; a carta nas duas mãos, que ela pressionava contra o peito, e os olhos inquietos varrendo o pátio inteiro.

— Ele está ali – apontei com o dedo, depois de procurar mais um pouco.

Naoki estava com um amigo do lado, e os dois conversavam sobre algo. Yumi começou a caminhar até lá.

— Você tem certeza de que quer fazer isso mesmo? – tentei uma última vez abrir seus olhos, mas ela não ligava.

— Nunca tive tanta certeza de algo na minha vida – ela caminhava cada vez mais rápido, o que dificultava acompanhar seu ritmo.

E então, finalmente chegamos. Estávamos a pouco passos dos dois. Então Yumi decidiu acabar logo com aquilo.

— Shinohara-san – ela chamou, e ele finalmente pareceu notar nossa presença. Parou sua conversa e virou, ficando de frente para nós.

Yumi abaixou a cabeça e estendeu a carta para ele.

— O que é isso? – seu tom de voz soava indiferente.

— Por favor, leia! – ela continuou com a carta estendida para ele.

— Se for uma tentativa inútil de se declarar, saiba que isso não vale o meu tempo – ele disse com o mesmo tom, e logo tornou a ficar de costas. Pude notar as pessoas parando o que estavam fazendo e nos encarando. E então ele simplesmente virou novamente, como se houvesse esquecido de dizer algo. – Você não vale o meu tempo.

Yumi continuava de cabeça baixa. Abaixou seus braços, mas continuou segurando a carta. Ela estava tremendo,e se encolhia cada vez mais enquanto todos a observavam.

Meu sangue já estava fervendo; eu não iria assistir aquilo tudo e ficar calada.

— Quem você pensa que é para tratá-la desse jeito?! – gritei, pegando a carta de Yumi e aproximando-me dele. – Por acaso é um príncipe? Ou uma autoridade? Ou uma figura sagrada? Quer dizer, nem mesmo essas pessoas têm o direito de falar assim de alguém, muito menos você! – estendi a carta para ele. – Você vai ler essa carta sim! Não é obrigado a correspondê-la, mas pode muito bem dá uma chance para isso antes de simplesmente tomar decisões precipitadas!

Ele, que já estava de costas novamente, virou e me encarou. Estávamos frente a frente. Todos os alunos nos observavam atentamente agora.

— E quem é você? A defensora dela? – ele soltou uma risada. – Eu realmente não quero uma garota que nem ao menos sabe se defender sozinha; ela é estúpida, assim como você.

— Talvez você só esteja falando e tratando-a assim para omitir o fato de que você na verdade gosta de garotos! – deixei escapar sem nem perceber. Eu não sabia se ele realmente gostava de garotos, mas não podia ficar calada simplesmente vendo-o agredir verbalmente eu e Yumi.

Várias exclamações escaparam da bocas dos alunos ao nosso redor, até mesmo da de Yumi. Naoki, pelo contrário, apenas sorriu e se aproximou ainda mais de mim. Colocou os lábios no pé do meu ouvido e sussurrou:

— Posso perfeitamente te provar que eu gosto de garotas... – então sua boca descolou do meu ouvido e começou a percorrer meu rosto, em direção à minha boca.

Mesmo percebendo o que ele estava prestes a fazer, eu permancei paralisada. Pude sentir meu rosto extremamente quente, e minhas pernas estavam tremendo; nunca um garoto havia chegado tão perto de mim.

Finamente, quando seus lábios estavam a milímetros dos meus, e meus olhos já estavam fechados, ouvi apenas uma risada bastante sincera.

— Você diz que eu gosto de garotos para tentar sair por cima, já que não consegue lidar com o fato de que também é apaixonada por mim – e com essa frase solta no ar, o sinal bateu e ele se foi.