Eu vou aonde ele for escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 6
Capítulo 6 - Eu sou melhor com você




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Capítulo 6 – Eu sou melhor com você

– Sherlock! Sherlock!

A voz distante chegou aos poucos a seus ouvidos e sentiu uma mão pequena e gentil acariciando sua cabeça. Abriu os olhos assustado mais uma vez e encontrou os olhos puxados lhe encarando. Os dedos delicados da chinesa deslizaram com suavidade por sua testa.

– Sherlock...? Sou eu.

– Frio hoje... – ele conseguiu dizer.

– Você se debateu enquanto dormia. Empurrou o cobertor pra longe – ela esclareceu puxando o tecido de volta sobre ele e sentando-se ao seu lado – E dormir sem camisa não ajuda em nada numa noite fria. Você estava ficando melhor, tudo que aconteceu ontem... Está te atormentando?

Sherlock estivera imerso em pesadelos novamente. Oscar, drogas, lugares inóspitos e horríveis para uma pessoa normal, Alfredo sequestrado, recaída, visita de seu pai... Mas dessa vez algo mais havia perturbado seus sonhos. Tudo isso parecia se afastar quando ela aparecia em seus sonhos, mas dessa vez os dois estavam em Londres e ela estava se afastando, até desaparecer em algum lugar e não voltar mais.

– Que horas são?

– Seis. Kitty passou no meu quarto ontem pra dizer que vocês estavam indo dormir e que você já estava deitado e estava bem. Então deixei pra vir aqui só agora. Ela ainda está dormindo... Me desculpe por ontem.

– Desculpar pelo que?

– Sei que se sentiu desconfortável por eu ter que contar tudo ao seu pai.

– Se não tivesse contado eu estaria em Londres agora.

– Não estaria. Ele viu as provas do que eu disse na delegacia.

– Não o conhece, Watson. Ele mesmo teria levantando minhas mangas pra comprovar, mas de certa forma confiou em você. Obrigado... Por tudo.

Ela abriu um pequeno sorriso e o encarou.

– Está mais falante hoje. A presença de Kitty realmente te fez bem.

– Ela tem uma energia contagiante.

– Sim, bastante... Volte a dormir.

– Não quero dormir de novo.

– Sherlock... Eu sei que está sendo difícil. Eu sei que está assustado, mas você precisa descansar. Em algum momento esses pesadelos vão sumir. Ao menos por mais alguns dias até você se recuperar e poder voltar aos casos e aos seus ataques de tédio.

– Agradeço sua preocupação, Watson, mas quero ver minhas abelhas – ele insistiu empurrando um pouco o cobertor de cima de si.

Joan fitou os arranhões em seus braços e os tocou por instinto, analisando sua recuperação.

– Você se recupera rápido. Logo isso vai sumir.

– Quem dera o restante sumisse também.

– Sherlock... Um dia tudo isso vai ser só uma lembrança ruim. Como um sonho ruim que passou há muito tempo. Isso vai passar.

O inglês nunca havia acreditado naquelas velhas palavras, mas com Joan falando era como se fosse a certeza mais forte que existia, embora ele não compreendesse o porque.

– Quer mesmo se levantar tão cedo?

Ela suspirou e fez um gesto de derrota, levantando-se e seguindo para o guarda-roupa dele, o que Sherlock achou estranho. A oriental voltou menos de um minuto depois com algumas peças de roupa. Camisa xadrez azul clara, um colete verde bem escuro, calça preta, cinto, meias e um par de sapatos, colocando-os sobre a cama e os sapatos no chão. Sherlock a olhou abismado e ela riu graciosamente.

– Eu também sei como você gosta de vestir.

– Dedução perfeita... – ele disse ainda impressionado, ela nunca tinha feito aquilo.

– Me acostumei. Aprendi com o melhor – ela conclui antes de deixar o quarto.

Pela primeira vez em todos aqueles dias horríveis Sherlock conseguiu sorrir como se nada tivesse acontecido, embora a dor de tudo que havia passado ainda martelasse insistente em seu peito. Trocou-se e arrumou a cama em alguns minutos. Estava sozinho no telhado observando a cidade lá embaixo quando escutou a porta ser aberta e ouviu os passos de Joan caminhando até ele. Ela se pôs ao seu lado em silêncio e o acompanhou em sua observação. Sherlock pensava no que havia conversado com Kitty. Não sabia como começar a falar.

– Você também não parecia bem ontem quando estávamos falando com meu pai.

Ela ficou em silêncio ao ser pega de surpresa, sentiu o coração descompassar e respirou fundo tentando pensar.

– Me lembrei de coisas ruins. Pensei em coisas ruins. Percebi que... Não queria que seu pai levasse você embora – ela confessou sem jeito.

– Se ele tivesse me levado, o que você faria?

– Eu não sei.

– E se tivesse me expulsado daqui?

– Eu já disse que vou aonde você for.

O silêncio tornou a prevalecer até quase tornar-se incômodo.

– Sherlock...

Ele a olhou. Tinha as mãos nos bolsos e parecia nervoso.

– Me desculpe.

– Pelo que dessa vez, Watson?

Ela calou-se e passou um tempo considerável tentando conjecturar suas palavras, como se nenhuma maneira fosse a melhor para dizê-las. Sherlock esperou. Fosse o que fosse, devia ser algo que a machucava bastante e ele sentiu-se mal por nada poder fazer além de espera-la falar.

– Naquela época... Quando tudo aquilo aconteceu com Mycroft. Nos últimos dias. Eu acho que te machuquei bastante. Eu fui embora porque eu estava com medo de muitas coisas, não só de ser sugada pelo seu mundo. E no final das contas eu só me machuquei mais. Mycroft me usou. Me usou pra atingir você pelo que consegui perceber. Depois sumiu como se não fosse nada. Nunca me senti tão idiota e fraca. Então você foi embora. E eu fiquei sozinha. Me desculpe, Sherlock – ela terminou com a voz embargada.

Ele sentiu-se péssimo. Nunca imaginou que a estivesse machucando quando foi para Londres.

– Quando você voltou... Eu fiquei com medo. De como iam ser as coisas, eu fiquei feliz também... Eu queria ir te ver no mesmo dia que eu soube que estava de volta, mas pensei que não quisesse me ver.

– Como soube se eu tinha voltado? Achei que tivesse descoberto por causa de Kitty.

– Bastou passar aqui na frente. Eu fazia isso de vez em quando sem sequer perceber. Não sei bem explicar como ou o que eu vi, mas eu só olhei pro sobrado e soube que você estava aqui. Você trouxe Kitty... Apesar de como começamos, ela é uma benção. Mas senti sua falta. Me desculpe por fazer você ouvir toda essa tolice.

Sherlock a olhou, vendo os olhos puxados ficarem vermelhos e se estreitarem ainda mais com o esforço de não chorar.

– Não... – ele conseguiu responder finalmente – Não diga isso. Você estava assustada, estava com medo, do trauma que sofreu com o sequestro e tudo que aconteceu. Você não teve culpa de nada. Você não é idiota, você não é fraca. Você teve um momento de fraqueza, como acontece com todo mundo, e o safado do meu irmão se aproveitou disso. Eu nunca soube lidar com certas coisas, nunca aceitei bem algumas perdas. Então eu fugi covardemente. Fugi quando você mais precisava de uma companhia e de segurança. Eu devo me desculpar.

Joan ficou pensativa buscando o significado sobre o que ele acabara de dizer.

– Ele enganou nós dois. Eu acreditei nele por um momento. Eu revirei a cidade e até usei tortura psicológica com um homem ameaçando usar a física. Tudo que eu pensava é que você poderia ser morta. Eu encontrei a lista, Mycroft me apagou e no fim ele levou o crédito. Ele disse que me amava... Mas...

– Mas o que?

– Ele... Antes de você ser libertada... Ele perguntou o que você significava pra mim.

Ela o fitou em silêncio, sem conseguir dizer nada.

– Eu não consegui encontrar uma resposta exata. Então ele disse. Disse que você é a pessoa que eu mais amo no mundo... – conseguiu dizer, ficando em silêncio por um longo tempo antes de continuar – E ainda assim ele se aproveitou de você, pra ferir nós dois.

A oriental ficou abismada, podia sentir a dor na voz de Sherlock, e sua própria ao saber o quanto o machucara. Por outro lado, seu peito encheu-se de uma sensação maravilhosa e sentiu o coração bater tão forte que mal podia respirar, e falar se tornou uma capacidade perdida naquele momento.

– Você achou que eu estava paranoico. Que os medos que eu sempre tive estavam envolvidos quando te avisei. Eu devia ter te protegido melhor. E não devia ter te deixado sozinha.

– Me desculpe, Sherlock...

Ele virou-se para ela ao ver as lágrimas correrem em silêncio pela pele clara, sem saber exatamente qual reação tomar.

– Mycroft estava certo...? – Ela sussurrou, o encarando.

O detetive se viu jogado num turbilhão de emoções, medo, lembranças ruins, lembranças boas, o amor que sentia por Joan secretamente... Levou as mãos a seu rosto para secar suas lágrimas, com toda a delicadeza de que era capaz. Vê-la chorando o quebrou, derrubou qualquer barreira que havia entre os dois.

– Foi a única coisa certa que ele disse na vida – respondeu ficando a milímetros do rosto dela.

Seus lábios se encontraram no segundo seguinte. Joan sentiu a dor em seu coração queimá-la por dentro e transformar-se aos poucos numa sensação agradável. Uma mão de Sherlock a puxou com cuidado pela cintura e a outra entrelaçou os dedos em seu cabelo longo, acariciando sua nuca e provocando arrepios reconfortantes. A oriental enlaçou o pescoço do detetive com as mãos, o mantendo bem perto, e afagando seus cabelos, depois seguindo para seus ombros. O momento a relaxou de tal forma que tomou-lhe as forças e sentiu-se fraquejar sobre as próprias pernas. Percebendo isso, Sherlock arrastou a mão de seu cabelo de volta para a cintura, segurando-a com firmeza e a acariciando de leve ali. Ela nem pensou em recusar o convite mudo para aprofundar o beijo, sentindo os lábios dele dançarem com os seus em perfeita sincronia, quebrando o contato apenas quando ficaram sem nenhum resquício de ar. Joan abaixou a cabeça, deitando no peito do consultor e fechando os olhos, sentindo os braços de Sherlock se fecharem protetoramente em suas costas e a apertarem contra ele. As mãos, maiores que as suas, afagavam suas costas com tal suavidade que a chinesa sentiu o corpo aquecer. Podia até dormir ali. Já havia se relacionado com outros em sua vida, mas com nenhum se sentiu tão segura, protegida e amada como Sherlock a fez sentir naquele momento. As mãos dele subiam devagar por suas costas, lhe provocando arrepios agradáveis e finalmente acariciando seu cabelo negro. Joan enfim abriu os olhos, agradecendo interiormente ao se ver nos braços dele e saber que não fora tudo um sonho.

– Me desculpe, Joan... Por ter deixado você sozinha.

– Não diga isso... Eu feri você. Feri muito. Devia ter te ouvido, Mycroft nunca me amou. O que aconteceu naquela manhã foi só pra ferir você, ferir muito.

Sherlock acariciou suas costas num movimento suave e fez um som indicando que ela ficasse em silêncio e se acalmasse.

– Você estava confusa, perdida e com medo. Nada daquilo foi culpa sua. Ver vocês dois naquela manhã doeu sim, mas eu não sinto uma gota de ressentimento por você, só raiva de mim mesmo por não ter te protegido e ainda ter fugido por oito meses. Quero que entenda que nada disso importa mais, Joan. Ontem estive prestes a iniciar uma luta com meu pai se sua decisão fosse negativa. Eu não posso deixar esse lugar... Porque... Você me derrubou, não sei como, mas quebrou todos os muros que eu construí... Porque eu amo você.

Ela afastou-se um pouco para encará-lo. Os olhos puxados, ainda um pouco avermelhados se encheram de água de novo, mas dessa vez de alegria.

– Eu amo essas sardas – Sherlock falou deslizando os polegares por seu rosto.

Joan riu e o abraçou forte, fechando os olhos novamente e lhe dando um beijo entre a mandíbula e o pescoço.

– Também te amo – ela sussurrou quando Sherlock a apertou mais uma vez contra ele e encaixou o rosto em seu pescoço, fechando os olhos azuis.

– Eu sou melhor com você – sussurrou de volta.


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