Cartas que nunca vou te entregar escrita por penelope_bloom


Capítulo 1
Perspectiva


Notas iniciais do capítulo

Pra quem vai, e nem sabe o que levou.



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– WOW! Cadê ele?

– Perdi por aí.

– Como perdeu?

Estava de cabeça pra baixo, pendurando-se, equilibrando-se, tracionando as pernas ao redor da estrutura metálica para que não caísse. Os fluidos que lhe saiam do peito escorriam pelo seu pescoço, e agora começavam a passar por sua boca. Passava a mão repetidamente, queria evitar que aquilo caísse em seu nariz.

– Ele nunca me obedeceu, era óbvio que uma hora ele ia se enfiar em algum lugar que eu não pudesse tirá-lo. Por que? Você quer ele?

– Não. Apenas queria saber, não me importaria que você tivesse emprestado para alguém, mas perder ele... – ele parou por um momento e acariciou os macios cabelos que apontavam para o chão, castanhos, bagunçados, assim como seus olhos. – Bom, vou indo.

– Tudo bem. Se o vir, pode guardar, sim? Não é como se eu o quisesse com mais alguém.

– Tudo bem. – Sorriu ligeiramente encabulado, um sorriso torto que mostrava a ponta dos caninos e repuxava os lábios singelamente.

A passos tranquilos ele se afastou, deixando a pessoa ali dependurada, de cabeça pra baixo, observando-o ir, observando sua nuca perfeita, as costas largas, as calças que lhe caiam nos quadris, quase folgadas demais. Mesmo de costas podia imaginar seu sorriso pacífico, seu olhar quase perdido, sempre tranquilo.

– O que está fazendo aí? – o gato perguntou observando a pose esquisita, aproximou-se e lambeu o queixo encharcado com sangue. Depois esfregou sua cabeça e ronronou. – cadê seu coração?

A mão fria que limpava a boca tocou ligeiramente os bordos costais expostos, pôde sentir rapidamente os vasos estraçalhados que jorravam sangue. Voltou a impedir que o sangue escorresse para seu nariz.

– Ele nunca me obedeceu.

– Ele nunca tinha saído antes. – ponderou o felino lambendo a pata.

– Pulou no bolso dele. – lamentou-se.

– E você o vai deixar ir embora com seu coração no bolso?! – o gato espantou-se, em alerta, pronto para ir atrás do rapaz de olhos cor de correnteza.

– Ele não sabe que está lá. – Acariciou as orelhas do gato, acalmando-o – deixe. Um dia meu coração volta, e se não voltar, pelo menos nunca mais vou ter que senti-lo sendo arrancado desse jeito.

– E você vai viver com esse buraco horrendo aí?

– É um jeito de ver. Eu acho que vai ser deveras refrescante no verão.

– Como você pode pensar assim? – murmurou o gato.

– É por que eu estou de cabeça pra baixo...


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