Meio Príncipe escrita por OMajestosoLeãodeBolso


Capítulo 2
Capitulo 1: Táquion Sommerfeld


Notas iniciais do capítulo

Se ainda não leu o prólogo, recomendo que leia, é de suma importância para o conhecimento da história.



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O príncipe cresceu um bravo guerreiro, era o orgulho de seus pais. Apesar da pouca idade já colecionava cabeças de muitos inimigos de seu reino e poderosos guerreiros.

Nunca demonstrou interesse em coisas como artes, música e qualquer coisa relacionada ao saber, tudo o que precisava era lutar.

No campo de batalhas não mostrava piedade, todos o temiam, afinal era um guerreiro poderoso.

Cresceu bronco, bruto, ignorante e seus pais achavam graça nisso, só lamentavam que seu filho nunca escolheu uma esposa.

Quando o rei falava algo sobre o assunto casamento este bufava, gritava e saia. Sua mente talvez nunca se ocuparia de algo tão trivial.

Seu tempo era dividido somente entre a caça e a guerra, em resumo, se não tivesse sangue não era divertido. Apesar de tudo sentia-se incompleto, triste e solitário mas não suportava as pessoas a sua volta com todo aquele falatório e roupas.

Uma tarde como outra qualquer saíra para caçar, quem sabe o que colocaria em sua coleção hoje. Talvez um cervo, talvez um javali, isso pouco importava.

Vestiu sua armadura, empunhou sua espada e um arco acompanhado de uma aljava e saiu para a campina.

Pouco demorou até avistar sua primeira presa, não serviria para mais do que aquecimento a pobre criatura. Mirou o coelho com seu arco, puxou a flecha com paciência e então soltou.

Enquanto a flecha corria o ar uma enorme criatura com chifres de veado, juba de leão, corpo de urso, patas de bufá-lo e rosto de furão. A flecha atingiu o braço do grande animal que urrou de dor e por um momento de sua dor observou seu algoz. Seus olhos eram dourados e puros, até o príncipe que nunca admirou a beleza das coisas em sua vida ficou perplexo com aqueles olhos.

A criatura então pegou o coelho que havia protegido e fugiu.

O príncipe saiu em seu encalço, não podia atirar nova flecha, a criatura era rápida e era difícil de mirar. Havia achado uma presa que gostaria de levar tomar a cabeça aquele dia.

Pouco tempo depois de segui-lo acabou perdendo de vista o bicho para seu descontentamento e então parou no alto de um morro de onde era possível ver uma campina.

Foi então que novamente a criatura apareceu, o príncipe se abaixou, mirou com seu arco, pretendia atirar no olho da coisa e esperou o momento ideal.

A criatura observou ao redor e fez um gesto com uma das patas e nesse momento ela se transformou em um jovem que urrava de dor devido a flecha cravada em seu braço. O pequeno coelho que o acompanhava não se afastou de seu salvador, mas também nada fez para ajudá-lo, afinal era só um coelho.

Apolo nunca havia visto aquilo antes, como podia um monstro se transformar num ser humano? Colocou seu arco nas costas e empunhou sua espada e começou a circundar cuidadosamente o estranho que avistava.

O estranho tentava remover a flecha de sua carne, o que causava muita dor, mas persistia até que a arrancou. Urrou de dor e nesse momento Apolo saltou para cima dele e apontou a espada para seu pescoço.

– O que é você? - Gritou o príncipe.

– Palavras de poder! Repulsão! - Gritou o outro jovem. Apolo foi atirado pouco mas de três metros rolando pelo campo.

O príncipe levantou-se assustado, nunca tivera tido problemas com um inimigo antes mas lhe apontou a espada e bradou:

– O que é você?

O outro olhou para ele e pôs a mão na ferida fazendo uma pequena luz verde brilhar no local.

– Você me assustou. Desculpe.

Apolo não entendeu a situação e novamente indagou:

– O que é você?

O outro agora tirou a mão de seu braço exibindo uma ferida curada.

– Evidente, não? Eu sou um mago.

Apolo nunca ouvira falar de algo assim, afinal o que era um mago.

– Abaixe isso! Pode machucar alguém! - Disse o mago.

O mago então tirou sua capa que cobria o rosto e revelou um jovem da mesma idade de Apolo.

– Você já levou uma flechada? - Perguntou o mago. - Claro que não! Se tivesse saberia como dói!

Aos poucos o guerreiro foi se aproximando sem abaixar a espada.

– O que fez com aquele monstro de poucos momentos atrás?

– Monstro? Ah, sim. - O mago sorriu. - Aquilo era eu. - Ele bocejou. - Transfigurado, mas era eu.

– Qual é seu nome monstro? - Disse Apolo, o que era aquela criatura exatamente que tanto se parecia com um humano.

– Eu me chamo Táquion Sommerfeld. E por favor, abaixe essa coisa. O que é você? Um selvagem?

Táquion fez um movimento com as mãos e Apolo sentiu sua espada pesar tanto que não pode suportá-la e então soltou.

– Bem melhor não acha? - Disse Sommerfeld. - E sua graça?

– Não vejo graça nenhuma! - Retrucou Apolo.

O mago balançou a cabeça em desaprovação enquanto cruzava as pernas e se sentava no ar.

– Demônio! - Gritou o príncipe ao ver o mago no ar. - Isso é obra do demônio!

Táquion então voltou a pisar no chão.

– Você é bem burrinho. - Disse com pena. - Isso se chama levitar. Todo mundo consegue fazer. - O mago então repetiu a pergunta. - Qual o seu nome?

– Sou Apolo! Apolo Wholfrang.

O outro então disse:

– Prazer Apolo. - Sommerfeld lhe estendeu a mão e aos poucos o guerreiro se aproximou dele e com cuidado como se pela primeira vez tivesse medo de quebrar algo ao tocar. - Viu, nem doeu.

As mãos se soltaram e o príncipe observou aquele estranho ser. Era magro e usava vidro na frente dos olhos, apesar de não aparentar era forte, foi o primeiro que atirou-lhe tão longe. Tinha cabelos brancos e olhos como os seus, um branco e um negro.

– O que foi Apolo? - Disse o mago.

– Você é estranho. - Olhou mais um pouco para o mago. - E eu nunca vi ninguém com olhos como os seus.

O mago riu e então falou:

– Acho que você não se olha muito no espelho então. - Táquion se divertia ao ver a reação do estranho. Afastou-se dele em direção a espada e então a levantou como se fosse feita de algodão. - Acho que você precisa disso pra se sentir melhor.

O outro pegou a espada e pôs na cintura.

– Bom, preciso ir. - Disse Táquion. - Se quiser me ver novamente, me procure por aqui. - O mago então se transfigurou novamente na criatura assustando o guerreiro e então correu até desaparecer de vista.

Nunca havia visto nada como aquilo, pela primeira vez conheceu um inimigo que o derrotara.

A sensação de derrota era superada apenas pela curiosidade em relação aquele garoto magro. Como ele fazia aquilo?

Juntou então os cacos de seu ego e voltou ao castelo. Repetia mentalmente o nome do estranho que conhecera, o que raios significava “Táquion”? Era muito estranho para ser um nome e ainda mais, o que era um mago?

Não falou nada com nenhum dos servos e pessoas do palácio, o que não causou estranheza pois ele não era nada comunicativo nem simpático.

Foi uma longa noite, hoje ele descobriu diversas coisas dentre elas a derrota e o que era uma noite sem dormir.

Logo que o sol saiu Apolo colocou sua armadura e pegou suas armas saindo de seus aposentos e seguindo em direção a campina, levou pouco mais de duas horas para chegar ao local aonde avistou o estranho rapaz. Achou estranho o que ele fazia, estava deitado de barriga para baixo observando alguma coisa e ao se aproximar viu um pouco de um brilho arroxeado no solo.

– O que é isso? - Indagou o príncipe.

– Bom dia para você também! - Respondeu o mago. - Estou acelerando o crescimento de uma flor.

Apolo franziu o cenho. “Que coisa mais sem propósito” pensava, “Um homem deve saber lutar, não observar mato!”.

Aos poucos uma pequena flor começou a se formar, um botão e finalmente desabrochar.

– Não é lindo? - Indagou Táquion.

– É idiota. - Respondeu duramente o outro.

Táquion se ergueu no ar e flutuou até o outro.

– Eu esqueci que você é meio... Como eu posso dizer? - Táquion procurava uma expressão para falar da burrice do rapaz. - Duro!

O príncipe o olhava com certa rispidez, pois um homem deveria ser um homem.

– Bom você voltou. Por que? - Indagou o mago.

– Você faz muitas perguntas.

– Sério? - Respondeu pensativo.

O guerreiro apenas bufou impaciente.

“Como alguém podia ser tão forte e ao mesmo tempo tão inútil?” pensava o guerreiro, tudo que o mago fazia era um completo despropósito.

– Como você vira aquela fera? - Bradou o guerreiro.

O mago o olhou e riu.

– Mostro para você com duas condições. - O mago subiu no ar e apontou. - Coloque suas armas longes e peça por favor.

O guerreiro olhou com raiva para ele e gritou:

– Homens não tem que pedir por favor! Tem que mandar!

Sommerfield fez cara de desaprovação e então retrucou deitando-se no ar de costas para o outro.

– Então não mostro. Minha transformação, minhas regras.

O guerreiro gritou com ódio, queria ver aquilo, atirou com selvageria suas armas para longe e resmungou:

– Por favor. - O som saiu entredentes.

– Seja claro.

– Por favor! - Disse claramente.

O mago se divertia com a situação.

– Por favor o que? Poderia ser mais específico?

Apolo se torceu de raiva.

– Por favor me mostre a transformação!

A enorme criatura caiu a sua frente ficando bem próxima dele.

Ele olhava os olhos do monstro que eram dourados, como era possível um homem se tornar aquilo?

No momento seguinte o mago lhe encarava novamente em pele humana.

– Dou pedir por favor?

O príncipe apenas bufou.

– Você é muito estressado, deveria tentar ser mais... Abrandado. - Disse o rapaz de cabelos brancos.

O guerreiro nada disse, apenas se sentou na relva.

– Você faz alguma coisa útil? - Perguntou o príncipe.

– Claro! - Respondeu o mago fazendo o príncipe o observar. - Ontem mesmo eu ensinei um mago mais novo como produzir esferas de luz.

O guerreiro novamente pensou na falta de necessidade daquilo.

– Perda de tempo. - Balbuciou.

– Não é perda de tempo. - Retrucou o mago. - Ensinar os menores é de suma importância para que eles possam ensinar a próxima geração!

– Se eles não servem para lutar, não são úteis. - Respondeu indignado o outro.

O mago deitou-se na relva e fechou os olhos como se tentasse dormir. Lançou uma pergunta a Apolo.

– Se a função das pessoas é apenas lutar, o que acontece quando você já tiver derrotado todo mundo?

– Primeiro, lutar é a função dos homens e segundo, quando você tiver derrotado todo mundo você será o mais forte.

– Se lutar é a função do homem, e a mulher, o que faz?

– Cria os filhos.

O mago olhou assustado para o guerreiro que sem entender nada podia dizer.

– Que horror! Mulheres são mais que chocadeiras! Existem excelentes mulheres em muitos setores da sociedade.

Apolo não entendia o que ele queria dizer, afinal, não conhecia quase nada para poder comparar.

O sol já começava a ficar alto quando o guerreiro se levantou.

– Aonde vai Apolo? - Perguntou o mago.

– Comer.

– Melhor eu ir também. Já estou mesmo com fome.

O guerreiro apenas se afastou e o mago seguiu voando rumo ao horizonte.

Apolo tratou de caçar algo, mas sua concentração não estava das melhores, o outro já o derrotara, o fizer pedir “por favor” e falava coisas que ele sequer podia entender. Era degradante para um guerreiro como ele.

Finalmente tendo pego um pássaro, depenou-o e começou a comer sua carne sem muita frescura e quando voltou encontrou o mago na campina novamente com um livro.

– Você demorou. - Táquion olhou para o outro e fez cara de nojo. - Sua boca está suja com sangue, demonstre alguma higiene.

Apolo pouca importância deu para o que o mago dissera.

– O que você está fazendo? - Indagou o príncipe.

– Lendo, ora bolas.

– Ler é uma coisa inútil.

O jovem de cabelos brancos apenas levantou uma sobrancelha e retrucou.

– Uma coisa não é inútil só por que você diz que é inútil.

O guerreiro pensou em retrucar, mas não achou que seria útil, afinal para ele o mago era um completo imbecil.

– Você devia tentar ler, é bom pra... - O mago pensou um pouco. - Pensar.

Pela primeira vez o príncipe riu, mas não era uma risada de achar graça, mas de escárnio.

– Ai você pensa e começa a ter ideias?

– Sim. É por ai. - Respondeu Táquion sem dar muita importância. - deixa eu ler uma história para você.

O guerreiro fez cara de quem estava perdendo tempo, mas queria saber como aquele rapaz era tão forte e então o mago começou a ler.

Ele contou a história de um bravo guerreiro que procurava um feroz dragão e a conselho de um sábio buscou esta criatura para lutar e provar a sua força. A cada palavra Apolo se distraia mais, até que por fim Táquion fechou seu livro sem concluir a história.

– Ele achou o dragão? - Indagou o príncipe.

– Leia você. - Disse entregando o livro.

Apolo olhou, bufou, fez força e nada.

– Você sabe ler, não sabe? - Disse para Wholfrang.

Esse nada respondeu, apenas entregou o livro de volta. Mas seu cenho mostrava que estava entre a raiva e a frustração.

– Desculpe, eu não sabia. - Disse o mago envergonhado. Ele então abriu novamente o livro e terminou a história mostrando que a o dragão vivia dentro do guerreiro e que ele é seu pior inimigo.

O príncipe então ordenou:

– Leia outra!

– Não era um despropósito? - Indagou o mago. O príncipe não respondeu, apenas o olhou com raiva. - Posso te ensinar a ler se quiser. E te conto uma história nova todos os dias também.

Apolo apenas concordou.


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Notas finais do capítulo

É difícil entender as pessoas, ainda mais quando seus mundos são muito limitados ou muito grandes.
Não tire conclusões precipitadas sobre as coisas, elas podem te surpreender.

Peço que me mandem seus comentários, além de eles me servirem de motivação me ajudam a saber em que eu devo melhorar.



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