Ele percebe minha hesitação. Discretamente eu rejeito a ligação.

— Algum problema?

— Ah, é a Samantha. Depois eu retorno para ela.

O telefone toca novamente.

— Deve ser importante, pode atender, eu prometo que não vou ouvir a conversa.

— Não. É só para confirmar a minha presença na exposição de fotografia dela.

— Atenda e confirme.

— Eu já enviei uma mensagem para ela.

Ele não pareceu convencido, mas pelo menos ele não me confrontou. Desliguei o celular. David Summers está se mostrando muito inconveniente.

Oliver não falou até entrarmos na autoestrada.

Eu andei sozinha e a pé nessa estrada a um mês atrás. Pensamentos ruins vêm e vão.

A casa dele ficava em uma região industrial próximo a saída oeste da cidade.

— Ruan está louco para te ver.

— Ruan? Ele está lá? - Isso me aliviou. Não iríamos estar sozinhos.

— Sim, ele e a Lola.

— Lola? Quem é Lola?

— Ela é a irmã mais velha do Ruan, ela nos ajudava nas localizações, antes de você claro. Acho que vocês duas se darão muito bem.

— Então estou ansiosa para conhecê-la

Chegamos perto do enorme galpão.

Eu já sabia o caminho. Ele estacionou o seu Camaro na sua coleção de carros e eu subi pela escada que dava ao primeiro andar do galpão.

A porta estava aberta. Quando Ruan me viu ele veio ao me encontro e me abraçou. Um abraço que durou muito mais do que o necessário.

— Eu estava com saudades muchacha!

— Você já pode solta-lá – Oliver disse quando chegou , assim Ruan me soltou.

— Deixa de ser antiquado, eu não vou roubar a sua garota ou qualquer coisa. – Ruan disse de uma forma descontraída.

— Oliver? – Uma voz feminina falou.

De repente uma mulher apareceu. Ela era alta, seu cabelo descia em cascata pelas suas costas, era em um tom de castanho muito bonito, sua pele era da cor do Ruan, mas parecia ser muito mais macia. Ela usava uma calça jeans um tanto quanto justa e uma blusa vermelha que evidenciava o seu decote farto. Ela mais parecia uma atriz de novela mexicana.

Fiquei um pouco sem graça e um tanto incomodada, quando ela agarrou Oliver em um abraço.

Ele se desvinculou dela rapidamente. E limpou a garganta.

— Nós já nos vimos hoje, Lola.

— Ah, mas sempre é hora para um abraço.

Oliver pareceu ignorar

— Essa é a Charlotte, a garota de quem eu falei.

Ela me olhou nos olhos. Os olhos dela tinham um tom de mel que os faziam destacar.

— Essa pessoa sem graça?

O comentário dela me pegou desprevenida, as pessoas costumam me julgar assim. Alexia me fez esquecer essa sensação.

— Não seja rude. — Falou Ruan

— Não ser rude? Você me falou que ela era incrível.

— Mas ela é!

— Não vejo onde. Além do mais eu esqueço que você não tem critérios.

— Não tenho critérios? – Ruan estava se alterando.

Comecei a me sentir pouco a vontade. Eles falavam de mim como se eu não estivesse aqui.

Acho que Oliver percebeu o meu incômodo.

— Você dois podem não discutir sobre isso? Não veem como isso está a afetando?

— Cala a Boca! - Os irmãos disseram juntos em direção a ele.

Parecia que eles não se davam tão bem como aparentavam

— Você vai se acostumar.

Ele passou a mão pelo meu ombro.

— Solte-o agora.

Lola saiu da discussão e me fuzilou com os olhos.

Mas ao invés de me soltar, Oliver me pressionou cada vez mais contra ele. Ai eu tive que me livrar dele.

— Vamos evitar qualquer aborrecimento certo? – Falei secamente.

— Como desejar.

— Agora, que eu já a conheci. Por que mais eu estou aqui? – Falei mais dura do que pretendia. Normalmente eu não sou assim.

— Lembra daquele caso, aquele que te mostrei a um mês atrás?

Como eu poderia esquecer? Michael Pierre esse era o nome do alvo. O localizei em três dias, o problema era que ele estava morto.Mas por incrível que pareça seu nome ainda estava na lista. Oliver logo desistiu do caso, ele não era um coveiro como ele mesmo disse.

— O que tem ele?

— Lola descobriu que ele tinha um irmão gêmeo.

—Eu fiz um compilado das informações não havia qualquer informação sobre um irmão ou qualquer coisa assim.

— Eles não foram criados juntos. Os pais se separaram logo quando eles nasceram. A guarda de Michael ficou com o pai e do outro irmão com a mãe. Eles não foram criados juntos, não herdaram nem o sobrenome.

— Isso não está nos registros. - Afirmei

— Nem tudo está em formato de dados. As relações humanas são bem mais que isso queridinha. – Lola disse rispidamente na minha direção.

— Mas no que isso afeta o caso? - Disse a ignorando.

— Agora precisamos que você localize o irmão. – Oliver falou

— Mas no que isso afeta o caso? - Repeti novamente.

— Você lembra quais eram os crimes que Michael cometeu?

Sim eu me lembrava. Homicídios, latrocínios e falsidade ideológica.

— Sim. Eu me lembro.

— E qual era o nome falso que ele mais utilizava?

— Mark Cohen

— Que por acaso é o nome do irmão.

Isso fez um sentido terrível. Será que uma pessoa teria coragem de trocar de identidade com o irmão morto?

— Vocês acham que ele trocou de identidade?

— Temos quase certeza. Lola conseguiu algumas informações que comprovam isso.

— Que tipo de informações?

— Depois que você me disse a onde ele estava enterrado eu pedi para Lola verificar a informação com o médico que atestou o óbito, só para desencargo de consciência.

— E...

— A causa da morte é diferente do que atestada nos registros.

Michael Pierre havia morrido por causa de uma queda, seu corpo havia sido encontrado em uma cadeia montanhosa.

— O médico disse que Michael morreu de câncer de laringe

— Mark Cohen era um professor universitário de Seattle, ele estava com câncer, um dia ele simplesmente pediu as contas e disse que precisava viver seus últimos dias com a família. O incrível é que já se passaram 2 anos e ele ainda está vivendo os seus últimos momentos. – Lola afirmou.

— Me convenceram. Isso afeta totalmente o caso.

— Se essa fraude for confirmada a recompensa por ele aumentará cerca de 50% ! -- Ruan falou animado.

— Você e Lola trabalharam juntas para localizar Mark Cohen.

— O que? Eu não vou trabalhar junto com ela! -- Lola gritou.

Como se eu quisesse trabalhar com ela. Eu posso fazer isso sozinha! Eu pensei, mas fiquei quieta.

— Eu vou estar ocupado nos próximos dias, eu vou precisar do apoio das duas. Vocês vão me apoiar não é? – Oliver fez o seu melhor olhar de cachorro abandonado.

— Claro. – Lola disse ao olhar para ele.

Ela era totalmente afetável por ele. E eu achei que eu podia ser pior. Ainda bem que eu estava enganada.

— E você Charlotte?

Ele tentou fazer o mesmo olhar, mas eu só conseguia olhar torto para ele. E só consegui lembrar de como ele manipula as pessoas.

— Você sempre foi tão babaca? - Falei sem perceber. Todos pareceram surpresos.

— Só quando estou na sua presença. – Ele tentou se livrar da tensão que se formava — Mas posso contar com você?

Suspirei fundo.

— E tem alternativa?

— Obrigada.

Ele me abraçou. E eu senti sinceridade no seu agradecimento. Meu rosto estava começando a ficar vermelho. Até Lola nos separar

— Eu também quero um abraço. – Lola disse fazendo biquinho.

Oliver a ignorou totalmente, mas ela não reclamou.

— Parece que a Espadas vai renascer de novo, Hermano. – disse Ruan .

— Espadas?

Eu já havia ouvido isso.

— Eu explico tudo quando eu voltar. – Ele falou com um sorriso satisfeito no rosto.

Apesar de eu não querer ser manipulada por ele, eu havia aceitado o que ele havia proposto.