Cores dão Vida escrita por Luna Zoe


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Tudo bem com vocês? Estou super feliz com os comentários. Continuem acompanhando e divulgando para amigos seus que tem conta no nyah! Boa leitura!



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– E como foi na escola?

Essa é uma pergunta que escuto todo começo e fim de ano. Meus pais são mestres em dividir a atenção entre seus filhos. E agora ela está voltada para mim, que tenho os dois a minha frente e Bianca ao meu lado na mesa posta para o jantar.

– Bem legal – digo sinceramente.

– Conheceu alguém? – pergunta mamãe, com a voz ansiosa.

Sei por que eles estão perguntando isso. Porque eles pensam que com Fernando e Renata, nunca vou fazer novas amizades.

Suspiro, lhe dando um sorriso.

– Sim.

– Quem? – mamãe se apruma na cadeira – fico muito feliz em saber que está fazendo novas amizades, filha. Não que eu não goste dos seus amigos é que...

Balanço a mão no ar, a interrompendo.

– Eu entendo, mamãe.

Claro que entendo. Em toda a minha vida escolar, os únicos amigos de verdade que fiz foram os dois. Eu não acho nenhum problema nisso, sinto-me na verdade privilegiada. É melhor ter dois amigos reais do que inúmeros de mentirinha.

– Quem você conheceu? – agora papai parece curioso também.

– Um garoto de BH - falo distraída com meu arroz temperado.

Ele arqueia as sobrancelhas mas volta a comer.

– Nome? – indaga mamãe.

Não sei por que estou tão nervosa por falar sobre isso com meus pais. Eu sempre fui bem aberta com eles. Mas falar de um garoto parece algo deslocado, solto no ar, sei lá.

– Pedro Gomes.

Não sei ao certo por que falei o seu sobrenome, acho que para ser uma informação mais completa já que querem tanto saber quem conheci.

– Não acredito – mamãe parece surpresa, olhando para o meu pai.

– No que? – Bianca dá sinal de vida, revelando sua boca melada de purê de batata.

Rio limpando-a com o guardanapo.

– Você disse que ele é de Belo Horizonte?

– Sim.

– Tenho quase certeza de que é filho de alguns amigos de São Paulo.

– Mãe – digo rindo – pode haver várias pessoas com o mesmo nome numa mesma cidade.

– É claro. Mas ela ficou grávida de um menino com esse mesmo nome um ano antes de eu ficar de você, só que se mudou assim quando você nasceu.

Bianca dá sua típica tosse seca, inclinando a cabeça para trás. Mamãe e papai se entreolham.

– Qualquer dia desses vou tirar minhas duvidas – mamãe diz, mas sua voz já está distante.

Bianca segue com sua sessão de tosse. Só que dessa vez é diferente. Observo-a se afastar da mesa e caminhar até a sala de estar. Papai se levanta rapidamente, seguido de mamãe e eu. Ela coloca a mão na boca tossindo mais uma vez. Então algo inesperado acontece.

Bianca tira as mãos da boca e ela vem carregada de uma mancha de sangue.

– Mamãe – Bianca chama com a voz frágil.

Mamãe parece querer conter seu exaspero, mas sem sucesso. Não é todo dia que ela vê uma filha tossindo sangue. Papai corre, senta-se no sofá e coloca minha irmã no colo, passageando suas costas. Mamãe se ajoelha na frente dela.

– Está sentindo alguma dor, querida?

Vejo que papai está tentando manter a voz firme, mas é difícil.

Bianca põe a mão sob o tórax e continua tossindo, só que agora sem sangue.

– Ah meu Deus – sussurra mamãe, olhando para cima, depois para as mãos de Bianca. Posso ver o nervosismo e o pavor em seu rosto experiente.

– Nanda – papai chama - vá pegar uma toalha húmida para limpar a mão da sua irmã. Aproveite e pegue meu celular. Precisamos ligar para o Dr. André.

Percebo que fiquei esse tempo todo paralisada entre a sala e a cozinha. É o que sempre acontece quando vejo algo de ruim ou incomum acontecendo na minha frente. Não suporto essa coisa.

Vou rápido para o banheiro e com movimentos mecânicos, pego a primeira toalha limpa que vejo e molho-a na pia. Alcanço o celular do papai na estante de livros e lhe entrego, dando depois a toalha para a minha mãe. Não sei o motivo de não limpar eu mesma, me sinto horrível por isso, mas uma vez tentando agir, mamãe já está passando a toalha delicadamente na pele suja de Bianca.

Lembro-me das aulas de biologia que tive. E a única coisa que consigo pensar é: Câncer de pulmão.

Não Deus, por favor, não.

As páginas da minha ultima prova de biologia passam diante meus olhos.

Tosse crônica, escarro com sangue, surtos de bronquite...

Os sintomas estão todos sobre Bianca. Não, não pode ser. Isso é coisa da minha cabeça perturbada. E se não for? Não. Preciso ouvir o que o médico tem a dizer.

– Vamos para a consulta amanhã bem cedo – avisa papai, depois de desliar o telefone e dar um suspiro.

Aos poucos, Bianca vai parando de tossir.

– Que horas? – pergunto, a voz esganiçada – vou pedir para Renata justificar minha falt...

– Nada disso. – mamãe fala curta e grossa - É o seu segundo dia de aula e tem que pegar o ritmo da nova escola.

– Mas mãe eu...

– Querida, escute sua mãe. – papai intervém - Ela tem razão. É só uma consulta, você não precisa perder aula, Bianca já vai estar conosco.

Mordo o lado interno do meu lábio inferior.

– Tudo bem – digo relutante.

Olho para Bianca, que mantém os olhinhos claros nos meus, tão puros e cansados. Percebo que não cheguei nenhum momento perto dela, talvez pelo choque, ou por não querer ver o sangue de perto. Isso é muito egoísta da minha parte. Estremeço.

Meu celular vibra, e vejo o rosto de Renata na tela.

Não quero atender agora, mas aí lembro que fiquei de falar com ela esta noite. Vou pelo menos lhe dizer que não estou com cabeça para falar de garotos, porque na verdade não estou mesmo, tudo o que consigo pensar agora é em Bianca.

– Oi – digo me afastando e fazendo um sinal com a mão pedindo licença aos meus pais.

– Nossa, o que aconteceu? Faz meia uma hora que ligo.

– Renata, podemos falar outra hora? – digo já subindo as escadas para o quarto.

Uma pausa.

– Aconteceu alguma coisa com você? Sua voz está estranha.

Engulo em seco. Sim, ela me conhece de verdade.

– Comigo não. Agora com Bianca...

– O que houve com a nossa mascote?

Dou um sorriso fraco quando ela fala mascote.

– Ela teve mais uma crise de tosse agora no jantar, só que veio com sangue. – minha garganta se fecha – Meus pais vão com ela no médico amanhã – ponho a mão na cintura, andando em círculos pelo corredor do andar de cima – e não me deixaram ir junto.

– Como assim? Vocês suspeitam de alguma coisa?

– Eu... eu relacionei os sintomas dela com câncer de pulmão.

Sinto que Renata está revirando os olhos, mas não de uma forma zombeteira.

– Tem certeza Nanda? Você é expert em tirar conclusões precipitadas.

Penso um pouco. É, talvez eu esteja me precipitando.

– Não sei...

– Espere primeiro pelo o que o medico tem a dizer.

– Como ouvir se eu não à consulta?

– Seus pais com certeza vão lhe informar, não?

– É...

– Bom, vou deixar você em paz. Amanhã nos falamos direito.

– Tá – digo - E obrigada – completo rapidamente.

– Manda um beijo pra Bianca, vou por ela nas minhas orações. Tenho fé de que não será nada grave.

– Assim seja. E obrigada mais uma vez.

– Que nada.

Ela desliga. Acho que uma das coisas que mais me aproximou de Renata, foi o fato de ela sempre se segurar na fé que tem. Essa sua característica foi sempre um exemplo para mim. Quem dera se eu fosse tão confiante quanto ela.

Assim que terminamos de falar, papai chega com Bianca.

– Oi, pequena – me abaixo para ficar do seu tamanho – está melhor?

Ela mexe em meus capelos, dando arrepios em minha espinha. Sorrio.

– Sim. Queria que você fosse comigo amanhã – diz fazendo um biquinho fofo.

– Eu também – digo, olhando para papai, que arqueia as sobrancelhas e suspira.

– Já falamos que... – ele começa, mas bianca olha para ele - Prometo que se não formos atendidos antes das 12, mando um táxi lhe buscar no colégio.

– É! – Bianca estende a mão e eu bato na palma dela.

Nós três sorrimos.

– Bom, – papai comunica – agora essa mocinha precisa dormir – e faz cocegas na barriga da filha mais nova.

Bianca e eu dormimos em quartos separados. Depois que Giovanna saiu de casa fiquei com seu quarto. No início foi difícil para Bianca se acostumar a dormir sozinha, admito que para mim também, mas agora é bem tranquilo.

Ela se dirige para seu quarto antes de me dar uma tchauzinho e ser acompanhada por papai, que deixa ela subir nos seus pés quando começa a andar.

Esboço um sorriso ao vê-los se afastando, lembrando-me da época em que ele fazia isso comigo.

“Oi, Fernanda. Tudo bem? Mal percebi na escola o que o professor de matemática fez. Ele colocou no quadro a página da atividade e completou com “só as questões em vermelho”. Estou sozinho em casa e não tem ninguém que me diga que questão fazer. Você pode me ajudar?”

É essa a minha nova mensagem na minha caixa de entrada no facebook. Ela vem seguida de uma solicitação de amizade.

Coloco um mexa de cabelo para trás da orelha e sem perceber, solto um risinho, o que me faz lembrar de Lara ao falar com Fernando na aula de hoje.

Balanço a cabeça, me recompondo e aceitando sua solicitação.

A foto do perfil de Pedro é simples, uma selfie perto de algumas árvores e um sorriso no rosto. Nada daquelas caretas desnecessárias que quase todos os meninos fazem atualmente.

A mensagem foi enviada às duas da tarde. E já são nove da noite. Não quero passar tanto tempo no celular porque amanhã acordo cedo, mas o respondo mesmo assim.

“Olá, Pedro. Estou bem, e você? Bom, as questões em vermelho são a de número 2, 3, 5 e 7. Desculpa ter respondido tão tarde.”

Vou quase bloqueando a tela do celular quando outra mensagem chega.

“Obrigada pela resposta, mas minha mãe chegou no inicio da noite e me disse... rsrs”

“Ahh...” É tudo o que digito.

“Vai amanhã para o colégio?”

“Sim... achou que eu não fosse?”

“Não sei. É que a maioria das pessoas não levam muito a serio à primeira semana de aula. Mas vejo que você leva, já que vai.

Diga isso à minha mãe. Ela sim leva a sério. É o que quero dizer, aliás, digitar.

E você? Leva?” pergunto.

“SIM.”

“Então nos vemos amanhã.”

“SIM.”

Sorrio ao ver seus “Sins”. Dá a impressão de que está empolgado.

“Vai sentar naquela mesma cadeira?” Ele continua.

“SIM” Imito a ele.

“kkkk Certo...”

“Até amanhã”

“SIM. Até amanhã e, boa noite.”

“Boa noite rsrs.”

O farfalhar das folhas da árvore em frente a minha casa me despertam no meio da noite.

Quer dizer, ainda são 11 horas. A casa está silenciosa e sem nenhum tipo de ruído. A não ser agora pela minha porta se abrindo.

Levo um susto quando ela abre de verdade e solto um suspiro ao ver Bianca a fechando e caminhando em minha direção.

– Se assustou? – ela pergunta, sentando em minha cama.

Ela carrega uma bonequinha de pano, que ganhou no aniversário de cinco anos.

– Sim – digo suspirando.

– Desculpe. Posso dormir aqui hoje?

Dá pra perceber que ela ficou diferente depois do sangue nas mãos.

– É claro.

Dou espaço para ela e cubro-a com a metade do meu cobertor. Seu corpinho fica de frente ao meu de modo que fico massageando seus cabelos loiros e macios, e pensando em como será o seu diagnóstico depois da consulta. É do fundo do coração que não quero que nada de ruim aconteça com ela. Por ser uma menina incrível, por ser uma criança e por eu amá-la.

Aos poucos vou ficando sonolenta, ouço a respiração calma de Bianca, até dormir e sonhar com um mundo todo preto e branco e com variações de cinza.


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Notas finais do capítulo

Comentem, favoritem, acompanhem! ^^



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