Yu-gi-oh! GX Duel Academy - Chapéu Vermelho escrita por Kingdom of the Saints


Capítulo 2
Capítulo 2 - O começo da ambição




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—... Impossível. Apenas não posso fazê-lo, Solomon.

Esse foi o ultimato do reitor. Não havia forma de me transferir para nenhum dos outros dormitórios. Por ser um bolsista, estava no contrato que eu ingressaria como um Slifer Vermelho. Era, aparentemente, um mecanismo para salvaguardar o ingresso dos Ras e Obeliscos em seus “devidos lugares”. Já eu? Precisava me provar duas vezes. Palavras não descreviam meu sentimento de desgosto e contrariedade, mas eu francamente não pude pensar em nenhum curso de ação que não fosse acenar com a cabeça e tocar minha vida. Algumas pessoas carregam mais peso que outras, afinal.

Mas não era de todo mal, era? Afinal, não havia nada de errado com seus colegas de dormitório. Muitos deles eram agradáveis, dispostos a dividir espaço, calor humano e piadas. Portanto, eu raciocinei que o Slifer não podia ser, de fato, o que os outros dormitórios pensavam que ele era. Claro, meus colegas não são, de todo, incompetentes. Certo? Quer dizer, mesmo que alguns o sejam, não podem ser todos “o pior que a academia tem para oferecer”.

Por essa lógica, eu me dispus a “testar as águas”, por assim dizer. Eu precisava me situar, rápido. Ser desafiado, ou desafiar alguém para um duelo, é um gesto que carrega mais do que se pode inicialmente pensar dentro daquela academia, pois todos os duelos “oficiais” eram contabilizados como parte de sua nota trimestral. Como consequência, maior parte dos estudantes hesitava com um desafio — a maior parte dos duelos era feita entre amigos de uma forma casual. Mas um novato? Um novato não posava perigo algum, era o que pensavam.

E por isso eu duelei com todos os Slifers que pude, antes que minha reputação crescesse demais ou que minhas notas os surpreendessem, ou que pura superstição os fizessem mais receosos do que já eram sobre aceitar meus desafios. Em uma semana, eu duelei dezesseis dos vinte estudantes do Slifer. Os resultados me surpreenderam.

Eu ganhei quinze das dezesseis partidas. Concluí que não era tão mal quanto pensava. Era pior. O Slifer era ridículo: metade dos meus adversários não tinha a menor ideia do que estavam fazendo. Seus decks eram ou compostos apenas de criaturas “fortes”, mas sem uma forma de contra-atacar feitiços e armadilhas de uma forma decente, ou eram feitos apenas com cartas que eles achavam “legais”, ou eram decks que, embora baseados em conceitos sólidos, isto é, em táticas completamente válidas, eram muito dedicados à tática em questão, e, portanto, poderiam ser desmantelados prontamente pela astúcia de um oponente que capturasse suas intenções, restando-lhe nenhuma chance de vitória.

Alguns utilizavam demais monstros de nível alto. Cartas possuíam níveis e, geralmente, quanto maior o nível, maiores os poderes de ataque e defesa destas. Porém monstros a partir do nível cinco, para entrarem em jogo, necessitavam de um “tributo”, isto é, o sacrifício de um monstro qualquer que já estivesse em campo. Monstros a partir do nível sete só poderiam ser colocados em campo dispondo de dois “tributos”. O que significa que, num deck de sessenta cartas, tal estratégia era uma receita para desastre. É um problema de simples, sinistra aritmética, que os fazia culpar o destino ou a sorte por lhe dar uma mão (ou seja, as cinco cartas que primeiro são puxadas do deck no início do jogo) completamente “morta”, ou sem nenhum movimento legal de jogo. No momento em que perdiam, tentavam se desculpar com “Eu juro, cara, eu teria te vencido com esse deck se tivesse conseguido uma mão boa! Esse deck é ótimo, juro!”. Mas eu sei que, estatisticamente, eu os venceria cem de cem vezes em que jogássemos. Era somente matemático.

Até este ponto o Slifer estava fazendo-me levar a própria mão ao rosto em incredulidade. Até que um deles me venceu com uma tática bastante interessante. Ele usou a força do meu deck contra mim, pois utilizava cartas especialmente focadas em fazê-lo.

Minhas cartas são todas aquáticas. Digo isto, pois, além de todas lembrarem a fauna oceânica, fauna anfíbia e geralmente estarem envolvidas com o tema de água, o “tipo” de todas elas é do elemento “Água”. Cartas têm atributos elementares, e isso pode ser bom e ruim. Há cartas mágicas que fortalecem monstros, e há cartas mágicas que fortalecem bem mais, mas estas geralmente tem um caveat: ou um efeito negativo que as acompanha, ou um requerimento especial. Frequentemente, este requerimento especial é um atributo, ou seja, um elemento específico. E é por isso que, para aumentar minhas chances de utilizá-las, tematizei meu deck com cartas do elemento “água”. Quando uma carta monstro ataca outra carta monstro, seus números de ataque são comparados, e aquela com número menor é usualmente destruída. Isso quer dizer que uma carta mágica pode, muitas vezes, virar o embate ao seu favor, fazendo cartas geralmente “fracas” ganharem de cartas consideradas “fortes”. Com um deck de quarenta cartas, todas elas do mesmo elemento, minhas chances de ter um movimento especialmente útil e decisivo a cada turno são praticamente garantidas.

Além disso, eu possuía um trunfo. Gagagigo. Uma carta monstro que, retratando um imenso réptil humanoide, possui o número “estranho” de poder de ataque totalizando mil oitocentos e cinquenta. Cartas monstro geralmente possuem números nas casas dos milhares, sem dezenas ou unidades, o que faz Gagagigo ser comparativamente muito mais único. Além disso, é um monstro do quarto nível, que significa que pode ser invocado sem tributos. E o detalhe mais importante? As cartas mais fortes do quarto nível são, geralmente, aquelas com mil e oitocentos pontos de ataque. Por cinquenta pontos, quaisquer umas de suas cartas mais fortes sucumbiriam para a fúria de Gagagigo. “Sujo, não acha?”, eu perguntaria a qualquer pessoa ao fim desta explicação, sentindo um meio-sorriso surgir no meu rosto.

Mas este último duelista me surpreendeu. Apesar de não poder brigar comigo de uma forma direta, ele utilizava cartas que negavam monstros de certo atributo o direito de ataque, ou o direito de defesa, ou ambos ao mesmo tempo. Ou, até, cartas que podiam automaticamente destruir monstros de certo tipo. Quando o tipo não era aquático? Não havia problemas, pois ele tinha outra carta que mudava o tipo para aquele que quisesse.

Veja, ninguém pode ter um deck invencível, pois sempre vai encontrar uma partida em que todas as suas estratégias, todas as suas opções, podem ser contra-atacadas a cada volta. É impossível que alguém seja imbatível. Contra as condições certas, contra a mão certa, contra a estratégia certa, todo deck vem a sucumbir. É somente natural. Mas nem todo deck é feito igual. E há alguns que perdem mais do que outros. É tudo uma questão de minimização de riscos, de especialização. Era isto que fazia “Monstros de Duelos” ser tão interessante, fazer com que, a cada partida, houvesse sempre o perigo de sentir seu coração bater mais rápido. Todas essas condições são detalhes ínfimos, fáceis de escapar ao duelista iniciante. Mas, em verdade, sabê-las é muito mais do que a metade da batalha.

Não tive a chance de batalhar com Chumley, com Jaden ou até mesmo com o Syrus. De fato, não me sentia inclinado em fazê-lo. Estar na presença deles não me agradava, e sentia que se Jaden Yuki fosse o prodígio que lhe haviam prometido, precisava estudá-lo melhor antes de me sentir confiante numa vitória, e que se decidisse disputar contra seus amigos, teria os segredos do meu deck confessados a ele. Não que ele me parecesse o tipo de pessoa que se adapta às circunstâncias; mesmo que ele soubesse meus pontos fortes e fracos, ele era tão denso quanto uma parede. Não iria levar em conta nada do que soubesse, apenas “duelaria como sempre duelou, porque esse é seu estilo de luta”. A isso eu sempre respondi com um grunhido.

Minha recente vitória com os Slifers me fez me sentir nervoso. Disto eram capazes os do dormitório vermelho, de que seriam capazes os outros estudantes? Eu decidi que não perderia tempo. Era o começo do ano, não tinha sequer um semblante de reputação a zelar, não tinha nenhum recorde para manchar. E além do mais, ninguém ganhou nada por se acovardar, para sempre permanecendo na própria bolha de segurança. Os Slifer eram exemplo o suficiente disso. Então decidi, com o coração cheio e as energias altas, fazer meu caminho pela estrada de barro do dormitório e para qualquer lugar onde pudesse encontrar desafiantes.

Meu andar foi como um rolo compressor.

Ao final da semana eu tinha duelado cento e setenta vezes; como meu disco de duelo —uma máquina a qual servia de plataforma para que se jogasse, e ainda faz às vezes de um projetor de holograma e computador pessoal— podia afirmar. Cento e setenta duelos era metade da média total mensal de duelos da academia. Eu nem sei como eu tive a energia.

Minto, eu sei. Só não quero admitir. O que me moveu a ir tão longe, a batalhar manhã, tarde e noite, com poucas pausas, a duelar no píer, nas montanhas, na floresta, na praia e nas estradas, e até mesmo no próprio dormitório do Ra Amarelo, foi pura e simplesmente bloodlust. Dos cento e setenta duelos, eu tinha ganhe cento e cinquenta e três. Era um sucesso avassalador, e eu estava me sentindo o melhor que já me senti na minha vida. Os rumores tinham se espalhado, meu nome estava começando a ser reconhecido. Na sexta-feira, para onde eu ia, havia uma multidão de espectadores me acompanhando. Os holofotes estavam brilhando, e eu estava bem no foco deles. E o pior, eu estava achando tudo isso o máximo.

Lutei com Ras e até Obeliscos. Duelei nas docas, nas colinas, nos campos e nas salas de aula. Perto do final, eu tinha uma procissão me seguindo para onde quer que eu fosse; estudantes dispostos a ver quem, ou que força da natureza, me pararia finalmente. Eu me sentia uma lenda, uma pessoa à qual se escrevem biografias sobre. Eu, um mero Zé Ninguém nascido em lugar nenhum. Eu era o centro das atenções.

No topo da minha arrogância, eu decidi que iria testar meu aço contra o martelo mais forte que tinha conhecimento. Era chegada a hora de conquistar, de uma vez por todas, respeito e admiração. Era hora de desafiar Zane, a celebridade, a vitrine daquela academia, a estrela ascendente. Com um andar cheio de vitória, eu pisei no gramado fofo que se estendia debaixo da sombra do imenso castelo de telhas azuis que era testemunha da opulência dos Obeliscos. O sol a pino, a fonte de ardósia dos jardins centrais emitindo o som de água corrente cristalina, testemunhando seu absoluto mestre, aquele que com água e cartas lutava suas batalhas. O mar que havia me trazido até ali, e cujo seu aspecto era a força do meu baralho, com seu rugido vigoroso e indômito podia ser ouvido mesmo por cima do rugido da plateia que se aglomerava ao meu redor, ao redor da entrada do dormitório.

 —Zane! – Eu esbravejei do topo dos meus pulmões. – Venha finalmente conhecer seu par em excelência!


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Notas finais do capítulo

Esse custou a sair. Espero que a leitura não tenha ficado muito pesada. Este capítulo entrou em minúcias sobre as regras e todo o meta jogo de Monstros de Duelos, e por tabela de Yu-Gi-Oh!, e eu tentei ser o mais breve sendo o mais acessível o possível. Nem todos nós conhecemos os ires e vires do jogo, e portanto eu senti a necessidade de me debruçar um pouco sobre alguns conceitos básicos. Isso era especialmente necessário para caracterizar o Solomon como um duelista que "manja" dos conceitos e tem uma mente muito rápida em absorver e montar táticas, muito inclinado a estrategização. Enfim, agora começa, de fato, o primeiro arco da fanfic. Como sempre, espero que tenham gostado!



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