Me chamo Madelinne. Gosto que me chamem de Mad. Tinha 14 anos quando fui para o chamado "Universo 2". Tudo começou quando eu estava assistindo meu programa preferido de TV.

— Chester, não fuja! Temos que capturar as pessoas de Terra Velha e voltar ao passado antes que seja tarde demais! —Dizia a personagem da série.

Estava tudo bem. Na verdade, comparando ao futuro do meu presente naquela hora, estava tudo ótimo. Até ouvir uma voz. Ela era grossa, porém suave. Não era a do meu pai. Com certeza não era da minha mãe. Meu irmão estava viajando e... Quem seria?

Meu coração começou a bater, primeiramente fraco, até o momento em que eu ouvi a seguinte frase:

— Você vem comigo — Foi neste exato momento em que o meu coração bateu forte, chamo isso de susto.

Olhei pra televisão. Não tinha sido ela que fez o barulho. Eu sabia o que fazer. Deveria olhar pra trás. Foi o que eu fiz, contando na minha mente "um, dois... já." No já eu me virei. De olhos fechados, mas me virei. E ao abrir os olhos, eu já não estava mais no meu quarto. Mal sabia eu, mas eu estava ocupando a área do Universo 2.

— Jack, acompanhe a terráquea do Universo 7 para o escritório do Sr. Lohan. — Alguém disse, não sei quem até hoje. Mas Jack eu soube quem era. Um garoto alto, porém devia ter seus 14 anos e meio. Seu cabelo era loiro, um pouco grande e cacheado. Cobria a sua testa e alcançava um pouco de seus cílios. Ele era pálido e seu olho era o mais normal possível: Castanho escuro, quase preto.

— Você vem comigo, terráquea. Temos uma longa viagem pela frente — Tentei fugir, mas minhas mãos e meus pés estavam algemados. As algemas nos pés estavam largas, mas mesmo assim eu não conseguia correr muito rápido com aquilo.

— Eu até iria, se eu soubesse aonde estou! — Eu disse, com coragem. Então notei que isso poderia ser perigoso, e que eu estava sendo retardada de falar uma coisa dessas.

— Quer dizer... Por favor, não me machuque! — Tentei disfarçar minha raiva encobrindo-a com medo.

Jack riu baixo. Eu fiquei brava e ao mesmo tempo quase morrendo de medo e terror. Mas dessa vez o medo não estava servindo para encobrir algo. Eu estava realmente temendo!

O céu daquele lugar era uma vista de galáxia. Daquelas que a gente vê tanto na internet, que até virou clichê. Ao olhar ao redor eu avistava prédios, carros incrivelmente modernos e crianças brincando. Sim, crianças. Era algo tão avançado que o preconceito, a poluição e o perigo não habitavam ali.

— Não vou te machucar — Jack deu um sorriso — Estou apenas cumprindo ordens. Sabe, somos humanos também.

Jack falava comigo, e parecia que só estava dizendo aquelas coisas para me confortar. Bom, estava ajudando um pouco, eu confesso.

Estávamos em um carro indo em direção ao prédio em que se situava o escritório do tal Sr. Lohan, quando o menino dos cachos retornou a conversar comigo:

— Vou te explicar. Não sei se devo, mas eu também gostaria de saber se estivesse em sua pele. — Ele teve empatia de mim.

— A Terra, planeta que se encontra no seu universo, o Universo 7, é o pior planeta já visto em toda a humanidade. Também é o único planeta que não sabe da humanidade que existe nos outros universos, por serem rudes e orgulhosos. Achamos que eles não devem saber, pois eles não merecem.

— Espere — Eu interrompi — Me chamaram aqui para falar mal da Terra e de seus habitantes? Pois bem, é lá onde eu vivo. E eu sou uma terráquea. Ou será que você esqueceu?

— Você não permitiu que eu terminasse. São pessoas como você, Madelinne, que merecem saber da verdade. Bem, chegamos. Venha. — Jack concluiu, mesmo que não parecesse uma conclusão. Eu ainda merecia saber de tudo o que estava acontecendo, e não só uma parte!

Entramos no prédio e em seguida Jack chamou o elevador. Nos acomodamos, e me deparei com um painel enorme. Havia muitos botões: do Térreo até o 50º andar. Ele apertou o número 21 e começamos a subir. E com subir eu quero dizer subir mais rápido que um jato. Fiquei pasma, pulamos 21 andares em uns dois segundos.

Enfim, chegamos. Um corredor imenso e uma porta no final do mesmo foram avistados por mim.

— Ora, ora! Vejo que minha tão esperada visita chegou. Sente-se, donzela.

Não sabia se aquele senhor, o tão falado Lohan, estava sendo irônico ou simpático, mas sentei. Tiraram as algemas de mim, finalmente. Aquelas coisas estavam dificultando meu caminhar!

— Olá. — Eu disse. Não estava feliz. Tampouco animada.

— Imagino que Jack já tenha lhe contado tudo e mais um pouco — Olhou sério para o mesmo.

Jack fez uma cara de "socorro, estou com medo por dentro".

— Não! Quero dizer, sim. Mas eu sou a curiosa da história! Não o culpe. — Eu disse, assustada. Estava tentando proteger uma pessoa que eu nem conhecia direito.

— Calma, ele fez a coisa certa. Poupou-me tempo. — O Sr. Lohan sorriu para ele.

Olhei para Jack e ele falou quase que sem som:

— Ufa — Sorrimos um para o outro, e virei meu rosto novamente para Lohan.

Jack era um garoto legal. Usava uma camisa branca larga, uma calça bege e um all star comum - se bem que não era all star, era alguma marca desse tal Universo 2 -, mas havia uma coisa diferente nele: Ele era geneticamente modificado, com intenção de ter "poderes" tecnológicos para ajudar a salvar universos distintos. Foi o que ele me disse no carro.

— Madelline, você tem mais alguma pergunta que queira fazer para minha pessoa? — Lohan falou, e nesse momento Jack já havia saído do escritório.

Por um momento, pouco importei-me com a saída do menino. Tinha muitas perguntas que precisavam ser respondidas, e aquela parecia ser a minha maior chance.

— Bom, eu tenho sim... Como é possível existir tantos universos? Não há apenas um universo existente? Universo não é a junção de vários mundos? Isso aqui não é um mundo? — Lohan riu alto, de uma forma amigável. Eu sorri, não consegui me conter. Foi um momento legal.

Lohan era um cara que tinha em torno de 45 anos de idade, com um ótimo humor. Ele parecia não se importar tanto com a aparência, e seus cabelos brancos já eram visíveis. Tenho que afirmar que aquilo dava um certo charme a ele.

— Mad — Ele começou — Na verdade, são vários universos sim. São 10, ao todo. Nós não tínhamos como viajar de um universo para o outro. Entretanto, a tecnologia, a matemática e a ciência possibilitaram a criação de portais, que são as únicas passagens de universo para universo.

— Nossa, isso é incrível senhor Lohan — Eu falei, boquiaberta. — Mas, eu vou voltar pra casa? Pra minha família, pros meus amigos... — Em seguida, arregalei os olhos e gritei:

— Eu preciso voltar pra casa!

— Por favor, acalme-se — Ele respondeu. Na sua face uma expressão preocupada aparecia. — Eu sei que é difícil. Eu realmente sei. Você quer saber, Mad? É assim que você gosta que te chamem, não?

— É sim. — Forcei um sorriso. Estava feliz por ele me chamar de Mad, afinal eu preferia mil vezes do que Madelinne, mas toda a minha angústia não deu espaço para a felicidade naquele momento.

— Eu sou um terráqueo. — Ele disse. Minha expressão mudou na hora. De desesperada, passei a ter seriedade e calma. Respirei fundo. E ele continuou:

— Querida, quando você passou do portal para cá toda a sua vida foi desfeita. Ninguém mais te conhece. É como se você não tivesse nascido, e nasceu há algumas horas atrás, aqui neste Universo.

Naquele momento, eu comecei a chorar. Não, eu comecei a chorar muito. Intensamente. O meu coração não estava preparado para isso. Minha mãe não me conhecia mais. Ela não sabia que eu existia. Eu lembrava dela, mas ela não me tinha como filha. Ninguém lembrava de mim. Era só eu e os Universos naquele momento.

Um abraço caloroso chegou em meus braços, e quer saber? Obrigada senhor Lohan, era tudo o que eu precisava.

(...)

No terceiro dia no planeta Pewton, localizado no Universo 2, eu conheci três meninas, minhas colegas de quarto no Internato Diferencial, um colégio-internato onde as pessoas de 10 até 17 anos vivem para serem treinadas.

Acontece que, ao completarem 17 anos, esses alunos iriam sair para a jornada designada para cada uma deles. Não eram humanos normais; eram humanos escolhidos a dedo por Lohan. Humanos especiais. Eu era especial.

— Ei, Mad! Está melhor? Não chore, por favor. Você já está com olheiras... — Disse Ashley, minha nova amiga. Seus cabelos eram louros ondulados e seu olho era azul.

— É verdade Madelinne! Estamos aqui para te ajudar... Daqui um tempo você se acostuma. Todas nós passamos pelo mesmo. — Dessa vez foi Wendie quem falou, outra garota. Esta, com seus cabelos lisos e compridos. Sua pele era morena e seus olhos eram verdes.

Wendie era a que eu mais gostava. Ela era simplesmente igual a mim. Não na aparência, mas sim na maturidade e opinião.

— Sim. — Concordou Mialah com as outras — Eu, por exemplo, vim do Universo 5. Ashley veio do 6 e Wendie veio do 9. Não é interessante esse negócio de universo? Você se acostuma, Madelinne. — Terminou.

Mialah usava óculos, seus cabelos vinham até o ombro e tinham cor de mel. Estava sempre carregando um livro. Essas meninas realmente me confortavam. Todos os dias. Eu até me acostumei a chamar elas pelo apelido: Ash, Wen e Mia.

Eu sou uma garota normal. Ruiva, olhos verdes... Sou baixa para a minha idade. Mas sei que existem milhões de garotas como eu, por isso digo que sou normal. E sou.

Sempre me perguntava: Quando eu fizer 17 anos, o que irá acontecer? Para onde irei? Qual será minha missão? Essas perguntas me foram respondidas antes dos dezessete.

Um dia antes do meu aniversário de 15 anos, eu e Wendie fomos convocadas para ir até o prédio onde fica o escritório do Sr. Lohan. Naquele momento eu iria saber meu destino, ou pelo menos uma parte dele.