Por João Lucas

JL: Du! Fala comigo! - Ela estava parada olhando para o nada e lagrimas escorriam dos seus olhos. - Me fala o que está acontecendo. - Ela senta no sofá e como se seus braços não tivessem forças para segurar o telefone ela o deixava escorregar. Então o pego para ver se ainda tinha alguém na linha.

Ligação ON - Lucas

JL: Aló, aló. Quem está ai? Quem fala?

FL: Quem está falando? - A voz não me era estranha, apesar de estar parecendo chorar. Resolvo me identificar.

JL: É o João Lucas. Marido da Eduarda.

FL: Lucas, aqui é a Flavia, mãe da Du.

JL: O que você falou para deixa-la nesse estado?

FL: O pai dela. O meu marido, ele morreu. - Ela chegava a soluçar ao telefone.

JL: Que? Como assim? - Eu mal podia acreditar.

FL: Ele sofreu um acidente, estava de moto e foi atingido por um carro. Ele morreu na hora.

JL: É... - Eu nem sabia o que dizer.

FL: Só peço que leve Eduarda para se despedir do pai.

JL: Tá. - Falo meio desnorteado. - Eu a levarei!

Ligação OFF

Ela desliga o telefone rapidamente, olho para Du e ela ainda chora em silencio e parece estar muito distante.

JL: Meu amor... - Falo sentando ao seu lado e a abraçando. - Eu sint... - Antes que eu pudesse terminar de falar ela começa a chorar numa intensidade grande. Isso parte o coração de qualquer um. Nem posso imaginar a dor que ela sente. Por mais que a sua relação com ele não fosse a melhor. Eu não sabia nem o que dizer para ela.

DU: Lucas... - Ela se lamenta entre soluços.

JL: Meu amor... Não fica assim. por favor.

DU: Lucas... - Ela da um suspiro. - Por mais que estivéssemos brigados e que ele tenha falado muitas atrocidades para mim, ele é meu pai, e eu o amo, mesmo que de um jeito torto. Eu estou no chão, ele morreu brigado comigo. - Ela volta a chorar.

JL: Ah, eu nem sei o que te falar meu amor. Quero a poder dividir essa dor com você.

DU: Eu tenho que senti-la sozinha.

JL: Tá, chora, porque só assim você vai se sentir melhor.

Ela afunda o rosto sobre meus ombros e ali fica por um longo tempo. Enquanto estamos assim faço sinal para que Rosa suba com os bebês.

Depois, quando ela parece já está se sentindo melhor ela sai dos meus braços e falo:

JL: Sua mãe falou, que quer que você vá se despedir do seu pai.

DU: Eu vou. - Ela limpa o rosto. - Você sabe alguma coisa sobre o horário do velório, ou sei lá?

JL: Eu vou ligar pra ela pra descobrir. Aproveita pra tomar um banho.

DU: Acho que é isso mesmo que farei...

Dou um beijo em sua testa e ela segue para o andar de cima.

Aproveito e ligo para a antiga casa de Du, por sorte me atendem e me informam o horário. Depois ligo para minha mãe e peço para ela ficar com

Martinha e Alfredinho, falo também para que ela avise meu pai o porque de eu não ter voltado do meu almoço.

Pouco depois Du desce, já de banho tomado, ela estava com o cabelo preso e um vestido preto. Ela estava quieta e visivelmente distante.

JL: Meu amor. Eu vou deixar os gêmeos com minha mãe tá?! Para você não se preocupar. Só tira o leite.

Ela apenas assente que sim e vai fazer o que eu pedi. Minha mãe combinou de pega-los aqui, o velório iniciaria logo mais e assim que Eduarda terminar partiremos pra lá.

Assim acontece. Assim que ela tira o leite vamos para a despedida do pai dela. Chegamos e ha poucas pessoas no local, as únicas pessoas que conhecia era a mãe e os irmãos de Du. Eles que por sinal nem falaram com ela direito, já sua mãe a abraçou assim que nós chegamos.

Após termos passado um bom tempo lá ela fala.

DU: Você não precisa ficar aqui se não quiser. Pode ir embora.

JL: Nada disso, vou ficar aqui, te apoiando. Na alegria e na tristeza lembra?!

DU: Aham! - Ela fala isso me abraça.

O corpo de Marcos é velado, com o caixão lacrado, durante bastante tempo até que chega a hora de o enterrarem. Durante a velação Eduarda não tinha chorado mais. Só agora que foi impossível de segurar, era definitivo, ela nunca mais o verá. Acabo não me contendo ao vê-la triste assim e algumas lagrimas escorrem pelo meu rosto também.

Ficamos mais algum tempo por lá, Eduarda estava próxima da mãe, momentos difíceis aproximam as pessoas mas mesmo assim algo me deixava com uma pulga atrás da orelha. Estávamos indo embora quando Eduarda fala pra sua mãe.

FL: Você quer carona? Podemos te levar em casa, né?! - Ela fala querendo minha confirmação.

JL: Sim levamos.

FL: Ah, que casa... - Ela fala tristonha.

DU: Como assim? A sua casa.

FL: Eduarda... Não sou mais a dona de lá. Na verdade nunca fui...

DU: Não?

FL: A casa era de um irmão de seu pais. Quando ele soube da morte, a primeira coisa que fez foi falar que ia querer a casa de volta. Estou sem marido e sem casa.

DU: Ai meu Deus... - Du fala sem saber o que fazer. - E meus irmãos?

FL: Eles estão morando com umas namoradinhas, faz algum tempo já.

DU: Vai lá para casa.

JL/FL: O quê? - Falamos praticamente juntos.

DU: Sim Lucas, nós podemos tentar ter uma relação melhor. Ela pode me ajudar, quem sabe... - Ela deve estar muito mexida com tudo que aconteceu. - Você deixa?

JL: Não, tá, você é quem sabe, a casa também é sua. - Na verdade eu estava muito preocupado, eu sei o mal que ela já fez para Du, tenho receio do que possa acontecer...

DU: Você quer Flavia?

FL: Eu, não sei... Eu...

DU: Você não tem pra onde ir.

FL: Não mesmo... Vou aceitar, pelas circunstancias, mas não ache que eu estou confortável, eu não estou, não queria ter que depender de algum de vocês...

DU: Depois pensamos nisso... Vamos, você tem que pegar suas coisas.

FL: Está bem...

Nós entramos no carro e sigo para a agora ex-casa da mãe da Du. Ela pega algumas coisas rapidamente e só então vamos para casa.

Sinceramente, tenho medo do que possa acontecer.