O Piquinique escrita por Guiomar Maria Damas


Capítulo 5
O encontro




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Enquanto isso bem longe dali, do lado oposto á cachoeira. Roberto resolveu separar-se dos seus pais e procurá-la sozinho, nem ouviu quando sua mãe pediu que tomasse cuidado e não se perdesse também. Enfiou-se no meio do mato determinada a acha-la de qualquer jeito. Já era a segunda noite que Bia dormia fora, as esperanças estavam se esgotando, não havia nenhuma pista dela. O seu pai estava decidido a acionar a guarda florestal e os pais de Bia achava que não era necessário, mas se ele não a encontrasse hoje, iria ligar para a polícia, estava decido. Andando e cheio de pensamentos ruins chegou ao lugar onde havia encontrado a pulseira, arredou as folhas secas e lá estava a frase: “Roberto eu te amo!” Como num impulso apagou rapidamente com os pés e saiu andando: - ela tem que está por aqui, onde? – pensou e num ato de desespero gritou: Onde você está? Bia? Bia, cadê você? O eco devolvia a sua pergunta no vácuo. Parou, chorou desesperado, andou mais um pouco e avistou um casebre feito de madeira no meio do nada. Encheu-se de esperança! – e se ela desmaiou e o morador dali a encontrou. E se tiver batido com a cabeça e perdeu a memória? Tantas eram as possibilidades, que ao chegar à porta não bateu, espancou-a num ato de desespero, A porta se abriu e Roberto pode ver a figura baixa de um homem velho, curvado e de aparência estranha.

– Por acaso o senhor viu uma moça, magra, alta, bonita de cabelos compridos, loiro e de olhos claros? O homem permaneceu calado olhando para ele.

– O senhor está me entendendo? É uma moça bonita, meiga, magra... Antes que terminasse de falar o homem abriu a porta um pouco mais dando passagem para o rapaz e apontando para a moça que estava no fundo do casebre sentado no tapete de pele com um livro nas mãos. Roberto ao vê-la não se segurou, entrou correndo e gritando: há meu Deus eu não acredito, é você, é você mesma, é ela que eu procuro, disse olhando para o homem. Bia, Bia meu amor, Bia minha vida, disse isso afoito e a abraçando apertado, sem dar tempo a ela de dizer qualquer coisa tamanha era a euforia dele.

O homem ali parado, só contemplava a algazarra própria dos jovens. E maneava a cabeça pensativa. Depois de certo tempo de euforia de Roberto o velho aproximou-se segurou-o pelo braço e sinalizou. Queria saber se iria levá-la. –Sim, sim, seus pais estão agoniados com o sumiço dela, já faz dois dias, não somos daqui temos que voltar para a escola e trabalho. E virando para Bia – Você está bem? Ela afirmou com a cabeça e continuou. – Ainda bem que você está bem, estávamos aflitos, sem notícias, como chegou aqui? Este lugar é muito longe do acampamento. Roberto estava tão feliz, tão feliz, que não dava tempo para Bia falar. Tirou do bolso a pulseira e colocando no braço de Bia disse:

Achei perto do velho tronco, onde você escreveu no chão que me amava. Saiba que eu também te amo e quero namorar com você. Bia olhou meio sem jeito para o velho que os olhava sorrindo. Roberto beijava suas mãos, seus braços, beijava - a sem parar. Finalmente Bia conseguiu se livras de Roberto, foi para perto do senhor e falou.

– Roberto foi este senhor que me achou e me trouxe pra cá. Eu estava faminta, perdida e ele me ajudou. Ele escuta, mas não fala, não com palavras, mas estávamos nos entendo bem, ele gosta que eu leio e era exatamente isso que eu estava fazendo quando você chegou.

– Desculpe-me senhor. Eu estava tão preocupado com a minha namorada que até esqueci a boa educação. O velho acenou sorrindo, também já tinha sido jovem um dia e sabia como são afobados. Tem dois dias que não nos alimentamos direito, quase não dormimos e todos estão muito preocupados. O senhor entende?

– Disse que sim acenando positivamente com a cabeça.

– Como estão todos? A Margarida está bem? Voltou sozinha pra casa?

– Claro que não voltou! Todos estão juntos a sua procura. Agora vamos indo, precisamos dar-lhes a boa notícia.

Bia olhou para o velho que estava imóvel no meio da pequena casa e disse:

– Vamos conosco? Eu falo com meus pais e o senhor fica na minha casa um tempo. Vamos? – disse pegando o velho pela mão.

Ele ofereceu resistência e balbuciou: - Fi, fi, fi, co aaaaaaaaaa qui . é meeeeeeeeu lu lu lu garrrrr. Ssssssou sosososozizizinho. Vá, mostrando a porta, vvvão e sssssejaaaaa fefefeliz. Sorriu mostrando os dentes amarelados pelo tempo. Bia lhe deu um beijo na testa e de mãos dadas com Roberto caminharam em direção a porta. Quando iam abri-la o ermitão falou:

–Es...pe....re.. Caminhou até a parede pegou o pelo branquinho de um coelho e deu a eles sorrindo.

– Obrigada, nunca mais vou me esquecer deste lugar! Sorriu. Roberto apertou a mão do velho senhor e saíram felizes para a mata, rumo ao acampamento.

Depois de uma pequena caminhada chegaram ao lugar que Bia havia escrito que amava Roberto. Ele a segurou forte e disse:

– Eu também te amo. Este tempo que nos conhecemos e você nunca demonstrou nada. Desculpe Bia sou mesmo um tolo, e esta maldita timidez que sempre me impediu de conquistar o que realmente quero. Disse Roberto enquanto acariciava os cabelos de Bia.

– Me perdoa Roberto, pelo que disse a você e a Margarida, eu fiquei cega de ciúme, de raiva e saí correndo e mim perdi. Me perdoa, será que a Margarida vai me perdoar também.

– Claro amor, Ela estava tão angustiada por causa do seu sumiço, se sentindo culpada, coitada, ela só quer te ver. Você é que precisa perdoar agente, foi um equívoco tão grande o que aconteceu. Conversávamos de como era ruim amar e não ser correspondido. E ela dizia que a situação dela era ainda pior, amava, era amada e não podia ter o seu amor e chorou, eu a abracei forte e aconteceu. Eu nunca tinha beijado ela antes, Acho que era carência dos dois, você entende?

– Entendo agora as coisas estão claras pra me. Logo depois daquele momento, quando seu estava andando sem rumo eu percebi o quanto estava sendo infantil, afinal você não era nada meu, podia beijar quem quisesse, e apesar dela saber do meu amor por você, sabia também da minha insegurança. Ficou um tempo se olhando e acariciando o cabelo um do outro. Roberto disse:

– Vamos meu amor. Todos estão preocupados. É melhor parar de lembrarmos-nos das coisas tristes e seguirmos em frente, e tem outra coisa, você escreveu me ama, gritou na hora da fúria, mas até agora não me disse assim olhando nos meus olhos. Eu quero ouvir, fala sem medo.

– Sim Roberto, eu te amo. Desde doze anos comecei a gostar da

maneira que você brincava de pipa com os meninos na rua, seu jeito alegre e ao mesmo tempo discreto sempre me encantou. Às vezes eu sentava no portão lá de casa só pra te ver passar. Meu coração saltava quando eu te via e ficava triste quando você não aparecia. Sim, eu te amo.

– Meu Deus, onde eu estava que não percebia isso? Porque nunca contou?

– Você sempre esteve rodado de várias menininhas. Namorou algumas que eu sei. Sua irmã falou-me do quanto sofreu por causa da primeira menina que namorou e segundo ela você ainda não a tinha esquecido. Então eu sofria na minha.

–Quanto engano, eu tinha 11 anos aquela vez, eu era criança. Mas também você vivia cerca de tantos caras legais, sarados, eu morria de inveja deles só de pensar de qual você gostava, com qual você já teria namorado.

– Com nenhum deles, todos eram amigos. Eu nunca beijei ninguém. Sempre desejei ser beijado por você.

– Como fomos tolos! Queríamos tanto a mesma coisa, estávamos tão perto e ao

mesmo tempo tão distante.

– Então vamos disse Bia secamente.

Ele a segurou e falou – você ainda não falou olhando nos meus olhos. Ela disse;

–Você ainda não me beijou.

E ali debaixo daquele sol brilhante de meio dia se beijaram. Um beijo nunca antes dado, um beijo de saudade, um beijo de carinho, um beijo de amor, um beijo apaixonado! O sol brilhava entre as árvores, só a natureza testemunhava aquele momento tão lindo de amor. Assim voltaram para o acampamento, correndo, brincando, fazendo juras de amor! Quando chegaram ao acampamento entre risos altos e gritos, todos rodearam Bia e queriam beijá-la, abraçá-la, dar as boas vindas e foi uma festa só. A mãe de Bia chorava abraçada ao pai dela, as crianças gritavam. De repente Bia parou e quis saber de Margarida, seu irão disse:

– Ela saiu logo cedo disse que iria para a cachoeira.

– Essa não, vai começar tudo de novo? Disse Roberto.

– Vamos depressa atrás dela. Disse Bia puxando Roberto pela mão.

Assim eles chegaram à cachoeira e para alívio de todos viram Margarida sentada num pedra chorando. Bia correu até ela e disse:

–Olha quem está aqui! E abriu os braços para a amiga. Margarida levantou num salto e a abraçou.

–Que alegria, que bom amiga que você está de volta sã e salva. Deixe eu te olhar.

Tá linda, amiga. Disse depois de olha-la de cima em baixo. Que bom! Que ótimo!

–Linda e feliz, disse rindo olhando para o Roberto.

Roberto se aproximou das duas e abraçando-as disse:

– Como é bom estarmos assim, neste momento.

– Desculpa amiga, com o seu sumiço, não tive tempo de mim desculpar.

– Não devemos lembrar-nos das coisas ruins que passaram, agora é bola pra frente.

– você está certa, a propósito onde você estava este tempo todo? Quis saber Margarida.

– Por aí, mas nas nossas longas madrugadas quando eu for dormir em sua casa eu te conto com detalhes, prometo. Disse Bia sorrindo.

E assim abraçados voltaram os três feliz para o camping. Chegando ali, terminaram de se organizar para voltarem para casa naquele mesmo dia. Apesar do cansaço todos concordaram de voltar o mais rápido possível para casa. No carro tudo parecia mais bonito, era um momento mágico. Margarida foi dirigindo enquanto Bia e Roberto entre uma brincadeira e outra trocavam beijos e juras de amor, no banco de trás entre a euforia das crianças.


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