Muitos dizem que Yokoland parece o paraíso. Mar claro, fauna e flora intactas, casas e carros moderníssimos. Quando a Inglaterra começou a se industrializar na Revolução Industrial, Yokoland já estava no ápice do seu desenvolvimento, a população toda alfabetizada. Nossos líderes, já prevendo o caos que tomaria conta do mundo, gastaram todos os recursos dessa pequena ilha em sua proteção, proteção contra o resto do mundo, de suas pragas e seu pensamento retrógrado e interesseiro. Eu não posso negar que foi um trabalho muito bem feito, realmente. Tanto que até hoje os navegadores ainda não acharam e suas imagens não conseguiram nos captar.

A camuflagem, o monitoramento 24h, a vigilância constante eram para manter os estrangeiros fora, mas acabaram por também mantendo os habitantes dentro dessa ilhota, trancafiados. Uniformes nada confortáveis, escola onde nos ensinam o quão ruim é o mundo lá fora e o corte de cabelo uniforme e obrigatório, foram medidas encontradas para as pessoas se sentirem um grupo, em outras palavras, ninguém se rebelar ou fazer alguma merda. Isso me sufoca, cada vez mais.

Quando éramos pequenos ainda vivíamos com os nossos pais, mas depois de 13 anos começávamos a viver em creches até completar 18 anos, ai seríamos “livres”. Depois, se completássemos 22 anos e não tivéssemos um parceiro eles, gentilmente, arrumariam um para o cidadão. Tudo para o melhor desenvolvimento e crescimento da comunidade, claro. A população ainda não se deu conta do quão controlador e ditatorial esse governo é, o governo fala que faz tudo isso para o nosso bem-estar, mas honestamente eu duvido... Acredito que eles querem nos controlar, o mundo lá fora é muito melhor do que eles nos contam, estar nesse estado é desesperador, todo mundo apoiando esse governo, ninguém percebe o quanto eles não são mais eles próprios, mas sim o que os lideres querem que eles sejam. Essa falta de individualidade, de escolha, de espaço me deixa louca.

Muitos amigos já sumiram. Um dia estavam apoiando essa mesma ideia que aponto pra vocês e no outro dia puf, ninguém viu, ninguém conheceu e ninguém pergunta nada. Essa é uma dos milhares de razões do porquê de eu permanecer calada. Apesar no meu instinto suicida, eu gosto de viver. Respirar, sentir o ar entrando e saindo dos meus pulmões, sentir meu corpo retrair quando eu tusso, ou mesmo quando eu bebo água e sinto meu corpo se hidratar e me sentir mais leve. Eu amo viver, mas odeio minha vida. Mas ah, esperem um pouco, amanhã tudo isso vai mudar. Amanhã eu faço dezoito anos.