Por que Vivo escrita por Anita


Capítulo 3
Por Que Vivo Parte 3 (final)


Notas iniciais do capítulo

Enfim, é a última parte, espero que gostem do final que dei nesta coisa xD



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  Seus olhos cresceram de tamanho e me peguei admirando como suas mil expressões eram lindas.

-Pelo quê? Fui eu que saí correndo de repente duas vezes.

-Bem, e eu fui a causa.

-Não... De jeito nenhum.

-Claro que sim. Ou não quer me perdoar?

-Então, diga antes pelo quê.

-Umm, tiramos o dia para nos divertir e fiquei o tempo todo atrapalhando com meu baixo astral. Aí, você cansou de mim e foi embora, né?

  Mais uma vez a expressão de surpresa tomou seu rosto. Porém, não houve qualquer palavra.

-O dia todo vi chateação no seu rosto, escrita em forma cada vez maior, -continuei, - tem que me desculpar.

-Darien... -Fechou os olhos, balançando a cabeça como que confusa. -Não sei de quantas vezes está falando, mas sobre o mercado, o que me chateou foi... Foi que, no fim, eu não fui bem sucedida.

-Em quê?

-Em ser sua amiga, oras. Não era pra isso que te aluguei pelo dia?

-Mas eu realmente te quero bem Serena. Acho que esse é o maior passo para uma amizade, né? O resto... bem, com o tempo! De qualquer forma...-Andei até ela e afastei de seu rosto uma mecha molhada de cabelo que me atrapalhava lê-lo. -Eu me importo mais contigo do que com quase todos que já conheci. Depois de hoje, ainda mais. Não há muitas pessoas queridas pra mim neste mundo. Não tenho pai ou mãe, mal mantive contato com a minha família adotiva. Também não tenho namorada. Sou do tipo solitário, não quero pessoas me puxando pelos cantos e quando surge essa necessidade, tenho a sorte de poder recorrer ao Andrew. Esse é o resumo das minhas relações sociais, a menos que você a conte a Rei, aquela sua amiga estranha que fica me levando a lugares chatos.

  Serena me encarou, sem conseguir saber que reação esboçar. Decidiu-se, enfim, por seu sorriso que gritava: "Ânimo!" Mas respondi-lhe com um não, que ela não havia entendido meu ponto.

-Como deve ter percebido: não há muito que me faça querer prosseguir neste mundo, sabendo que morrerei em alguns meses, numa terra isolada. Chegamos, enfim, à estação de trem nesta manhã.

  Antes que pudesse avançar, ela me abraçou bem apertado, a ponto de eu achar que iria sufocar. Ficou por um tempo tentando quebrar minhas costelas ou coisa assim, até que passou a falar com o cabeça afundada em meu ombro:

-E eu!? E Andrew? E todos que se importam contigo? Não pode nem nos dar tempo de nos preparar, sermos bons amigos enquanto cuidamos de você para que se sinta a pessoa mais amada do mundo? Digo, é nos problemas que os amigos podem atuar com força total, né?

  Dei passos lentos para trás, até que eu pudesse me sentar no braço do sofá, fazendo com que ela me olhasse de cima e pudesse ver melhor minha expressão. Ri um pouco de sua escolha de palavras, tudo aquilo era tão Serena... E também tão querido para mim... Tive que pensar um pouco antes de voltar à minha linha de pensamento:

-Tenho ainda que continuar, Serena. Porque realmente ficou faltando você nessa história!-declarei com um sorriso para seu rosto de volta se transformando em um ponto de interrogação, -Não sei se já disse, mas tive dias de cão em que você surgiu na frente e decidiu transformá-los em dias estranhos em que uma menina mais estranha ainda gritou coisas muito estranhas após me atingir de forma totalmente estranha. Aprendi até algumas rotas suas para tentar te encontrar sempre que precisasse desse arco-íris radiante que está na minha frente. -Sorri mais vendo a interrogação crescer. -Isso te tornou uma pessoa muito querida. Para nós, faltam muitos elementos para amizade, sinto muito. Hoje, desde a estação até agora criamos algum tipo de conhecimento um do outro. Você até me ouviu dizer seu nome, né?

  Ela assentiu, mostrando um sorriso de aprovação.

-Acho que também posso confiar em você, mas qualquer um pode. É uma qualidade sua, não um laço nosso. Só que falta tempo...

-Eu sei. Por isso notei que tudo o que eu estava fazendo era lhe causando frustração!- Enfim abrira a boca, mas logo lhe calei levantando um dedo.

-Você não é um tesouro que não notei na minha frente. Eu sei o quão preciosa é. -Tive de pausar, enquanto via suas bochechas avermelharem-se. Aquele momento quase foi o bastante para me arrepender, mas fechei os olhos e lembrei-me de Chiki-chan caído na rua. Uma imagem estranha para me encorajar, mas esse era o efeito de ter Serena em minha vida. Ri com o pensamento e pude prosseguir: -Então, o único motivo de nunca termos sido próximos foi porque eu, obviamente, sabia o mal que lhe causaria. Sou um chato de galochas! Aliás, nem lhe causaria nada, porque você nunca teria paciência para me deixar chegar perto. Só que hoje você me deu uma chance, né? Uma pena ter tudo sido tarde demais... Amanhã parto para Israel e nossa amizade vai ter que ficar no meio do caminho. No fim, acho que este dia possa ter sido terrível para você, porque eu... Digo, você sabe. Ficou tentando me animar e tudo, mas não tem mais como. Seu sorriso não é capaz desse milagre.

-Eu só queria que se lembrasse de mim para onde fosse, Darien!- Umas lágrimas ensaiavam em seus olhos.

-Eu vou me lembrar.

-Então, quer dizer que me aceita como amiga?

-Não seja boba, Serena, não existe amizade assim a primeira vista!-disse-lhe rindo.

-Mas tudo o que disse... Eu pensei que era pra que-

-Por que é tão importante que sejamos amigos? Eu já te disse que é muito especial para mim.

-Eu só... Não sei... É que...- Antes que pudesse terminar a frase, um som bem alto saiu de seu estômago e ao mesmo tempo ouvimos um relâmpago, mostrando que a chuva não pretendia melhorar.

-É melhor eu fazer a janta. Por que não toma um banho enquanto eu ponho suas roupas para secar? Devo ter algo que entre em você decentemente.

  Só que antes de eu conseguir ir para meu quarto, fui segurado por um novo abraço.

-Darien, eu acho que vou morrer se você for mesmo embora amanhã!- gritou ela, com a voz novamente abafada pelo meu ombro.

-Do que está falando? É o tratamento, eu tenho que ir.

-Por isso! Eu... Por isso quero ser sua amiga, quero poder ter a certeza de que sou algo pra você.

-Já disse que-

-Eu sei, mas não é o bastante!

  Senti meu ombro ficar quente com suas lágrimas. O que deveria fazer? Aquilo não poderia ser o que eu-

-Já que quer tanto saber; eu gosto muito de você! Sempre senti algo, mas hoje... quando te vi na frente daquele trem! Ó, Darien... Não sabe como me senti quando vi o sapinho todo esmagado... Contemplei o que consegui evitar mais cedo! Por favor, por favor... Nem sei o que estou pedindo. Mas...

-Serena, isso que está dizendo...

-Deixa eu te apoiar. Deixa eu ficar do seu lado, Darien!

-Que diferença faria eu te falar que somos amigos?

-Quer dizer que gosta muito de mim! Não como eu realmente gostaria, mas o máximo que eu poderia pedir!

-Mas eu gosto muito de você! Digo, você realmente me ouviu agora há pouco? Sobre o quanto é importante pra mim?

-Não é o bastante!

-Serena, você realmente não me entendeu.

-Por favor, Darien!- Ela se apertava contra mim, provavelmente evitando que nos encarássemos.

  Eu não esperava que minha conversa tivesse que chegar ali. Só não queria partir sem que ela soubesse que nunca a esqueceria. Tudo estava sendo tão mais difícil...

-Por favor, -continuou, apertando forte minha blusa molhada de chuva.

-Espera... Não quero ser seu amigo, Serena. Digo, talvez, quando o dia começou, eu ainda estivesse me enganando quanto ao que sinto por você. Mas, hoje, neste momento, o último em que nos veremos, não posso te mentir esse absurdo. Não quero ser seu amigo. Pelo menos, não quero só isso.

-Hã?-Parou de chorar e, na distração, levantou o rosto inchado para mim.

-Bem, se você parasse um pouco de ser uma menina chorona e raciocinasse tudo o que disse, estaria claro, né?

-O quê?

-Vou ter mesmo que dizer?

  Poderia ser de brincadeira, mas em se tratando daquela garota, eu sabia que era verdade que não havia entendido quando assentiu.

-Eu te acho incrível demais para te querer para algo tão comum como amiga. Você me é especial demais para ser só isso. Você é a garota por quem me apaixonei.

-Esta é uma boa hora para você pegar aquelas suas roupas.

-Hã?

  Serena afastou-se de mim e andou até a porta que deve ter pensado ser o banheiro. Voltou dela e, enfim, encontrara a porta certa. Entrou lá e fechou-a, agradecendo pelas roupas que lhe emprestaria, falando alto sobre estar mesmo querendo um banho quente.

  Fiz o que pediu balançando a cabeça. Ela havia fugido! Depois de toda a coragem que eu reunira para falar algo tão infrutífero como uma confissão amorosa naquela situação, ela fugira. Ri ao perceber que era óbvio que não poderia me encarar com facilidade depois daquela conversa. Então, decidi fazer o jantar mais gostoso pudesse no pouco tempo que tínhamos.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Ela estava linda, sentada em meu sofá, com a cabeça levemente inclinada para a direita enquanto passava por canais que eu nunca percebera ter em minha televisão. Caminhei até lá e tentei puxar qualquer assunto, perguntando sobre a comida ou se pensava que a noite inteira seria de chuva. Sentei-me a seu lado. Continuei a observar os canais se repetirem, mas que ela os passava mais rapidamente, como se o programa que assistisse fosse um mosaico de todos.

-Sobre mais cedo...-falei, depois de criar coragem.

-Hm.

-Temos que conversar sobre isso, né?

-Hm.

-Digo, eu não me exaltei à toa. Não seria justo.

-Qual o melhor canal?

  Levantei uma sobrancelha, então, assenti, pegando-lhe o controle da mão. Pude ver pelo canto do meu olho sua surpresa quando desliguei o aparelho. Não deixei nem um segundo de intervalo diante da minha chance com sua distração e a beijei. Eu mesmo não conseguia entender minha reação. Jogar qualquer autocontrole para o ar, aliás, joguei também o controle do televisor no tapete do chão e, com a mão livre, peguei-lhe nos cabelos.

  Não, eu não agia como um selvagem. Beijei-lhe lentamente para que pudesse memorizar cada momento, e fui a cada hora diminuindo mais a velocidade. Saboreava seus lábios o calor de sua boca, sua língua, ainda um pouco paralisada com o susto... Enquanto isso, mexia em cada fio de seus longos cabelos, soltos durante o banho, também seu pescoço, a pele fina da parte de seu ombro exposta pelo tamanho da gola de minha blusa. Não houve surpresa, senão pela constatação de que todo seu corpo e suas reações me eram familiares. Algo como aquela expressão de um par feito nas estrelas. Aliás, era nas estrelas que eu me sentia, ou na lua. E Serena Tsukino estava lá comigo, eu podia sentir pelos seus movimentos letárgicos e confusos.

  Por fim, a velocidade diminuiu tanto que chegara a zero, minha mão cobria todo o seu rosto gelado e minha boca apenas roçava a sua. Não consegui abrir os olhos, não queria voltar à realidade, ter que me explicar, que me desculpar por uma ação tão invasiva, que me culpar por aquela marca que lhe deixaria enquanto eu partia para "uma melhor".

  Antes que eu pudesse pensar mais nas conseqüências de meus atos, senti algo quente nos lábios; Serena havia recomeçado de onde parei, só que desta vez mais intensamente. E assim ficamos por um bom tempo, apenas parando para conversas sem sentido, desculpas para recuperarmos o fôlego. Ela me havia feito entrar em seu mundo, onde apenas se vive uma vez e de preferência sem arrependimentos.

  Abri os olhos me sentindo pesado, atropelado por um caminhão? Lembrava de ter beijado Serena e de haver sido correspondido ainda mais. Lembrava de me sentir feliz. Então por que minha cabeça doía tanto? Tentei respirar antes de tentar compreender as imagens embaçadas à minha volta, foi difícil, como se eu estivesse bem no fundo do mar e meu corpo todo relutasse contra aquilo. Levantar-me também parecia impossível, um peso me segurava onde eu estava.

  Tentei perguntar a algo o que estava acontecendo, mas nem minha boca abria direito. Sacudi levemente a cabeça, num esforço de acordar do pesadelo. Fechei bem os olhos e os abri de novo, o foco melhorara apenas para eu perceber que estava na minha sala e uma luz muito forte me trazia ainda mais dor de cabeça. Fechei-os de novo. Desejei morrer de uma vez, a dor de cabeça de antes voltara ainda mais forte, mas eu nem tinha mais a ilusão de achar que fosse simples estresse da faculdade.

  Mexi mais um pouco, enfim, notando que a minha dificuldade em me levantar também se devia a haver alguém ali. Como Serena podia estar dormindo tão pesado? Concluí que havíamos passado a noite naquele sofá. Comecei a sacudi-la com o máximo de força que meu corpo dolorido conseguia reunir. Uma dor me invadia no peito e antes que pudesse impedir, comecei a tossir forte. Pelo menos, fora movimento o bastante para acordá-la.

-Só mais cinco minutos, pô!-respondeu, enquanto eu continuava a sacudi-la, -Tá bom, tá- Vi o desespero invadir seu rosto ao se perceber em plena manhã num lugar estranho. Até que me olhou e imaginou tudo o que se sucedera.

-Pode se levantar, Serena?-falei, mais baixo do que tentara.

-Sim, sim...- Com muito custo rolou até o tapete, reclamando de ter caído sentada no controle. -Minha cabeça tá doendo, devo estar gripada depois daquela chuva de ontem. E ainda decidem fazer sol!- continuou a reclamar, apesar de eu só haver registrado a primeira frase.

-É isso!-disse alto no meio de suas palavras sonolentas, -Acho que eu também. Não posso ter piorado tanto de um dia pro outro, a não ser por uma gripe.

-Somos dois...-Encarava-me com a língua pra fora numa expressão atrapalhada e talvez fofa.

  Começamos a rir, até que eu dei pulo do sofá.

-Droga! Perdi o avião!-falei, ao perceber que dormira demais. O vôo estava marcado para antes do amanhecer e pelo sol deviam ser mais de oito da manhã.

-Tem certeza?

-Absoluta. Ai, vai me dar ainda mais dor de cabeça conseguir outra passagem em cima da hora e gripado. Eles deixam gente gripada viajar? -Eu estava andando pela casa, pegando folhas de papel onde poderia estar escrito o telefone da companhia aérea.

-Darien...

-Quê? Você achou?

-Teu vôo? Não, digo, alguém ligou pra cá, ouça a mensagem, podem ser meus pais.

-E como eles saberiam meu número. Credo! Como você vai explicar ter dormido fora?!

-Depois que você dormiu ontem, eu liguei pra eles, dizendo que estava tratando de um conhecido doente quando começou a chuva, etc. Ficaram bravos por eu ter demorado a dar notícia, mas tudo bem. -Espirrou em seguida.

  Fiquei um pouco assustado com aquela demonstração de responsabilidade, mas meu corpo sentia-se cansado demais para comentar. Fui até a secretária e apertei o botão para ouvir a mensagem. Era da clínica de meu médico, pedia que lhe retornasse a ligação e que não fosse para Israel.

-Ele é doido?-perguntou Serena, chegando perto de mim e me abraçando como se buscasse apoio, -Se você ia viajar antes, por que ele ligou às sete da manhã?

  Combinei de levá-la para casa depois de tomar um banho e então iria pessoalmente até lá para ver o que acontecera. Encontrar-nos-íamos para o almoço no parque a que fomos no dia anterior. Mas Serena discordou de tudo e insistiu em me acompanhar.

  Então, estávamos os dois, olhando para uma pessoa que não era meu médico, sentado na mesma sala de antes e pedindo-me as mais sinceras desculpas.

-Como assim alguém condena uma pessoa à morte porque errou na leitura dos exames!? E você, Darien? Não procurou outro médico!? Como pôde me deixar doida assim por- Parou para tossi um pouco. - E ainda por cima não foi nada sério!? Apenas imunidade baixa?

-Não tenho culpa, -respondi, ainda assustado com as notícias.

-Mas como ele pôde!? Isso acaba com a vida de uma pessoa!

  O médico nos olhava, enquanto os dois conversávamos roucos pela gripe e às vezes com palavras confusas. Após uns minutos que provavelmente esperara para que o choque da notícia passasse, ele voltou a falar:

-Descobrimos tudo graças à carta do senhor Chiba ao médico que fora professor de Mizumori-sensei onde já lhe mandava os exames, após já haver recebido permissão para ficar em seu hospital. O professor correspondeu-se rapidamente com o hospital para alertar que Mizumori-sensei diagnosticara erroneamente e que o senhor Chiba está muito bem, apenas com baixa imunidade. Eu, quando soube, peguei a ficha e constatei que não havia dúvidas da saúde do senhor Chiba.

-E por que esperou até hoje para ligar?!-Serena perguntou antes que eu pudesse abrir a boca.

-Não sabia da data da viagem e precisava conferir as fichas dos outros pacientes. Só hoje de manhã tomei coragem de confrontar Mizumori-sensei, que se mostrou muito abalado com a suposta doença de um assíduo paciente como o senhor Chiba, mas que não pudera ir despedir-se no aeroporto por haver acordado tarde. Olhou de novo todos os exames que diagnosticara errado e continuou insistindo.

-Ele realmente é piradão, né?-concluiu Serena, virando os olhos.

-Hã, provavelmente Mizumori-sensei sofre que alguma doença mental, mas entendam o porquê de eu ter demorado tanto...

-Não se preocupe, Tanaka-sensei, -disse, tentando fingir alívio, -Então está tudo bem comigo?

-A menos que não trate essa gripe, -sorriu-nos.

-Eu vou matar esse velho!-esbaforiu Serena, mostrando seu punho.

-Agradeço pela compreensão, senhor Chiba, e não hesite em me procurar se precisar de qualquer coisa. Também fico grato por ter sido aquele quem deu o primeiro sinal ao mundo exterior dos erros de Mizumori-sensei. Os outros simplesmente haviam procurado outra opinião, ou recusaram tratamento até que os sintomas fossem mais certos.

  Por que aquilo não me confortara nem um pouco? Senti-me o grande bobo da corte enquanto no caminho para comprar remédio de gripe na farmácia Serena me chamava de nomes piores.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Não que uma gripe fosse de se subestimar. Serena ainda conseguira curar-se em dois dias, mas eu demorara uma semana para voltar a olhara para minha cara no espelho e não levar um susto. Mas o grande alívio não viera de poder tomar gelado de novo ou me levantar no mesmo segundo que acordasse sem sentir mil agulhas espetarem minha cabeça: e, sim, da Serena parar de me dar sermões por ser tão descuidado com minha saúde.

  Naquela tarde quando ela entrou no meu apartamento como vinha fazendo desde que se curou, Serena usava um lindo vestido rosa claro e prendera o cabelo de uma forma diferente, deixando boa parte livre. Entrou pulando por toda a parte e gritando se eu tinha tomado meu remédio e a vitamina c.

-Eu já disse pelo telefone que estou melhor!- repeti, indo abraçá-la.

-Não pode permitir que isso ocorra de novo, né!?

-O que tem nessa bolsa?- Caminhei até a bolsa de palha que estava do lado da porta de meu apartamento.

-Nosso piquenique! Você me prometeu!

-Quando?

-Oras, há sete dias! Mas esperei que meu velhinho de saúde fraca melhorasse da gripe, né?

-Mas eu tenho que estudar! Perdi uma semana de faculdade, hoje quando fui assistir aula, mal reconheci os professores...

-Que exagerado.

-Eu realmente tenho que estudar hoje!

-Promessa é dívida! Chiki-chan e o Senhor Sapo querem ter sua viagem de núpcias... Estavam tãaaao ansiosos!

-Senhor Sapo? Núpcias? Pelúcias não se casam! Nem mortos.

-Ooooh! Não seja tão grosso perto dos nossos filhinhos, coitados. Sabia que isso causa um trauma?

  Levantei uma sobrancelha.

-O Senhor Sapo morreu no dia em que combinamos o piquenique. E quem é o pai de um sapo feio como aquele!?

-Óoooooo! Olha só! Chiki-chan vai chorar!-pegou o urso de sua maleta e o balançou.

-Serena, não fale tão alto que me dá dor de cabeça.

-É a Chiki-chan chorando, oras, acuda nossa filha.

-"Nossa"?

-Não me acha qualificada para ser mãe?

-De um urso de pelúcia?

-Sim! Que vai em lua de mel ao parque fazer piquenique com o Senhor Sapo.

-Mas, pera, se bem me lembro era "o" Chiki-chan.

-Eeeeeeeei! Não fale essas coisas. O passado tem que ficar no passado. Não é nada que o Senhor Sapo seja capaz de descobrir.

  Levantei a outra sobrancelha.

-Já te disse que tenho medo de você, Serena?

-Não fale assim! As crianças são capazes de sentir se os pais forem muito negativos uns com os outros. -Puxou outro boneco de sua maleta e ela realmente conseguira outro sapo de pelúcia roxo ainda mais feio que o falecido Senhor Sapo. -Não é lindo!? Os dois têm seus segredos do passado que um dia terão de contar um ao outro, mas por enquanto pouco importa porque se amam muito, né?

  Puxei-a para mim e beijei sua testa.

-Tem razão. Aos poucos, eles se ajeitam. Mas tenho mesmo que levar esse sapo feioe  esse urso travesti para nosso piquenique romântico?

-Darieeeen! Nunca vou deixar você abrir a boca perto dos meus filhso, sabia? E estou falando dos de carne osso. Que insensível! Saber que ia morrer não te mudou em nada né? Continua o mesmo convencido egoísta de sempre!

-E você a mesma cabecinha de vento que fala e fantasia demais.

-Eu te odeio!

-E eu te amo...- Abracei-a com mais força e dei um beijo bem intenso.

  Muito mais que Chiki-chan e Senhor Sapo, tínhamos fatos de nossas vidas que precisávamos saber um do outro para podermos construir uma relação firme impossível de ser separada mesmo pela morte. Por sorte, com a nova chance que eu ganhara, teríamos muitos dias, mais até do que aqueles dois bichos de pelúcia, para criar, muito além da paixão que nos fazia querer ficar juntos a cada segundo, uma amizade indestrutível. A partir de agora, eu tinha algo muito importante a perder e por isso tinha que me dedicar a cuidar daquela relação com todo o carinho.

  Mesmo correndo o risco de um dia minha morte real estar de fato próxima e eu não querer deixar esse mundo com pressa como uma semana antes, esse algo é tão importante que não faz sentido. O meu amor com a Serena é uma prova de que eu existo e que eu quero conservar eternamente. Pois é ele que me faz ver que, neste mundo tão vasto e egoísta, eu não estou sozinho. E, sim, isso também significa que passarei a procurar uma segunda opinião da próxima vez que disserem que vou morrer.

FIM!

Anita, 03/11/2007

Notas da Autora:

Ficou tão ridícula esta fic ^^UUU Sinto muuuuuito!! Mas eu realmente tava precisando pô-la pra fora. Desculpa por fazer vocês perderem tanto tempo e espero que tenham gostado de pelo menos alguma coisa.

Minhas fics podem ser lidas também em meu site http://olhoazul.here.ws

Muito obrigada pela paciência e até a próxima!


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